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Redes como espaço de participação

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 115-117)

Dentro de uma visão particular, que vem desse processo de discussão de dentro, militando nesse movimento, acreditamos que a rede seja uma grande possibilidade de se construir um novo cenário, uma nova configuração do processo de constituição da realidade socioambiental, a partir da ocupação de um espaço que vem sendo gerado na dinâmica social. Entendemos rede como um espaço produzido, não um espaço físico, mas um espaço produzido pela participação de pessoas e instituições que acreditam que haja necessidade, nessa conjuntura de mundo globalizado, de espaços de manifestação das diversas posições presentes, que são estruturantes da realidade socioambiental.

A rede como espaço de participação permite, ao mesmo tempo, comunicar manifestando as diferentes posições, articular posições que encontram identidades e desvelar conflitos entre diferentes posições. Isso representa um grande avanço, pois nesse sentido a rede possibilita, como um espaço de participação, trabalhar com a perspectiva da ampliação do espaço público na nossa sociedade. Perspectiva que se encontra em um movimento contra-hegemônico da tendência dominante de redução do espaço público, em que pessoas cada vez mais individualizam-se, encapsulam-se, desconectam-se do “debate” político e público. Portanto, a rede pode se apresentar como possibilidade de construção de um espaço constituído por aqueles que acreditam na importância do exercício da democracia participativa, contemplando posições contrárias, não devendo ser uma imposição apenas de quem acredita nessa importância. Como um espaço público é aberto a todo tipo de manifestação, o que contribui com a transformação da realidade, pois a ampliação desse espaço coloca-se numa perspectiva do embate hegemônico, capaz de gerar em sua síntese a constituição de uma nova realidade socioambiental. Isso permite, em um espaço diverso como esse, o desvelamento dos conflitos presentes na sociedade, se entendermos os conflitos como estruturantes da realidade socioambiental; que a nossa sociedade vele os conflitos colocando-os como algo à margem da constituição da realidade e, ainda, que esse modelo de sociedade estruturou uma racionalidade positivista de trabalhar encima da ordem, do consenso, da homogeneidade. Sendo assim, permitir o conflito surgir, isso, em si, já é extremamente válido.

As redes, em que a comunicação e o debate de idéias contribuem para a construção de novos conhecimentos e saberes, em que a articulação de forças construindo identidades potencializa a participação política e gera as possibilidades

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educação ambiental

de revista brasileira desestruturantes do desvelamento de conflitos, tudo isso faz, desse espaço de

participação, algo inovador e com grande potencialidade para os movimentos sociais que se colocam nessa postura contra-hegemônica. Garantir a permanência desse espaço horizontal, aberto, diverso e plural é atribuição de quem se coloca nessa postura de querer uma nova realidade, um novo mundo. É fazer desse espaço de participação um espaço de articulação política daqueles que pensam na mesma direção, que ganha força e se coloca numa perspectiva contra-hegemônica de enfrentamento, gerando nesse embate a possibilidade de transformação da realidade. Assumimos, assim, a concepção de embate hegemônico de Gramsci, em que a transformação da realidade se dá na perspectiva dialética de enfrentamento de posições que se contrapõem e que, nesse enfrentamento, nessa correlação, geram uma síntese criadora de uma nova situação.

Essa é uma visão de rede que não está consolidada. Percebemos que há uma compreensão muito presente de rede como uma entidade representativa de um movimento social que tem posições e identidade específicas. Isso não significa que a sua criação e a manutenção de uma rede, na concepção de um espaço de participação, não sejam esforços representados por quem tem identidade com a perspectiva contra- hegemônica. De fato isso deve ser uma posição política ideológica de quem acredita nessa concepção, já que quem não se identifica com essa perspectiva contra-hegemônica tende a não ter comprometimento com a pluralidade e sim com o pensamento único hegemônico.

A compreensão que prevalece é a de que uma rede de educação ambiental (EA) representa a posição da educação ambiental e seus educadores perante a sociedade, como se houvesse uma única perspectiva de EA, assim como um único posicionamento ideológico de seus educadores. E se ainda fosse, essa compreensão de rede é muito focada, muito referenciada pelo paradigma da disjunção (MORIN, 1999), de uma visão focada na parte, fragmentada e superficial, referencias que em uma perspectiva crítica de EA queremos nos contrapor. Vivenciar a rede dessa forma é reproduzirmos esse paradigma, é fazermos a rede para uma parte. É cairmos na “armadilha paradigmática” (GUIMARÃES, 2004) de usarmos a mesma forma de pensar pra tentar fazer diferente.

Na concepção que aqui defendemos, a rede é aberta a todas as compreensões da educação ambiental, até para que, justamente, conflitos surjam ali. Se possuímos uma posição e nesse espaço de participação identificamos coletivos do qual temos afinidades e identidade sobre uma determinada concepção de educação ambiental, essa posição pode e deve ser defendida no espaço da rede, na perspectiva do embate. Acreditamos inclusive que se constitui como um novo espaço (público e que não é único na sociedade) de atuação para a defesa dessa posição. Mas não é a rede que defende essa posição, é esse coletivo participante da rede que pode, inclusive organizado como forma de movimento representativo dessa posição, usar do espaço da rede como um espaço de participação, de articulação e embate de sua posição política, ideológica para a consolidação de uma visão de mundo que se está querendo construir. Essa articulação e participação é poder exercer a resistência, é realizar um contraponto, é um exercício de cidadania individual e coletiva. Essa seria a perspectiva da rede como espaço de participação, como forma de ação política e de ampliação do espaço público.

educação ambiental de revista brasileira

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 115-117)