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AS VIAS DO COMERCIO VIKING

No documento História Econômica do Ocidente Medieval (páginas 123-127)

pa ra S a m a rc a n d a

A Bacia Parisiense fornece um bom exemplo da zona de comércio inter-regional: é aqui que se situam as poucas feiras que sáo melhor conhecidas. Desde meados do sé- culo VIII, a de Saint-Denis, frequentada por mercadores vindos de longe, como os saxóes e os frisoes, representava, através das taxas cobradas sobre as trocas, uma fonte de riqueza disputada entre a abadia local e os condes de Paris. Apesar de, devido ás repetidas incursoes dos Normandos na regiáo de Paris, as trocas terem abrandado entre 845 e o final do século IX, parece que o século X assinalou um renascimento: deve ter sido pouco depois de 900 que foi redigido um falso diploma de Dagoberto concedendo gran­ des privilégios aos mercadores dos lugares remotos, chega- dos por Ruáo e Quentovic, e também aos das regióes medi­ terránicas. Outro local de feira foi Chappes, a 20 km de Troyes, preferido a Saint-Denis por estar mais protegido no tempo das invasóes normandas. Conhecemos também Troyes, onde se vendiam escravos desde o século VIII e onde os monges de Saint-Germain-des-Prés, isentados por Carlos Magno do terrádigo local, vendiam os seus produtos. Mais tarde, na segunda metade do século X, Chalons-sur-Marne, Langy e Provins comegam a ser assinalados como lugares frequentados por numerosos mercadores.

Entre as mercadorias produzidas pela Bacia Parisiense, devemos citar em primeiro lugar o vinho, porque é ele que atrai principalmente os negociatores do Norte. Para estes, o «frete de ida» compunha-se de tecidos (os pallia frisonica, talvez tecidos na «Flandres» e únicamente transportados pelos Frisoes) e metáis. Assim, os monges de Ferriéres-en- -Gatinais usavam vestuário tecido na regiáo de Montreuil- -sur-Mer. Paris no século IX e Soissons no século X, entre outras, eram cidades consideradas habitadas por pessoas ricas. É esta a origem da obstinado dos Normandos em atingir a regiáo e, finalmente, em se instalar no baixo Sena. O caso da Bacia Parisiense impóe uma conclusao para o estudo do comércio regional e inter-regional. «A distinfáo que se faz entre o comércio de antes e depois do século X ... (náo é) táo nítida» como dantes se pensava. Verifica-se uma «permanencia das vias de trocas», motivada em parte pelas condigóes geográficas. Verifica-se, mais ainda, uma «permanéncia de certos lugares de trocas»: as feiras de Saint-Denis e de Champagne já existiam como «feiras de vinho» antes de serem, no século XII, «os grandes alicerces do comércio dos tecidos». E «a passagem da economia agrícola predominante, de antes do século X, á fase de economia urbana predominante, a par­ tir do século XI, náo representa qualquer revolugáo, mas a ampli­ fica d o de um fenómeno preexistente» (R. Doehaerd).

Foi o comércio a grande distáncia que reteve quase toda a a te n d o dos historiadores, tal como retivera a dos homens da época, fascinados pelo esplendor e pela raridade dos produtos do Oriente.

Contudo, esse negocio, quase negado por uns e exagerado por outros, náo tinha um grande significado económico, porque a sua clientela era constituida apenas por alguns milhares de laicos e de clérigos mais afortunados. Por isso, seremos muito mais breves do que é hábito sobre este caso.

Destaquemos como primeiro facto que certos produtos orientáis desapareceram do Ocidente a partir do século VIII. O papiro do Egipto foi completamente suplantado pelo pergaminho, mais fácil de conservar. O azeite deixou de ultrapassar a sua zona de produ- fáo. Aliás, a manteiga e a banha trouxeram novos progressos á ali­ m en tado, enquanto a cera para as lamparinas das igrejas. e o sebo, para a ilum inado dos pobres, suplantavam a ilum inado a azeite. Portanto, náo continuavam a ser importados do Oriente senáo pro­ dutos como os tecidos de luxo (destinados a satisfazer o gosto pela riqueza e pela osten tad o dos aristócratas e também dos clérigos, contra o qual clamaram os moralistas como Alcuin) e as especiarias.

Os produtos exóticos penetravam no Ocidente por numerosas vias. Conhecemos já a rota do Extremo-Leste, a de Varégues. O papel de e sta d o de muda deesmpenhado por Duurstede antes da sua destruido, em meados do século IX, foi assumido por outros portus situados mais no interior das térras, como Tiel, muito prós­ pero no século X. Bréme, que sucedeu á Hamburgo destruida, foi também uma e sta d o de muda. O período das hostilidades «nor­ mandas» desorganizou apenas temporariamente o comércio nesta regiáo, que, no entanto, era a mais exposta e a mais devastada. Mas a rota do Adriático, onde os Bizantinos, que conservavam as mar- gens opostas do canal de Otranto, impediam a pen etrad o da pira- taria musulmana, era, desde os séculos IX e X, a principal via do comércio oriental, o que explica o desenvolvimento de Veneza. É preciso notar — as listas de numerosas p ereg rin ajes aos lugares santos assim o revelam — que os marinheiros do Adriático náo aportavam somente aos Baleas bizantinos, langando-se também, sem intermediários, até ao Levante islámico: a política de amizade entre Carlos Magno e o califa de Bagdade deu seguramente os seus frutos em matéria económica. Por seu tumo, o Ocidente mugulmano foi, pelo menos desde o tempo de Luís o Piedoso, um fornecedor do mundo «latino» em produtos «orientáis» que desembarcavam ainda em Marselha ou em Arles. Sabe-se que, em troca, o Ocidente cristáo abastecía de escravos a Espanha árabe.

As últimas vias frequentadas, que aliás constituíam um feixe, foram as rotas continentais através dos países eslavos e da planicie do Danúbio, tanto antes como depois da derrota dos Ávares e desde o estabelecimento dos Magiares. Os mercadores ocidentais encon- travam aqui mercadores bizantinos, a quem compravam produtos

exóticos que traziam juntamente com as peles e os escravos. Por razoes mais militares do que económicas, Carlos Magno (e mesmo os seus sucessores) quis controlar esse tráfico pelas armas. Estabe- leceu, portanto, postos de controlo por onde os negociantes tinham obligatoriamente que passar, mas esse embriao de alfándega nao deve ter sido nem muito eficaz nem muito duradoiro.

Segunda Parte

No documento História Econômica do Ocidente Medieval (páginas 123-127)

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