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As redes no espelho: conceitos e práticas da cultura de redes de

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 79-81)

educação ambiental

Antonio Fernando S. Guerra1

Anabel de Lima2

Liana Márcia Justen3

Mara Lúcia Figueiredo Garutti4

Introdução

C

om o aprimoramento das ciências, das descobertas da física quântica e graças às contribuições de autores como Maturana e Varela (1987), Bertalanffy (1968), Bateson (1979), Capra (1996, 2002) entre outros, as redes sociais tornaram-se uma forma de organização condizente com os avanços tecnológicos dos meios de comunicação, que possibilitam a simultaneidade de divulgação de notícias e acesso livre e imediato a informações em escala global, atendendo ao crescente desejo de participação e protagonismo social de indivíduos e grupos.

Considerando que a crise ambiental civilizatória (LEFF, 2001) e as lutas pelos direitos humanos confirmam o empobrecimento de grandes parcelas da população mundial, revelam o fracasso da racionalidade econômica que preside o modelo de desenvolvimento em vigor e justificam a busca pacífica de uma outra estrutura econômica, relacional e cultural entre pessoas e grupos, a organização em redes pode ser uma alternativa diferenciada e promissora de gestão e organização social.

Uma rede se constitui mediante a incorporação dos princípios de conformação ecossistêmica do mundo natural à organização social, priorizando as relações e interações que se estabelecem entre os componentes do todo, em diversos níveis e situações, em que predominam a autonomia e a interdependência. Não existe necessidade de concentração de poder ou sua hierarquização, porque a ocorrência sistemática e permanente de processos de auto-regulação no interior da rede garante que diferentes atores criem soluções emergentes para garantir a sobrevivência, a expansão ou a ampliação do conjunto (CAPRA, 1996). Assim, uma rede pode contribuir para a expansão de relações entre seus membros através das informações veiculadas, das trocas interpessoais em diversos níveis e dos processos de mobilização (LIMA, 2006).

1 Professor-pesquisador do Programa de Mestrado em Educação da UNIVALI, mestre em Educação, doutor em Engenharia de Produção, membro da Comissão de gestão Participativa – CgP da REASul, facilitador da REBEA. Fone: 047-33417780- E-mail: guerra@univali.br

2 Coordenadora Técnica do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Bióloga, mestre em

Educação Ambiental, membro da Comissão de gestão Participativa – CgP da REASul, facilitadora da REBEA. Fone (41) 3013-7185 – E-mail: limanabel@yahoo.com.br

3 Pedagoga, mestre em Educação, secretária-executiva da REA-Paraná, facilitadora da REBEA. Fone: 041 -33392038 – E-mail: lianajusten@uol.com.br

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educação ambiental

de revista brasileira A idéia de rede implica admitir a complexidade do social, composta

de setores e agrupamentos sociais heterogêneos, campos de múltiplas contradições, diversidades e discursos plurais, em que opera não apenas a lógica do conflito, mas também da cooperação e da solidariedade (SCHERER-WARREN, 1999, p. 50 - 51).

Transpondo essas condições básicas e adequando-as à organização das redes sociais, estas se fundamentam em princípios como padrão organizacional horizontal, sem hierarquias, conectividade, a não-linearidade da rede, descentralização do poder, dinamismo organizacional. Entre os seus elos, criam-se laços de relacionamento e parceria, sendo a circulação rápida das informações e a comunicação sem barreiras formais ou hierárquicas um aspecto fundamental.

Outro importante fator da organização em redes é a multiliderança em que, de qualquer “ponto”, ”elo” ou “nó” pode emergir a ação adequada para enfrentar, equacionar ou solucionar os impasses e dificuldades. Ao contrário do que acontece numa estrutura hierárquica, a dinâmica interna e externa da rede social ocorre de forma anárquica.

No entanto, esses princípios não são ainda bem conhecidos pelos educadores(as) ambientais. Por isso, têm sido pouco explorados enquanto vivência de práticas sociais e educativas baseadas nos princípios de democratização da informação, da cultura, do conhecimento, de inclusão social, emancipação política e do exercício da cidadania responsável, que poderia ser um instrumento a favor do processo de libertação dos grupos sociais excluídos no sentido de (re)inclusão dos seres humanos no processo de conscientização para a construção de uma sociedade mais justa e solidária (GUERRA, 2004c).

Assim, para Martinho (2004):

A organização em redes é, talvez, o mais interessante desafio para promover as transformações necessárias para uma nova forma de organização social, econômica, relacional e cultural entre pessoas e grupos, que se caracterize pela cooperação, interdependência, autonomia, solidariedade, respeito recíproco e convivência entre as diferenças.

O principal desafio e benefício de desenvolver um trabalho em rede, segundo Ayres (citado por SARAIVA, 2006, p. 66), é lidar com a diversidade em todos os seus sentidos: diversidade de pessoas, de lugares, de idéias, de um projeto que não seja linear e não esteja acabado.

Do ponto de vista do desafio, as redes de EA são complexas e plurais, o que demanda a capacidade de trabalhar com o imprevisível e com uma equipe “não controlável”, que não seja profissional de uma organização sob a tutela de uma direção ou coordenação (SARAIVA, 2006).

Diante disso, o movimento de organização em rede não pode ser planejado de forma predeterminada, ou seja, não se institui uma rede por decreto, a não ser que seja uma rede tutelada, por um órgão ou instituição. Martinho (2004) salienta que as redes sociais caracterizam-se pelo seu potencial de interatividade e por seu caráter

educação ambiental de revista brasileira

democrático, aberto e emancipatório. Portanto, é necessário ampliar a metáfora da sociedade em rede para além da conexão à internet, das redes organizacionais hierárquicas, introduzindo o conceito de cultura de “redes sociais”, exemplificada na experiência das redes de educação ambiental no País.

Assim, considerando a necessidade de uma maior “reflexão”5 e aprofundamento

das práticas das redes de EA no Brasil, este artigo pretende fornecer subsídios à discussão dessa temática. Ele estabelece uma relação teórico-prática entre os obstáculos e possibilidades para a aplicação de alguns dos princípios da cultura de redes no contexto do processo de organização e consolidação da REASul, REA-Paraná e da REPEA.

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 79-81)