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As referências jurídico-constitucionais garantidoras da compatibilização entre a

Ao se referir ao processo de democratização percebe-se que ele só restará de melhor qualidade quando houver a igualdade entre os homens, as classes, as raças, as nações e o reconhecimento dos valores e princípios que concedem justiça à sociedade. Neste sentido, a construção de novos direitos faz parte da codificação jurídica mundial e, em especial, os relativos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

[...] o reordenamento jurídico que implica o reconhecimento de novos direitos envolve a legitimação, através da lei, de novas relações de poder. Os “novos valores” e as “novas visões do mundo” que se expressam no discurso do desenvolvimento sustentável ressignificam o mundo e constroem novos sentidos existenciais. (LEFF, 2012, p. 352).

O Direito Ambiental tem a tarefa de criar normas jurídicas que orientem ações humanas no processo de produção e reprodução da vida social. Para Derani (2008, p. 56), o Direito Ambiental é, na sua essência, transformador e modificador, pois atinge toda a organização da sociedade atual, cuja trajetória ameaçou a existência humana em função da atividade do próprio homem, o que jamais havia ocorrido em toda a história da humanidade.

Na década de 1970 os textos constitucionais deslocam as fórmulas antecedentes – que tinham como objetivo proteger os cidadãos de possíveis governantes arbitrários, penas vexatórias e cruéis – para propor uma receita solidarista de nós-todos-em favor-do-planeta, ou seja, o “eu” individualista passa a ser o “nós” coletivista na tentativa de reconhecer o ambiente como valor merecedor de uma tutela maior. A ecologização passa a ser tema das constituições mundiais, consolidando assim o Direito Ambiental, fazendo com que o Estado constitucional seja regido por princípios ecológicos (CANOTILHO; LEITE, 2010, p. 14).

Para Benjamin (2011, p.73), a proteção ambiental deixa de ter um interesse menor ou acidental no ordenamento, afastando-se dos tempos em que, quando muito, era objeto de acaloradas, mas juridicamente estéreis discussões no terreno não jurígeno das ciências naturais ou da literatura. Ao ser elevado à norma constitucional, contudo, o meio ambiente é alçado ao ponto máximo do ordenamento.

O Brasil, em sua Constituição Federal de 1988, traz no art. 225 o seguinte texto: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Neste sentido, para Canotilho e Leite (2010, p. 40-41), a ecologização da Constituição não só instituiu um regime de exploração limitada e condicionada da propriedade, como também agregou à sua função social um forte

componente ambiental. Exemplo são os arts. 170, inc. VI, e 186, inc. II, da Carta Magna8, que

alteram radicalmente o paradigma clássico da exploração econômica, quando o regime de

8 Art. 170: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado, conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

Art. 186: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus e exigência estabelecidos em lei, os seguintes requisitos:

propriedade passa do pleno direito de explorar, respeitando os direitos do vizinho, para uma exploração que respeita a saúde humana e os processos e funções ecológicos essenciais.

Até a promulgação da Constituição Federal de 1988, a propriedade privada manifestava o exercício da produção capitalista no contexto mais mercantil do termo, sem a preocupação com o capitalismo social, em particular, sem a proteção do bem ambiental. Foi só a partir de 1988 que se assegurou a tutela jurídica do meio ambiente com um critério preventivo que passou a determinar a sua proteção para a presente e futuras gerações.

Para Derani (2008), a descrição normativa do texto constitucional de 1988 identifica uma série de relações inerentes à sociedade contemporânea, as quais reafirmam novas matizes à economia capitalista, passando a natureza a ser considerada fator fundamental da produção econômica, que necessita de normatização dos meios de sua apropriação. Para o autor, “Ajusta- se, portanto, a exigências de razões econômicas, estéticas, culturais, ontológicas reguladas pelo ordenamento jurídico peculiar a cada formação social.” (2008, p. 8).

Um exemplo, dentre outros, que ajuda a desmistificar a ideia de um capitalismo individualista é o do Estado – regulador da atividade econômica – como detentor integral dos recursos hídricos. Até a Constituição Federal de 1988, o proprietário do imóvel detinha o domínio de todas as águas armazenadas na superfície ou debaixo dela, dispondo delas sem

qualquer controle. Os arts. 20, inc. III, e 26, inc. I9, da Constituição Federal de 1988, conferem

titularidade exclusiva das águas ao Estado, tornando-a bem público de uso comum. Assim, possibilita um efetivo controle e, por lei, outorga a cobrança por seu uso. “A outorga viabiliza um efetivo controle quali-quantitativo da utilização dos recursos hídricos, a fim de defendê-los e preservá-los para a atual e as futuras gerações.” (VIEGAS, 2012, p. 166).

Ao reconhecer e modificar o processo de juridicidade no que tange aos direitos da ordem econômica e financeira, adota-se um direito integrativo, em que a conformação jurídico- subjetiva do ambiente é indissociável da conformação jurídico-objetiva. As dimensões da juridicidade ambiental, para Canotilho e Leite (2010, p. 14), podem ser resumidas em quatro: a) Dimensão garantístico-defensiva, no sentido de direito de defesa contra ingerências ou

intervenções do Estado e demais poderes públicos;

9 Art. 20: São bens da União:

III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outro países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como terrenos marginais e as praias fluviais.

Art. 26: Incluem-se entre os bens dos Estados:

I – as águas superficiais ou subterrâneas fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.

b) Dimensão positivo-prestacional, cumpre ao Estado e a todas as entidades públicas assegurar a organização, procedimentos e processos de realização do direito ao ambiente;

c) Dimensão jurídico irradiante para todo ordenamento, vinculando as entidades privadas ao respeito do direito dos particulares ao meio ambiente;

d) Dimensão jurídico-participativa, impondo e permitindo aos cidadãos e à sociedade civil o dever de defender e proteger os bens e direitos ambientais.

Com esta contextualização o direito fundamental ao meio ambiente passa a ser um instrumento ainda maior no seio da Constituição Federal. Segundo Alexy (2011, p. 443), ele assume a forma de um direito fundamental como um todo, como um conjunto de posições

jusfundamental10.

A Constituição Federal dita os deveres do Estado, no entanto, a construção de um mundo equilibrado ecologicamente não depende só dele, mas da fusão Estado-sociedade civil. Para Canotilho e Leite (2010, p. 145), a tutela ambiental não é um dos valores sociais em que basta assegurar uma liberdade negativa, orientada a rejeitar a intervenção ilegítima ou o abuso do Estado. Além de ditar o direito negativo do Estado (o que ele não deve fazer) e o direito positivo (o que ele deve fazer), a norma constitucional estende seus tentáculos a todos os cidadãos, parceiros do pacto democrático, convencida de que só assim chegará à sustentabilidade ecológica.

Para Leff (2012, p. 342), os direitos individuais passam ser a considerados marginais e difusos aos direitos coletivos. Estes são compartilhados por uma sociedade como princípio de coesão e solidariedade, e neles se fundam as cosmovisões que unem a cultura com a natureza. Os novos movimentos sociais estão abrindo outros caminhos na busca pela sustentabilidade, fundados numa racionalidade ambiental que impulsiona e legitima os direitos ambiental, cultural e coletivo.

O desenvolvimento sustentável é uma busca global, cujos benefícios devem contemplar a todos os segmentos da sociedade e a totalidade dos países. Para isso, é essencial o esforço e colaboração dos interessados, ou seja, uma colaboração planetária no que tange à proteção dos

10 “Um direito fundamental ao meio ambiente corresponde mais àquilo que acima se denominou direito

fundamental completo. Ele é formado por um feixe de posições de espécies bastante distintas. Assim, aquele que propõe a introdução de um direito fundamental ao meio ambiente, ou que pretende atribuí-lo por meio de interpretação a um dispositivo de direito fundamental existente, pode incorporar este feixe, dentre outros, um direito a que o Estado se abstenha de determinadas intervenções no meio ambiente (direito de defesa), um direito a que o Estado proteja o titular do direito fundamental contra intervenções de terceiros que sejam lesivas ao meio ambiente (direito a proteção), um direito a que o Estado inclua o titular do direito fundamental nos procedimentos relevantes para o meio ambiente (direito a procedimento) e um direito a que o próprio Estado tome medidas fáticas benéficas ao meio ambiente (direito à prestação fática).” (ALEXY, 2011, p. 433).

recursos naturais, à elaboração de estudos e normas que consigam conciliar o crescimento econômico e a qualidade ambiental.

Segundo Giddens (2010, p. 75), a busca pela sustentabilidade ecológica vem sendo “profetizada” desde meados do século 19, quando Ralph Waldo Emerson publicou, em 1836, o ensaio Nature contra a exploração de madeira, argumentando que a natureza, já à época, figurava como objeto obrigado a servir à produção, e que se devia recuperar a relação que havia entre os ancestrais com a natureza. Ainda segundo o autor, no século 19, no ano de 1892, foi fundado nos Estados Unidos, o Sierra Club, reconhecido como a primeira organização ambientalista significativa do mundo dedicada à proteção das áreas de terras virgens, passando pelos protestos de represamento dos rios no início do século 20 e, atualmente, pela luta contra o aquecimento global. Para Giddens (2010, p. 74-76), não existe, em si, um “movimento verde, mas sim um leque variado de posturas e ações na busca da sustentabilidade.” O autor chama a atenção para o fato do “ecologismo” alemão ter se originado na época do nazismo, uma vez que promovia a conservação e a agricultura orgânica ou biológica e, ainda, praticava o vegetarianismo. O movimento verde moderno também se originou na Alemanha, na década de 1970, e o Partido Verde foi o primeiro a alcançar certo sucesso eleitoral no Brasil.

Desta época em diante os movimentos “verdes” se transformaram em eventos globais. As lutas sociais e a construção de novos direitos entraram no território político e buscaram uma codificação jurídica mundial para o problema do meio ambiente. Uma destas lutas foi a de Rachel Carson, que em 1962 publicou seu livro A Primavera Silenciosa, alertando sobre a importância do controle do uso de pesticidas na agricultura e do respeito ao ecossistema para proteção da saúde humana e do meio ambiente. Sua repercussão levou ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos a rever a política de uso de pesticida e a proibição do uso do DDT (SAAVEDRA, 2014, p. 72).

Nesta mesma linha encontra-se a grande influência do biólogo Barry Commoner com sua obra Ciência e Supervivência, que critica a vulnerabilidade da sociedade hipertecnológica e o desenvolvimento antiecológico da sociedade capitalista contemporânea. São suas orientações políticas que influenciam os movimentos ecologistas e ambientalistas nos anos 60 e 70 do século 20 na Europa Ocidental e Estados Unidos, até mesmo em núcleos ecologistas minoritários como a antiga União Soviética e a Europa Oriental (SAAVEDRA, 2014, p. 72-73).

Já no ano de 1971 houve a assinatura do Manifesto Menton, onde 2.200 cientistas participaram do Movimento Paz Internacional Dai Dong, no qual afirmaram que a crise ambiental era efeito do elevado nível de consumo, e que só poderia ser superada com a sua diminuição por parte das classes privilegiadas e pelo estabelecimento de uma redistribuição

equitativa dos recursos alimentícios entre todos os seres humanos (SAAVEDRA, 2014, p. 72- 73).

Mas foi o ano de 1972 que se destacou na construção do pensamento protetivo ambientalista. Difundiu-se, então, o conceito de ecodesenvolvimento que, posteriormente, deu lugar ao desenvolvimento sustentável. Foi nesse ano que se deu o estudo dos limites do crescimento pelo Clube de Roma e a Conferência Mundial de Estocolmo. Essas foram as primeiras iniciativas globais que alertaram para a necessidade de um novo conceito de crescimento econômico com o uso mais eficiente dos recursos naturais, ou seja, a conscientização para a necessidade de um desenvolvimento sustentável.

Segundo Saavedra (2014, p. 115), a Conferência de Estocolmo não foi apenas o ponto de partida, mas também o culminar de um processo desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde a sua criação. Em 1946 já havia proposta, pelos Estados Unidos, de realização de uma conferência para tratar sobre o uso e conservação dos recursos naturais. Assim, em 1949, a ONU realizou a Conferência Científica das Nações Unidas sobre a

Conservação e Utilização dos Recursos Naturais, que contou com a participação de 530

representantes de 49 países (exceto a URSS) dedicados à troca de experiências na busca pela conservação dos recursos naturais e a realização de um inventário. Distinguiu-se, assim, as seis categorias principais de recursos naturais, que são: minerais, combustíveis e energia; água; florestas; solo; flora e fauna selvagens; e peixes.

A Conferência Mundial de Meio Ambiente, em Estocolmo, ressaltou a importância de conciliar o desenvolvimento econômico com o uso mais eficiente dos recursos naturais. A expressão “desenvolvimento sustentável”, porém, se deu com a introdução do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Relatório Brundtland, em 1987. Assim como Limites do crescimento, o texto concentra-se na possibilidade da indústria estar esgotando seus insumos em tamanha velocidade que, se não houver grandes mudanças os “estoques” não serão mantidos por muito mais tempo. “O Relatório Brundtland reconheceu que o crescimento econômico era necessário para trazer maior prosperidade ao mundo em desenvolvimento, não obstante, o desenvolvimento em geral teria de se tornar sustentável.” Um desenvolvimento que atendesse às necessidades do presente sem comprometer a capacidade dos ecossistemas das gerações futuras (GIDDENS, 2010, p. 86-87).

O referido relatório aponta a incompatibilidade existente entre os meios de produção vigentes à época e o desenvolvimento sustentável, propondo uma limitação do crescimento populacional, garantias de recursos básicos, diminuição do consumo de energia, desenvolvimento de fontes energéticas renováveis, controle da urbanização e integração entre

campo e cidade, proteção dos ecossistemas e adoção de uma política de desenvolvimento sustentável, entre outros. Propôs, enfim, às lideranças, uma nova forma de produzir sem degradar o meio ambiente.

Também no ano de 1987 foi realizado o Protocolo de Montreal, em que os países signatários se comprometeram a reduzir o uso de substâncias que acarretam a destruição da camada de ozônio. Seu objetivo era abolir o uso dos gases como clorofluorcarbono (CFC),

dióxido de carbono (CO²), metano (CH4), óxido nitroso (N²), entre outros, a fim de proteger a

vida na Terra. Em 1992, porém, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou que os gases responsáveis pela destruição da camada de ozônio são produzidos por processo natural, como as atividades vulcânicas, ficando o Protocolo com uma eficácia limitada (CONTI, 2005, p. 4).

Durante a Convenção do Clima, realizada em 1997, foi anunciado o Primeiro Tratado Internacional para Redução dos Gases de Efeito Estufa. Realizou-se, então, um acordo na cidade de Kyoto, o qual foi colocado em prática somente a partir de 2005. Seu compromisso internacional visava uma gradativa redução do lançamento dos gases bloqueadores da radiação de onda longa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros) na atmosfera. O Protocolo de Kyoto, como é chamado, exige que os países mais industrializados (os maiores geradores

destes gases) restrinjam suas emissões em 5,2% até 2012, com base nos níveis de 1990(CONTI,

2005, p. 5). Passados 10 anos da entrada em vigor, no entanto, o Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas (IPCC)11 afirma terem sido mínimos os avanços, e para se evitar

aumento de até 4,5ºC até o fim do século será necessário conter o aumento de emissões de gases até 2020, e reduzi-las em 80% até 2050.

Com o Protocolo de Kyoto foi a introduzido um instrumento denominado “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo” (MDL), que permitiria aos países industrializados obterem créditos para investir em suas metas de Kyoto, financiando projetos de energia limpa nos países em desenvolvimento. Não se sabe, ao certo, porém, até que ponto o MDL ajuda na introdução dos projetos de energia renovável, pois o que predomina são projetos marginais, como contenção de gases da indústria pela fixação de filtros em tubulações já existente. Há quem

11 O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o principal organismo internacional para a

avaliação das alterações climáticas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) , em 1988, para fornecer ao mundo uma visão científica clara sobre o estado atual do conhecimento da mudança do clima e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. No mesmo ano, a Assembleia Geral da ONU aprovou a ação pela OMM e do PNUMA em estabelecer conjuntamente o IPCC. O IPCC é um organismo científico sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele analisa e avalia a informação científica, técnica e socioeconômica mais recente produzida no mundo, relevante para a compreensão das mudanças climáticas. Ele não realiza qualquer pesquisa nem monitorar dados ou parâmetros relacionados com o clima (IPCC, 2015).

afirme, inclusive, que metade das reduções declaradas resulte de truques contábeis desprovidos de conteúdo (GIDDENS, 2010, p. 233-234).

Uma expiração iminente do Protocolo de Kyoto foi realizada em Bali, em 2007, numa rodada de reuniões que lançou o Mapa do Caminho para a negociação do clima nos dois anos seguintes. O tratado prevê um corte na emissão dos gases de efeito estufa nos países desenvolvidos até 2020, entre 25 a 40% dos níveis emitidos em 1990. Segundo Giddens (2010, p. 235), porém, “O mapa do caminho pouco mais é do que um vago esboço. Os acordos não contêm um só comentário específico. Não demonstram nenhum reconhecimento dos problemas inerentes à estrutura do Protocolo de Kyoto, nem qualquer reconhecimento do impacto mínimo que ele exerceu sobre as emissões mundiais.”

Em 1992, a Cúpula da Terra (ECO/92) – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada do Rio de Janeiro, objetivou conciliar o desenvolvimento socioeconômico e a preservação dos ecossistemas, com uma política de desenvolvimento sustentável, estabelecendo diretrizes e as convenções sobre as mudanças do clima, a conservação do meio ambiente e os princípios florestais, e a Agenda 21. O instrumento visou reinterpretar o conceito de progresso, em que a inclusão social e a erradicação da miséria são ações prioritárias, e previu uma série de ações integradas dos órgãos de governo e da sociedade. Segundo Giddens (2010, p. 87), foram estabelecidos 27 princípios do desenvolvimento sustentável, além da recomendação de que todos os países produzissem uma estratégia nacional para o alcance desses objetivos.

O princípio do desenvolvimento sustentável na Constituição Federal brasileira já vinha sendo trabalhado antes mesmo da Conferência de 1992. Os arts. 170 (já citado anteriormente)

e 22512 do texto constitucional protegem o desenvolvimento econômico e social com a

12 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Mesmo sem fazer uma referência direta ao conceito de desenvolvimento sustentável estes artigos mencionam o triângulo, também chamados de três pilares – econômico, social, ambiental – sobre os quais repousa o desenvolvimento sustentável disposto na Declaração de Johanesburgo (SILVA, 2013, p. 308-309).

A análise das condições para acesso e apropriação dos bens ambientais depende da compreensão do perfil proposto para a ordem econômica e as relações de produção. O modelo