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Aspectos Ergonômicos de usabilidade e conforto aplicados à Moda

5. ASPECTOS DO CONFORTO ERGONÔMICO: a usabilidade aplicada aos

5.4. Aspectos Ergonômicos de usabilidade e conforto aplicados à Moda

As empresas de Moda, principalmente vestuário e acessórios, para aumentar a produtividade, podem inovar com ações estratégicas para enfrentar a concorrência, lançando novos produtos com base nas tendências de Moda e nos recursos tecnológicos. Contudo, como foi visto, esses produtos podem gerar tensões entre as funções estéticas, ergonômicas e técnicas em relação à usabilidade que, no caso do vestuário, é um dos aspectos de desempenho destas funções na interface corpo/roupa, cujo processo baseia-se no uso de critérios ergonômicos.

Mesmo sendo criado e desenvolvido com as novas tecnologias, o vestuário pode não atender a esses critérios, dando a sensação de desconforto ao corpo. Assim, além de utilizarem as ferramentas da metodologia projetual para a concepção do produto, as empresas devem orientar suas ações projetuais com base em fatores ergonômicos, essenciais ao desempenho de uso e conforto para os quais os produtos foram projetados.

O projeto de produtos de Moda tem suas especificidades relacionadas à estética, porém um dos objetivos deve ser também o conforto corporal. Em cada etapa de sua elaboração, deve-se ter sempre a visão de todo o processo, levando- se em conta a complexidade de sua função, que tem como finalidade vestir um corpo. Para atingir estes objetivos, a utilização dos fatores ergonômicos vai além de uma investigação para a melhoria e organização do trabalho, devendo reunir elementos e procedimentos para adequar melhor os produtos ao gosto e à forma anatômica das pessoas.

Os valores estéticos ao serem criados devem observar os critérios ergonômicos que vão somar qualidades técnicas ao produto do vestuário. Nesse sentido, a problemática contextualizada se resume na relação entre as funções estético-simbólicas com os aspectos corporais na relação de uso do usuário/consumidor.

Observando também a classificação de Löbach (2001), quanto à função de uso prático dos produtos, percebe-se que este aspecto pode ser aplicado também

ao vestuário e ser obtido por meio do caimento das peças nas dimensões do corpo, no alinhamento das linhas estruturais da roupa sobre o contorno e na sensação de comodidade e bem-estar proporcionada pela forma da modelagem.

As funções práticas podem ser conseguidas por meio das ferramentas da ergonomia aplicadas na etapa da modelagem do vestuário, na adequação da matéria-prima ao modelo e no acabamento. Para aplicação dos aspectos ergonômicos é necessário conhecer a forma e as medidas do corpo do consumidor para o projeto de produtos do vestuário, tendo em vista a relação direta com sua forma física, ações e movimentos, remetendo aos conceitos da antropometria ao evidenciar que fatores técnico-funcionais do produto de Moda/vestuário interagem com as necessidades fisiológicas do corpo.

Analisando as funções do produto sob o prisma da teoria da linguagem com foco na semiótica, Bürdek (2006) destaca duas funções básicas da relação entre produto e usuário: função prática e a linguagem do produto, que abrangem as funções de significação, estilo formais e simbólicas.

Nessa concepção, a funcionalidade é mais abrangente, não sendo apenas uma característica do objeto em si, mas uma série de relacionamentos complexos entre hábitos e usos, técnicas de fabricação e significados simbólicos, que compõem as variáveis de desempenho do produto.

O projeto do vestuário não pode se abster dos valores simbólicos, porém, também, deve atender demandas sociais objetivas como as características físicas individuais, no que diz respeito ao corpo, à idade e ao estágio do ciclo de vida, ocupação, situação econômica e estilo de vida. Desse modo, a funcionalidade e a usabilidade dos produtos de Moda do vestuário estão relacionadas ao conforto proporcionado ao corpo, obtido com a aplicação dos aspectos ergonômicos.

Iida (2005) estabelece que as qualidades essenciais de um produto são as qualidades técnicas, ergonômicas e estéticas. Esta abordagem pode ser aplicada aos produtos de Moda/vestuário. Em relação à qualidade técnica, afirma que se refere à eficiência com que o produto executa a função para o qual foi criado. A qualidade ergonômica refere-se à facilidade de adaptação antropométrica, incluindo facilidade de manuseio, de uso, de conforto, de segurança e de vestibilidade. Esta

qualidade favorece a interação do corpo com o ambiente e os objetos por meio dos critérios ergonômicos. A qualidade estética, por sua vez, é a relação entre o usuário e o produto que influencia o grau de aceitação e prazer envolvendo, além das outras funções, os aspectos simbólicos da percepção humana, sensoriais, emocionais, sociais e culturais.

Estas três qualidades destinam-se a dotar o produto com características que satisfaçam as necessidades humanas, podendo estar presentes em todos os produtos, porém, naturalmente, a intensidade de uma pode predominar sobre as outras. Muitas vezes para atrair o consumidor, algumas peças do vestuário são lançadas nas coleções com alternativas estéticas que sob a ótica técnica e ergonômica não funcionam adequadamente, causando problemas para comercialização. Neste caso, a qualidade estética não pode sacrificar o desempenho técnico e ergonômico do vestuário.

Neste contexto, considera-se que [...] “A Ergonomia tem como centro focal de seus levantamentos, análises, pareceres, diagnósticos, recomendações, proposições e avaliações, o homem como ser integral”. (MORAES e MONT‟ALVÃO, 2010). Assim, ressalta-se MONTEMEZZO & SANTOS (2002) que, ao analisar o vestuário como produto de consumo de uso pessoal, o consideram como Interface Global Primária, no que se refere à relação homem-ambiente. Ou seja, ele faz parte do meio físico/material do homem, está presente na maior parte do tempo como uma extensão do seu corpo e interage com o organismo humano de maneira generalizada e direta, como uma segunda pele. Sob tais condições, pode intervir, positiva ou negativamente, na realização de qualquer ação humana, influenciando o relacionamento do homem com quaisquer ambientes.

A segurança deve ser perseguida sempre e sempre, já que a integridade das pessoas é algo que o designer não pode deixar de levar em consideração; o conforto, este sim, pode ser relativizado, dentro de certos limites, visto que a percepção de conforto é subjetiva e depende de diversas variáveis (LINDEN, 2007, p. 18).

Sendo assim, do ponto de vista ergonômico, os produtos de Moda não são considerados apenas como objetos/ornamentos, mas canais ativos que interferem no desempenho das funções humanas (ver quadro 5.4.1). Dessa forma, passam a fazer parte de sistemas homem-máquina-ambiente, nos quais o vestuário deve

amplificar e/ou aperfeiçoar a capacidade de proteção e termo regulação da pele humana, mantendo as características de flexibilidade e adaptabilidade.

Quadro 5.4.1: Preocupações com a ergonomia no consumo (processo de uso). PROPORCIONAR AO USUÁRIO: ATRAVÉS DE CUIDADOS COM:

Segurança Matéria-prima, modelagem e aviamentos

(materiais que não provoquem ferimentos ou danos ao ambiente)

Conforto

Liberdade de movimentos Matéria-prima, modelagem e antropometria

Conforto tátil Matéria-prima, modelagem e acabamentos

Conforto térmico Matéria-prima, modelagem e acabamentos

Conforto visual Aspectos perceptivos/ estéticos/ composição visual

Bem-estar emocional Exploração de valores subjetivos/carga sígnica

Facilidade de manuseio e uso

Matéria-prima de fácil manutenção

Funcionamento dos dispositivos diretos de interação (fechos, regulagens, elementos destacáveis etc.)

Dispositivo de informações sobre uso e manutenção

Função objetiva do produto

Fonte: MONTEMEZZO, 2003. Pág. 48.

Observados os procedimentos acima mencionados na configuração dos produtos do vestuário, obtém-se as qualidades técnicas e ergonômicas, percebidas por meio do caimento do tecido sobre as linhas estruturais do corpo, que dão conforto, liberdade de movimentos, bem-estar emocional, atingindo os conceitos de usabilidade.

Partindo da premissa de que a ergonomia é uma disciplina que está diretamente relacionada ao projeto de qualquer produto e integra a etapa inicial de concepção de qualquer projeto de produto e visa proporcionar bem-estar e conforto ao ser humano, considerando suas habilidades, características e limitações, pode-se

afirmar que o vestuário é um dos produtos com os quais o homem convive durante todo seu tempo de vida e nas suas mais diferentes situações, seja de trabalho, não trabalho, de estudo, lazer, ócio etc. Por este motivo, a ergonomia deve estar presente desde a etapa de concepção do produto de vestuário, permeando todas as etapas de seu projeto, até a entrega do mesmo ao consumidor final.

A partir dessa perspectiva, é possível produzir produtos adequados e compatíveis com seus usuários, considerando-se os requisitos ergonômicos e de usabilidade na etapa inicial de concepção de um produto, trabalhando preventivamente para evitar equívocos e disfunções no futuro produto, economizando tempo e recursos. Quando não acontece dessa forma e um produto apresenta várias inadequações, é necessário corrigir o que não se conseguiu prever durante a fase projetual e reiniciar o projeto, voltar à “estaca zero”, gerando retrabalho, desperdício de tempo e recursos.

Considerando essa afirmação, a ergonomia deve estar contida na realidade da indústria do vestuário, na cultura de pensar e conceber os produtos de Moda e vestuário, incorporando na peça de vestuário e de uma coleção produzida os requisitos ergonômicos, que, juntamente com a modelagem, irão conferir usabilidade e conforto às peças produzidas para seus usuários.

De acordo com Iida (2005), a ergonomia analisa que todos os produtos estão destinados a satisfazer certas necessidades humanas e, direta ou indiretamente, estabelecem vínculos. Para que isto ocorra da melhor forma, é necessário que o produto apresente características técnicas, estéticas e ergonômicas.

No âmbito do desenvolvimento de projetos de produto do vestuário, é possível resolver os problemas do vestuário já na fase de concepção, introduzindo alguns princípios ergonômicos, tais como facilidade de manejo, facilidade de manutenção, facilidade de assimilação e segurança, pois se trabalha com a perspectiva de rever constantemente os fatores de risco e perseguir a obtenção da adequação e qualidade do produto, sem descuidar das questões econômicas. A aplicação desses princípios pode evitar, por exemplo, discrepância entre o desenvolvimento do produto e a vestibilidade das peças confeccionadas, inadequações de formas e de materiais e o cerceamento da mobilidade requerida pela roupa. A análise ergonômica e de usabilidade e a correta aplicação dos fatores humanos no

desenvolvimento do produto trazem como benefícios a redução de custos e ganho em segurança.

Sendo assim, confirma-se a importância da ergonomia a ser considerada no projeto de produto do vestuário e fundamentada nos estudos antropométricos, para proporcionar conforto - caimento adequado da roupa sobre o corpo - atingindo, assim, os benefícios que asseguram a usabilidade do produto de Moda e vestuário. Fica evidente a necessidade do perfeito conhecimento das características físicas e socioculturais dos usuários de ferramentas e de equipamentos, pois os considerando como extensões do próprio homem para executar seu trabalho com o máximo de eficiência e conforto, isto só será possível se na concepção destas o usuário for analisado e considerado.

Tendo presente tal noção, as relações propostas com as novas tecnologias, tais como aspectos fisiológicos, medição do conforto, aplicação de materiais têxteis e, principalmente, a ergonomia e a usabilidade podem tornar visíveis a importância e a relevância do design para a sociedade.

Daí a necessidade de se estabelecerem as propriedades ergonômicas e os princípios de usabilidade como variáveis norteadoras para projeto de produto de vestuário. Avançar nesse sentido significa gerar contribuição operacional para o setor do vestuário, facilitando o trabalho dos designers de Moda e ampliando seu espectro social, pois o projeto de produto de vestuário viabilizará produtos elaborados e projetados de modo a proporcionar melhor qualidade de vida para os usuários.

Conforme Nielsen (1993), a usabilidade é desejada, porém não aparece simplesmente nos produtos como se fosse um passe de mágica. A fim de garantir a usabilidade, deve-se incluir seus interesses no processo de desenvolvimento (NIELSEN, 1993). A usabilidade tornou-se um importante requisito a fim de melhorar a aceitabilidade por parte do consumidor no mercado. A avaliação da usabilidade é considerada um procedimento essencial para o desenvolvimento de bens de consumo.

Conhecer e compreender os problemas da interface homem-produto é de fundamental importância para a intervenção ergonômica, especialmente quando se

pretende aplicar o Design Ergonômico no desenvolvimento de produtos, a partir de uma pesquisa participativa ao ser dada uma opção metodológica para se chegar a esse clímax de produção por meio do estudo com grupos focais que serão abordados no capítulo seguinte.