• Nenhum resultado encontrado

AS “WAVES” DO ROCK PROGRESSIVO

No documento O rock progressivo depois de 1990 (páginas 159-162)

EFEITOS E SINTETIZADORES.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 AS “WAVES” DO ROCK PROGRESSIVO

Quando se tem contato com reflexões sobre Rock Progressivo, seja através de meios de publicidade das bandas, mídia de massa, publicações pelo próprio público, ou livros como aqueles alguns dos quais foram utilizados como referência, uma das discussões mais comuns são sobre as divisões do subgênero. Como a história desta música se estende ao longo de um período de tempo muito extenso, e passou por diversos períodos de mudanças, é natural que as pessoas envolvidas na sua apreciação e debate procurem alguma forma de se “organizar” sobre qual época, ou quais trabalhos, exatamente, estão se referindo.

Circunstâncias, principalmente musicais, que levaram os autores e o público a sentirem esta necessidade de se dividir o subgênero em “ondas” já implica na necessidade para uma discussão um pouco mais profunda – se esta música toda realmente pertence ao mesmo gênero musical – mas antes disso, acredito que seria interessante se considerar a existência ou não de tais ondas.

Como observamos ao longo dos capítulos iniciais, independentemente da definição de um ponto de origem especifico, como um álbum, algo que seria bastante subjetivo, é um consenso entre os autores de que o Rock Progressivo se consolidou por volta de 1968 – este seria o começo do que chamam da primeira onda. Foi o período no qual o subgênero consolidou suas características musicais, através do trabalho de bandas como o Pink Floyd,

Yes, King Crimson, Jethro Tull e Genesis.

Esta própria definição de bandas já é algo subjetivo, alguns autores e uma porção do público consideram o Pink Floyd como uma banda de Rock Psicodélico, e alguns não concordam em agrupar o King Crimson com as outras bandas, por exibir uma direção musical contrastante, classificando este grupo como Art Rock ou Jazz-Rock. É uma questão de definição de gêneros musicais, como foi comentado brevemente na introdução do trabalho: gêneros seriam uma forma de se manifestar um conjunto de práticas que envolvem muito mais do que exceções nos trabalhos de um grupo, ou faixas em álbuns específicos; acredito que seria incorreto definirmos um gênero musical a partir da atividade de bandas individuais.

Esta primeira onda continuaria até a queda de popularidade do Rock Progressivo, que aconteceu quando o subgênero começou a perder o folego no mercado mainstream, foi sujeito a críticas pela mídia, e afrontado pelo surgimento do Punk Rock na Inglaterra, por volta de

1976. As principais bandas mencionadas também passaram por uma série de problemas, mudanças em suas formações, e algumas suspenderam suas atividades, levando finalmente a um enfraquecimento da presença do público, e ao final desta primeira onda do Rock

Progressivo.

A segunda onda, de acordo com Hegarty e Halliwell (2010) e Macan (1998), viria com o surgimento de um novo grupo de bandas ao longo da década de 1980 – Marillion e IQ – normalmente definidas como as principais representantes desta música, mas os autores citam diversos outros grupos; alguns autores e uma parte do público concordam em vincular esta música ao termo Neo-Progressive. Como observamos, a prática destas bandas é significantemente diferente daquela das bandas da década de 1970, o que justificaria um termo diferente, mas mantendo algumas características em comum.

Sobre a discussão de ondas, temos um problema inicial que surge sobre a definição do ponto de origem desta segunda onda, que seria a partir do surgimento destas bandas. Este ponto de origem ignora o fato de que algumas das bandas antigas continuaram compondo, e que foram trabalhos musicalmente significantes, como, por exemplo, os álbuns do Peter

Gabriel e do King Crimson, os quais influenciaram um grande número de músicos nas

décadas seguintes. Estes trabalhos, de acordo com estas definições dos autores, não pertenceriam a nenhuma das duas ondas. Um outro problema é que o Metal Progressivo também surgiu na mesma época, e tem características bem distintas quando comparadas especificamente a estas de Neo-Progressive; a classificação de uma onda por “bandas que surgiram na época”, é bastante subjetiva.

Um segundo problema que surge em torno desta esta suposta segunda onda é que, como observamos ao longo do capítulo 4 do trabalho, a carreira destas bandas representantes continua até os dias atuais. No momento da redação deste trabalho, ambos os grupos,

Marillion e IQ, se encontram em turnê, o que faria com que a segunda onda continuasse de

forma paralela a uma terceira. Estes termos foram pensados com o objetivo de se simplificar as discussões sobre o subgênero, mas quando nos deparamos com estes detalhes, eles acabam se tornando uma complicação desnecessária.

A terceira onda seria possivelmente definida da mesma forma, através das bandas que surgiram a partir da década de 1990, Macan (1998) considera principalmente a atividade de bandas como Ozric Tentacles, enquanto Hegarty e Halliwell concluem o seu livro refletindo sobre diversos tipos de música experimental, desde o Porcupine Tree, até seções de

progressivo em bandas de música eletrônica como nos trabalhos do Pendulum, que é uma banda de Drum n’ Bass. (HEGARTY; HALLIWELL, 2011, p.283-289)

Como observamos ao longo do capítulo 4 do trabalho, temos dois grandes grupos de bandas que trabalharam com Rock Progressivo, os quais produziram músicas com características relativamente diferentes. Ainda é importante mencionar os grupos de Metal

Progressivo, os quais têm sonoridades muito variadas ao longo destas décadas a partir de

1990. Outros detalhes para se considerar são – a presença de algumas das bandas e músicos importantes da década de 1970, retomando suas carreiras, outros grupos os quais apresentam sonoridades experimentais, mas não foram abordados pelo trabalho, como bandas de Post-

Rock 133, e bandas inseridas no mercado mainstream que tiveram uma liberdade maior em

seus trabalhos, se aproximando do subgênero, alguns exemplos seriam o Radiohead na década de 2000, e o Muse em alguns álbuns mais recentes.

Acredito que como resultado da pesquisa realizada ao longo do trabalho, podemos dizer que verificamos, de forma concreta, que a música conhecida como Rock Progressivo realmente teve um retorno ao longo da década 1990, seguindo em frente nos anos seguintes, o que caracterizaria uma terceira fase distinta desse subgênero. Apesar disto, como mencionado, a inclusão da música que observamos além de outras neste período faz com que a caracterização deste período como uma terceira “onda” se torne abrangente demais para ser útil. A classificação por gêneros musicais já seria mais do que o suficiente para se comunicar qual tipo de prática musical exatamente estamos nos referindo, até mesmo porque já utilizei termos como Neo-Progressive como referência às novas bandas de 1980.

Um último e importante detalhe sobre a classificação por fases envolve a popularidade do subgênero, o qual fez parte do mercado mainstream ao longo da década de 1970, mas que nas décadas seguintes não teve um sucesso tão excepcional. Quando se fala que o subgênero teve uma segunda ou terceira “ondas”, se corre o risco de inferir que as subsequentes foram similares à primeira nestas questões. Devido a forma com que os autores definem o final da primeira fase, através do ponto ao longo do qual se verifica a queda de popularidade do subgênero, quando se diz que esta música voltaria nos anos seguintes, estaríamos, através

133 Um tipo de música que se desenvolveu no final da década de 1980 e início da década de 1990, envolvendo principalmente experimentação em torno do Rock. Algumas das características mais marcantes são a presença predominante de faixas instrumentais, harmônica e melodicamente minimalistas, se focando na criação de ambientações através do desenvolvimento e variação de texturas, timbres, dinâmica e complexos arranjos musicais, feitos principalmente com guitarras (com diversos efeitos) e ocasionais instrumentos acústicos, sem se apoiar tanto em elementos eletrônicos ou música programada. Algumas das influencias e conexões deste subgênero são a música ambiente, o Rock Psicodélico, e o Krautrock. (REYNOLDS, 1994)

desta afirmação, sujeitando alguém a pressuposição de que voltamos ao estado inicial. De uma forma similar, através da afirmação da existência de uma terceira onda, podem ser levantadas, não somente estas questões sobre a popularidade, mas também outras sobre a segunda fase do subgênero, sobre como esta fase teria ou não se encerrado, e se a música que ouvimos no trabalho das bandas que surgiram nesta época seria igual ou não a aquela da primeira ou terceira. Assim, imagino que seja mais adequado abordar a história do Rock

Progressivo através dos termos de gênero musical.

No documento O rock progressivo depois de 1990 (páginas 159-162)