• Nenhum resultado encontrado

SURGIMENTO E CONTEXTO SOCIOCULTURAL

No documento O rock progressivo depois de 1990 (páginas 66-69)

EFEITOS E SINTETIZADORES.

2. ROCK PROGRESSIVO

2.4 PUNK ROCK

2.4.1 SURGIMENTO E CONTEXTO SOCIOCULTURAL

Justamente em torno dos os anos de 1976-1977, época em torno da qual acontecia algumas críticas citadas em parágrafos anteriores, foi quando um outro subgênero do Rock surgiu na Inglaterra, de forma muito mais rápida, tomando uma forma definitiva em um espaço de tempo muito mais curto do que o Rock Progressivo – este novo subgênero veio a ser chamado de Punk Rock. No trabalho de Hegarty e Halliwell (2010) podemos encontrar um breve contexto por trás do surgimento desta nova música:

Quando o Punk Rock decolou na Inglaterra, foi num contexto de inquietação social, numa situação econômica desastrosa, e com fracasso da esquerda de se fazer qualquer outra coisa além de fechar a indústria ou, em outros extremos, debater os papéis do partido de vanguarda naquela sempre adiada revolução Marxista. Mesmo que a ideia da decadência do Rock Progressivo fosse exagerada, para muitos a sua relevância social já estava em declínio

por volta de 1976 [...] (HEGARTY, HALLIWELL, 2010, p.163. Tradução nossa) 57

Inicialmente, um dos principais pontos a ser criticado, fala sobre como o Rock teria se tornado muito distante da realidade financeira do público, que passava por um momento de crise na Inglaterra, mas não somente isto, a crítica também argumentava como o virtuosismo do progressivo, e a sua proximidade com a música erudita impossibilitava que “qualquer um” se expressasse musicalmente sem educação formal, dinheiro e um background específico, tal como pertencer a uma família de músicos.

A educação musical formal no campo erudito que alguns membros das bandas de Rock

Progressivo tiveram antes era promovida como um ponto de destaque, até utilizada na

divulgação dos álbuns, mas a partir de então, se tornaria também alvo de críticas, tanto das bandas de Punk, quanto da mídia de massa, vista como uma fonte de alienação e distanciamento entre as bandas e o público-alvo. (HEGARTY, HALLIWELL, 2010)

Por todo o sucesso do Yes, ELP, Jethro Tull, e em um grau menor na época, o Genesis, bandas como o King Crimson e o Van der Graaf Generator não eram vastamente ricas. Miríades de bandas trabalhavam duro globalmente, frequentemente em gravadoras independentes, ou tocando em festivais gratuitos com quase nenhuma possibilidade de se sustentar apenas desta maneira. Este foi outro motivo pelo qual o progressivo desapareceu por volta de 1976: muitas das bandas não conseguiram sustentar a performance de música avant-garde ao longo de muitos anos com tão pouca recompensa. (HEGARTY, HALLIWELL, 2010, p.166. Tradução nossa) 58

Além do que foi comentado, as bandas que faziam uma música mais experimental começaram a ter dificuldades a encontrar um grande público, ambas as bandas mencionadas pelos autores acima, o King Crimson e o Van der Graaf Generator encerrariam suas atividades até o surgimento do Punk Rock, mesmo que fosse de forma temporária. O período entre 1976-1978 foi de bastante sucesso comercial para outras principais bandas do subgênero

57 No original “When punk took off in England, it was against a backdrop of social unrest, a disastrous economic situation, and the failure of the Left to do anything but shut down industry or, at the extremes, debate the role of the vanguard party in the always-postponed Marxist revolution. Even if the idea of progrock decadence is overstated, for many its social relevance was in decline by 1976. […]” (HEGARTY, HALLIWELL, 2010, p.163)

58 No original “For all the success of Yes, ELP, Jethro Tull and, to a lesser extent at the time, Genesis, bands such as King Crimson and Van der Graaf Generator were not vastly wealthy. Myriad bands toiled away globally, often on independent labels or by playing free festivals with almost no possibility of making a living by that means alone. This is another reason prog faded away by 1976: many of the bands could not sustain playing avant-garde music over a period of years with little reward.” (HEGARTY, HALLIWELL, 2010, p.166)

como Emerson, Lake & Palmer, Yes e Jethro Tull, e este sucesso veio a se refletir nos espetáculos que tomaram conta dos shows, alguns dos quais foram descritos ao longo do capítulo anterior. Com um número reduzido de bandas, estas restantes se destacavam, e se tornavam “alvo fácil”.

A mensagem é de que o Rock devia ser uma música feita e apreciada pelo próprio povo, utilizada como forma de resistência e expressão. A ideia era que qualquer um pudesse pegar um instrumento musical e, com o volume mais alto possível, transmitir uma mensagem (normalmente política) para sua comunidade.

Esta “virada” de ideologia introduzida pelo Punk foi rapidamente abraçada pelo público, e assim também, como consequência, abraçada pela mídia de massa que tinha como alvo a divulgação de música para tal público. O sucesso comercial era somente para algumas das principais bandas de progressivo, algumas outras não tinham tal sorte, e este foi um segundo motivo, o qual juntamente à chegada do Punk, marcou o final daquela que viria a ser chamada de “primeira onda” do Rock Progressivo. (HEGARTY, HALLIWELL, 2010, p.164)

Em certo sentido, o Punk Rock pode ser interpretado como uma crítica populista do Rock Progressivo. As músicas são curtas, a sintaxe musical é muito simples, se não primitiva, as letras são diretas, quase sempre de forma ofensiva, e a falta de habilidade de se tocar o próprio instrumento com habilidade era considerado um símbolo de autenticidade, portanto, um sinal positivo. (MACAN, 1998, p.180. Tradução nossa) 59

A descrição do Punk Rock de 1977 como um subgênero é mais simples, com um foco principal em faixas individuais ao contrário de um álbum por completo, como seria no progressivo. A intenção das bandas era passar uma mensagem, sem necessariamente escrever letras complexas – a música era, de um ponto de vista bem geral, muito mais rudimentar, curta e rápida, de estruturas bem definida e reutilizadas nas faixas ao longo do álbum. Além das características da música gravada, um outro ponto curioso sobre a performance ao vivo dos músicos, comentado por Macan e outros autores, era de que o Punk seria “mal tocado”, algo que de certa forma combinava com a oposição ideológica ao virtuosismo e assim, era visto como um sinal de autenticidade pelo público.

59 No original “In a sense, punk rock can be interpreted as a populist critique of progressive rock. Songs are short, the musical syntax is very simple, if not primitive, lyrics are direct, often offensively so, and the lack of ability to play one's instrument with any degree of skill was regarded as an emblem of authenticity and hence a positive sign.” (MACAN, 1998, p.180)

No documento O rock progressivo depois de 1990 (páginas 66-69)