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As teorias de Integração nos países periféricos e na América Latina

A dependência sempre foi objeto de críticas e insatisfações por parte das elites latino-americanas, que lutavam por seus próprios interesses. Esta insatisfação toma forma e espaço políticos a partir da década de trinta do século XX, proveniente do crescimento da população urbana, do novo papel social adquirido pela burguesia nacional, ávida por negócios, e pelas Forças Armadas, que viam na segurança e na defesa nacionais a possibilidade de influírem no rumo do país (CERVO, 2001: 23-62).

A criação da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), em 1948, pode ser considerada um marco em termos de estudos dos programas econômicos e da aproximação latino-americana, da integração dos países latino- americanos à economia internacional.

A CEPAL e os principais economistas latino-americanos passam a acompanhar com atenção o processo de integração econômica européia, principalmente em função dos êxitos que são alcançados e pela situação crítica que os países latino-americanos enfrentavam com suas exportações, sobretudo de produtos agrícolas, no mercado europeu. Portanto, a integração européia serve

de referência para a latino-americana, como forma de superar os problemas de subdesenvolvimento dos países latino-americanos.

É criado um comitê na CEPAL para analisar a problemática da integração, que produziu os primeiros documentos da CEPAL, coordenados por Raúl Prebish, que apontam a necessidade de aprofundar a compreensão latino-americana, de teorizar a relação centro-periferia, de propor uma teoria de desenvolvimento sui

gênesis. Através do modelo de substituição de importações, a CEPAL buscava

alterar a estrutura produtiva da região, ao mostrar que a especialização produtiva e comercial nos países de periferia é perversa porque não permite a esses países incorporar avanços tecnológicos. Dessa forma, cria-se uma relação desigual de troca de produtos, em que, por um lado, os países periféricos ofertam produtos com baixo conteúdo tecnológico e, por outro, os países centrais vendem produtos dotados de alto conteúdo tecnológico.

Vale destacar que no conjunto de hipóteses básicas desenvolvidas pela CEPAL, a condução de liberdade de industrialização constitui o eixo fundamental da política de desenvolvimento. A industrialização passa a ser considerada um meio indispensável para conseguir um alto ritmo de renda e de produtividade.

A partir dessa formulação teórica, a CEPAL, incorpora um discurso latino- americano inovador para a época, em que empresas, governo e a própria academia começam a compreender a importância da integração econômica como forma de superação do atraso de seus países para com os centrais. Segundo Furtado, as teses de Prebish, e conseqüentemente da CEPAL, funcionam como um verdadeiro manifesto, um ponto de partida de um grito de guerra. Trata-se, dessa forma, de conclamar os países latino-americanos a engajarem-se na industrialização, uma verdadeira reviravolta do velho sistema de divisão internacional do trabalho. Nas palavras de Furtado:

O ponto de partida (do texto de Prebish) era um grito de guerra: “A realidade está destruindo na América Latina aquele velho sistema de divisão internacional do trabalho /.../ que seguia prevalecendo doutrinariamente até a bem pouco tempo”. O ataque à ordem internacional existente e seus ideólogos era direto: nessa ordem

“não cabia a industrialização dos países novos”. Reconhecia que nós latino- americanos estávamos longe de ter uma “correta interpretação teórica” da realidade, mas já sabíamos que para obtê-la necessitávamos abandonar a “ótica dos centros mundiais”. Com um claro gesto na direção da nova geração assinalava a carência de pensadores “capazes de penetrar com critério original dos fenômenos concretos latino-americanos”. E acrescentava enfático que não bastava envia-los às universidades da Europa e dos Estados Unidos, pois uma das falhas mais sérias de que padece a teoria econômica geral, contemplada da periferia, é o seu falso sentido de universalidade (FURTADO, 1985: 60-61).

Ffrench-Davis propunha a integração como a melhor forma de alcançar alguns objetivos para o desenvolvimento do mercado nacional. Diz o autor:

Primeiro, melhora o acesso aos mercados externos para produtos cuja venda nos países desenvolvidos oferece dificuldades. A associação de um grupo de países possibilita um acesso mais expedito ao mercado regional;

Segundo elemento, que possui maior validez para o setor industrial que para outros, se refere às economias em escala, posto que devido a elas se necessite de mercados mais amplos para produzir uma série de produtos em condições razoáveis de custos;

Um terceiro aspecto é o desenvolvimento “incipiente”, que incide nas condições mais apropriadas para aprender a produzir e comercializar. É importante estabelecer condições propicias para que os países que possuem menor experiência e um desenvolvimento mais incipiente tenham oportunidade para aprender;

Em quarto lugar, a ação conjunta de um grupo de nações concede a estas um poder de negociação maior que a soma de que dispõe cada um de forma isolada;

Por último, a aceleração do desenvolvimento e o incremento do poder conjunto, que acarreta eventualmente um processo de integração, permitem, em princípio, um maior grau de independência política internacional (FFRENCH-DAVIS, 1979: 412-415).

As insatisfações e críticas das elites latino-americanas a dependência econômica de suas nações, aliada a novo modelo de desenvolvimento formulado pela CEPAL criaram um ambiente capaz de direcionar as políticas da maioria dos

países das Américas consoante um mesmo vetor, qual seja, o desenvolvimentismo. A estrutura dessas economias, era na segunda metade dos anos 1950 ainda muito dependente da importação de bens de capital dos países ditos desenvolvidos, o que provocava, por conseguinte uma enorme limitação na capacidade de crescimento dos países.

A solução dada pela CEPAL e os teóricos da teoria da dependência se baseavam no processo que ficou conhecido como “substitutivo de importações” ou primeiro estágio da industrialização. Com a premissa de industrializar, a América latina tem que se preparar para uma segunda fase, ou seja, a construção de uma base industrial mais ampla, que inclua a manufatura de certos bens de capital. Na dependência, entretanto, de aumento no nível de investimentos e importações e da disponibilidade de mercados amplos, tal desenvolvimento é seriamente prejudicado pela impossibilidade de expansão da capacidade de importação.

Esse processo entra em um estágio de esgotamento, pois a produção local se faz a um custo superior ao produzido externamente, traduzindo-se em uma menor produtividade dos produtos fabricados pelos latino-americanos. A principal razão dessa fraca produtividade é o limitado tamanho dos mercados nacionais, que impedem o acesso a grandes economias de escala. Assim, o tamanho do mercado limita a amplitude da substituição de importações.

Dessa forma, como fator decisivo de desenvolvimento, a integração passava a ser o elemento unificador do pensamento latino-americano frente aos grandes problemas mundiais. A integração representava, segundo a CEPAL, um meio alternativo para a expansão e diversificação do mercado regional, proporcionando ainda maior poder de negociação frente aos países industrializados e melhores condições de competição internacional.

Portanto, a industrialização e a integração regional apareciam como solução para o desenvolvimento nacional no pensamento político econômico latino-americano. A integração econômica representava uma tentativa de construir

uma nova problemática: a da formação e do desenvolvimento econômico na América Latina.