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As tentativas de alteração da lei de crimes ambientais

11. HISTÓRICO DAS TENTATIVAS DE DESCRIMINALIZAÇÃO DAS

11.2. As tentativas de alteração da lei de crimes ambientais

Em 1998, o então Deputado Antônio Ebling, do PTB do Rio Grande do Sul, propôs na Câmara Federal o projeto de lei 4.790, que excluía animais domésticos e domesticados da lei 9065/98, a Lei de Crimes Ambientais. Pretendia isentar das penalidades do artigo 32 que pune os maus tratos, as atividades culturais, recreativas e desportivas, como briga-de-galo, tiro-ao-pombo, dentre outras atividades de diversão com uso de aves .

O projeto foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Justiça e Cidadania no dia 2 de abril de 1999, porém mais adiante quando foram apresentados recursos nas sessões legislativas seguintes, foi considerado inconstitucional pela mesma Câmara dos Deputados, e sua tramitação deixou de prosseguir naquela casa legislativa (BRASIL, 1999).

No caso de aprovação deste projeto de lei, os animais domésticos e domesticados estariam sem a proteção da lei de crimes, assim maus-tratos contra esses animais não poderiam mais ser penalizados.

A outra tentativa de alterar a lei para descriminalizar as brigas de galo ocorreu cinco anos depois. Em 2004, o Deputado Federal da Bahia Fernando de Fabinho, fez o projeto de lei 4.340, de 2004 para alterar a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, Lei de Crimes Ambientais. O propósito era expressamente descriminalizar a prática de competições entre animais (BRASIL, 2004).

O deputado autor classificava a prática como uma conduta que já faz parte da manifestação cultural de várias regiões brasileiras. “A lei deve andar em consonância com os hábitos do povo e não contra eles, pretendendo modificar uma realidade existente e enraizada na sociedade” dizia a justificativa da lei.

Porém, o projeto foi considerado inconstitucional pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Deputados, que acompanhou o voto do relator, Deputado Rosinha:

não podemos permitir que excessos sejam cometidos contra os animais, sejam silvestres ou domésticos. Vale lembrar que a coação à crueldade contra os animais também está contemplada na Constituição que, em seu inciso VII do § 1º do art. 225 determina claramente que incumbe ao poder público: "proteger a

fauna e a flora vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade". Ademais, conforme a legislação penal anterior à Lei 9.605/98, considerava-se contravenção penal "tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo"

Pelo texto do relator, depreende-se que a Câmara na época entendeu que o artigo 32 da Lei 9.605/98 transformou uma conduta que pelo Decreto Lei 3.688/41, a Lei das Contravenções Penais, era contravenção penal e foi transformada em crime ambiental. Na mesma ocasião projeto de lei do Deputado José Thomaz Nono pretendia alterar o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais para legalizar os rodeios (BRASIL, 2004).

11. 3. Ações civis públicas contra as rinhas de galo no Brasil 11.3.1. A tentativa de interdição do Clube do Galo na Bahia

Há mais de 50 anos o Centro Esportivo da Bahia, conhecido como Clube do Galo, com prédio no Jardim Armação, bairro de Salvador, costuma realizar torneios interestaduais onde reúne apostadores e criadores de várias partes do país e América Latina.

Em 1999 este grupo de galistas sofreu a primeira ação no país por parte do Ministério Público. Em função de denúncias anônimas, a Promotora de Justiça do Meio Ambiente de Salvador propôs ação civil pública contra Centro Esportivo da Bahia. O Ministério Público pediu a interdição definitiva do Clube do Galo, e a aplicação de uma multa de R$ 50.000,00 em função do danos causados de ordem ambiental à Coletividade, pelo que a promotora considerou desrespeito das normas constitucionais e legais vigentes

Na argumentação, a promotora Sheila Santos de Almeida Costa foi enfática acerca da situação do animal, que segundo ela é indefeso:

É realmente lamentável que os seres humanos exerçam seu domínio sobre o mundo subjugando, maltratando e massacrando criaturas mudas, sensíveis e indefesas, e esse estúpido comportamento para com os animais reflete no próprio comportamento dos homens entre si. A violência estimula violência. Como o ser humano poderá viver

em paz, harmonia e fraternidade se não é capaz de amar e ser fraterno com seres que mal nenhum lhe fazem? (OAB, 2011)32.

Apesar da promotoria pública defender que esta situação ensejaria maus tratos à animais, no mesmo ano entendeu o Tribunal de Justiça Baiano que não estavam caracterizados os danos à fauna, e não teve sucesso nem o pedido de interdição do Clube do Galo nem a multa que seria revertida ao Fundo de Recursos para o Meio Ambiente, que custearia a execução da política estadual do setor ambiental na Bahia.

11.3.2. O Palácio do Galo pernambucano perde ação na Justiça Federal

Em 1o de agosto de 1960 foi fundado no Recife o Centro Desportivo Casa Amarela. A sede da instituição é chamada de “Palácio do Galo”, o que já explica o tipo de atividade que realizava-se no local, a fim de propiciar momentos de descontração àqueles que se divertem em assistir cenas de galos em combate.

Em 2005, ou seja, depois de 45 anos de práticas de rinhas de galos no local, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis entrou com Ação Civil Pública para impedir as atividades de brigas no estabelecimento. O juiz da 5ª Vara Federal em Pernambuco determinou que o centro deixasse de promover as brigas e também o condenou a pagar uma indenização de R$ 10 mil.

O Centro Desportivo Casa Amarela recorreu ao Tribunal Regional Federal. Os galistas alegaram que não haveria proibição legal para a prática de rinhas de galo nem norma que classifique a atividade como criminosa. No recurso, os representantes do centro alegaram que os galos eram bem tratados, e que as brigas eram apenas a manifestação do instinto natural dos animais (BRASIL, 2010).

Para o Procurador Regional da República no Estado de Pernambuco, Wellington Cabral Saraiva, que sustentou a posição do Ministério Público Federal no Tribunal regional Federal da Quinta Região, não existe direito ao prosseguimento dessa prática, que qualificou como cruel e primitiva. “É lamentável que, em pleno século XXI, indivíduos ainda se deleitem em estimular lutas sangrentas, cruéis e dolorosas em animais, para seu lamentável prazer”, afirmou. Segundo o procurador, apesar de uma certa agressividade natural dos galos, as lutas ocorriam porque eles eram estimulados a isso (BRASIL 2010).

32

Fonte: Site da OAB. Disponível no em < www.oabpi.org.br/v4/artigos.php?art_codigo=31> acesso em 07 set. 2014

Ainda no parecer, o Procurador Regional da República em Pernambuco fez questão de abordar a questão da agressividade que, segundo ele, é estímulo por parte do criador, e não característica natural da raça a ave:

Como bem salientou o Juiz de Direito Cláudio Malta de Sá Barretto Sampaio, na sentença da ação civil pública estadual (conforme cópia nos autos do mandado de segurança no 100.782/PE – processo no 2007.05.00.098260-7), infelizmente reformada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, não se pode confundir a agressividade potencial dos galos em seu hábitat natural com a violência estimulada e industriada pelos aficionados nessas disputas primitivas em rinhas de países subdesenvolvidos.

Sobre os treinamentos e incitação á violência a qual os galos seriam submetidos, a posição do Ministério Público Federal, é de este tratamento é que caracteriza os maus tratos aos galos. Descreve ainda o parecer ministerial que o treinador segura o galo pelas asas, joga-o para cima e deixa-o cair no chão para fortalecer suas pernas. Outro exercício consiste em empurrar a ave pelo pescoço, fazendo-a girar em círculo, como um pião. Para aumentar sua resistência, o animal é banhado em água fria e colocado ao sol até abrir o bico, de cansaço. Nas brigas, os galos usam esporas postiças de metal e bico de prata, que tem a função de machucar mais ou substituir o bico já perdido em luta (BRASIL 2010).

Com toda essa argumentação, o recurso foi julgado contrariamente ao Centro desportivo Casa Amarela, a associação dos galistas. A decisão em última instância da justiça em nível federal, alinha-se com as decisões do Supremo Tribunal Federal nos casos de leis estaduais, que acabaram por serem retiradas do ordenamento por não protegerem a fauna, o que está contrariando a Constituição Federal.

Diante do exposto, e das decisões acerca das leis, processos e recursos que tramitaram, além das decretações de inconstitucionalidades das leis estaduais de Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, pode-se afirmar que o judiciário nas suas distintas esferas e instâncias, já pacificou a matéria.

11.4. AS CONTROVÉRSIAS E DECISÕES JUDICIAIS FAVORÁVEIS ÀS