• Nenhum resultado encontrado

Aspecto positivo do formalismo, técnicas processuais e efetividade do

5. FORMA E FORMALISMO NO ÂMBITO RECURSAL

5.2. Aspecto positivo do formalismo, técnicas processuais e efetividade do

Para a aplicação do direito material, torna-se necessária a utilização do direito processual que estabelece uma série de normas e formas para a instauração do processo que objetiva a solução de um conflito. O acesso à justiça ocorre de maneira ordenada, por meio de petição inicial dirigida a um juiz que tenha competência para dirimir aquele tipo de demanda, de acordo com as normas de organização judiciária, seja na esfera municipal, estadual ou federal, bem como com base em normas relativas a cada localidade.

Após a propositura da ação, o processo seguirá de conformidade com o procedimento inerente a cada tipo de modelo descrito pelo legislador, em atendimento a princípios processuais e fundamentais, bem como a ritos formais previamente determinados pelo Código de Processo Civil, ou por leis extravagantes.

Os órgãos estatais não aplicam o direito às situações concretas aleatoriamente. Na realidade, a atividade processual também é regulada pelo ordenamento jurídico, por meio de formas que devem ser obedecidas por aqueles que nela intervêm. Somente os atos realizados segundo o modelo legal são considerados válidos e aptos a produzirem os efeitos desejados. O legislador estabelece sanções para os atos que não estão em conformidade com o padrão legal, variando de intensidade segundo o maior ou menor desvio do tipo legal.331

A técnica processual organiza e define limites no desenvolvimento dos processos judiciais, colocando termo a uma eventual desordem que poderia advir da liberdade da prática desordenada dos atos processuais.

Uma dose de formalismo é necessária ao escopo de assegurar a certeza dos atos e do procedimento e aos escopos de garantia das partes, para não pairar dúvida. No entanto,

330

DINAMARCO, 2009, p. 40.

331

FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES, Antonio Magalhães; GRINOVER, Ada Pellegrini. As

sob numerosos aspectos, o formalismo excessivo provoca complicações desnecessárias e aumenta o risco de que o processo venha envolver-se em excesso de nulidades e vícios de forma,332 o que consequentemente prejudica as partes litigantes.

O aspecto positivo da instrumentalidade do processo é caracterizado pela preocupação em extrair do instrumento do processo o máximo proveito na obtenção dos resultados, mescla-se à problemática da efetividade do processo e conduz à assertiva de que o processo deve atingir todos os escopos institucionais, e ser apto a cumprir integralmente toda a sua função sociopolítico-jurídica.333

Segundo José Roberto dos Santos Bedaque, a técnica ou formalismo processual possui dois grandes objetivos: um seria garantir a segurança do instrumento, proporcionando igualdade de tratamento às partes do processo, possibilitando-lhes influir substancialmente no resultado; o outro seria assegurar que a tutela jurisdicional seja, dentro do possível, uma resposta idêntica à atuação espontânea da regra do direito material, seja sob o prisma da justiça da decisão, ou do ponto de vista da tempestividade.334

É imprescindível que a técnica processual seja considerada como um elemento capaz de propiciar às partes a segurança e a certeza na maneira como o processo será desenvolvido, o que jamais seria alcançado, caso estivesse diante de um procedimento livremente construído em cada hipótese concreta, sem um roteiro predeterminado.

Nessa mesma linha de raciocínio, Mauro Cappelletti e Garth Bryant, na célebre obra Acesso à justiça, afirmam que os juristas precisam reconhecer que as técnicas processuais servem a funções sociais, e que qualquer regulamentação processual tem um efeito importante sobre a forma como opera a lei substantiva.335 Se o processo é analisado como instrumento de pacificação social e é prolongado demasiadamente no tempo, a satisfação dos interesses das partes não é obtida por ele.336

Também nesse sentido, Cândido Rangel Dinamarco salienta que compete à técnica processual o equilíbrio de exigências conflitantes, tais como a de justiça e celeridade, ou de 332 DENTI, et TARUFFO, 1986, p. 291. 333 DINAMARCO, 2009b, p. 377. 334 BEDAQUE, 2010. p. 78-79. 335

CAPPELLETTI, Mauro; BRYANT, Garth. Acesso à justiça. Tradução de Allen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 2002. p. 12.

336

Nesse sentido, Fernando da Fonseca Gajardoni: “Para que o processo cumpra com eficácia o fim social para que concebido, propiciando não só satisfação jurídica, mas também efetiva, é preciso que se desenvolva em um período razoável” (Princípio constitucional da tutela jurisdicional sem dilações indevidas e o julgamento antecipadíssimo da lide. Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil, São Paulo, ano VII, n., p. 106, jan.-fev. 2007).

celeridade e ponderação, mas o que se tem na realidade é a necessidade de dotar o processo de meios que o leve, o mais rápido possível, a proporcionar a pacificação social no caso concreto, sem prejuízo da qualidade da decisão. Isso constitui, por um lado, fidelidade ao direito material e de outro, penhor da justiça das decisões.337

A efetividade consiste na aptidão para desempenhar, do melhor modo possível, a função própria do processo, ou seja, para atingir da maneira mais perfeita o seu fim específico que é, no plano jurídico, a solução do litígio por meio de sentença de mérito.338

A efetividade da justiça civil significa sem dúvida, em primeiro lugar, celeridade do processo, mas não celeridade a qualquer custo, e, sim, somente com pleno respeito das exigências de defesa do autor e, mais ainda, ao que lhe for útil, uma vez que ele não escolheu o tempo de duração da sua causa em juízo.339

José Carlos Barbosa Moreira ensina que “efetividade consiste na aptidão para desempenhar, do melhor modo possível, a função própria do processo”, e salienta que o fim específico do processo de conhecimento, no plano jurídico, é a solução do litígio por meio da sentença de mérito a que tende toda atividade nele realizada.340

O escopo principal do processo, como meio de pacificação de conflitos, é a satisfação do interesse das partes. A instrumentalidade, a técnica processual e o formalismo, em sentido positivo, são os meios disponíveis para se alcançar o fim a que se destina o processo, ou seja, a obtenção de uma decisão justa, dentro de um tempo razoável.

O formalismo conforme acima exposto, em seu aspecto positivo, não poderá jamais ser visto com exagerada supervalorização da forma em detrimento do objetivo central do processo, que seria proporcionar às partes o devido acesso à justiça, ou seja, a busca do resultado do direito material almejado por aquele que procura o Judiciário com a finalidade de pôr fim a um litígio.

A técnica processual deve servir de veículo simples e racionalmente conduzido para a defesa dos direitos deduzidos em juízo, e não como armadilha pronta para eliminar esses direitos, ao primeiro sinal de descuido em sua representação, ou seja, o critério de distinção

337

DINAMARCO, 2009b, p. 376.

338

Nesse sentido, José Carlos Barbosa Moreira frisa que o adjetivo “jurídico” não tem apenas fins jurídicos, mas também fins sociais e políticos (A efetividade do processo de conhecimento. Revista de Processo, São Paulo, ano 19, n. 74, p. 128, 1994b).

339

TARZIA, Giuseppe. Crisi e riforma del processo civile. Rivista di Diritto Processuale. Padova, anno XLVI, Seconda serie, n. 3, p. 639, 1991.

340

entre o vencedor e o sucumbente em um processo não pode ser a maior habilidade no manejo das formas processuais, pois o destino de um processo deve ser selado nos ditames do direito material, e não no direito processual.341