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4.1 Avaliação

4.1.1 Evolução Conceitual e Metodológica

4.1.1.4 QUARTA GERAÇÃO (Negociação) – Avaliação como Negociação

4.1.1.4.1 Enfoque Responsivo

Em qualquer avaliação se recomenda de início, adotar um método para determinar quais questões serão colocadas e quais informações serão buscadas, com ênfase em elementos como: variáveis, objetivos, decisões e outros, podendo ser denominados de “organizadores avançados” do processo avaliativo. A avaliação responsiva também tem seus organizadores avançados: as Reivindicações, Preocupações e Questões (RPQ) que serão identificadas por grupos de interesse (stakeholders), isto é, pessoas que serão potencialmente representantes, vítimas ou beneficiárias da avaliação (GUBA e LINCOLN, 2011):

 Reivindicações – qualquer alegação apresentada por um interessado (stakeholder) que seja favorável ao objeto de avaliação;

 Preocupações – qualquer afirmação que um interessado venha a apresentar que seja desfavorável ao objeto de avaliação;

 Questões – diz respeito a qualquer situação a qual pessoas sensatas possam discordar.

Para Guba e Lincoln (2011), sempre haverá vários grupos de interesse, porém, apontam três principais classes abrangentes:

 Os Representantes (ou Agentes) – são os sujeitos envolvidos na produção e implementação do objeto de avaliação, quem coloca em prática o serviço e se utilizar da avaliação;

 Os Beneficiários – são as pessoas que de alguma forma usufruem do objeto da avaliação;

 As Vítimas – pessoas que, por uma razão ou outra, são influenciadas negativamente pelo serviço e/ou pelo processo avaliativo, grupos excluídos do seu uso, pessoas politicamente em desvantagem, sem poder, influência ou prestígio.

Diferentes grupos de interesse acolherão diferentes RPQ e é de responsabilidade do avaliador delimitá-las e abordá-las na avaliação, mas, por que usar as RPQ dos stakeholders como organizadores? Os autores apresentam alguns argumentos que acreditam serem convincentes para justificar a utilização das RPQ dos grupos de interesse (stakeholders) como organizadores do enfoque da avaliação:

 Os Stakeholders são colocados em risco pela avaliação: os resultados da avaliação podem ir contra os seus interesses e na qualidade de grupo em risco, devem ter a oportunidade de realizar quaisquer reivindicações, ou expor quaisquer preocupações e questões que julguem apropriadas para terem as suas demandas honradas. Qualquer outro encaminhamento é injusto e discriminatório. Quando o julgamento reflete valores de outros grupos, a perda é mais difícil e os stakeholders devem sentir que têm alguma defesa em relação a esse nível de risco.

 A avaliação expõe os Stakeholders à exploração, à privação de poder e de direitos: a avaliação é uma forma de pesquisa cujo produto final é a informação. Informação é poder. O poder da pesquisa pode ser usado de várias formas contrárias aos interesses dos grupos. Não é claro, dada a complexidade social e técnica moderna, que um envolvimento significativo dos implicados garantirá que todos não serão explorados, perderão poder ou perderão direitos em algum grau. Mas, é claro que sofrerão esses infortúnios em muito maior grau à medida que forem negadas as suas demandas;

 Os Stakeholders representam um mercado praticamente inexplorado quanto à utilização dos resultados da avaliação: a suposta não-utilização dos resultados provavelmente é o centro das discussões dos encontros de avaliadores profissionais. Os autores apontam como motivos, o fracasso em fornecer informações de qualidade, o distanciamento da arena política de tomada de decisões e o fato de a avaliação fornecer, às vezes, informações conflitantes. Mas, afirmam que a principal razão é a tendência dos avaliadores em dar informações que apenas eles julgam relevantes ou que apenas interessam a um determinado grupo. No entanto, os stakeholders são usuários da informação que percebem como responsiva às suas RPQ e, sendo-lhes dada uma oportunidade para que tenham suas demandas honradas dentro do processo avaliativo, eles também verão uma forma de se mobilizarem e, mais importante, de serem capazes de fazê-lo com base em uma legitimação informacional que eles não teriam de outra forma;

 A inclusão das Recomendações dos Stakeholders amplia o escopo e a “significabilidade” da avaliação: os Stakeholders estão em posição de ampliar a extensão da pesquisa avaliativa para grande benefício do processo hermenêutico-dialético. Quando a avaliação enfoca alguns poucos predeterminados objetivos, decisões ou efeitos, seus resultados serão limitados. Grande parte do tempo e energia do avaliador deve ser desprendida simplesmente para identificar os stakeholders e interagir com eles o suficiente para saber quais são as RPQ que se originam nas construções particulares que o grupo formulou, e que refletem suas circunstâncias particulares, experiências e valores. Com frequência, a natureza das RPQ é completamente imprevisível para quem não é membro do grupo. Isso força um grupo a confrontar e lidar com as construções de outros grupos, o que, de outra forma, não ocorreria. O efeito desse confronto produz mudanças rápidas na construção de todos os grupos, e, se não produzir consenso, expõe as diferentes posições com maior clareza. Se a maior proposta da avaliação é refinar e melhorar essas construções (em adição a julgar), os princípios da hermenêutica dialética raramente terão melhor serventia;

 Todas as partes (Stakeholders) são, mutuamente, educadas pelo processo de quarta geração: o seu envolvimento na Avaliação de Quarta Geração é mais do que simplesmente identificar e descobrir as suas RPQ. De cada participante é exigido que não-maleficência considerasse as demandas dos demais, e isso não quer dizer que devam aceitar-lhes as opiniões e julgamentos, mas requer que lidem com pontos de diferença ou que reconstruam as suas próprias construções o suficiente para acomodar as diferenças e conflitos, ou que desenvolvam argumentos para que as outras proposições não sejam assimiladas. Por um lado, cada participante passa a entender melhor suas próprias construções, e as revisa de modo a torná-las mais fundamentadas e esclarecidas e, por outro, cada um deles começa a entender melhor as construções dos demais.

A avaliação não é responsiva apenas porque busca a visão de diferentes grupos de interesse, mas, também, o é à medida que responde às questões na subsequente coleta de informações, atendendo aos diversos questionamentos dos diferentes sujeitos que fazem parte da construção sobre as RPQ particulares. A principal tarefa do avaliador é a de conduzir o processo de modo que o grupo confronte as suas construções com as de todos os outros, constituindo um processo que se denomina hermenêutico-dialético (KOHLRAUSCH, 2012; WETZEL, 2005).

No presente estudo, buscou-se alcançar o enfoque responsivo por meio da inclusão de diferentes sujeitos na avaliação (os stakeholders), pela identificação das RPQ relacionadas ao NASF e consideradas relevantes por eles e pela busca de novas sínteses (construções) direcionadas a essas RPQ, objetivando o mais próximo de um consenso em relação a atuação do programa quanto ao princípio da Integralidade no contexto da APS.