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O resgate da ética no processo econômico

Na última década, o espetacular fracasso dos mercados financeiros demonstrou que é impraticável seguir o modelo econômico capitalista que se fortaleceu em meados dos anos de 1980, com a expansão da economia neoliberal e o processo da globalização econômica. As políticas dos governos dos USA, que tiveram como presidente Ronald Reagan, e da Inglaterra, cuja primeira ministra foi Margareth Thatcher, inauguraram o processo de mundialização neoliberal, tendo como maior marco simbólico a queda do muro de Berlin, em 1989. A globalização trouxe para o capitalismo uma mudança significativa, fazendo com que se aumentasse a competitividade e a busca pelo lucro, implicando na distribuição de renda, fazendo com que os valores éticos na busca por uma equidade social ficassem comprometidos.

Ao separar ética e economia em uma situação de crescimento da desigualdade, deixou-se todo o terreno livre para antivalores éticos que repercutem seriamente em todas as dimensões do capital social. [...] Proliferam antivalores como o consumismo desenfreado, o de pisar no pescoço de quem quer que seja para avançar, manipulação constante das pessoas, e até uma aura de legitimidade para a corrupção, desde que efetivada com habilidade. (SEN, 2010, p. 317).

No mundo moderno e globalizado a ética e a moral parecem caminhar em sentido oposto ao do mercado, sendo necessário repensar o comportamento do mercado e seus limites éticos na sociedade mundial, a fim de criar condições de dignidade a todos os indivíduos. Sabe-se que desde Maquiavel a ética e a política encontram-se separadas, mas a humanidade deve buscar um idealismo público capaz de criar condições econômicas favoráveis à sociedade.

Quando Aristóteles escreveu a obra Ética a Nicômaco, ele sugeria que “a felicidade é, pois, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo”, contudo, já dizia ele, que o

homem feliz necessita de uma prosperidade24. O homem, no entanto, confundiu a necessidade

de prosperidade com a ganância pelo poder e pela acumulação de riqueza.

A condição humana, conferida pela natureza do homem, e o alcance da ação humana para basear-se no que é bom para o homem, perderam-se ao longo do tempo. Estas mudanças acarretaram, também, uma mudança na forma do agir humano, impondo uma modificação à ética, e isso não somente no sentido de que os objetos do agir ampliaram materialmente o domínio dos casos, mas em um sentido muito mais radical, “pois a natureza qualitativamente nova de muitas das nossas ações descortinou uma dimensão inteiramente nova de significado ético, não prevista nas perspectivas e nos cânones da ética tradicional.” (JONAS, 2006, p. 29). Na contemporaneidade parece ser natural que tudo e todos possuam um preço. Nesse contexto, agravam-se as desigualdades e se forma uma sociedade corrupta na sua essência, revelando uma dificuldade imensa de sobrevivência das pessoas de menor renda. Ao imergir nas perspectivas da ciência econômica, o respeito e a ética ao meio ambiente encontram severas dificuldades de se manter.

Diante da atual situação que separa os preceitos éticos da economia de mercado, Sen (1999, p. 94) esclarece que um contato entre ética e economia pode ser benéfico tanto para a economia como para a ética, pois o uso direto do raciocínio econômico nas questões logísticas de interdependência e interconexão possui certa relevância metodológica para argumentos éticos.

O homem atual é cada vez mais o produtor daquilo que ele produziu e o feitor daquilo que ele pode fazer; mas ainda é o preparador daquilo que ele em seguida estará em condições de fazer. [...] Se a esfera do produzir invadiu o espaço do agir essencial, então a moralidade deve invadir a esfera do produzir, da qual ele se mantinha afastada anteriormente, e deve fazê-lo na forma de política pública. (JONAS, 2006, p. 44).

24 Em muitas ações utilizamos como instrumentos os amigos, a riqueza e o poder político; e há coisas cuja ausência

emana a felicidade, como a nobreza de nascimento, uma boa descendência, a beleza. Com efeito, o homem de muito feia aparência, ou mal nascido, ou solitário e sem filhos, não tem muitas probabilidades de ser feliz. [...] o homem feliz parece necessitar também dessa espécie de prosperidade; alguns identificam a felicidade com a boa fortuna, embora outros a identifiquem com a virtude. (ARISTÓTELES, 1991, p. 58).

Para Morin (2011, p. 25), os tempos modernos estimularam o desenvolvimento de setores autônomos (Economia, Ciência, Arte), levando ao deslocamento da ética global imposta pela teologia medieval. A economia, ao respeitar os contratos, respeita também a ética dos negócios, consequentemente, obedece aos imperativos do lucro, o que leva à “instrumentalização e à exploração de seres humanos.”

A ciência moderna alicerçou-se sobre a separação entre juízo de fato e juízo de valor. Ou seja, entre de um lado o conhecimento e, de outro, a ética. A ética do conhecimento pelo conhecimento à qual a ciência obedece não enxerga as graves consequências geradas pelas extraordinárias potências de morte e de manipulação suscitadas pelo progresso científico. O desenvolvimento técnico, inseparável do desenvolvimento científico e econômico, permitiu o hiperdesenvolvimento da racionalidade instrumental, que pode ser posta a serviço dos fins mais imorais. (MORIN, 2011, p. 25).

Neste sentido, Habermas (2010, p. 57) questiona se a tecnização da natureza humana altera a autocompreensão ética da espécie, ou seja, se esta alteração se dá de tal modo que não se possa mais compreender os seres vivos eticamente livres e moralmente iguais, guiados por normas e fundamentos.

Para Morin (2011), o problema ético contemporâneo é resultado histórico da moral do amor e da fraternidade ter sido extremamente frágil, sempre submisso às imorais explosões de ódio e perseguição oriundas das religiões e das ideologias. Atualmente, o problema vem do fato que tudo, na civilização ocidental, “tende a favorecer nosso ‘programa’ egocêntrico, enquanto nosso ‘programa’ altruísta ou comunitário permanece subdesenvolvido.” (MORIN, 2011, p. 174).

Exemplos não faltam para demonstrar o quanto a sociedade usa de uma práxis moralmente abusiva de comercialização de coisas que não poderiam estar à venda. Sandel (2012, p. 9) reflete sobre o mercado e a moral, o que o dinheiro não deveria comprar. Atualmente, porém, quase tudo está à venda, desde acomodações melhores em celas de prisão até o número do celular do médico “de butique”. O que se está querendo demonstrar é o que se pode conseguir se a pessoa estiver disposta a pagar e, é claro, se tiver condições de pagar.

Hoje quem tem condições financeiras, possui certo nível de poder, ou seja, nem todos podem pagar por benesses oferecidas pelo mercado, mas quem pode exerce o poder de comprar o direito de possuir, fazendo com que os valores de mercado passem a desempenhar um papel cada vez maior na sociedade.

Vivemos numa época em que quase tudo pode ser comprado e vendido. Nas três últimas décadas, os mercados – e os valores de mercado – passaram a governar nossa vida como nunca. Não chegamos a essa situação por escolha deliberada. É quase como se a coisa tivesse se abatido sobre nós. (SANDEL, 2012, p. 11).

O mercado passou a desfrutar de um prestígio muito grande quando a Guerra Fria acabou. Até então ele era visto como o melhor mecanismo de organização e distribuição de bens e, consequentemente, era bem-sucedido na geração de afluência e prosperidade. O que era para ser um mecanismo de mercado na gestão da economia, no entanto, passou a ter um papel cada vez maior na vida social, tornando a economia um domínio imperial. Hoje, a lógica do mercado não se aplica somente a bens materiais, mas governa a vida como um todo. Vê-se, atualmente, a proliferação de instituições que deveriam ser geridas, gratuitamente, pelo Estado, mas que passam para a iniciativa privada, inserindo-se no sistema da busca pelo lucro – alguns exemplos são as escolas, as prisões, os hospitais (SANDEL, 2012, p. 11-13).

Para Sen (1999, p. 23-25), todo esse processo em que a natureza da economia moderna foi empobrecida se deu pelo distanciamento crescente entre a economia e a ética. Segundo o autor, a metodologia da “economia positiva”, além de se esquivar da análise econômica normativa, deixou de lado uma variedade de considerações éticas complexas que afetam o real comportamento humano, bem como as questões econômicas que podem ser de extrema importância para as questões éticas, como, por exemplo, a forma correta de se viver.

A consciência moral fracassou diante da fragmentação do capitalismo, da burocracia e dos Estados, levando a uma crise ética de proporção global. Essa situação favorece os interesses primados no prazer ou no interesse, fazendo com que a busca do crescimento individual e pessoal a qualquer preço transgrida a própria ética familiar ou conjugal (MORIN, 2011, p. 26). Para Morin (2011, p. 165), a missão antropo-ética-política do milênio é realizar a unidade planetária na diversidade, devendo vencer a impotência da humanidade para constituir- se como comunidade. Segundo essa missão, deve-se civilizar a Terra ameaçada pela dominação do cálculo tecnoeconômico, regulando-se os quatro motores descontrolados que a impulsionam:

ciência → técnica → economia → lucro ↑ ← ↑ ← ↑ ← ↓

Cada um destes motores possui uma carência de ética, pois a ciência exclui o juízo de valor e o retorno à consciência do sentido; a técnica é puramente instrumental, e o lucro invade todos os campos, inclusive os seres humanos. E, assim, nessas condições impõe-se uma ética de compreensão e solidariedade planetária (MORIN, 2011, p. 165).

Todas essas imperfeições devem estar incluídas em uma ordem política viável que exige uma ética de previsão e responsabilidade de agir para o alcance de uma economia de bem-estar. Para Sen (1999, p. 45), contudo, dentro da teoria econômica moderna, a posição da economia do bem-estar tem sido muito precária, separada do restante da economia. O que tem ocorrido é um relacionamento de mão única, no qual as conclusões da economia preditiva influenciam a análise da economia do bem-estar, não sendo permitido que as suas ideias influenciem a economia preditiva. A ação humana real tem por base unicamente o autointeresse, sem impacto algum de considerações éticas ou de juízos provenientes da economia do bem-estar.

Uma observação que deve ser feita é quanto ao termo “economia do bem-estar”. Nas

ciências econômicas a teoria do bem-estar está associada à otimalidade de Pareto25 e à eficiência

econômica, indicando uma concepção utilitarista. Neste estudo, porém, o termo é usado no

sentido de uma opção social, de uma “escolha social”, como refere Rawls (1997, p. 303)26.

A grande importância da otimalidade proposta por Pareto na economia do bem-estar, contudo, encontra-se estreitamente relacionada à oposição consagrada do utilitarismo na economia do bem-estar tradicional – sem ser questionada a possibilidade das comparações interpessoais de utilidade. Em outras palavras, se fossem deixadas de lado as comparações interpessoais de utilidade, e se ainda assim a utilidade fosse considerada a única coisa de valor intrínseco, a otimalidade de Pareto naturalmente sobreviveria, pois é grande o alcance da lógica

utilitarista sem se fazer comparações interpessoais de utilidade (SEN, 1999, p. 54)27.

Considerações à parte, faz-se algumas reflexões sobre o aspecto do bem-estar na importante avaliação das questões de justiça distributiva, cujo principal problema é a escolha de um sistema social. Este sistema deve ser estruturado de forma que o resultado da distribuição seja justo, independentemente do que venha a acontecer. Para que seja alcançado este objetivo faz-se necessário situar o processo econômico e social dentro de um contexto de instituições

25 O economista Vilfredo Pareto especificou uma condição para a alocação ótima ou eficiente de recursos, que é

conhecida como a condição de Pareto, que a aplicou a uma situação de mercado. Quando a condição é satisfeita, é impossível que um indivíduo ganhe sem que outro tenha uma perda. Portanto, quando a condição de Pareto é satisfeita, é impossível que todos os indivíduos ganhem numa troca posterior. Quando a condição de Pareto não é satisfeita, há possibilidade (pelo menos em princípio) de que pelo menos um indivíduo obtenha um ganho sem causar prejuízo a qualquer outro, consequentemente, todos os indivíduos podem lucrar numa troca posterior (MILLER, 1981, p. 440, grifo do autor).

26 A otimalidade de Pareto, às vezes, também é denominada “eficiência econômica”. Essa expressão é apropriada

sob um ponto de vista, pois a otimalidade de Pareto concerne exclusivamente à eficiência no espaço das utilidades, deixando de lado as considerações distributivas relativas à utilidade. Em outro aspecto, porém, é inadequada, uma vez que todo o enfoque da análise continua sendo a utilidade, e esse é um legado utilitarista. Obviamente é possível introduzir outras considerações na avaliação do êxito das pessoas e, portanto, da sociedade (SEN, 1999, p. 49).

27 De fato, pode-se demonstrar facilmente que o critério utilitarista, quando combinado a utilidades inteiramente

não comparáveis produzirá uma ordenação parcial (partial ordering) de rankings sociais (social rankings) inequívocos, e essa ordenação parcial coincidirá exatamente com o ranking social obtido pelo critério de Pareto (SEN, 1999, p. 54).

políticas e econômicas adequadas. “Sem uma organização apropriada dessas instituições básicas, o resultado do processo distributivo não será justo. Faltará a equidade do contexto.” (RAWLS, 1997, p. 303).

A atual forma de organização predominante adotada pelo mundo é a do mercado, que alguns socialistas abominam e a tomam como degradante. É certo que não se pode afirmar que o mercado seja um sistema organizacional ideal, mas, com certeza, ainda é o mais virtuoso, pois determina um esquema competitivo impessoal e automático, cujos resultados não expressam a decisão consciente dos indivíduos, sem, com isso, implicar a falta da autonomia humana. “Uma sociedade democrática pode fazer a opção de basear-se nos preços com vistas às vantagens que isso possa trazer, e, ao mesmo tempo, manter as instituições básicas exigidas pela justiça. Essa decisão política, assim como a regulação das organizações decorrentes, pode ser perfeitamente racional e livre.” (SEN, 1999, p. 310-311).

Em capítulo anterior já foi visto que a democracia é uma conquista da complexidade social, que faz do indivíduo um cidadão sabedor dos seus deveres e consciente dos seus direitos. O que se percebe, no entanto, é que as democracias contemporâneas estão em crise e por diversas razões, em especial, segundo Morin (2011, p. 149-150), devido à relação que há entre a falta de solidariedade e crescimento do egocentrismo; as excessivas compartimentalizações que separam os cidadãos da sociedade como um todo; as escleroses e corrupções, entre as quais a corrupção econômica, em sociedades que não conseguem reformar-se; e o crescimento de uma consciência de desigualdade e de iniquidade.

Hoje, as sociedades ocidentais enfrentam graves problemas éticos e morais, em que os agentes das instituições acabam por agir de forma irresponsável, uma vez que são eles os responsáveis pela manutenção do bem-estar da sociedade, fazendo com que os interesses sociais da maioria sejam preteridos pelos interesses particulares, ou mesmo os da minoria. Para Jonas (2006, p. 168), se o bem-estar do outro se encontra, em boa parte, nas mãos do agente público, este terá o dever de agir de forma responsável. Se praticado o exercício do poder sem a observação do dever, torna-se uma forma irresponsável de agir – sem o complemento moral.

Esta forma de agir acaba por isolar a ética da ação, passando a haver a desintegração social, o surgimento de todos os tipos de corrupção e todos os tipos de crises, já que a ação é uma ação política e não se pode aceitar a desvinculação da ética na política.

Não se pode aceitar a dissolução da ética na política, que se torna, então, puro cinismo; não se pode sonhar com uma política serva da ética. A complementaridade dialógica entre a ética e a política comporta a dificuldade, a incerteza e, às vezes, a contradição. Quanto mais a política atua no que uma sociedade tem de complexo, mais são

imperiosos os imperativos éticos de liberdades e direitos; quanto mais se degradam as solidariedades e comunidades, mais elas são necessárias. (MORIN, 2011, p. 81).

A crise de 2008, nos EUA, é o mais típico exemplo do abandono do Estado na sua missão de proteger o interesse coletivo por meio da regulação, ou seja, o agente agiu de forma irresponsável, fazendo com que o mercado, desregulado, fragilizasse as instituições reguladoras existentes. Para Sen (2009, p. 357), houve déficits éticos de grande monta, já que uma economia de mercado sem valores éticos pode ser portadora de altíssimos riscos, “como havia observado Adam Smith, de forma visionária, ao enfatizar em seus textos fundamentais (Teoria dos

Sentimentos Morais, 1759), ser imprescindível que o mercado esteja baseado em valores éticos

como ‘prudência, humanidade, justiça, generosidade e espírito público’.”

Não cabe, no momento, discutir todos os fatores que culminaram na crise, mas sim, o caráter da ética e da responsabilidade, de como se constrói uma sociedade com grande capital social, em que o importante é a maior equidade possível. Sen (2010, p. 309) cita que a cultura e a ética atuam com grande importância no comportamento social. Os exemplos usados por ele são os países nórdicos, a cultura absorvida pela população que não aceita desvios de conduta, tampouco a desigualdade. A discussão da ética faz parte da vida cotidiana daquele povo, transformando-o em líder mundial em desenvolvimento humano, sendo destaque no The New

York Times: “Na Noruega, o dinheiro segue a ética”28.

O resultado desse trabalho foi o alto nível de equidade conseguido, não somente na Noruega como, também, na Suécia, Finlândia e Dinamarca. O modelo de desenvolvimento adotado por eles, chamado de “Modelo Nórdico”, apresentou um coeficiente de Gini mais baixo do planeta (0,25). Na América Latina este índice é duas vezes maior, exemplo disso é a relação entre o que ganha um empresário norueguês do setor privado e seus funcionários: 3 para 1; já na América Latina é de 50 para 1 entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres (SEN, 2010, p. 311).

Esta questão é trazida para refletir sobre o fato de esses países, considerados de “primeiro mundo”, conseguirem registrar índices de crescimento, desenvolvimento e mesmo assim, com uma alta distribuição de renda. Então, como essas sociedades de economia de mercado conseguem obter o lucro desejado e mesmo assim são exemplos de equidade? Talvez a resposta esteja no desenvolvimento cultural que mantém valores axiológicos, talvez porque

28 Em 1988, o primeiro ministro da Noruega criou uma Comissão Nacional de Valores Humanos. Sua missão era

a seguinte: “O principal objetivo da comissão consiste em contribuir para uma ampla mobilização a favor dos valores humanos e da ética social com a finalidade de estimular os valores positivos compartilhados a fortalecer a responsabilidade pelo ambiente e pela comunidade. É importante trabalhar para combater a indiferença e promover a responsabilidade individual, a participação e a democracia” (SORENSEN, 2001 apud SEN, 2010, p. 309).

os valores centrais estejam baseados no igualitarismo, talvez porque considerem mais o senso de responsabilidade do que no restante do mundo. Nesta ocasião, não se consegue abordar o que leva os países nórdicos a adotarem uma política econômica primada pela igualdade. O que se pode afirmar, contudo, é que esta política está completamente correta e deveria servir de exemplo para o resto do mundo.

O modelo descabido da política econômica de mercado até então exercida deve dar lugar à política econômica de mercado com alta responsabilidade social e empresarial. Buscam-se políticas que respeitem os valores morais e éticos, e que consigam romper com os velhos paradigmas, transformando a visão puramente economicista de crescimento em um modelo de desenvolvimento baseado na equidade, na melhor distribuição de renda e com elevado capital social.

A ética e o capital social influenciam de modo muito ativo o desenvolvimento. Uma sociedade pode potencializar ou deteriorar o seu capital social. A desigualdade é um fator estratégico em relação a isso. Já está demonstrado que uma desigualdade elevada deteriora seriamente esse capital. Em uma sociedade que apresenta uma desigualdade tão grande as pessoas a sentem como algo que viola as regras elementares de comportamento, que se torna arbitrário. (SEN, 2010, p. 315).

Ao buscar a responsabilidade social e empresarial o indivíduo está querendo que existam: políticas de pessoal que respeitem os direitos dos que fazem parte da empresa e favoreçam seu desenvolvimento; transparência e boa governança cooperativa, sendo as informações públicas e contínuas com possibilidade de uma intervenção ativa por parte dos acionistas; jogo limpo com o consumidor, mediante oferta de produtos de boa qualidade e a preços razoáveis; políticas ativas de meio ambiente que convertam as empresas em instituições limpas do ponto de vista ambiental; integração aos grandes temas que produzem o bem-estar comum, fazendo com que as empresas privadas colaborem com as políticas públicas (SEN, 2010, p. 362-364).

A responsabilidade social e empresarial deve primar pelo anseio da sociedade e cumprir seu dever ético. A última crise demonstrou que já chegou a hora de se reciclar, de buscar uma nova consciência e deixar esquecido o pensamento de que empresário ético é aquele que simplesmente cumpre sua responsabilidade quando paga os salários e está em dia com as suas responsabilidades fiscais. Para Sen (2010, p. 379), são necessárias políticas públicas agressivas