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2 TRANSFORMAÇÕES DEMOGRÁFICAS E OCUPACIONAIS: MIGRAÇÃO,

2.2 TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL

2.2.2 Mudanças nos arranjos familiares

Paralelamente a transição da fecundidade e consequentemente redução do tamanho das famílias, houve mudanças na estrutura das famílias brasileiras nas últimas décadas, dando lugar a emergência de novos arranjos.Com isso, embora o arranjo familiar predominante no Brasil ainda seja o do tipo casal com filhos10, sua predominância vem decrescendo ao longo do tempo.

Há de se considerar, portanto, que de um lado houve uma forte redução da família nuclear, constituídas por casais com filhos e, de outro, houve expansão das famílias formadas por membros individuais e por casais sem filhos. Alves e Cavenaghi (2012), analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), evidenciam que os

10 Típico arranjo da agricultura familiar e que sustentou e ainda sustenta as análises chayanovianas da agricultura familiar.

domicílios compostos por casal com filhos representavam 62,8% em 1992 e passaram para 49,9% em 2009.

A redução na proporção de casais com filhos tem sido compensada pelo aumento das famílias constituídas por casais sem filhos. De acordo com Alves e Cavenaghi (2012), o arranjo casal sem filhos, que representavam 11,7% passaram para 16,2%, entre 1992 e 2009. De acordo com os mesmos autores, este arranjo não quer dizer que os casais não tiveram filhos, na verdade este agrupamento reúne os casais que não tiveram filhos com aqueles em que os filhos já cresceram e saíram de casa. Ou seja, o tipo de arranjo familiar que sempre foi hegemônico na sociedade brasileira (casal com filhos) está prestes a perder a maioria absoluta e a tendência é continuar perdendo participação relativa no conjunto dos arranjos familiares.

Leone et al. (2010) explicam esse fato, salientando que essas mudanças na composição das famílias e a emergência de novos arranjos familiares estão relacionados a transformações de natureza demográfica, social e cultural. As mudanças demográficas dizem respeito à diminuição nos níveis de fecundidade entre as mulheres. Somado a isso, há a questão da mobilidade, tendo em vista que os filhos deixam a casa de seus pais para estudar, trabalhar, entre outras razões, ocasionando fragmentação nos arranjos familiares e resultando em um aumento no total de famílias. Já as mudanças sociais e culturais estão atreladas ao menor número de matrimônios, aumento das separações e novo papel da mulher na família e no mercado de trabalho.

Neste sentido, ainda de acordo com os autores, embora o modelo “tradicional” de famílias constituídas pelo casal com filhos continue predominante, sua importância em termos numéricos reduziu- se consideravelmente. Entre os anos de 1981 e 2006, o tamanho médio das famílias reduziu-se de 4,3 para 3,1 integrantes.

Em relação ao local de domicílio, Leone et al. (2010), indicam que esta redução no tamanho das famílias deu-se inicialmente e de forma mais intensa nas áreas urbanas e entre as mulheres com níveis socioeconômicos e educacionais mais elevados. Entretanto, nos últimos anos tem se observado no Brasil que este acontecimento se generalizou inclusive entre as mulheres mais pobres e com menor escolaridade.

Ademais, essas mudanças foram também expressivas nas áreas rurais. Por exemplo, entre 1981 e 2011, reduziu de 74% para 58% a participação das famílias nucleares e aumentou de 4% para 12% a participação dos casais sem filhos (SAKAMOTO; MAIA, 2013).

Tratando-se do Rio Grande do Sul, de acordo com dados de 2015 divulgados no final de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 34% das famílias gaúchas não

possuem filhos, o que deixa o estado mais representativo desta situação, seguido de Santa Catarina com 33,5%,enquanto que o estado do Amazonas tem o menor índice de famílias sem filhos (21,8%).

Desde 2011, o estado do Rio Grande do Sul aparece como o lugar no país onde mais se registra a ausência de filhos. Nos últimos dez anos, o arranjo familiar formado por casal sem filho se tornou no estado o segundo em participação, ficando atrás apenas das famílias com uma única criança. Ao se analisar o dado dos últimos dez anos constata-se uma redução no tamanho das famílias gaúchas. Em 2004, 13,1% dos pesquisados relataram ter três ou mais filhos, caindo para 6,9% em 2015 (IBGE, 2016).

Tratando-se especialmente do meio rural, Maia (2014) ressalta que, simultaneamente a redução no número de filhos reduziu-se também a disponibilidade de mão de obra para a atividade agrícola. Sobre esta questão, os dados dos Censos Agropecuários apontam que desde 1980 se observa uma redução no número médio de pessoas por família ocupadas na agricultura. Em 1980 eram 4,10; passando para 4,03 em 1985; 3,65 em 1996; e 3,20 em 2006.

Essa diminuição no número total de pessoas ocupadas sinaliza uma tendência importante em relação às ocupações na agricultura, embora o número total de estabelecimentos agropecuários tenha apresentado uma tendência de aumento. Ou seja, mesmo gerando mais estabelecimentos agropecuários (avanço sobre o Cerrado e Amazônia e também por conta dos assentamentos de reforma agrária) os dados indicam que o cenário é de núcleos familiares menores e menos pessoas ocupadas na agricultura.

A esse respeito, Silvestro et al. (2001) indica que o reduzido número de pessoas por famílias ocupadas na agricultura, sobretudo jovens, acaba ocasionando problemas semelhantes aos visíveis na Europa, que é o destino comprometido de grande quantidade de propriedades familiares devido à ausência de sucessores para dar continuidade às propriedades, especialmente as familiares.

Por fim, cabe ainda destacar que a evolução nas variáveis demográficas mencionadas, especialmente redução no número de filhos devido à redução nas taxas de fecundidade que atingem a população como um todo, incluindo a população rural, e tratando-se especialmente desta última, somada a migração no sentido rural/urbano da população jovem e em idade ativa, emergem desafios para a manutenção das propriedades familiares no médio e longo prazo. As questões demográficas observadas no meio rural ao longo do tempo serão mais bem retratadas na seção seguinte.

2.3 AS TRANSFORMAÇÕES DEMOGRÁFICAS E O MEIO RURAL BRASILEIRO