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1. DAS PROVOCAÇÕES DA VISADA DAS LEITURAS GRADUADAS

1.6. As reformulações de textos literários em forma de leitura graduada

Decidimos incorporar para nossa análise todas as reformulações em forma de LG que pudemos encontrar dos dois textos literários. Acreditávamos que dessa

forma seria possível encontrar regularidades que pudessem contribuir para a sistematização da configuração do gênero, mas posteriormente, o conjunto do corpus foi útil para perceber e detectar irregularidades produtivas que foram fundamentais para confirmar e ampliar e nossas hipóteses iniciais.

A produção do nosso corpus está inscrita em um período que se inicia em 1994 e se estende até 2015. As reformulações foram produzidas na Espanha e na Itália, mas nossa escolha não foi orientada por uma preferência pelos países, mas sim pela oferta disponível. No total de sete editoras, quatro são espanholas: Anaya, Edelsa, Santillana e Sociedad General Española (SGEL); e três são italianas: Cideb, Hoepli e ELI.

Com exceção de El matadero11, de Esteban Echeverría, primeira edição de LG argentina lançada em 2011 pela editora Voces del Sur, não encontramos edições de outros países, o nosso levantamento sobre este tipo de publicação mostrou que, pelo menos até o momento, essas produções em língua espanhola estão mais concentradas na Europa.

A análise dos textos oferece a oportunidade de mostrar a produção das LGs dentro de uma série histórica marcada por mudanças no cenário de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras. O período de produção das LGs inclui uma mudança de cenário atravessado pelo aparecimento de documentos orientadores de ensino de línguas estrangeiras, políticas linguísticas e intervenções orientadas por uma visão da língua como um valor econômico importante12. Na Europa, origem das nossas coleções, o ensino de espanhol como língua estrangeira e, consequentemente, a produção das LGs estão pautados, a partir de 2002, pela publicação do Marco Común Europeo de Referencia para las Lenguas: aprendizaje, enseñanza, evaluación” (2002),13 (doravante MCERL), e do Plan Curricular del

                                                                                                               

11  Obra da literatura argentina escrita entre 1831 e 1840. 12

No capítulo 2 desenvolvemos com mais detalhes esse cenário.

13 Em português:Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas – Aprendizagem, ensino, avaliação, Conselho da Europa. Usamos a sigla em espanhol porque as referências ao documento aparecem nessa língua nas reformulações. Este documento foi criado na Europa e tem como propósito descrever objetivos e metodologia para o ensino e aprendizagem de línguas. Oferece uma base comum para o desenvolvimento curricular, a elaboração de programas, exames, critérios de avaliação e materiais de ensino na Europa. Apresenta um quadro de seis níveis de referência que se classifica em A1, A2, B1, B2, C1 e C2, ou seja, a escala vai de um nível mais básico - A1 - até o nível mais avançado – C2. O documento descreve em cada nível as competências linguísticas, no que se refere à produção escrita e oral e à compreensão escrita e oral.

Instituto Cervantes (doravante PCIC), este de 200714; dos níveis de proficiência em língua definidos pelo Diploma de Español Lengua Extranjera (doravante DELE)15; e o Aprendizaje Integrado de Contenidos y Lenguas Extranjeras (doravante AICLE)16.

As reformulações utilizadas para as análises feitas nesta tese foram as seguintes:

a) Da obra anônima Lazarillo de Tormes:

ANÓNIMO, Lazarillo de Tormes. Adaptación Milagros Bodas e Sonia de Pedro. Madrid: Anaya, 2009.

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. Adaptación Alberto Anula & Grupo UAM-Fácil Lectura, Madrid: SGEL, 2008.

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. Adaptación Carmelo Valero Planas. Génova: CIDEB, 2010.

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. Adaptación Cristina Bartolomé Martínez. Recanati: ELI, 2011.

ANÓNIMO. El Lazarillo de Tormes. Adaptación Juan Horrillo Calvo. Madrid: Edelsa, 1997.

ANÓNIMO. La vida de Lazarillo de Tormes. Adaptación Mario Francisco Benvenuto. Milano: Hoepli, 2011.

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. Adaptación Victoria Ortiz González. Madrid: Santillana, 2008.

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. Adaptación Victoria Ortiz González. Madrid: Santillana, 1994.

b) Da obra La Celestina de Fernando de Rojas:

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Almudena Revilla & Grupo UAM- Fácil Lectura. Madrid: SGEL, 2010.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación E. Cano & Í. Sánchez-Paños. Madrid: Edelsa, 1996.

                                                                                                               

14  Coleção do Instituto Cervantes divida em três volumes, que oferece o repertório de material que orienta os processos de ensino, aprendizagem e avaliação do espanhol. O Instituto Cervantes é uma instiuição pública espanhola que tem como objetivo, segundo o que é informado na sua página eletrônica: “[…] promover universalmente o ensino, o estudo e o uso do espanhol e contribuir para a difusão das culturas hispânicas no exterior.” (Tradução nossa). In. http://www.cervantes.es/

15  DELE - Diploma de Español como lengua extranjera – exame de certificação de proficiência de espanhol elaborado e aplicado pelo Instituto Cervantes.

16 Os promotores deste tipo de enfoque defendem o estudo das disciplinas do currículo escolar em uma língua diferente da própria.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Milagros Bodas & Sonia de Pedro. Madrid: Anaya, 2009.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Margarita Barberá Quiles. Génova: CIDEB, 2005.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Miguel Reino. Madrid: Santillana, 2009.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Raquel García Prieto. Recanati: ELI, 2011.

ROJAS, Fernando de. La Celestina. Adaptación Rosa Isabel Salvatierra Oliva. Milano: Hoepli, 2014.

c) outras reformulações também incorporam o estudo para contribuir com a análise mais geral da configuração do gênero.

As editoras anunciam, normalmente na contracapa do livro, o nível de referência ou proficiência adotado para a reformulação. Não há uma padronização na nomenclatura dos níveis; a partir de meados dos anos dois mil as editoras passaram a adotar a classificação de nível de referência do MCERL (A1, A2, B1, B2, C1 e C2); algumas editoras combinam essas nomenclaturas com formas anteriores à criação do MCERL.

Para melhor visualizar e diferenciar a escolha de classificação das editoras para a reformulação das LGs que compõem o nosso corpus, distribuímos nos quadros abaixo a classificação de nível dos textos analisados. Apresentamos também a classificação indexada ao número de palavras (quando informado pela editora), sendo que este parece ser aleatório e por isso não foi possível encontrar uma correspondência e justificativa entre o nível e o número de palavras, pelo menos até onde pudemos apurar. Outras criam uma equivalência entre as classificações do MCERL e as usadas antes da criação do documento.

O corpus utilizado para a obra Lazarillo de Tormes apresenta as seguintes classificações de níveis:

Editora Níveis de referência de Lazarillo de Tormes

Edelsa Nivel I - hasta 600 entradas léxicas Anaya Nivel Inicial - de 400 a 700 palabras SGEL Nivel Básico – A2

CIDEB Nivel Segundo – A2 Hoepli Nivel A1/A2

ELi Readers Nivel 2 – A2 - 800 palabras

Santillana Nivel 3 - menos de 1000 palabras La Celestina têm as seguintes reformulações:

Editora Nivel de referência de La Celestina

SGEL Nivel intermedio – B1

Hoepli Nivel B1

ELi Readers Nivel 3 – B1- 1000 palabras

Edelsa Nivel III - hasta 1500 entradas léxicas Anaya Nivel superior - de 1600 a 2000 palabras CIDEB Nivel Cuarto – B2

Santillana Nivel 6 - menos de 2500 palabras

Os quadros mostram uma tendência a reformular Lazarillo de Tormes para níveis mais iniciais de aprendizagem, enquanto La Celestina recebe reformulação só a partir do nível intermediário, o que pode encontrar explicação, talvez, no fato de as obras apresentarem representações de leituras historicamente construídas que colocam o texto de Rojas como obra mais complexa e difícil.

Nos próximos capítulos desta tese, apresentamos a tentativa de fundamentar nossa hipótese inicial e dar respostas às nossas perguntas de pesquisa.

2. DO ESTÉTICO E DO VENAL: OBJETOS CULTURAIS COMO PRODUTO