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4. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO DOS

4.2. Da competência para decidir a respeito da admissibilidade dos recursos

4.4.2. Requisitos extrínsecos

4.4.2.2. Regularidade formal

A regularidade formal diz respeito a elementos que devem revestir o recurso para que ele seja conhecido e cumpra a sua finalidade.

A lei determina a forma a ser observada pelo recorrente em que o recurso deve se alinhar para que venha cumprir a sua função. Uma faceta comum a todos os recursos é a exigência dos fundamentos de fato e de direito e o pedido de nova decisão, reservado a cada tipo de recurso às suas respectivas peculiaridades.

Em outras palavras, a lei pode estabelecer requisitos gerais e requisitos específicos para este ou aquele recurso, e com frequência indica os elementos que o recurso deve conter: por exemplo, os fundamentos da impugnação, ou seja, os erros in procedendo ou in

iudicando, de fato ou de direito, que na visão do recorrente maculam a decisão e justificam

a reforma ou a anulação da decisão recorrida.235

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ASSIS, 2008. p. 195.

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Nesse sentido: STF, Pleno, RE-AgR 536.881/MG, Rel. Min. Eros Grau, j.m.v. 08.10.2008, DJe 12.12.2008; e STF, Pleno, AI-AgR 621.919/PR, Rel. Min. Ellen Gracie, j.m.v. 11.10.2006, DJ 19.12.2006, p. 35 BUENO, 2010, p. 88).

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A título exemplificativo, o artigo 514 do Código de Processo Civil estabelece que o recurso de apelação deve conter os fundamentos de fato e de direito, bem como o pedido de nova decisão.

A regularidade formal do recurso de agravo de instrumento está discriminada no artigo 523 do Código de Processo Civil, em que, além da exposição dos fatos e pedido de reforma, deve conter o nome dos advogados que constam no processo.

Quanto aos embargos infringentes, sua formalidade está inserta no artigo 530 do Código de Processo Civil, o qual restringe o recurso quanto à matéria divergente.

A forma que os recursos especial e extraordinário devem ser interpostos está prevista no artigo 541 do Código de Processo Civil, e, quando o recurso se fundar em divergência jurisprudencial, o recorrente deverá fazer prova da divergência juntando prova extraída por meio de certidão, cópia autenticada ou pela citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica em que tiver sido publicada a decisão divergente, ou pela reprodução de julgado disponível na Internet, com indicação da respectiva fonte.

A fundamentação do recurso é indispensável, mesmo quando silente o texto legal, para que o recorrido e o próprio órgão ad quem se inteirem das razões efetivamente postas como base da impugnação, as quais podem não ser as mesmas daquelas alegadas na instância inferior, pois ao recorrente é facultado usar outra linha de argumentação. Como também lhe autoriza o artigo 517 do Código de Processo Civil, poderá, excepcionalmente, propor novas questões de fato, desde que prove que deixou de fazê-lo anteriormente por motivo de força maior. No entanto, aqui, “importa evitar exageros de formalismo: pode haver-se como suficiente a remissão, sem transcrição por extenso, aos argumentos utilizados no procedimento perante o juízo a quo”.236

Caso o recorrente não observe o que a lei determina quanto à formalidade, terá desatendido o requisito da regularidade formal e, em consequência, o seu recurso não será conhecido.

Flávio Cheim Jorge defende que o sistema recursal é marcado pelo fenômeno da preclusão, e, sob a ótica da regularidade formal, a preclusão consumativa impede que o recorrente, ainda que dentro do prazo recursal, possa complementar ou aditar as razões

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recursais. Se a parte já exerceu o direito de recorrer, este se esgota e não pode ser renovado ou mesmo exercitado, ainda que parcialmente.237

O recurso deve ser interposto por petição protocolada em cartório, ou segundo a disposição da organização judiciária, ressalvado o disposto no § 2.º do artigo 525 do Código de Processo Civil238 quanto ao recurso de agravo de instrumento. Deve-se ainda ressaltar o disposto no parágrafo único do artigo 547, o qual prescreve que, a critério do tribunal, os serviços de protocolo poderão ser descentralizados mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.239

Em geral, os recursos eram protocolados em cartório por meio de petição juntando as razões recursais, mas também há casos em que podiam ser interpostos de outras maneiras, como é a forma do agravo retido contra decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento que, obrigatoriamente, é interposto de forma oral, conforme determina o artigo 523 do Código de Processo Civil.240

Posteriormente, a Lei n.º 9.800/1999, em seu artigo 1.º, permitiu a transmissão por

fac-símile: “é permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de dados por fac-

símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita”.

Para a aceitação da transmissão do recurso por fac-símile, o recorrente devia observar os demais requisitos de admissibilidade dos recursos, tais como o recolhimento e a transmissão das guias de recolhimento do preparo e, caso existam, a reprodução de documentos que devam acompanhar o recurso, os quais também deverão ser transmitidos com a petição de interposição do recurso, ou seja, a peça recursal remetida por fac-símile deve ser exatamente a mesma, acompanhada do preparo e dos documentos que constarão dos autos.241

Note-se que a Lei n.º 9.800/1999 prevê em seu artigo 4.º, parágrafo único, a responsabilidade do recorrente quanto à qualidade e fidelidade do material transmitido por fac-símile e ao original entregue em juízo, prescrevendo, entre outras sanções, a litigância de má-fé, caso seja constatada discordância entre um e outro.

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CHEIM JORGE, 2013, p. 182-183.

238

Essa regra está expressa no parágrafo único do artigo 506 do CPC, que diz: “No prazo para a interposição do recurso, a petição será protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária, ressalvado o disposto no § 2.º do artigo 525 desta lei”.

239 CHEIM JORGE, 2009, p. 178. 240 Ibidem, p. 179. 241 Ibidem, p. 180.

Posteriormente, a Lei n.º 11.419/2006 criou em definitivo as bases para a informatização do processo, tratando da comunicação eletrônica dos atos processuais, disciplinando o procedimento para as comunicações do Judiciário com as partes, com a comunicação pelo Diário Oficial on line, ou diretamente com o interessado e as comunicações diversas entre seus órgãos eletronicamente: cartas precatórias, cartas de ordem e, até mesmo, cartas rogatórias; comunicação entre o Poder Judiciário e os demais poderes.

É imprescindível que o recorrente fundamente a sua pretensão recursal para que o recorrido e o próprio órgão ad quem saibam as razões que baseiam o seu pedido de novo julgamento mais favorável.

De qualquer modo, se o recorrente entende ser a decisão injusta, deverá apontar em suas razões recursais essa injustiça, para que o órgão ad quem a confronte com as razões de decidir dadas pelo juiz ao proferir a decisão recorrida.242

Segundo Flávio Cheim Jorge, o recorrente deve demonstrar os fundamentos de fato e de direito, ou seja, os errores in judicando e/ou errores in procedendo que maculam a decisão, demonstrando o porquê de a decisão estar errada e a necessidade de sua reforma ou anulação. Com isso, o recorrente possibilitará ao recorrido oferecer a sua resposta e, ao mesmo tempo, estará indicando ao órgão ad quem qual parte da decisão está sendo impugnada e de que maneira deverá ser reformada ou anulada.243

A fundamentação do recurso é requisito essencial ao exame de seu mérito e sua ausência não acarreta a nulidade do recurso, mas impede que seja julgado o mérito recursal. Nesse caso, não se trata de nulidade, mas acarreta a inadmissibilidade do recurso, por inobservância de forma prescrita em lei.244