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As teses e dissertações sobre Carmen Dolores

2 O LUGAR (OU NÃO LUGAR) DA ESCRITORA NA CRÍTICA

2.1 APESAR DAS REFERÊNCIAS, A EXCLUSÃO DE CARMEN

2.2.4 As teses e dissertações sobre Carmen Dolores

Entre as dissertações e teses encontradas que se propõem a estudar a obra de Carmen Dolores, isoladamente ou em comparação a de outras escritoras, todas trabalham da perspectiva da crítica feminista e a maioria tem como objeto de estudo a produção literária e jornalística em periódicos.

Paola Bustamante, em 1993, defende uma dissertação de mestrado em que propõe uma análise das crônicas publicadas em O Paiz entre 1905 e 1910, no entanto, levanta apenas um número reduzido de crônicas e sequer apresenta a fonte. Comenta que algumas são de O Paiz e outras do livro Ao esvoaçar da ideia. Especificamente, sua proposta é rastrear a relação entre o texto da crônica e o contexto histórico, ou melhor, a relação entre a representação literária da imagem da mulher e a situação da mulher na sociedade.

Apesar da validade de muitos aspectos da sua dissertação, ao longo do texto encontramos alguns que são, hoje, questionáveis, como o fato de apresentar a cronista “como mulher urbana, pertencente às ‘nascentes camadas médias’, Carmen Dolores esboçou em seus escritos uma luta pelo pensamento de defesa dos setores médios e, consequentemente, da mulher burguesa profissional urbana” (BUSTAMANTE, 1993, p. 12 [grifo da autora]). Como comprovam vários outros estudos, já apontados aqui, ela pertenceu à aristocracia, apesar de constatarmos sua decadência econômica a partir da viuvez e da mudança de regime político – o que explicaremos no capítulo 3.

Bustamante (1993, p.19) lembra que Carmen Dolores, como outras escritoras, “sem território na tradição dominante, foram postas à margem das instituições literárias”. É fato que ela, como outras autoras da época, foi excluída da História da Literatura oficial, mas também é preciso lembrar que, como cronista, conquistou seu espaço na grande imprensa enquanto viveu.

Outra interpretação questionável da ensaísta sobre o que diz a cronista é o fato de afirmar que ela teve dificuldades “em adaptar-se ao jornalismo”, pois ela “se contemplou em fragmentos que a espelharam”. Discute longamente sobre o antagonismo definido como “a divisão senhora x escritora/jornalista, fazendo referência à sua inadequação às molduras sociais”, ou às referências contraditórias “[...] a si mesma como diletante e não profissional. Carmen Dolores apresentava-se como uma mulher de letras sem consciência do seu trabalho profissional” (BUSTAMENTE, 1993, p. 35 [grifos da autora]).

Como argumento, Bustamante (1993, p.35) acrescenta que: As inquietações – não só advindas da interiorização dos discursos de desclassificação ao sexo feminino, como desvalorização intelectual, social, biológica, política e jurídica da mulher – enformam o seu pensamento, e consequentemente a sua obra. Nota-se em sua auto-avaliação, a marca da desqualificação, a busca acirrada da

autoridade como intelectual, e o dilaceramento de Carmen Dolores pelo choque de opiniões diferentes.

O que a ensaísta, nesta dissertação, não alcança na interpretação dos fragmentos de crônicas que cita é a marca mais característica de seu discurso: a ironia. Além de não perceber que os aspectos identificados como contradições no texto da autora não passam de estratégias discursivas, como muito bem discutiu Mendonça (2002) em sua tese. Não só os estudos posteriores em artigos científicos e teses, aqui comentadas, contradizem grande parte das afirmações, sem grande fundamentação, feitas pela autora dessa dissertação, como a própria atitude da cronista já valeria para uma contraposição.

Quando, por exemplo, Bustamante (1993, p. 36) afirma a “inadequação da cronista ao gênero crônica, cuja aparente composição solta ajusta-se à sensibilidade cotidiana” e mais, que “a pintura dos costumes não interessava profundamente à cronista”, alguns fatos podem servir como argumentos para derrubar suas interpretações: ela foi reconhecida na crítica periodística de seu tempo; conquistou fama como cronista do jornal de maior circulação na América Latina; alcançou uma remuneração maior que a de Carlos de Laet; publicou sua última crônica dois dias antes de seu falecimento; e produziu intensamente tanto narrativas ficcionais, teatro, quanto crônicas para periódicos de diversos lugares.

Algumas afirmações da pesquisadora chegam a ser absurdas, como, por exemplo, esta: “Se por um lado Carmen Dolores não queria ser cronista da vida mundana, por outro, aparentemente não reconhecia o valor da ‘crônica feminina’ para abordar temas mais sérios, como a vida social fragmentada da cidade, e o sistema político coersivo [...]” e, mais adiante, diz que a cronista “sentia-se limitada ao lidar com assuntos mais gerais” (BUSTAMANTE, 1993, p.37-38).

Quanto ao tema feminismo, não considerou Carmen Dolores como feminista, mas como uma mulher que “aceitou os limites da participação na vida pública” (BUSTAMANTE, 1993, p.40). Aponta em Carmen Dolores uma “consciência fragmentária” e uma “aparente desordem febril” elencando uma lista de contradições – interpretadas por ela – que teriam resultado “num sentimento de angústia e de alienação” (BUSTAMANTE, 1993, p.40). Por mais que, a partir da divulgação da Teoria da Recepção em nosso meio, a multiplicidade de leituras de um texto seja discutida e admitida, e o interpretador criativo possa agir sobre o texto, ele não pode desconsiderar o gênero textual, neste caso, a crônica, como um texto híbrido que se situa no entre-lugar,

ou seja, entre o jornalismo e a literatura. Em outras palavras, se também é concebido como texto literário, há de se pensar no uso de ferramentas linguísticas e poéticas como, por exemplo, a linguagem figurada entre outras estratégias discursivas.

Contraditoriamente, no capítulo em que fala da crônica como um “gênero compulsório da modernidade carioca”, Bustamante (1993, p.55) reconhece “seu estilo literário próprio”. Nesse sentido, discordamos de pesquisadora, por interpretar as afirmações, retiradas das crônicas de Carmen Dolores, somente no seu sentido literal, como se a autora estivesse escrevendo um diário íntimo, e por desconsiderar o uso da linguagem figurada amplamente usada pela cronista.

Acertadamente, ao rastrear o princípio de sua vida profissional, ou seja, os anos iniciais de sua carreira como escritora, quando seu primeiro conto publicado em jornais chegou às mãos de Alcindo Guanabara, por intermédio de Almeida Cavalcanti, Bustamante (1993, p. 24) entende que sua luta foi difícil:

Contemporânea do momento de integração do escritor à vida social, e tendo como herança uma tradição que excluía a mulher da criação da cultura, assim como uma tradição literária igualmente dominada por homens, Carmen Dolores hesitou em aceitar a manifestação da própria criatividade, abafando a sua inspiração. Na sequência, acrescenta que a autora foi buscar o incentivo de Arthur Azevedo e Machado de Assis e este último lhe recusou o apoio intelectual, mas isso não a impediu de transformar-se de escritora diletante em profissional. Além disso, rebateu “uma carta do Dr. Carlos de Laet, onde o autor expõe seu ponto de vista contra o divórcio e o feminismo, Carmen Dolores, defendendo a posição da mulher, justificou os motivos que a levaram à profissão literária” (BUSTAMANTE, 1993, p. 25-26).

Na abordagem temática que faz das crônicas selecionadas, ela alcança os principais assuntos abordados pela cronista e, nesse ponto, talvez resida o valor da dissertação, como um trabalho acadêmico pioneiro em se tratando das crônicas de Carmen Dolores. As imagens de luta descritas pela ensaísta condizem com a obra literária da escritora: a pena como arma no trabalho de criação literária; a luta relacionada à carreira literária para a mulher; a luta das camadas médias da sociedade subjugadas pelas camadas abastadas; sua luta contra o carnaval, contra a desordem, contra o mundanismo, contra o “progresso artificial”, entre outras. (BUSTAMANTE, 1993, p. 49-84) A cronista abordou ainda

temas como: a modernização da cidade e a emancipação feminina; o divórcio e o feminismo presentes nas suas crônicas. (BUSTAMANTE, 1993, p.85-111).

Maria Helena Mendonça (2002), na sua tese de doutoramento em Literatura Brasileira, desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa crônicas brasileiras de autoria feminina, avaliando recursos estilísticos e o tom poético na linguagem de várias escritoras, dedicando a cada uma um capítulo. Entre as selecionadas, estão Nísia Floresta, Carmen Dolores, Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Clarice Lispector e Marina Colasanti.

Sobre Carmen Dolores, Mendonça (2002, p.46) aponta seu “gosto pela controvérsia”; sua linguagem persuasiva, “sua plena realização comunicacional servindo a uma temática complexa, constituída por questões polêmicas, relativas aos vários segmentos da sociedade [...]”, principalmente à causa feminina. Esses são, para a ensaísta, os elementos fundadores do seu discurso. No entanto, não percebemos, neste trabalho, uma preocupação maior com quem foi Carmen Dolores, pois a tese ainda reproduz dados biográficos equivocados.

Cabe lembrar, também, que ela delimita a sua análise das crônicas apenas às que estão presentes nos livros Ao esvoaçar da ideia (1910) e Carmen Dolores – crônicas 1905-1910, estudo organizado por Eliane Vasconcellos em 1998, deixando entender que toda a obra cronística da autora pesquisada estivesse compilada nesses dois livros. Avaliando a forma e o conteúdo desses textos, ela atenta para “[...] uma arte retórica, peculiar [...]” que remete aos fundamentos de Aristóteles, porém seu “discurso apresenta uma perspectiva mais moderna da mensagem persuasiva”. Ou seja, ela o adapta ao seu tempo e espaço. Diferencia-se do discurso aristotélico, pois não tem por base a “autoridade de uma Razão Absoluta”, mas Carmen Dolores se vale de apelos emocionais, “preocupações de ordem prática” resultando em “redimensionamento histórico de certos conceitos” (MENDONÇA, 2002, p.49). Por outro lado, ela parece seguir as principais proposições aristotélicas usando literalmente os gêneros discursivos: “deliberativo, demonstrativo e judiciário, tendo em vista, sempre, a pessoa que fala/escreve, o assunto de que se fala/escreve e a pessoa a quem se fala/escreve” (MENDONÇA, 2002, p.50).

A partir da análise de algumas crônicas, Mendonça (2002, p. 50- 57) aponta várias estratégias, usadas pela cronista, para convencer e interagir com seus leitores, como: desconstrução do discurso do opositor, uso de um discurso didático combinado com uma profusão de interrogações retóricas, um tom imperativo nas exortações, analogias

com casos ficcionais dramáticos, inserção de casos exemplares que ilustram o tema, ou a busca do aval de personagens da história da humanidade que fundamentem sua perspectiva sobre o tema e, ainda, menciona as marcas sintático-morfológicas que assinalam a inclusão dos leitores no espaço e tempo das crônicas. Da análise, conclui sobre o modo como a cronista consegue verbalizar e divulgar suas ideias particulares em um veículo público como o jornal:

[...] a partir dos fatos da vida cotidiana, expostos nas crônicas, quer delibere sobre uma escolha entre questões opostas, quer demonstre exemplos do ‘belo’ e do ‘feio’ nas criações dos homens e das mulheres, ou quer exerça um julgamento sobre as dissidências humanas, o que mais se destaca em Carmen Dolores, é a manifestação concreta, persistente e transgressora de seu discurso, podendo, mesmo, conferir a sua palavra aquela ‘instância de extrema sabedoria’ defendida na Antiguidade (MENDONÇA, 2002, p. 57 [grifo da autora]).

Quanto aos temas recorrentes em suas crônicas, a ensaísta afirma que a escritora mostrou-se “[...] disposta a desestruturar uma série de convenções firmemente estabelecidas na sociedade da época”. Nesse sentido, “encontra-se nas crônicas de Carmen Dolores aquilo que para a autora representava, essencialmente, a ‘vida real’ observada no quotidiano dos leitores e da sociedade” (MENDONÇA, 2002, p. 66-67). Para a ensaísta, Carmen Dolores ressalta as incoerências da vida, os aspectos negativos do cotidiano, despertando nos leitores o espírito crítico para a vida real, contrapondo-se ao modelo romântico do século XIX. Entre os temas analisados, estão: a “ética jornalística” e a “autoridade canônica” no mundo das letras, ressaltando “a coragem desta mulher para se confrontar com o cânone através da palavra pública e, por conseguinte, com os próprios intelectuais, aos quais a cronista não hesita em propor uma renovação de paradigmas acadêmicos [...]” (MENDONÇA, 2002, p.68-72).

Outro aspecto interessante, apontado por Mendonça (2002, p.73- 75), é o fato de Carmen Dolores registrar “peculiaridades da crônica moderna”, quando comparada ao estilo de João do Rio, seu contemporâneo. Os traços que ela lhe atribui são “a essência desse gênero polimórfico e fronteiriço, que vemos transitar livremente pela literatura, pelo jornalismo e até pela história”. E o modo de observar “a realidade social e culturalmente constituída”, assim como o modo de “repassar os fatos mais importantes o cronista dá um novo olhar

histórico”, o que estaria refletindo “as acepções contemporâneas da Nova História” propostas por Peter Burke (1992).

Durante toda a análise, percebe-se que Mendonça (2002) teve a preocupação de discutir o quanto a cronista estava adiantada no tempo, o seu espírito revolucionário, a sua competência intelectual e a sua habilidade com as palavras, o que fica evidente em sua conclusão:

Associando, portanto, seus dotes literários, sua sensibilidade, sua inteligência e, principalmente, sua independência, a uma firme convicção de que o talento deve ser colocado a serviço de causas justas, Carmen Dolores, essa escritora originalmente talentosa, justifica, por si mesma, a importância não somente de resgatar e divulgar sua escritura, como também a necessidade de inseri-la, definitivamente, nos estudos da Literatura Brasileira (MENDONÇA, 2002, p. 90- 91).

Seguindo a mesma linha de pesquisa que a ensaísta, concordamos plenamente com as qualidades que lhe foram atribuídas nessa discussão sobre sua obra cronística, bem como com sua inserção nos estudos da Literatura Brasileira. Por isso, nos propomos, aqui, a ampliar o estudo da obra cronística efetivamente realizado pela autora, resgatando o que ainda resta nos periódicos.

Leonora De Luca (2004), na sua tese intitulada “Amazonas do pensamento: a gênese de uma intelectualidade feminina no Brasil”, apesar de não se dedicar à análise da obra de Carmen Dolores como uma das integrantes dessa “gênese de uma intelectualidade feminina no Brasil”, lembra rapidamente seu nome como uma figura que “paira, solitária, à margem da existência da maioria dessas escritoras do Oitocentos” (De LUCA, 2004, p.54). Ela se refere, aqui, ao extenso grupo de escritoras selecionadas por ela a partir do Dicionário

Bibliográfico, de Sacramento Blake, publicado entre 1883 e 1902.

Sobre Carmen Dolores, enquanto jornalista, De Luca (2004, p.54) afirma que teve “importante participação no processo de consolidação do publicismo feminismo na primeira década do século XX[...]”. Mesmo tendo iniciado suas publicações, em 1897, prefere situá-la “entre as primeiras escritoras nacionais dos Novecentos do que entre as derradeiras representantes brasileiras do século XIX[...]”, pois, além de sua atuação se tornar mais perceptível, “seus incisivos posicionamentos em questões como o direito ao divórcio reivindicado por uma legião de infelizes compatriotas já fazem parte dos pleitos feministas típicos das primeiras décadas do século XX”. Cita o rápido esquecimento de seu

nome, que se seguiu à sua morte precoce, mesmo tendo conquistado uma “posição de natural relevo” com seus livros e com a coluna semanal de crônicas no prestigioso jornal O Paiz nos seus últimos anos de vida. Mesmo não tendo analisado sua obra, nos seus rápidos comentários, De Luca (2004) deixa entrever sua intencionalidade em incluí-la entre as intelectuais femininas brasileiras que forjaram o seu espaço de expressão pública.

Maria de Lourdes de Melo Pinto (2006) também acaba discorrendo sobre Carmen Dolores na tese intitulada “Memória de autoria feminina nas primeiras décadas do século XX: a emergência da obra periodística de Chrysanthème”. Apesar de ser uma tese sobre as crônicas de Chrysanthème, Pinto (2006, p. 18) informa ao leitor, já na introdução, que foi a partir da leitura de Ao esvoaçar da ideia, de Carmen Dolores, encontrado na Biblioteca Nacional, que ela chegou ao nome de Chrysanthème e foram as crônicas da mãe que despertaram a curiosidade sobre a possibilidade da filha também ter escrito crônicas.

Na escrita da biografia de Cecilia Moncorvo Bandeira de Mello Rebello de Vasconcellos, seguindo rastros, Pinto (2006, p.100) aponta sua relação de parentesco com a escritora Emilia Moncorvo Bandeira de Mello e, antes mesmo de apresentar o rosto da filha ao leitor, é o rosto da mãe que aparece na primeira ilustração que apresenta. O mesmo ocorre na discussão sobre a data de nascimento de Chrysanthème: Pinto (2006, p. 106) recorre aos dados biográficos encontrados sobre a mãe, Emilia.

Em contrapartida, foi a partir da tese de Pinto (2006, p. 108) sobre Chrysanthème que encontramos a primeira pista sobre quantos filhos Carmen Dolores teria tido, bem como conhecemos seus nomes, fato que comprovamos depois em outras fontes primárias. Somente um dos nomes citados, Alfredo Moncorvo Bandeira de Mello, não aparece em outras fontes, o que nos faz duvidar da informação apresentada na tese.

Para além do elo familiar, interessante, no texto, é a insistência da ensaísta em estabelecer a confluência de ideias e de posturas entre mãe e filha enquanto escritoras, fazendo com que Cecília acabe “aproximando- se muito mais de sua ascendência materna” (PINTO, 2006, p. 101). Para a ensaísta, nada as aproximava mais que a força das letras, a paixão com que escreviam suas crônicas. Nas palavras de Pinto (2006, p. 160): “[...] nos textos de Carmen Dolores, perceberemos os ecos dos futuros combates que a filha travaria ao longo da carreira”. Essa influência materna é largamente comentada pela ensaísta, a qual acaba por concluir

que os escritos de Chrysanthème estão aquém da produção materna, mas valem pela “clara alusão a uma construção de memórias familiares [...]” (PINTO, 2006, p. 181).

Adriana Kivanski de Senna (2006) defende a tese intitulada As

tentativas de implantação do divórcio absoluto no Brasil e a imprensa rio-grandina (1889 – 1916), no curso de pós-graduação em História da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Valendo-se do jornal como fonte histórica e documental, como uma das representações possíveis do real, percorre matérias jornalísticas dos periódicos Echo do

Sul, Diário do Rio Grande e Artista, que abordem o tema do divórcio.

Ao analisar o artigo de Carmen Dolores sobre a questão do divórcio, publicado inicialmente no Correio da Manhã (RJ) e transcrito para o

Diário do Rio Grande, Senna (2006, p.135-136) explana que a cronista

foi sem dúvida uma das escritoras mais importantes de seu tempo. Foi uma das escritoras pioneiras na luta pela educação da mulher e por sua colocação dentro da força de trabalho; não teve medo de ser a favor do divórcio; curiosamente, no entanto, não lutou pelo sufrágio feminino, como se lê em algumas de suas crônicas. Entre seus temas prediletos, destacamos a defesa do feminismo e da lei do divórcio, tão bem apresentada em seu livro Ao esvoaçar das ideias– defesa feita em sete crônicas, apoiando a luta da advogada Myrtes Campos. Espírito combativo, tinha independência de opinião e de ideias, e as colocava sem receio ou hesitação. A ensaísta comenta o embate entre as opiniões de Carmen Dolores e Carlos de Laet sobre a questão do divórcio nos periódicos cariocas, textos transcritos pelo Diário do Rio Grande e comentados por ela. Esse fato, uma vez apontado, comprova o alcance das opiniões de Carmen Dolores no território nacional, o que poucas mulheres, em sua época, conseguiam.

Maria da Conceição Pinheiro Araújo (2008) também defende sua tese na linha de resgate de escritoras esquecidas pela História da Literatura, avaliando a obra jornalística de Ignez Sabino Pinho Maia, (Bahia, 1853-1911), e Maria Benedita Câmara Bormann (Délia), (RS, 1853-1896). No resgate da fortuna crítica dessas autoras, retoma o estudo comparativo desenvolvido por Clarice Fukelmannn (1994) sobre as obras Celeste (1893), de Maria Benedita Câmara Bormann;

Gradações (1897), de Carmen Dolores e Correio da Roça (1913), de

a colaboração de Carmen Dolores no jornal O Paiz entre outros nomes de relevo da intelectualidade fluminense. (ARAÚJO, 2008, p.201)

Outra rápida referência à Carmen Dolores está na dissertação de Miriam Steffen Vieira: “Atuação literária de escritoras no Rio Grande do Sul: um estudo do periódico Corimbo, 1885-1925”. Vieira (1997), ao fazer considerações sobre o desenvolvimento da literatura no Brasil entre o final do século XIX e início do século XX, identifica a imprensa como meio de divulgação da produção literária, onde os(as) escritores(as) colaboravam com crônicas ou outros textos literários. Dos jornais cariocas destaca o nome de Emilia Moncorvo Bandeira de Melo (Carmen Dolores), entre os de Julia Lopes de Almeida e Maria Benedita Câmara de Bormann (Délia), como escritoras atuantes.

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