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4 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO EMPÍRICO DE PESQUISA

4.2 ASPECTOS DE OCUPAÇÃO E COLONIZAÇÃO

No que diz respeito aos aspectos de ocupação e colonização, a microrregião de Frederico Westphalen foi colonizada recentemente, comparativamente as demais regiões do estado, e deu-se por meio de movimentos migratórios, ou seja, deslocamentos de imigrantes das “Colônias Velhas” para as “Colônias Novas”, a partir do século XX (GAZOLLA, 2012; CONTERATO, 2004).

Esse interesse tardio pela colonização da região deu-se especialmente por ser uma região composta por terras íngremes e coberta por uma floresta densa, não despertando, portanto, muito interesse pelos fazendeiros da época. Sendo assim, a região foi colonizada apenas a partir do início do século passado, por volta de 1920 (CUNHA et al., 2011). No caso específico do município de Frederico Westphalen, os primeiros migrantes chegaram em 1918 (FERIGOLLO, 2004).

As chamadas Colônias Velhas (região localizada num raio de 200 km ao redor da capital Porto Alegre, tais como, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, entre outros municípios) foram implantadas entre os anos de 1824 e 1890. Essas colônias foram constituídas por imigrantes vindos diretamente da Europa. Na fase inicial, o tamanho dos lotes recebidos pelos imigrantes era de 77 hectares, área esta que foi reduzida para 48 hectares a partir de 1850 com a Lei de Terras (SILVA NETO; BASSO, 2005).

Neste sentido, a implantação das chamadas Colônias Novas (onde localiza-se atualmente a microrregião de Frederico Westphalen) deu-se por meio da “migração interna” ocorrida no Rio Grande do Sul, na qual os agricultores deslocaram-se para a região norte do estado vindo das Colônias Velhas (SILVA NETO; BASSO, 2005).

Entretanto, neste local, a instalação do agricultor e de sua família dava-se através da compra de lotes de terra menores, os quais eram, em média, a dimensão de uma “colônia” (24 hectares). A menor dimensão desses lotes representava no curto prazo o esgotamento rápido da fronteira agrícola do Rio Grande do Sul, ocasionado pelo excessivo fracionamento devido à pressão demográfica e os mecanismos de partilha por herança, forçando assim o deslocamento populacional para outros estados e regiões do Brasil anos após a colonização oficial destas áreas. Essa busca de novas áreas de terra por parte dos colonizadores a fim de garantir sua reprodução social foi descrita, formulada e definida por Waibel (1949) de “fome de terras”.

Com isso, conforme ressalta Schneider (1994), até aproximadamente a década de 1950 ainda era possível a ocupação de novas áreas de terras dentro dos limites do próprio estado do Rio Grande do Sul, após este período, as migrações assumem outras feições se expandindo para fora do estado.

De acordo com Ros (2006), as transformações econômicas e sociais em curso foram os principais fatores que impulsionaram a busca por novas terras. Portanto, a migração para a microrregião de Frederico Westphalen representava a forma encontrada pelos agricultores para dar continuidade a sua reprodução e de suas famílias na condição de agricultores. Deste modo, a migração ocorreu pelo fato de que as Colônias Velhas não comportavam mais os filhos dos colonos, devido ao esgotamento da capacidade de sustentação nas terras de origem. Por isso a migração para o norte do estado representava a busca de novas áreas para produzir (COSTA, 2013).

Rizatti (1996 )indica que primeiramente chegaram a microrregião de Frederico Westphalen os descendentes de italianos, onde predominavam famílias em formação compostas pelo casal e filhos pequenos. Posteriormente vieram outras etnias, tais como

alemães e poloneses. Contudo, antes da chegada dos imigrantes, a região já era habitada por indígenas, especialmente da etnia Kaingang, e também por descendentes de escravos e mestiços, conhecidos como caboclos (CONTERATO, 2004).

Conforme ressalta o mesmo autor (CONTERATO, 2004), apesar da região já estar habitada por outras etnias, foi a partir da chegada dos descendentes europeus que ocorreram de fato grandes transformações, inclusive na paisagem local, devido à abertura de estradas, derrubada de matas para posterior construção de lavouras, o que possibilitou o surgimento de povoados que logo tornaram-se comunidades e municípios.

Segundo Pelegrini e Gazolla (2008), os agricultores traziam consigo alguns animais, como vacas, suínos e cavalos para transporte, e também outros produtos, como sementes de milho, batata e abóbora, além de alguns instrumentos necessários para estabelecer as primeiras práticas produtivas.

O rápido desenvolvimento da agricultura na região esteve vinculado diretamente com a abundância de mão-de-obra. Além da constituição familiar, cujo número de filhos variava entre 8 a 12, os colonos contavam, nessa fase, com a mão-de-obra cabocla (OLKOSKI, 2002).

Neste período, praticamente não havia comercialização, era promovida a troca entre os agricultores, sempre na medida da necessidade de cada família (FERIGOLLO, 2004). Os agricultores cultivavam produtos como feijão, milho e mandioca, visando quase que exclusivamente sobrevivência e autoconsumo familiar.

O milho cultivado, além de ser utilizado para o consumo familiar, era utilizado na criação de animais como os suínos (tipo banha). Quando havia excedentes na propriedade, como suínos, ou subprodutos, como a banha, era realizada a troca por gêneros de primeira necessidade não produzidos na propriedade, como sal, açúcar, querosene, café, entre outros (PELEGRINI; GAZOLLA, 2009).

Posteriormente, passa a ocorrer a venda dos excedentes agrícolas, os quais passam a serem trocados em moeda, nos chamados “bolichos” localizadas na sede do vilarejo. A renda obtida pela venda dos excedentes era utilizada para adquirir bens e produtos não disponíveis na unidade de produção, bem como para o colono conseguir recursos para efetuar o pagamento do seu lote de terra e adquirir a regularização (PIOVESAN, 2011).

De acordo com Pelegrini e Gazolla (2009), o desenvolvimento da agricultura nessa região deu-se em distintas fases. A primeira fase refere-se a colonização, na qual ocorreu o desbravamento das matas e estabelecimento das primeiras atividades, que visavam basicamente o autoconsumo familiar, conforme descrito anteriormente.

Já a segunda fase, compreendida entre o período de 1935 a 1960, caracterizou-se pela maior integração ao mercado e início de um processo de especialização produtiva, ou seja, uma agricultura dedicada a poucos produtos. Essa fase tem como marco inicial a introdução da cultura da soja no norte gaúcho, também denominada de “sojicização” da agricultura, conforme indica Conterato (2004).

A terceira fase, que corresponde ao período que vai de 1960 até o início dos anos 1990, caracteriza-se pela intensa mercantilização da agricultura familiar e pelo seu empobrecimento econômico e social (PELEGRINI; GAZOLLA, 2008).

Após os anos 1990, pode-se inferir a emergência de uma quarta fase, caracterizada por um processo de diversificação econômica e produtiva nas propriedades familiares. Apesar de lento, este processo permanece contínuo, havendo, assim, o surgimento de novas possibilidades de geração de renda no meio rural, tais como agroindústrias familiares, introdução da atividade leiteira, viticultura e fruticultura, atividades não agrícolas, entre outras.

Por outro lado, uma parcela considerável dos agricultores permanece produzindo commodities (especialmente soja, milho e trigo), especializando-se ainda mais, com a finalidade de atender o competitivo mercado de grãos. Além destes, muitos agricultores produzem de forma integrada às indústrias, sobretudo suínos, aves e fumo (PELEGRINI; GAZOLLA, 2008).

A partir das características referentes aos aspectos de ocupação da microrregião de Frederico Westphalen, conclui-se que a forma como ocorreu a colonização na região, baseada no regime de trabalho familiar, na distribuição de pequenos lotes de terras e na diversificação produtiva foi o principal fator que configurou a atual caracterização e desenvolvimento da região.Isso explica ainda, em boa medida, a minifundização e o que hoje chamamos de “agricultores familiares” a partir do critério tamanho de área. A caracterização da microrregião e do município de Frederico Westphalen será apresentada nas seções seguintes.