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Economia ecológica como alternativa democrática à realização do desenvolvimento

Nos anos 1960 e 1970 ocorreu a intensificação dos movimentos ambientalistas dado à

crise do petróleo e ao alerta trazido, em 1972, pelo relatório do Clube de Roma42 - Os Limites

do Crescimento, também chamado de Relatório Meadows, que apontou a emergência de se

repensar a questão ambiental pela economia e pela política. O desenvolvimento sustentável passou a ser tema obrigatório nos debates econômicos e sociais da década de 70 do século passado até os dias atuais.

Para Amazonas (2001), o trabalho apresentado pelo Clube de Roma aponta um cenário catastrófico de impossibilidade de perpetuação do crescimento econômico, levantando-se a ideia do crescimento econômico “zero”, em contraposição aos desenvolvimentistas que defendem o “direito ao crescimento”, cuja ideia surgiu entre os países em desenvolvimento.

Na Conferência de Estocolmo, em 1972, todas as posições extremas foram descartadas, emergindo uma alternativa média entre o economicismo arrogante e o fundamentalista ecológico, já que o crescimento econômico se faz necessário, mesmo ele tendo que ser socialmente receptivo aos métodos favoráveis ao meio ambiente (SACHS, 2009, p. 52).

Amazonas (2001) ressalta que dentro dessas perspectivas, a Conferência de Estocolmo desenvolve a tese do ecodesenvolvimento, “segundo a qual desenvolvimento econômico e preservação ambiental não são incompatíveis, mas ao contrário, são interdependentes para um

42 Em 1968 constituiu-se o Clube de Roma, composto por cientistas, industriais e políticos, que tinha como objetivo

discutir e analisar os limites do crescimento econômico, levando em conta o uso crescente dos recursos naturais. O Relatório Meadows, conhecido como Relatório do Clube de Roma, propõe crescimento econômico zero e influenciou, de maneira decisiva, o debate na Conferência de Estocolmo (CMQV, 2014).

efetivo desenvolvimento.” Nasce aí a proposição do desenvolvimento sustentável, consolidada no Relatório Brundtland, de 1987, que defende o desenvolvimento entendido pela eficiência econômica, equilíbrio ambiental e equidade social.

Para Leff (2012, p. 57), o desenvolvimento sustentável nada mais é do que um “projeto social e político que aponta para um ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações que habitam o planeta.” Neste sentido, Leff (2012, p. 57) considera que a economia ecológica e a economia política se configuram como novos campos teóricos e de ação política, abrindo fronteiras interdisciplinares com diferentes campos científicos para a valoração das condições ecológicas do desenvolvimento.

As propostas teóricas da economia ecológica estendem-se também à ecologia humana. Nela floresceram as perspectivas neomalthusianas que consideram a sustentabilidade através de uma relação entre crescimento populacional, escassez de recursos e limites ecológicos, onde uma “capacidade de carga” dos ecossistemas fixaria os limites ao crescimento econômico e demográfico. (LEFF, 2012, p. 43).

Já Daly e Farley (2004, p. 31) trabalham um pouco mais a questão da eficiência e consideram que a economia ecológica assume uma postura diferente da sua contraparte neoclássica. Na economia ecológica a atribuição eficiente é importante mas não um fim em si mesma. Neste sentido, os autores usam a metáfora de um navio: carregar um navio eficientemente é garantir a distribuição de peso em ambos os lados, mas o mais importante é que não se coloque demasiada carga no navio. Dizem, ainda, que “os economistas ecológicos olham para a Terra como um navio e a produção bruta material da economia como carga. A boa condição do navio é determinada pela sua saúde ecológica, a abundância de suas provisões e a sua arquitetura.”

Os autores seguem afirmando que a economia ecológica é um subconjunto da economia neoclássica e, para tanto, sabe-se que o bem-estar depende em larga medida dos serviços prestados pelo ecossistema que sofre com a poluição, mas que mesmo assim dedica-se à eficiência. Como raramente existe mercado nos serviços do ecossistema ou da poluição, os economistas ecológicos utilizam-se de variadas técnicas para atribuir valores de mercado, de maneira que possam ser incorporados ao modelo de mercado. Os economistas ecológicos se esforçam para permanecer dentro do peso permitido “pela arquitetura do navio e pelas piores condições atmosféricas que possa encontrar, certificando-se que todos os passageiros têm os recursos suficientes para uma viagem confortável” (DALY; FARLEY, 2004, p. 32).

É preciso cuidar, no entanto, para não confundir a economia ecológica com a economia ambiental. Esta procura atribuir preços de mercado à natureza na tentativa de fazer com que as mercadorias circulem em torno da ordem econômica. “Os métodos de valoração econômica do meio ambiente são parte do arcabouço da microeconomia do bem-estar e são necessários na determinação dos custos e benefícios sociais quando as decisões de investimentos públicos afetam o consumo da população” (MOTTA, 2006, p. 13). Percebe-se que o autor está mais preocupado com a condição econômica da diminuição do consumo do que com a preservação dos recursos ambientais. Já Sachs (2007, p. 86) é completamente cético à internalização da dimensão ambiental mediante a ajuda dos preços e à análise de custos-benefícios. Para ele, essas análises têm por finalidade introduzir os fenômenos situados fora do mercado, inclusive os retardamentos ecológicos: “a vontade de ver mais longe é louvável e representa, de fato, um reconhecimento do divórcio entre a racionalidade social ampliada, que o cálculo do custo- benefício pretende apreender, e a racionalidade estreita do mercado, refletida nos preços correntes.”

Para Leff (2012, p. 43), os fundamentos que sustentam a economia neoclássica levou ao ajustamento dos ciclos econômicos com a atribuição de preços de mercado à natureza, fazendo com que mercadorias circulem em torno da esfera da ordem econômica.

No contexto da economia ambiental a lógica seria mais ou menos assim: a diminuição do uso dos recursos naturais se daria pela elevação dos preços dos produtos, fazendo com que somente quem tem condições financeiras de pagar pelo produto pronto possa usufruí-lo. A internalização dos custos ambientais é uma solução de curto prazo, até porque esta visão econômica não se sustenta dentro de um Estado social, pois com essa perspectiva, as desigualdades ficariam ainda mais latentes.

Caride e Meira (2001) demonstram que a lógica econômica ambientalista opta por quantificar ou outorgar um valor de mudança aos bens naturais para que os mercados interiorizem. Segundo os autores, “os economistas que postulam uma focalização alternativa ao mercado assinalam a impossibilidade de outorgar um valor objetivo aos bens naturais” (CARIDE; MEIRA, 2001, p. 93).

As externalidades ambientais (e as sociais) são incomensuráveis em termos monetários, e são como “externalidades diacrônicas”; isto é, torna-se impossível assinalar um valor preciso das repercussões que podem ter para a vida das futuras gerações a contaminação, o esgotamento e um recurso renovável ou não renovável, o desaparecimento de um ecossistema ou a extinção de uma espécie animal ou vegetal. (CARIDE; MEIRA, 2001, p. 93).

Amazonas (2001, p. 185), no entanto, chama a atenção para o reconhecimento dos valores ambientais no sentido não econômico, mas sim como pertencentes ao conjunto de valores humanos éticos de valoração à vida e suas formas, ou seja, transcende a valorização econômica estrita. Assim, a economia ecológica trabalha com a possibilidade de construção de um paradigma aberto aos diferentes campos científicos para valoração e incorporação das condições ecológicas de desenvolvimento.

Ainda segundo Amazonas (2001, p. 2), a economia ecológica é fundada no princípio de que o funcionamento do sistema econômico deve ser compreendido visando às condições do mundo biofísico sobre o qual se realiza, já que é dele que derivam a energia e matérias primas para o próprio funcionamento da economia. Sendo o pressuposto econômico um processo também físico, as relações físicas não podem deixar de fazer parte da análise do sistema econômico. Assim, a natureza do problema envolve elementos tanto econômicos quanto biofísicos. “Por sinal, o descaso ou pouca relevância aos atributos biofísicos da economia nos modelos da economia convencional vem sendo o principal ponto de crítica e motivação da Economia Ecológica.” (AMAZONAS, 2001, p. 2).

A economia ecológica apoia-se no conceito do capital natural, que configura os estoques físicos necessários à produção de bens e serviços biofísicos que a economia extrai dos fluxos globais. Esses são entendidos como a renda natural que se deve manter sem comprometer a produção futura. “Os serviços dos ecossistemas consistem de fluxos de materiais, energia e informação – a renda natural – que combinam com os serviços do capital natural e humano para

produzir o bem-estar humano”43. (OLIVEIRA, 2000, p. 14).

Para Costanza et al. (1998 apud OLIVEIRA, 2000, p. 16), as funções e serviços produzidos pelo capital natural possuem baixa probabilidade de serem produzidos pelo capital manufaturado. À época, os autores estimaram um valor econômico de US$ 33 trilhões para 17 serviços dos 16 biomas existentes na Terra. Compararam este valor ao Produto Nacional Bruto global, que era de US$ 18 trilhões e chegaram à seguinte conclusão: comparar estes valores “é um exercício que atesta a importância dos serviços dos ecossistemas para o bem-estar humano.” (OLIVEIRA, 2000, p. 16).

43 O capital natural, seguindo a definição de Wackernagel e Rees (1977), refere-se ao estoque dos ativos naturais

capazes de produzir um fluxo sustentável de bens e serviços para o futuro. Não é só um inventário de recursos – inclui todos os componentes de cada ecosfera e as relações estruturais entre eles, cuja integralidade organizacional é essencial para a autoprodução continuada do sistema. Dadas as condições de deterioração ecológica global, cada geração deveria herdar um estoque de ativos biofísicos essenciais não menor que a geração anterior herdou (OLIVEIRA, 2000, p. 14).

Alguns serviços e funções dos ecossistemas listados:

SERVIÇO DO ECOSSISTEMA FUNÇÃO DO ECOSSISTEMA EXEMPLO Regulação climática Regulação da temperatura global,

precipitação e outros processos climáticos mediados biologicamente

Equilíbrio do CO2/O2, O3 para

proteção dos UVB

Regulação da água Regulação dos fluxos hidrológicos Provisão de água para a agricultura, ou processos industriais ou transporte Suprimento de água Armazenamento e retenção de água Provisão de água por bacias,

reservatórios e aquíferos Formação de solos Processo de formação dos solos Intemperização de pedras e

acumulação de matéria orgânica Tratamento de resíduos Recuperação de nutrientes mobiles e

remoção ou quebra de excesso de nutrientes xenic e compostos

Tratamento de resíduos, controle de poluição e destoxificação

Fonte: Oliveira (2000, p. 16).

Leff (2012, p. 44-45) ensina que a economia ecológica é ligada aos preceitos da economia neoclássica no que diz respeito aos custos e limites dos recursos naturais. Suas fronteiras estão se abrindo “à complexidade emergente, à distribuição ecológica e à democracia política, onde travam as lutas sociais pela apropriação dos recursos naturais e os serviços ambientais.”

Uma economia ambientalmente sustentável, uma eco-economia, requer que os princípios da ecologia estabeleçam o arcabouço para a formulação de políticas econômicas e que economistas e ecólogos trabalhem, em conjunto, para modelar a nova economia. Os ecólogos entendem que toda atividade econômica, efetivamente toda vida, depende do ecossistema da Terra. O complexo de espécies individuais vivendo em harmonia, interagindo entre si e seus habitats físicos. Essas milhões de espécies existem dentro de um equilíbrio delicado, interligadas numa trama de cadeias alimentares, ciclos de nutrientes, ciclo hidrológico e sistema climático. Economistas sabem como transformar metas em políticas. Economistas e ecólogos, trabalhando conjuntamente, podem projetar e construir uma eco-economia que possa sustentar o progresso. (BROWN, 2003, p. 5).

Thomas e Callan (2012, p. 505) denominam a economia ecológica de “ecologia industrial”, mas o conceito é o mesmo: “atuar como uma estrutura multidisciplinar”. Seguem os autores afirmando que esta estrutura fomenta uma abordagem de sistemas de gestão ambiental e reconhece a interação de sistemas ecológicos com sistemas industriais. Isto faz com que seja diminuído o impacto da atividade econômica no meio ambiente, integrando a ecologia com os objetivos econômicos.

A economia ecológica tem como um de seus objetivos romper com o fluxo circular de valor de troca proposta pela economia clássica, como um sistema isolado e que deixa o ambiente físico abstraído.

Figura 1. O fluxo circular da economia (DALY; FARLEY, 2004, p. 54).

Ao invés de apresentar a (macro) economia como um sistema fechado, uma espécie de

fluxo circular de valor de troca abstrato e não limitado por balanços de matéria e finitudes, a economia ecológica traz uma mudança de paradigma. Ela apresenta a macro (economia) como um subsistema aberto de um ecossistema natural finito (OLIVEIRA, 2000, p. 11).

Do ponto de vista da economia ecológica é necessário restabelecer a estreita vinculação entre sistema econômico e sistema natural, sendo aquele um subsistema que se integra a este, e que depende do meio biofísico para existir (CARIDE; MEIRA, 2001, p. 93). Na verdade, é necessária a interação de diversas ciências para se alcançar o estágio de desenvolvimento sustentável.

Para muitos, o capital natural está se exaurindo rapidamente, e a alternativa para a sustentabilidade seria o que propõe a teoria do decrescimento, ou crescimento zero. O argumento apresentado pelos autores que a preconizam seria que o crescimento é o grande “vilão” das fraturas da natureza. Um dos autores é Latouche (2009, p. 39), que traz a visão de crescimento como um negócio rentável somente se o peso recair sobre a natureza, as futuras gerações, a saúde da população. Na verdade, porém, a questão não é o crescimento, mas sim seu caráter predatório, selvagem, ilimitado.

A opção pelo crescimento “zero” é rejeitada pelo fato de que as disparidades de receitas entre as nações e mesmo dentro delas, com a suspensão do crescimento, deteriorariam ainda mais a já inaceitável situação da maioria dos indivíduos pobres (SACHS, 2009, p. 52). Por outro

lado, a conservação da biodiversidade não pode ser equacionada com a opção do “não uso” dos

recursos naturais44 (SACHS, 2009, p. 52).

É inegável que o consumo e o sistema de produção como se apresentam hoje são inviáveis. Como afirmam Caride e Meira (2001, p. 58), é essencial, para a humanidade, reduzir o consumo de materiais e energia, recuperar os elementos qualitativos contidos no ideal de progresso com a adaptação das formas de produção e modelos sociais sustentáveis

(descentralizados, comunitários, autossuficientes)45.

A teoria de decrescimento de Latouche (2009, p. 49), ao referir que se deve limitar o

consumo excessivo e o desperdício gerado pelos hábitos da população46 é perfeitamente

compatível com a economia ecológica. Segundo o autor, 80% dos bens postos no mercado são utilizados uma única vez antes de alcançar a lata de lixo. Mas este tipo de problema é amenizado pelo próprio mercado, que oferece instrumentos desenvolvidos pela economia neoclássica, como um aparelhamento científico e tecnológico que conduz a um crescimento sustentável, redistribuindo com maior justiça os benefícios e os custos ambientais inevitáveis para uma melhor cobertura às necessidades humanas mais básicas (CARIDE; MEIRA, 2001, p. 93).

Brown (2003, p. 24) afirma que o problema reside no fato de que os tomadores de decisão só levam em conta os sinais do mercado, e este não consegue dar o verdadeiro valor ao bem ambiental. Assim, o autor considera que o mercado não fala a verdade ecológica ao baratear os produtos e serviços, deixando de incorporar os custos ambientais de fornecimento. Para Sachs (2007, p. 83), as ferramentas tradicionais usadas pelos economistas se mostram insuficientes numa abordagem de harmonização do desenvolvimento socioeconômico com a gestão racional dos recursos e do ambiente. É o que se verifica no que concerne aos preços.

44 O objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentável da

natureza em benefício das populações locais, levando-se a incorporar a preocupação com a conservação da biodiversidade aos seus próprios interesses, como um componente de estratégia de desenvolvimento (SACHS, 2009, p. 53).

45 À palavra de ordem dos “zeristas”, opomos aquela que fala de outro desenvolvimento (Dag Hammarskjöld

Foundation, 1975), fundamentado na lógica das necessidades sociais e não da produção, na capacidade das coletividades humanas para se apoiarem em suas próprias forças e para aproveitarem os recursos específicos e muito diversificados do meio onde vivem, com o propósito de harmonizar os objetivos socioeconômicos com uma gestão do ambiente baseada na prudência. [...] Explicitar os estilos de desenvolvimento ecologicamente prudentes e socialmente justos é, portanto, uma tarefa de primeiríssima importância para uma economia política ampla e consciente de sua dupla dimensão ética: as finalidades sociais do desenvolvimento e o cuidado com o futuro, em nome da solidariedade com as gerações vindouras. É por este último viés que entra a ecologia. Para tanto, a economia deve começar por renovar o seu quadro conceitual e o seu instrumental (SACHS, 2007, p. 78).

46 Dois conceitos que surgiram em meados do século XX determinaram o desenvolvimento da economia global –

obsolescência programada e produtos descartáveis. [...] O descarte de produtos, facilitado pelo apelo da conveniência e o custo artificialmente baixo da energia é responsável pelo grosso do lixo que produzimos diariamente e por uma parcela ainda maior dos recursos que acabam em aterros (BROWN, 2003, p. 132).

Para Martínez-Alier (apud OLIVEIRA, 2000, p. 10), a economia ecológica desenvolve e dá suporte à nova forma de olhar a realidade, que passa de um mundo vazio para outro cheio. Ela estuda o sistema físico-biológico e os sistemas humanos, pesquisando os retornos decrescentes em termos físicos, como por exemplo, o custo crescente em energia para obtê-la. Esta análise é escondida pelo sistema de preços do mercado uma vez que não valora os danos ambientais futuros. A economia ecológica acaba por enfatizar as externalidades negativas futuras, incertas, cumulativas e irreversíveis, incorporando o estudo dos protestos sociais contra tais externalidades. “Não considera o crescimento econômico como tópico mais importante. Pelo contrário, estuda a sustentabilidade da economia, estuda a sustentabilidade ecológica da economia, presta atenção nos diferentes ritmos bioquímicos e econômicos [...].” (OLIVEIRA, 2000, p. 10).

Brown (2003, p. 24) traz o exemplo da comparação entre o custo da eletricidade eólica e de uma usina elétrica a carvão. Para ele, o custo da eletricidade eólica inclui os cálculos da fabricação da turbina, da sua instalação, manutenção e fornecimento de energia aos consumidores. O custo da eletricidade a carvão inclui a construção da usina, a mineração do carvão, o seu transporte até a usina e a distribuição da eletricidade aos consumidores. O que deixa de ser incluído é o custo da perturbação climática causada pelas emissões de carbono da queima do carvão. Uma vez ignorados os custos da perturbação, como sugere Brown (2003, 24), os desastres tendem a ser potencializados, daí a necessidade de se reformar o modo de pensar da humanidade em relação às externalidades oriundas dos processos produtivos.

Para Morin (2013, p. 103), é preciso retomar a disjunção absoluta entre o humano e o natural; mudar de via por meio de conscientizações e de reformas onde o “Homo sapiens não pode mais tentar dominar a Terra, mas sim zelar por ela e viver nela com responsabilidade.” Para isso, além das perspectivas política e econômica, é preciso uma construção legislativa que dá subsídios à construção de um direito que considera o dano futuro. Para Schonardie (2005, p. 38), “dano futuro é aquele que é certo, porém ainda não está concretizado, como por exemplo, a contaminação do lençol freático.” A construção dessa ordem jurídica se baseia nos princípios de precaução e prevenção ambiental. Ainda segundo Schonardie (2005, p. 38), esta espécie de dano não se limita aos efeitos conhecidos das atividades, mas engloba todos os efeitos prováveis (as externalidades do âmbito econômico), “mesmo aqueles que a ciência não pode dimensionar, que decorrem da probabilidade.”

Assim, Brown (2003) traz como desafio planejar uma economia que respeite os princípios da ecologia, já que a Terra só poderá sustentar o progresso se houver uma reestruturação onde se reconheça que a economia faz parte do ecossistema. Para o autor, “uma

economia replanejada pode ser integrada ao ecossistema, de forma que estabilize a relação entre os dois, permitindo que o progresso econômico continue.” (BROWN, 2003, p. 23). É neste sentido que a economia ecológica trabalha para haver uma compatibilização entre a economia e a ecologia, pois reconhece que só haverá uma estabilidade das funções ecológicas com o aumento da eficiência no uso dos recursos não renováveis. Exemplo disso é a reciclagem, que pode reduzir em parte os danos ao meio ambiente.

À medida que a economia metaboliza mais e mais metais e outras matérias-primas, os danos se acumulam. Embora a reciclagem se justifique como uma alternativa economicamente atraente para os custos crescentes dos aterros sanitários, ela também reduz, em grande parte, os danos ao ecossistema. (BROWN, 2003, p. 144).

Segundo Amazonas (2001, p. 3), a economia ecológica não partilha da ideia pessimista e alarmista de que os limites ecológicos são iminentes e intransponíveis, pois o progresso tecnológico consegue promover a superação dos limites, dando maior eficiência ao uso e à substituição dos recursos exauríveis pelos renováveis. A economia ecológica, contudo, não partilha do “otimismo tecnológico”, pois reconhece que o progresso tecnológico se dá apenas dentro de certos limites fisicamente possíveis.

Para Sachs (2009, p. 53), o paradigma do “caminho do meio”, que emergiu do encontro de Estocolmo, em 1972, inspirou um olhar sobre o desenvolvimento endógeno, autossuficiente,