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5.3 Aspectos Restritivos da Atuação do NASF quanto ao Princípio da

5.3.2 As Relações de Trabalho em Equipe Multidisciplinar

A falta de integração entre as equipes NASF e ESF foi relatada como uma preocupação pelos grupos de interesse, uma vez que dificulta a atuação de ambas as equipes que objetivam atender o princípio da integralidade, principalmente, ocasionando falta de comunicação e, consequentemente, de planejamento e pactuação das atividades a serem realizadas no território, o que é de suma importância para os processos de trabalho em equipes multi-interdisciplinares.

“(...) não há essa integração entre NASF e equipe (...) a gente solicita que todo final de ano ela faça o seu planejamento de acordo com as necessidades que ela identifica pra o próximo ano, aí a equipe fez o planejamento dela e o NASF fez o planejamento dele né, então como é que eu sou a equipe do NASF dentro da ESF e eu faço meu planejamento e a equipe faz a dela?”. (R5 – GESTÃO)

“A falta de comunicação ainda existe entre a equipe básica com o NASF, entendeu? O médico ainda é muito fechado lá no consultório dele, a enfermeira é sobrecarregada porque ela tem que fazer uma triagem com 60 pessoas lá na sala esperando ela, ela vai lembrar que o NASF existe?”. (R5 – NASF)

“A proposta era trabalhar em equipe né, mas acontece, acaba falhando em relação do nosso cronograma, que é diferente do cronograma deles, que é aquela questão que eu já conversei, da que uma questão puxa a outra aqui, que a gente tá discutindo os casos que era pra tá sendo feito e acontece não sendo”. (R5 – ESF)

“Também, eu acho que isso atrapalha, eu vejo isso acontece, algumas vezes, um quer fazer uma coisa e o outro não aceita aquilo ali, aí meio que atrapalha o andar”. (R5 – USU)

O trabalho em equipe está presente em qualquer organização e, sem dúvida, é o que mais influencia o rumo das atividades e seus resultados. No ambiente de trabalho, as relações interpessoais se desenvolvem e inevitavelmente os sentimentos oriundos dessas relações exercem influências positivas e/ou negativas, tanto nas interações quanto nas próprias atividades a serem desenvolvidas, repercutindo na qualidade de vida dos profissionais implicados no processo e, consequentemente, na integralidade da atenção (LEITE et al, 2014).

Além da preocupação com a relação entre as equipes (NASF x ESF), também foi possível identificar que a dificuldade para se trabalhar em equipe não existe apenas nas relações entre os profissionais do NASF e da ESF, mas os

sujeitos também manifestaram a preocupação quanto às dificuldades para o

trabalho em equipe entre os profissionais do NASF, dificuldades nas relações de

trabalho dentro da própria equipe do NASF, sejam por individualismo do profissional seja por dificuldades de adequação da disponibilidade dos profissionais dentro dos territórios devido a demanda das equipes, temática já abordada anteriormente.

Foram relatadas dificuldades para se trabalhar com mais de um profissional da equipe ao mesmo tempo, em oposição ao que geralmente acontece, onde os profissionais formam uma equipe, porém, trabalham de forma isolada no território, com alguns momentos de integração e discussão em equipe, o que na grande maioria das vezes ocorre fora do território, e poucas atividades com a comunidade com abordagem coletiva da equipe, com o envolvimento de todos ou pelo menos a maioria dos profissionais integrantes da mesma.

“(...) isso dificulta muito (...) eu nunca consigo acoplar eles dentro da equipe porque eu nunca consigo encontra-los ao mesmo tempo né, eu tenho cinco profissionais do NASF, aí um exemplo, na segunda-feira de manhã vem um, na terça vem outro, na quarta vem outro, aí às vezes eu digo – eu tô precisando de uma reunião com vocês, ah... mas fulano não pode porque tá no outro território”. (R6 – GESTÃO)

“Sim, é uma dificuldade (...) Na minha equipe a gente já teve muitos problemas por conta disso, porque cada um ficava na sua caixinha, então por várias rodas a gente bateu na mesma tecla – gente vamo sair da nossa caixinha, vamo sair da nossa caixinha porque não dá certo, vamo lá, a gente já não se encontra os 5 dias da semana, algumas pessoas só se veem em rodas (...) já é difícil por isso, e aí trabalhando cada um na sua caixinha, então a gente tentou reorganizar nosso modelo de trabalho e tem dado certo né, mas é difícil, não é fácil”. (R5 – NASF)

“(...) qual é o dia que a fisioterapeuta tá aqui? há é segunda e sexta, e a terapeuta? terça e quarta, nunca se encontram os horários, nunca, nunca, nunca, muito difícil encontrar dois profissionais ao mesmo tempo num território, pra fazer uma abordagem mais ampla né, acabam trabalhando de forma isolada, tanto no atendimento individual e no atendimento coletivo também. Não tenho um grupo que chega a participar dois profissionais três, sempre é só um outro não pode, porque num tá disponível”. (R4 – ESF) “(...) por enquanto, ele tá fazendo tudo só, ele tá praticamente só aqui, porque a gente não tá tendo assistência dos outros, eles estão lá no posto, no PSF eles estão lá, mas a gente ainda não conseguiu trazer eles pra cá, por causa da relação do horário”. (R1 – USU)

Tal dificuldade pode estar relacionada à definição de que os profissionais do NASF, enquanto equipe, possuem internamente semelhanças (papéis comuns) e diferenças (papéis específicos), onde uma das principais consequências práticas disto é que, apesar de requerer planejamento e comunicação (em especial gestão

da agenda e de deslocamentos), o tipo, a frequência e a duração das atividades de cada profissional do NASF em uma mesma UBS/CSF não são necessariamente iguais e simultâneos, podendo em determinadas situações, resultar em distanciamento entre os profissionais e, consequentemente, fragilizar a integração da equipe. (NASCIMENTO, 2014).

As diretrizes do programa NASF trazem que a integração entre os profissionais da equipe e destes com as equipes da ESF não devem se restringir e nem, necessariamente, requer que todos estejam juntos o tempo todo. Porém, como uma medida para minimizar a referida dificuldade, orientam que o horário de trabalho do NASF seja coincidente com o das equipes de ESF vinculadas, bem como a necessidade de criar espaços e momentos de encontro de todos, possibilitando uma maior integração e compartilhamento do trabalho entre os profissionais e entre as equipes (BRASIL, 2014).

Trate-se de uma das principais dificuldades relatadas na literatura, onde diversos estudos apontam que o trabalho do NASF de fato só pode ser efetivado de forma integral se forem garantidas condições para o desenvolvimento da interdisciplinaridade, e porque não da transdisciplinaridade entre os profissionais do NASF enquanto equipe e entre esses e os profissionais da ESF (NASCIMENTO, 2014; ANJOS et al., 2013; ARAUJO E GALIMBERTTI, 2013).

Um ponto importante a ser ressaltado quanto à dificuldade para a atuação em equipe multiprofissional de forma interdisciplinar, faz referência à formação profissional, onde, de forma geral, os profissionais de saúde não recebem formação nas graduações e pós-graduações em saúde para trabalhar na lógica do trabalho interdisciplinar, e especificamente no contexto do NASF, na lógica do apoio matricial, além de outras questões essenciais para o trabalho compartilhado e que são raramente aprofundadas, tais como o trabalho em equipe, o vínculo e a coordenação do cuidado, dificultando a sua prática (NASCIMENTO, 2014).

Nesse contexto, dentre as preocupações identificadas nas falas dos sujeitos quanto ao processo de trabalho do NASF, estão a Falta de Competências Profissionais para a atuação no NASF e na APS, traduzindo-se em falta de conhecimento, habilidades e atitudes quanto às diretrizes do programa NASF refletindo diretamente no perfil desses profissionais para a atuação quanto ao princípio de integralidade na APS.