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Aspectos de Liderança Empreendedora, Visionária, Transformacional e Servidora

No documento Aliança estratégica: o caso FBV e IMIP (páginas 38-43)

2.9 L IDERANÇA E E MPREENDEDORISMO

2.9.5 Aspectos de Liderança Empreendedora, Visionária, Transformacional e Servidora

Como se observa na literatura atinente à matéria há uma diversidade de abordagens sobre os aspectos de liderança empreendedora sobre o qual recaem os perfis do fundador da FBV Professor Ary Avellar Diniz, do fundador do IMIP Professor Fernando Figueira e do seu sucessor Antonio Carlos dos Santos Figueira. A seguir, interpretam-se conceitos e características do empreendedor segundo a ótica de autores, sobre os quais são citados alguns que se aplicam ao tema de estudo.

O autor AITKEN (1963) argumenta a idéia de inovação como sendo parte do empreendimento em razão de liderança e risco serem características presentes em uma cultura na qual se associa estes dois componentes fundamentais para a efetivação dos negócios. Assim, empreendedorismo envolve de forma explícita ou implícita, a idéia de inovação.

Por sua vez, BAUMOL (1968) aborda as questões de inovação e liderança por parte do empreendedor, caso este se envolva ou não na condição de gerente, com o papel de identificar novas idéias ou formas de atuação e colocá-las em prática. Deve liderar, inspirar, sem deixar que as coisas sejam rotineiras, no julgamento de que o hoje jamais será suficientemente bom para o dia seguinte. Inovação é exercitada quando o sujeito (líder), mesmo ausente, é percebido como se estivesse presente no ambiente de trabalho

Na vertente mais atualizada, a experiência na arena de negócios educação, nos remete à definição de DRUCKER (1985) que trata o empreendedorismo como um modo de trazer a inovação para o centro da empresa e assim criar negócios novos e diferentes que sejam portadores do futuro. Outro aspecto abordado mais recentemente pelo mesmo autor retrata que empreendedorismo é uma prática e não uma ciência (DRUCKER 1994).

Por sua vez, FILION (1991) observa que a fixação de objetivos e a utilização de oportunidades, presentes pelos principais dirigentes, são próprios, pois:

(...) A forma de atuação do empreendedor é essencialmente proativa, já que ele identifica coisas novas que deverá aprender, tendo em vista coisas novas que deseja realizar. De fato, quanto mais bem sucedido ele for, mais se poderá imaginar que ele terá feito essa aprendizagem antecipada. (FILION 1991, p.64).

A busca da realização, independência e liderança são aspectos que HORNDAY e BUNKER (1970) chamam à atenção, quando se compara empreendedores com colaboradores

ou homens de senso comum, pois os primeiros refletem de forma importante a necessidade de eficiência e independência da sua condição de líder, e menor atenção na manutenção dessas.

Aspecto relevante diz respeito ao conceito presente em KETS de VRIES (2001), para o qual inovação, gerenciamento, risco são comuns, e:

(...) empreendedores parecem ter uma realização orientada, como a de assumir a responsabilidade por decisões, e não gostam de trabalhos repetitivos e rotineiros. Os empreendedores criativos possuem um alto nível de energia e um ótimo grau de perseverança e imaginação, que combinam com a espontaneidade de assumir riscos moderados e calculados, possibilitando-lhes transformar o que freqüentemente começou com uma simples e mal definida idéia em algo concreto. (KETS de VRIES, 2001, p.4).

A tese da inovação de SCHUMPETER diz: "Sempre enfatizei que o empreendedor é o

homem que realiza coisas novas ou coisas que já são feitas de uma nova maneira."

(SCHUMPETER 1947, p.151). Outra idéia é a da inovação como critério para o empreendedorismo:

(...) O que fizeram os empreendedores? Eles não acumularam nenhum tipo de bens, não criaram meios de produção, mas empregaram os meios de produção existentes de maneira diferente, mais apropriada, mais vantajosa. Eles ‘implantaram novas combinações’ (...) E seu lucro, o excedente, ao qual não corresponde nenhuma dívida, é um lucro empreendedor. (SCHUMPETER 1934, p.132).

STEVENSON e GUMPERT (1985) propõem que toda organização empresarial deve trabalhar internamente características que enfatizem seu dinamismo, ou seja: estimular a imaginação dos colaboradores, a flexibilidade e a voluntariedade em aceitar riscos.

Estes conceitos amplos, acima referenciados, servem, simultaneamente, para mostrar a abundância de visões e para traçar um painel de fundo no esforço de extrair as referências que de fato servissem ao propósito desse trabalho. Buscou-se uma convergência que inicialmente foi exposta através da abordagem de um dos mais expressivos estudiosos do empreendedorismo, McCLELLAND (1961), referência sobre o assunto, bem como complementada com características de comportamento sob a ótica de outros autores.

Por outro lado, em reforço ao argumento levantado de que as trajetórias desenvolvidas pelas lideranças do estudo se enquadram substancialmente como perfis clássicos de empreendedores, traz-se à luz, o que segue:

Segundo Schumpeter, autor da expressão “entrepreneuer”, que, em português, traduz-se por empreendedor, ele é o agente do processo de “destruição construtiva”, que é o “impulso fundamental da economia capitalista”. É o homem capaz de gerar novos produtos e novos métodos de produção, e que descobre novos mercados. Entre suas características psicológicas, os autores salientam: vontade de assumir responsabilidade, liderança, capacidade de organização, ambição pelo sucesso, capacidade prospectiva, criatividade e conhecimento técnico. (DRUCKER 1986; FARREL e AQUINO 1993, apud MENDONÇA e MENDONÇA 2000, p.135).

KETS de VRIES (1994) defende que liderança assume uma influência mágica sobre os liderados em face do processo de identificação, proximidade e idealização da figura emblemática do líder, sobretudo com os seus valores.

Nesse sentido, a capacidade de entusiasmar e criar seguidores como o fundador do IMIP Prof. Fernando Figueira, pelo carisma e capacidade visionária é observada por todos os que o conheceram ao longo de sua vida. Trazia desde o início a marca do empreendedor que, gradativamente, criava as condições para que a instituição construísse uma reputação de forma segura. Em reforço a esta tese, parte-se da premissa presente no conceito de Liderança Visionária de ROBBINS (2002):

(...) é a capacidade de criar e articular uma visão de futuro realista, atrativa e acreditável para a organização ou unidade organizacional, que tem como ponto de partida a situação presente e a busca de sua melhoria. Esta visão, se selecionada e implementada corretamente, é tão enérgica que dá início realmente ao futuro, despertando habilidades, os talentos e os recursos para que ele aconteça. (ROBBINS 2002, p. 320)

Os estudos e conceitos mais recentes sobre liderança abordam uma nova tipologia, a de Liderança Transformacional, que citamos a seguir. É essencial para compreender os papéis e perfis que estão atuando nas instituições (vide Quadro 10, p.61), sobretudo quando contrastamos com os depoimentos dos principais líderes e executivos. Os líderes do tipo transformacional:

(...) “prestam atenção às preocupações e às necessidades de desenvolvimento de cada um dos seus liderados; modificam a maneira dos seus seguidores verem as coisas, ajudando-os a pensar nos velhos problemas de uma nova forma; e são capazes de entusiasmar, incitar e inspirar as pessoas a darem o máximo de si na busca dos objetivos do grupo.

(...) Características dos líderes (...) Transformacionais

Carisma: oferece uma visão e o sentido da missão, estimula o orgulho, ganha o respeito e a confiança.

Inspiração: comunica suas altas expectativas, utiliza símbolos para focar os esforços, expressa propósitos importantes de maneira simples.

Estímulo intelectual: promove a inteligência, a racionalidade e a cuidadosa resolução de problemas.

Consideração individualizada: dá atenção personalizada, trata cada funcionário individualmente, aconselha, orienta.

Fonte: B.M. Bass, “From transactional to transformational Leadership: Learning to Share the Vision” Organizational Dynamics, inverno de 1990, p.22. In: ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002, p.319-320.

Outro aspecto relevante diz respeito a uma nova concepção, cada vez mais discutida, que fala da liderança servidora, ou melhor, da utilização da capacidade de liderar as pessoas como serviço. Essa idéia foi concebida por GREENLEAF (1970) em trabalho intitulado “The

Servant as Leader”, em português, “O servidor como líder”. Esta obra serviu como referência

para a criação do Robert K. Greenleaf Center for Servant-Leadership, que é uma instituição voltada para o ensino deste modelo de liderança.

O conceito de liderança servidora está presente em GREENLEAF (1970) na acima mencionada obra, onde ele indaga:

(...) Quem é um verdadeiro líder servidor? A este respeito responde: Começa com um sentimento espontâneo de querer servir, primeiro servir. Depois vem uma opção consciente que faz aspirar a liderar. A melhor prova da liderança como serviço consiste em indagar-se: aqueles a quem sirvo crescem como pessoas? Tornam-se mais sadios, mais sábios, mais autônomos, mais aptos a tornarem-se eles próprios servidores? (GREENLEAF, 1970)2.

É, portanto, o caso exemplar, sua dedicação à saúde da criança e da mulher como foco do trabalho incansável desempenhado ao longo da vida do fundador Fernando Figueira, cujo maior emblema foi sua obstinada luta para a afirmação do IMIP como instituição voltada para assistência à saúde e o ensino.

Nesse sentido, alguns fragmentos dos discursos e artigos proferidos pelo Prof. Fernando Figueira, ancorados na práxis da dura realidade enfrentada, diariamente, pela população pobre e desamparada que acorre à instituição, revela a ampla abrangência de líder servidor:

(...) Não me perguntem o que tenho feito pela criança pobre da minha terra - e é quase tudo o que me é possível, - indaguem porque não faço mais. E eu vos responderei que realmente tenho feito pouco, dentro das perspectivas do que pretendo, e isso torna-se, para mim, um tormento diuturno. Ao perceber o abandono em que centenas ainda vivem, sinto que é preciso renovar, a cada instante, a doação de toda uma vida. (FIGUEIRA;FERREIRA;ALVES, 1990, p.15)

2 Disponível em < http://www.greenleaf.org/whatissl/>. A expressão “Liderança Servidora” foi criada por Robert

Para uma melhor compreensão dos aspectos relativos ao modelo de liderança servidora encontrado na figura do Prof. Fernando Figueira, transcreveu-se abaixo pensamento extraído de publicação científica que reforça categoricamente o enquadramento pela vinculação à solidariedade e o servir ao próximo, seja às crianças ou às mulheres, em última análise, é o fundamento do modelo em questão:

(...) Um poeta saberia descobrir, talvez, o mistério que dizem os olhos de uma mãe desprovida dos mínimos recursos para salvar o filho doente. Eu, neles, vejo, apenas, um grito de acusação. (FIGUEIRA; FERREIRA; ALVES, 1990, p.15)

"(...) Para sentir o que se deve fazer por uma criança, basta acreditar no futuro. Nela estão todos os roteiros. (FIGUEIRA; FERREIRA; ALVES, 1990, p.15)

No documento Aliança estratégica: o caso FBV e IMIP (páginas 38-43)

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