• Nenhum resultado encontrado

4. A ERGONOMIA: aplicada ao produto de Moda

4.4. Tipos de Classificação em Ergonomia

Conforme o propósito que se deseja alcançar, de acordo com os objetivos fundamentais de proporcionar conforto, saúde, segurança e bem-estar, as contribuições do estudo da ergonomia variam conforme sua área de atuação e sua intervenção (LINDEN, 2007).

Assim, é importante entender que a abordagem ergonômica ocorre de forma sistemática e, conforme sua intenção há possibilidades quanto à sua atuação. Tanto a metodologia projetual, que organiza a execução do projeto, quanto a Ergonomia, que sistematiza e suporta os requisitos projetuais, devem atuar em conjunto e funcionar harmoniosamente.

Sabendo que a execução do projeto que incorpora a abordagem ergonômica não é uma tarefa fácil, haja vista que devem ser considerados e conciliados muitos fatores e variáveis (ver figura 4.1.1), é importante conhecer estes antes de iniciar a classificação da Ergonomia.

Dentre os fatores ergonômicos temos: os requisitos de projeto, as ações de manejo e as ações de percepção/códigos visuais (LINDEN, 2007, p. 26). Os requisitos de projeto precisam ser estabelecidos ao se iniciar o projeto e são relativos à tarefa, à segurança, ao conforto, ao estereótipo popular, aos envoltórios de alcance físico, à postura, à aplicação de formas e materiais.

Figura 4.4.1: Variáveis frequentemente utilizadas em pesquisas na área de Ergonomia. Fonte: IIDA, 2005, p. 40. HOMEM •ANTROPOMETRIA E BIOMECÂNICA: dimensões do corpo, alcance de movimentos, forças musculares etc. •ÍNDICES FISIOLÓGICOS: consumo de oxigênio, temperatura corporal, rítmo cardíaco, resistência ôhmica da pele, composição do sangue,retorno venoso, quantidade de suor, eletromiografia, controle motor, dinamômetria,etc •PERCEPÇÕES: visão, audição, cinestesia, tato, aceleração, posições do corpo, esforço, processamento, decisões etc. •DESEMPENHO: tempo, erros, acertos, velocidade, precisão etc. •ACIDENTES: frequência, gravidade, quase- acidente etc. •SUBJETIVOS: conforto, segurança, estresse, fadiga etc.

MÁQUINA PRODUTO •NÍVEL TECNOLÓGICO: processamento, feedback, decisões, realimentação etc. •DIMENSÕES: volumes, formas, distâncias, pesos, ângulos, áreas etc.

•DISPLAYS: visuais (dials, indicadores, contadores, luzes), auditivos (fala, ruídos), táteis (estático, dinâmico)etc •CONTROLES: manuais, pedais, tronco, compatibilidade etc. •ARRANJOS: posição de displays, controles etc. •FERRAMENTAS MANUAIS: formas, materiais, texturas etc. AMBIENTE CONTEXTO •FÍSICO: temperatura, umidade do ar, velocidade do vento, iluminação, ruídos, vibrações, aceleração, cores etc. •PSICO-SOCIAL: monotonia, motivação, liderança etc. •ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: horários, turnos, treinamento, supervisão, distribuição de tarefas, grupo etc.

SISTEMA •SUBSISTEMAS: interações etc. •POSTO DE TRABALHO: postura, movimentos, informações etc. •PRODUÇÃO: quantidade, qualidade, produtividade, regularidade,etc •CONFIABILIDADE: frequência de erros, tempo de funcionamento, regularidade etc.

As ações de manejo são relativas às ações que envolvem o sistema de comunicação e informação que envolvem os sentidos dos usuários/consumidores. Por isso, são relacionados aos canais de percepção: tátil, visual, auditivo, sinestésico, de vibração, códigos visuais identificados nos fatores aromáticos, morfológicos, tipos gráficos e tecnológicos. As ações de percepção/códigos visuais são relativas aos movimentos realizados pelo usuário/consumidor, ao manuseio operacional, limpeza, manutenção e ao arranjo espacial dos elementos.

O fato é que considerando o sistema, o designer/ergonomista sempre necessitará compatibilizar variáveis de formas distintas condizentes com cada necessidade projetual. Iida (2005) elenca as principais variáveis ergonômicas para o desenvolvimento de projetos ( ver figura 3.4.1.), onde é possível perceber a difícil tarefa do Design e da Ergonomia ao tentar compatibilizar na solução projetual, o ambiente, o produto, o arranjo, o desenho, os materiais, entre outros aspectos.

Posto a complexidade do número de fatores e variáveis que interferem no projeto, a Ergonomia pode ser classificada por área de atuação em física, cognitiva e organizacional (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2010, p. 19-21).

A Ergonomia Física atua no que concerne as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação à atividade física. Os tópicos relevantes incluem a postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurança e saúde.

Por Ergonomia Física entende-se o foco da Ergonomia caracterizada sobre aspectos físicos de uma determinada situação de trabalho. A Ergonomia Física busca adequar os limites e capacidades do corpo por meio do projeto de interfaces adequadas para o relacionamento físico do homem-máquina, para tanto, são necessários inúmeros conhecimentos sobre o corpo e o ambiente físico onde a atividade da jornada de trabalho ocorre.

A Ergonomia Cognitiva atua no que concerne aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetam interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho

especializado, interação homem-computador, estresse e treinamento conforme estes se relacionem aos projetos envolvendo seres humanos e sistemas.

A cognição da Ergonomia atua nos aspectos mentais da atividade humana. Por meio de tal domínio, o ergonomista não se limita em apontar características humanas pertinentes aos projetos de postos de trabalho, por exemplo, ou focar-se somente a entender a atividade humana nos processos de trabalho de uma ótica basicamente física. Em tal segmento de ideias, observa-se a importância dos atos de pensamento do trabalhador na execução de suas tarefas.

A Ergonomia Organizacional atua no que concerne a otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem: comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, ergonomia comunitária e trabalho cooperativo, novos paradigmas do trabalho, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade.

A Ergonomia Organizacional é o domínio pelo qual se constroem a partir de uma constatação óbvia toda atividade de trabalho que ocorre no âmbito de organizações. Tal campo tem obtido um formidável desenvolvimento, conhecido internacionalmente como ODAM (Organizational Design and Management), para alguns significando nada mais que a Ergonomia (IIDA, 2005).

Para melhor explicar as contribuições desta área no desenvolvimento de um produto, Kaminski (2000) coloca as três situações em que o estudo ergonômico se faz necessário. Estas se dão em diferentes ocasiões e com abrangências distintas, classificando-se em: ergonomia de concepção, ergonomia de correção e ergonomia de conscientização. Conforme Gomes Filho (2010), podemos acrescentar ainda a ergonomia de participação.

A Ergonomia de concepção ocorre na fase de projeto de um produto/ máquina/tarefa, na qual, segundo Iida (2005), as alternativas poderão ser amplamente examinadas, mas também exige maior conhecimento e experiência, porque as decisões são tomadas em cima de situações hipotéticas. O nível destas decisões pode ser melhorado, buscando-se informações em situações semelhantes

que já existam ou construindo-se modelos tridimensionais, onde situações reais possam ser simuladas. Por isso, é considerada a melhor oportunidade para a intervenção ergonômica, visto que o ideal é que a intervenção ergonômica faça parte do projeto. Porém, as decisões vêm de situações hipotéticas, por isso, é fundamental conhecer bem o projeto e seus objetivos.

Voltando a Kaminski (2000) e analisando a abordagem referente à fase de projeto de um produto, denominada ergonomia de concepção, pode-se organizá-la de acordo com as etapas do ciclo de vida do produto. O autor parte de Iida (2005, apud KAMINSKI, 2000) e define produto como o meio para o homem realizar várias funções.

A Ergonomia de correção é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na falta segurança, na fadiga excessiva, em doenças/dores do usuário ou na quantidade e qualidade da produção, ou seja, aqui a intervenção destina-se à correção ou melhoria dos relacionamentos do homem com sistemas produtivos ou produtos em situações geradoras de mal-estar ou insatisfação. Pode-se dizer que é a mais frequente, pois na área de Design constantes inovações partem de correções de projetos inadequados, que muitas vezes não levaram em conta as limitações humanas reais.

A Ergonomia de conscientização vem da capacitação dos próprios usuários para a identificação e correção de problemas do dia-a-dia. São muitas vezes imprevistos que precisam ser solucionados e mostram-se ótimas oportunidades de aprendizado para a prática do Design. Pois se considera importante o feedback do usuário/consumidor para o real êxito do projeto.

Ela é aplicada, conforme Iida (2005), quando os problemas ergonômicos não são completamente solucionados nas fases de concepção e correção. Além disso, novos problemas poderão surgir causados pelo desgaste ou uso/manuseio inadequados, a qualquer tempo, em qualquer fase da produção ou da vida útil de um produto, promovendo adaptações e transformações. Por isso é importante conscientizar o operador/usuário, das situações de risco que possam surgir no sistema com o qual ele interage.

A Ergonomia de participação envolve o usuário do sistema na solução dos problemas ergonômicos. Considerando a Ergonomia de conscientização, o que difere desta é que ela incorpora a participação do usuário de forma sistemática no processo de desenvolvimento do Design, e não apenas quando se tem um imprevisto a ser sanado.

O importante é frisar que dentre todos os fatores e variáveis influentes, e todos os tipos de classificação existentes, o projeto ergonômico é um projeto centrado no usuário, assim como o Design.