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Salvo talvez na Alemanha, onde desde os cornetos do século X I se introduziram um peso e uma unidade monetária diferentes da lb., o marco de

No documento História Econômica do Ocidente Medieval (páginas 188-200)

A EXPANSÁO ECONÓMICA E OS FACTORES DA PRODUgÁO

í 1) Salvo talvez na Alemanha, onde desde os cornetos do século X I se introduziram um peso e uma unidade monetária diferentes da lb., o marco de

prata de 218 g, aparentemente originário da Escandinávia e que deu origem a outros marcos, dos quais o mais célebre foi o de Colónia.

As somas a que nos referimos, por exemplo a propósito de Cluny, foram expressas em libras clunisianas, embora houvesse muitas outras, como a libra de Provins, em Cham­ pagne, a libra de Tour (lb. t.) ou a libra parisis em Paris (lb. p.). E quando, em 1205, Filipe Augusto agregou Tou- raine ao dominio real e introduziu em Paris e noutros pontos a lb. t., foi preciso estabelecer uma relagáo fixa (que se irá manter através dos séculos) entre as duas moedas de conta:

12 d. p. = 15 d. t.

20 s. p. = 25 s. t. (o de Tours valia apenas 4/5 do parisis) ou 1 lb. p. = 25 s. t.

Mais tarde, Sáo Luís tentará, náo sem resultados, trans­ formar o sistema de Tours em sistema oficial do reino. Contudo, o parisis só iria desaparecer completamente no reinado de Luis XIV! Por conseguinte, tanto ñas regióes do Norte como ñas do Sul iriam, de uma maneira ou de outra, manter-se vários sistemas. Mas uma nova compli­ c a d o ia surgir, na Flandres, em fináis do século XIII, onde comegaram a cunhar-se novas moedas chamadas de- nários brancos ou gros, cada um com um valor de cámbio de ls. p. A nova moeda de base, o gros, dá origem a um novo sistema monetário de conta, em que cada unidade (soldo de gros ou libra de gros) vale 12 vezes mais do que o seu homólogo parisis. Em Inglaterra, em contrapartida, nada disto se passa: os reis tinham de defender a unidade dos signos monetários, reais e de conta. Henrique II, Plan- tageneta, instauraría a libra esterlina, subdividida segundo o modelo carolíngio em 20 shillings (xelim), equivalendo cada shilling a 12 pence: o penny era a moeda de prata, logo a moeda real, e equivalía em peso a 32 gráos de trigo. Em que medida poderá esta multiplicidade de moedas perturbar as transacgóes? Confrontemos mais uma vez duas espécies de comer­ cio, o a curta ou média distancia e o com maior raio de acgáo. Em relagáo á primeira, náo há dificuldade de maior: cada sistema possui «uma zona de difusáo que lhe é própria», determinada náo pelo acaso mas pela actividade económica de uma regiáo que gravite em torno de uma cidade. A geografía dos sistemas mone­ tários, que continua por fazer, seria uma geografía dos espagos económicos regionais. Mas no segundo tipo de comércio, de maior raio de acgáo, a abundáncia de tipos de moeda chegou a perturbar os negociantes. Isto explica o aparecimento de um novo tipo de oficio, o de cambista, por certo quase ignorado na Alta Idade Média. Para fixar uma tabela de cámbio, os cambistas tiveram de estabelecer toda uma hierarquia dos denários (J. Imbert), tendo em conta, para o efeito, os locáis e as datas de emissáo e procurando calcular o valor de cada moeda sobretudo em fungáo do peso de metal puro que ela continha.

Mais tarde ou mais cedo, os poderes reais ou dos príncipes, uma vez consolidados, iriam lutar contra esta proliferagáo de

moedas diferentes e contra a «má moeda», emitida por algumas oficinas senhoriais, e que continha muito pouco metal precioso em relajáo a outras.

No reino de F ranja, foi S. Luís quem se dedicou, náo sem sucesso, á obra de clarificajáo e saneamento. Animado por intenjóes moráis e religiosas, S. Luís considerava o fabrico de «má moeda» um pecado. É conhecida a des­ ventura do conde de Angouléme que depreciara a sua moeda (ou seja, enfraquecera) para pagar mais fácilmente aos seus credores: a «depreciajao» que pode ser uma infla- jáo, permite, tal como ela, que os devedores se libertem mais fácilmente das suas dividas. A Curia Regis obrigou este vassalo a indemnizar os seus credores pelo prejuízo causado. Foi um golpe severo desferido contra a autonomía das oficinas monetárias náo reais! Mais tarde, a ordenanza de 1262 impós, em todo o reino, um cámbio legal para a moeda do rei: as moedas dos vassalos só podiam circular ñas térras do vassalo que as mandara cunhar. Outras me­ didas restritivas foram tomadas seguidamente pelos sobe­ ranos, entre o final do reinado de S. Luís e 1328. O próprio S. Luís interditou a imitajáo de moedas reais (de melhor auilate do que as outras), vendo-se o seu irmáo, Afonso de Poitiers, que emitirá moedas de um tipo análogo, cons- trangido a modificá-las. E, para se chegar a uma lenta mas inexorável extinjáo da cunhagem «privada», decidiu-se que as oficinas que se mantinham náo poderiam emitir pejas novas, ficando estabelecido que náo seria concedido aos vassalos qualquer novo direito de cunhar moeda. O nú­ mero das oficinas senhoriais de F ranja, que no inicio do século X II rondava as tres centenas, ficou reduzido a menos de uma centena no fim do reinado de S. Luís, e, em 1315, apenas a trinta. A maior parte destas trinta que haviam escapado foram posteriormente recatad as ou su­ primidas pelos monarcas. E, por volta de 1500, pode dizer-se que «toda a moeda em F ranja é real» (J. Imbert). Salvo algumas excepjoes, como a Flandres, que conservava a sua moeda gros: mesmo guando ainda eram vassalos do castelo do Louvre, os condes souberam tornear a proibijáo real, mandando cunhar a sua moeda, a partir de 1337, ñas suas térras dependentes do império e náo do reino.

No tempo dos Carolíngios o poder de compra dos denários era elevado (cf. p. 59X Mas os séculos nassaram, gastando a moeda em todas as acepjoes da palavra. Mesmo sem inflajáo, mesmo em períodos de grande depressáo, o poder de compra de cada moeda vai diminuindo pouco a pouco. Assim, nos séculos XI-XII e a fortiori no século X III, o denário perderá uma parte do seu poder de compra (parte que infelizmente náo se pode medir), en­ quanto as trocas aumentavam de volume e de velocidade. Estes sáo dois motivos aue exnlicam a necessidade one se sentia de. mais tarde ou mais cedo, cunhar moedas de poder libera+ório mais forte.

zénite da actividade medieval. E foi, evidentemente, a opulenta Veneza que, em 1200, desferiu o golpe: náo se tratava de aban­ donar o sistema carolíngio mas antes de fazer com que o soldo, até ai simples moeda de conta, se transformasse de uma vez por todas em moeda real. O matapan ou gros representa um soldo e coloca o denário na categoría de moeda divisionária. Foi quase simultáneamente que surgiu em Inglaterra a esterlina, denário re­ forzado. Um pouco mais tarde, ainda antes de 1240, Florenga seguiu Veneza, o mesmo se passando em 1266 com a Franga de S. Luís, soberano que teve um papel de primeira grandeza na própria história monetária do país. O soldo chamado gros, ou apenas soldo de Tours, era, á data da sua criagáo, uma moeda com 4,22 g de peso, do qual aproximadamente 4 g eram prata, enquanto o denário continha apenas 1/12 desse peso de metal precioso (0,36 gramas numa moeda com um peso total de 1,11 g). Como moeda de conta, este gros valia 1 s. p., ou ainda 12 d. t.

Foi também no século X III que no Ocidente se recomegou a cunhar ouro. A Europa «latina» que, havia muito, vivia em regime de monometalismo prata, ia pois voltar, como no tempo do império romano e no inicio da época dos bárbaros, ao bimetalismo ouro- -prata: este facto foi por vezes negado e, contudo, ainda que durante muito tempo se tivessem cunhado poucas moedas de ouro (salvo em Itália), houve de facto bimetalismo, uma vez que, a partir de entáo, as moedas de ouro indígenas ou estrangeiras foram utilizadas nos grandes pagamentos.

O grande problema da circulagáo das moedas de ouro, bizan­ tinas e árabes (hyperpéres, marabotins, bezants...), náo foi resol- vido. Mas é certo que estas moedas estrangeiras circulavam em grande número desde o renascimento comercial que enriquecía o Ocidente á custa de outros mundos: na Europa, elas chegaram a dar origem a contrafaccóes devidas á iniciativa deste ou daquele príncipe. Apesar de, durante muito tempo, as moedas de ouro terem sido entesouradas, náo abandonando os tesouros religiosos e laicos senáo a título excepcional e para os pagamentos importantes depois de 1230, elas comegaram a circular mais intensamente. Con- sequentemente, o recomego da cunhagem do ouro no Ocidente seria menos uma revolugáo do que o reconhecimento de um facto e de uma necessidade. E náo devemos espantar-nos por ver esta cunhagem recomegar primeiro em Itália, onde, em consequéncia da longa sobrevivencia das possessóes bizantinas, o ouro moeda náo desaparecera como noutros locáis, tanto mais que os lagos econó­ micos com as regióes de moeda de ouro (Bizáncio e o Isláo) sempre foram mantidas até assumirem um grande desenvolvimento. E foi justamente um siciliano, nascido portanto na encruzilhada das diver­ sas economías da época, quem retomou a tradigáo da cunhagem do ouro: o imperador Frederico II emitiu em 1231, no seu reino

da Sicilia, os augustales, que foram as mais belas moedas de ouro medievais. A sua difusáo limitou-se contudo á Itália do Sul, sur- gindo Frederico II como um precursor, com grande avanjo sobre a sua época, tanto neste dominio como em outros.

Só vinte e um anos depois, Florenja emitiu os seus primeiros florins. O fiorino d ’oro ia buscar o seu nome á flor-de-lis, emblema da cidade representado ñas moedas. No mesmo ano, Génova cunhava os seus primeiros genoveses. Desta vez, estava aberta a porta «á expansáo do numerário de ouro no Ocidente» (H. Pirenne). Entretanto, curiosamente, Veneza esperou pelo ano 1248 para cunhar os primeiros ducados ou sequins. O ducado era uma réplica do florim, pesando uma e outra 3,5 g; mas destas duas moedas, o ducado iria revelar-se a mais activa, assumindo um ascendente crescente sobre o florim, primeiro no Mediterráneo Oriental, depois em toda a Europa. De qualquer modo, ambas correspondiam em principio ao valor de uma libra de gros em prata. Este facto teve duas consequéncias: a lb., tal como o soldo, já náo era apenas uma moeda de conta mas uma moeda real. E, como a lb. de gros de prata — cujo peso de metal puro era fixado — correspondía a um ducado ou a um florim de ouro, a relajáo entre ouro e prata — ponto sempre delicado em regime de bimetalismo — era também fixada. É necessário sublinhar que as mudanzas interiores (isto é, as relajdes de valor entre moedas de ouro e moedas de prata) iriam sofrer posteriormente alterajdes notáveis: subida notória do ouro entre 1250 e 1320, estabilidade entre 1320 e 1400, depois nova e muito forte subida do ouro entre 1400 e 1450. É possível que estas variajóes se devam á crescente necessidade de meios de paga­ mento, ainda que esta explicajáo seja certamente insuficiente.

O Ocidente, no seu conjunto, adaptou-se bastante Tapidamente ao exemplo italiano, e mais depressa em relajáo ás moedas de ouro do que aos gros de prata. Para Pirenne, trata-se de um sinal evi­ dente do «progresso crescente das relajoes comerciáis» neste sé- culo XIII. A partir de 1266, ano em que criara o gros de prata (com um atraso de várias dezenas de anos sobre a Itália), S. Luís emitiu os seus escudos de ouro (cria-se quase por toda a parte o hábito de atribuir a cada peja um nome relacionado com a figura do anverso ou do reverso), a que também se chamou denários de ouro: este último termo presta-se a confusáo, mas lembra o tempo em que o denário era, com os seus submúltiplos, a única moeda em circulajáo. O sucesso destes escudos náo foi fulgurante, tendo mesmo de se interromper a sua cunhagem bastante depressa. As emissóes de moedas de ouro tornaram-se, contudo, um pouco mais intensas no tempo dos primeiros sucessores de S. Luís. E a F ran ja foi assim o primeiro país náo italiano a ter a sua própria

moeda de ouro, indicio da riqueza e do poder do reino que atingia o seu apogeu. Porque a tentativa de Henrique III, Plantageneta, de imitar o escudo capetiano náo surtiu efeito.

Eis algumas datas conhecidas do inicio da cunhagem do ouro nos países do Ocidente, além da Itália e da Franga:

— na Boémia: 1325;

— em Castela: reinado de Afonso X I (1312-1350); — em Inglaterra (depois da tentativa abortada de Hen­

rique III): 1344 (emissáo de florins de ouro por Eduardo III);

— nos principados dos Países Baixos:

Brabante: no tempo de Joáo III (1312-1355);

Flandres (viu-se que, do ponto de vista monetário, o condado é independente do reino de Franga, aínda que seja feudo móvel de París): no tempo de Louis de Nevers (antes de 1377);

Bispado de Liége: entre 1345 e 1364;

Holanda: no tempo de Guilherme V (1346-1389)... (ainda náo se explicou cabalmente o motivo por que o pólo económico dos Países Baixos se atrasou tanto em relagáo á Franga).

A cunhagem de moedas — de ouro ou prata — com mais forte poder de compra do que os antigos denários náo teve qualquer efeito sobre aquilo a que se chama, de um modo talvez um pouco simplista, os abusos da circulagáo monetária, a alteragáo das moedas e a fixagáo arbitraria de cambios «oficiáis», diferentes dos cambios reais. É certo que, até ao fim da época medieval, o valor das moedas descreveu uma curva em geral descendente, que náo se deve apenas á usura fatal de qualquer moeda. Efectuaram-se frequentes altera- goes monetárias, sendo as moedas depreciadas a fim de serem enfra- quecidas (caso mais frequente) ou serem submetidas a um acrés­ cimo de valor. Testemunha-o o caso da Franga: desvaloriza-se vá­ rias vezes seguidas e a intervalos cada vez mais curtos, para depois se reavaliar enquanto se espera a próxima sequéncia de desvalori- zagóes. A depreciagáo (recolha das pegas em circulagáo seguida da emissáo de novas moedas de valor diferente) náo era, aliás, sequer necessária: bastava que se fixasse um cámbio oficial mais alto ou mais baixo, exprimindo em moeda de conta o valor libe­ ratorio de cada pega.

É preciso, pois, saber como era fixado o valor da moeda, no qual podiam entrar em jogo tres elementos: a talha, o quilate e o cámbio.

Comecemos pela talha. A oficina monetária comprava os lingotes de metal precioso a um cámbio fixado pelo rei, pelo príncipe ou até pela cidade. O lingote é avaliado numa medida de peso especial (o marco de Troyes, usado no reino de Franga, inclusive na Flan­ dres, pesava 245 g). A autoridade monetária fixa o número de

moedas de um certo tipo que se talhará de um marco, a talha é, pois, a quantidade de moedas cunhadas com o metal precioso de um marco com o quilate fixado pela ordenanza monetária em vigor O-

O quilate é a concentrado em metal, a proporjáo de prata ou de ouro que entra na liga da qual é feito o marco (2).

O valor de cámbio é, como já referimos, a fixafáo do valor, expresso em moeda de conta, de cada moeda em circu lado O-

Sendo cada moeda uma mercadoria com um valor intrínseco, pelo facto de conter metal precioso, poderia o cámbio legal ser arbitrário ou, pelo contrário, deveria ter em conta o valor comer­ cial? Fixando-se uma taxa demasiado arbitraria, náo havia que esperar qualquer hipótese de sucesso: de cada vez que os reis e os príncipes o tentaram, viram-se obrigados a enfrentar os efeitos da lei dita de Gresham. Esta lei fora erradamente atribuida a Gres- ham, financeiro inglés do tempo de Isabel I, mas de facto já fora exposta com clareza por Nicolás Oresme, conselheiro de Carlos V. Na sua versáo mais popular, diz o seguinte: «A má moeda escorraga a boa.» Quando duas moedas, ligadas por uma re la d o de troca legal, circulam conjuntamente numa regiáo, a que é tida por me­ lhor — na sequéncia de uma apreciado do seu valor comercial — tende a desaparecer. A boa moeda (as moedas estrangeiras, por exemplo) é, com efeito, entesourada (neste caso diz-se que se esconde), utilizada para pagamentos ao exterior, ou ainda fundida e vendida pelos particulares á Casa da Moeda em troca de exempla- res de «má moeda» emitida pelo príncipe em dificuldades, das quais

0 ) Assim, a 25 de Novembro de 1356, o conde da Flandres, Louis de Male, autoriza o seu ministro da Moeda — um florentino — a cunhar um denário branco, que será de 5 s. 9 d. de talha, num marco de Troyes. Ou seja, num marco talhar-se-iam 5 s. 9 d., portanto, 69 denários: o denário branco (que é um gros ao cámbio legal de 12 d. de conta) pesaría assim 1/69 do marco de prata de lei, ou seja, 3,55 g de metal precioso.

(J) Na sua ordenanza de 1356, Louis de Male decidiu que o denário branco seria de «6 d. e 4 graos de quilate de prata de lei». Hoje, avalia-se a concen­ tr a d o de uma liga em milésimos: uma liga de 950/1000 de prata é uma liga cujo conteúdo em metal puro é muito elevado, posto que é de 19/20. Mas na Idade Média avaliava-se a liga em denários, sendo cada denário subdividido em 24 graos: uma liga com 9 d. era portanto uma liga de 750/1000. Em 1356, 6 d. 4 graos o quilate do marco de prata no qual se iam talhar 69 gros era de: ---

37 12 d.

= — de pureza, ou seja, uma concentracao pouco superior a 500/1000. O peso de prata pura contida num denário branco ia ser, pois, de 1,82 g (37/72 de 3,55 g).

(3) Louis de Male fixava o cámbio legal do denário branco em 12 d. p-, baseando-se no antigo sistema de conta parisis (quando já nem sequer havia denários parisis em circulagao na Flandres do século XIV), e nao no novo sistema de conta flamengo (lb., s. e d. de gros).

se recebe um maior número. Quando uma moeda era subavaliada em relagáo á moedas entáo emitidas pela autoridade monetária, desaparecía da circulagáo ou passava a circular ao cámbio do mer­ cado, superior ao cámbio oficial.

A avaliagáo oficial tinha portanto que ter em conta, simultanea- mente, o prego e o peso do ouro contido na moeda, e o prego e o peso da prata incluida na moeda de referencia (aqui o gros) e a relagáo (náo imutável, mas fixada no mercado) entre o valor do ouro e o da prata. É verdade que a existencia do direito do senhorio concedía ás autoridades monetárias uma certa margem para a fixa- gáo dos valores oficiáis. Com efeito, havia uma diferenga obriga- tória entre o prego de compra do metal precioso pela Casa da Moeda e o seu prego de venda sob a forma de moeda, diferenga que se destinava a cobrir as despesas de cunhagem e sobretudo a fazer recair sobre os utentes a taxa de senhorio, cobrada por qual­ quer detentor do direito de cunhar moeda 0).

É bastante fácil avahar a evolugáo das moedas de prata da Flandres, desde os tempos de Louis de Male até aos do Temerario. Apesar de algumas reavaliagoes realizadas como tentativa de fazer inverter a corrente, náo se pode ou náo se quis fazer nada real­ mente sério contra a depreciagáo da moeda, especialmente rápida no século XIV. A erosáo foi muito acentuada: de 4,22 g em 1317, o peso em prata de lei do gros caiu para 1,82 g em 1356, 1,01 g em 1383, 0,71 g em 1467 e 0,64 g em 1480. Precisando-se que o peso de metal precioso contido nos múltiplos e nos submúltiplos do gros náo seria exactamente proporcional ao seu valor nominal: a moeda negra (submúltiplos da unidade monetária), em proporgáo, contém sempre menos metal puro, vindo daí o seu qualificativo.

Na Idade Média (e ainda na época moderna), existiam tres pro- cessos de desvalorizagáo e depreciagáo, que podiam combinar-se ou náo (J. Imbert):

a) mutaüo in materia ou in proportione: efectuava-se diminuindo

o peso de ouro ou prata fina contido na unidade monetária, redu- zindo assim o pé das moedas (ou seja, o quilate). Isto impunha

(') Assim, a ordenanza de Louis de Male decidía, em 1356, que os merca- dores que vendessem prata/metal á Casa da Moeda receberiam por cada marco de prata de lei a 23/24 de pureza, 118 gros. Ora, com a prata de um marco do mesmo quilate iam ser cunhados 134 gros, uma vez que se talhariam 69 num marco de 37/77 de pureza:

72 69 X — = 134.

37

Neste preciso caso, as despesas de cunhagem e o direito de senhorio, somados, 16 elevam-se portanto a 134 — 118 = 16 gros, ou seja, a mais de 14% (--- ).

uma subida do prejo do marco de prata ou de ouro de lei, pago pela Casa da Moeda, e uma rápida revisáo do cámbio oficial ao qual se cotavam as moedas náo depreciadas.

b) mutatio in pondera', também aqui as moedas eram deprecia­ das e, portanto, demonetizadas, enquanto as novas, com um cámbio oficial pelo menos igual, iam sofrer uma dim inuido de peso em metal precioso, embora o quilate se mantivesse inalterado. As novas moedas, mais leves em metal puro, eliminariam seguramente as

No documento História Econômica do Ocidente Medieval (páginas 188-200)

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