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As artesãs de Brasília

Capítulo 1 Brasília

1.2 As Regiões Administrativas de Brasília

A socióloga Mara Resende (1998: 217), em artigo sobre a luta dos moradores dos acampamentos de Brasília pela ocupação do espaço, com ênfase no movimento dos moradores da Ceilândia, faz um breve apanhado da história de Brasília no que se refere à criação das cidades satélites:

“Já no início da construção havia os ‘acampamentos’ das firmas construtoras, verdadeiras vilas onde viviam operários, engenheiros e técnicos, e que se esperava fossem desaparecendo quando os trabalhos terminassem. Com o término das obras e a contínua chegada de migrantes, repetiram-se as histórias de busca de moradia, a exemplo do que ocorre nas cidades convencionais. Surgem os posseiros urbanos de Brasília, que invadem áreas do Plano Piloto, originalmente não destinadas à habitação e muito menos à habitação popular. A reação do Governo do Distrito Federal foi iniciar a criação de outros núcleos urbanos, ‘cidades satélites”, para onde seria transferida essa população. Em contraste com o caráter provisório dos acampamentos e das invasões, as cidades-satélites são uma iniciativa oficial, dirigida, e sua implantação obedece a determinados planos e traçados.” (RESENDE, 1998: 217)

A autora chama a atenção para o aspecto de planejamento, por parte do governo distrital, da retirada dos moradores, com a previsão de sua transferência para áreas mais afastadas do núcleo de Brasília:

“Assim, desde 1958, antes mesmo da inauguração de Brasília, cria-se Taguatinga, para absorver invasões da Vila Sara Kubitschek. Em 1959, o Gama, e em 1961 o congresso aprova uma lei considerando o Núcleo Bandeirante – a Cidade Livre – como cidade satélite.” (RESENDE, 1998: 218)

Ainda sobre o surgimento do Núcleo Bandeirante, criado a partir da fixação dos moradores da então Cidade Livre, cabe mencionar o artigo da socióloga Nair de Sousa (1998: 170), chamando a atenção para esse aspecto pouco lembrado da história de Brasília: a existência de lutas e movimentos populares. A autora propõe resgatar esse passado de luta e resistência popular: “Ficou para Brasília o registro oficial de sua construção e consolidação feito pelo Estado.” Ela busca resgatar o significado das lutas sociais, contribuindo para criar uma tradição que permita articular questões do presente com esse passado que parece estar ausente da memória dos moradores de Brasília hoje.

Fala-se do apelo mítico de JK, que conclamou a todos para virem trabalhar na construção de Brasília, permanecendo na memória somente uma parte da cidade. A mística de Brasília perdura até hoje, com a exaltação da memória do Presidente e do seu grande feito de interiorização da capital federal, mas pouco se fala sobre o imenso número de trabalhadores que vieram para a então Cidade Livre, atendendo a esse chamado de JK, para os quais o governo do Distrito Federal designou as localidades periféricas. Esses trabalhadores, que permaneceram em Brasília depois da sua construção, juntamente com seus descendentes, formam a população brasiliense de hoje.

Brasília cresce com as suas características próprias. Visando dar conta das suas particularidades, o Governo do Distrito Federal, além da criação de ‘cidades-satélites’, distribuiu sua administração em pequenas regiões, indicando um administrador de sua confiança para cada uma delas. De acordo com dados do Governo do Distrito Federal, são 29 as regiões administrativas de Brasília atualmente. Há dados disponíveis apenas sobre 19 regiões, criadas antes do Censo de 2000. Após o Censo, de 2003 a 2005, foram criadas

mais 10 regiões2. De acordo com os dados do Censo, as regiões têm as seguintes características:

Região Administrativa Área (km2) População (2000) Densidade Demográfica(hab/km2) RA-I Brasília 473 198.422 419,4 RA-II Gama 276 130.580 472,9 RA-III Taguatinga 121 243.575 2.007,2 RA-IV Brazlândia 474 52.698 111,2 RA-V Sobradinho 569 128.789 226,2 RA-VI Planaltina 1.537 147.114 95,7 RA-VII Paranoá 852 54.902 64,4 RA-VIII Núcleo Bandeirante 82 36.472 442,5 RA-IX Ceilândia 232 344.039 1.482,9 RA-X Guará 46 115.385 2.524,8 RA-XI Cruzeiro 9 63.883 7.098,1 RA-XII Samambaia 106 164.319 1.550,2

RA-XIII Santa Maria 211 98.679 467,1

RA-XIV São Sebastião 383 64.322 167,9

RA-XV Recanto das Emas 101 93.287 919,3

RA-XVI Lago Sul 190 28.137 147,9 RA-XVII Riacho Fundo 55 41.404 759,3

RA-XVIII Lago Norte 54 29.505 541,5

RA-XIX Candangolândia 7 15.634 2.351,0

T O T A L 5.783 2.051.146 354,7 (média)

Fonte: CODEPLAN - IBGE - IDHAB/DF. Disponível no sítio www.setur.df.gov.br,

consultado em novembro de 2006.

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O DF originalmente não tinha divisões, mas em 1964 foi dividido em 8 Regiões Administrativas. Em 1989 quatro novas regiões foram criadas, levando o número total a 12. De 1992 a 1994 mais sete divisões resultaram num total de 19 regiões administrativas, número que permaneceu o mesmo de 1994 a 2003. De 2003 a 2005 dez novas regiões foram criadas, chegando-se ao número atual de 29.

As novas Regiões Administrativas são:

RA-XX - Águas Claras (desmembrada da RA de Taguatinga) RA-XXI - Riacho Fundo II

RA-XXII - Sudoeste / Octogonal (fazia parte da RA do Cruzeiro) RA-XXIII - Varjão (fazia parte do Lago Norte)

RA-XXIV - Park Way

RA-XXV - Setor Complementar de Indústria e Abastecimento RA-XXVI - Sobradinho II

RA-XXVII - Jardim Botânico RA-XXVIII – Itapuã

RA-XXIX – SIA – Setor de Indústria e Abastecimento

As regiões administrativas atualmente possuem autonomia, apesar de inicialmente terem sido criadas para abrigar o crescente fluxo de migrantes que chegava em Brasília, juntando-se aos trabalhadores que aqui já se encontravam. Não pretendo entrar em maiores detalhes sobre as regiões administrativas e suas divisões, visto que isso fugiria dos limites dessa tese. Na maioria das regiões administrativas existem projetos e iniciativas envolvendo trabalho artesanal; entretanto, foi necessário estabelecer um recorte, para poder aprofundar a pesquisa em algumas localidades. As artesãs de que trata a tese são moradoras de três regiões: Varjão, Taguatinga e Samambaia.