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4. A ERGONOMIA: aplicada ao produto de Moda

4.3. Visão Sistêmica da Aplicação Ergonômica

A ergonomia difere de outras áreas do conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada. O caráter interdisciplinar significa que a ergonomia se apoia em diversas áreas do conhecimento humano. O caráter aplicado configura-se na adaptação do posto de trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador (WEERDMEESTER, 2012, p. 14).

O atendimento dos requisitos ergonômicos no percurso projetual possibilita maximizar o conforto, a satisfação e o bem-estar humano; garante a segurança, minimiza constrangimentos, custos humanos e carga cognitiva, psíquica e física do usuário/consumidor; evita doenças, lesões e danos à saúde humana; otimiza o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade do homem.

Na verdade, com sua conceituação já foram explicitados os benefícios da abordagem ergonômica na metodologia projetual do Design. O ideal é que ela seja aplicada desde a concepção do produto, durante o seu projeto e pensada em

Ergonomia

Processos: - Engenharia de Produção - Administração - Psicologia do Trabalho Produtos: - Design - Engenharia de Produto Tecnologia da Informática: - Internet - Produtos relacionados à informática (computadores,

celulares, tablets etc.)

Ambientes: - Arquitetura - Engenharia de

conjunto com o ambiente e com o usuário. Desde o início, ela é pensada a partir do conjunto homem-máquina.

A visão da Ergonomia é que o conjunto homem-máquina não devem ser pensados em separado e, por esse conjunto ela denomina sistema. Deve-se pensar o sistema como um todo a fim de adequar melhor às escolhas e soluções. Esse pensamento em conjunto contribui para melhorar a eficiência, a confiabilidade e a qualidade dos produtos enquanto uso, pois eles só terão função enquanto utilizáveis pelo homem, como se o conjunto do homem utilizando a máquina/produto formassem um organismo vivo.

Conforme descrito por autores interessados na matéria, no processo de desenvolvimento de um projeto, não existe aquele momento ideal para a introdução da Ergonomia, pois a mesma deverá estar presente em todos os estágios pelos quais passa o mesmo, sintetizando sua permanência no começo, meio e fim do processo projetual, como explica Blaich (apud MORAES; QUARESMA, 2002), os atributos ergonômicos adicionados ao “produto” têm um grande valor no mercado, mas para que isso ocorra, é necessário que os ergonomistas participem de todo o processo projetual.

Para Chapanis (1959 apud IIDA, 2005, p. 29):

Ergonomia é um corpo de conhecimentos sobre habilidades humanas, limitações humanas e outras características humanas, que são relevantes para o design. Projeto ergonômico é a aplicação da informação ergonômica para o design de ferramentas, máquinas, sistemas, tarefas, trabalhos e ambientes para segurança, conforto e uso eficaz humano.

A aplicação da Ergonomia é baseada no sistema. Segundo Iida (2005), a conceituação de sistemas adotada é a mesma da biologia: “sistema é um conjunto de elementos (subsistemas) que se interagem entre si, com um objetivo comum e que evoluem no tempo”. Assim, existem três aspectos que caracterizam um sistema: seus componentes (elementos ou subsistemas); as relações (interações) entre os subsistemas; sua permanente evolução (IIDA, 2005).

Inicialmente, considerava-se o sistema no período da Segunda Guerra Mundial como o somatório do homem com a máquina (ver figura 4.3.1).

Figura 4.3.1: Sistema inicial da Ergonomia. Fonte: Acervo próprio, 2013.

Para Meister e Rabideau (apud MORAES; SOARES, 1989, p.23) como sistema homem-máquina compreendem-se situações diferentes: a compreensão da junção homem + utensílios; o posto de trabalho (a díade de um homem + uma máquina); e/ou um conjunto de elementos humanos e não humanos submetidos a interações.

Se ampliarmos essa visão sistêmica, integramos evolutivamente o contexto e o ambiente, visto que esses interferem diretamente no resultado do sistema homem- máquina. Assim, o sistema homem-máquina-ambiente é a unidade básica do estudo da Ergonomia, onde cada parte pode ser considerada um subsistema, mas nunca deve ser isolada, pois existe uma sequência lógica direcional na execução de uma tarefa pelo homem, ou mesmo, no uso de um produto/ferramenta (como pode ser visto na figura 4.3.1).

Figura 4.3.2: Fluxo do Sistema Ergonômico. Fonte: VIDAL, 2010, p. 19.

HOMEM

MÁQUINA

Dos três subsistemas, o homem é o que possui o maior peso, pois é a razão principal da Ergonomia. A máquina aqui aparece como qualquer artefato usado pelo homem para realizar um trabalho ou melhorar seu desempenho. O ambiente não pode ser dissociado, pois influi no sistema interagindo e trocando informações e energia. Assim, a unidade básica da Ergonomia é o sistema Homem-Máquina- Ambiente, como visto na figura 4.3.3.

Figura 4.3.3: Sistema atual da Ergonomia.Fonte: Acervo próprio, 2013.

Como o homem é a razão da existência da Ergonomia, o estudo da Antropometria é fundamental para melhor reconhecer as necessidades e limitações humanas. Parafraseando Protágoras, “O homem é a medida de todas as coisas”. Por meio da Antropometria, ciência que estuda as dimensões humanas, são definidas todas as medidas de projetos, visto que todos os produtos possuem o homem como seu suporte.

Para aplicação da Ergonomia, deve-se dimensionar todos os requisitos de projeto com visão sistêmica a partir dos dados antropométricos. Atentando para que o dimensionamento do projeto realizado com parcimônia pode gerar a adequação do uso da máquina e do desempenho da função. Porém, o dimensionamento do projeto realizado em excesso pode gerar um aumento do custo do produto e, assim, um desperdício impensável para o Design.

Entre os fatores importantes para o projeto de sistemas de trabalho destaca- se o estudo da relação homem-máquina-ambiente, na qual se devem considerar as características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais do ser humano e sua interação com todo tipo de ajuda material (máquina) que este utiliza na execução de suas tarefas. Neste relacionamento, segundo Iida (2005), são fundamentais também: o ambiente onde ele se encontra inserido, a informação que é responsável pela comunicação entre os elementos do sistema, a organização deste e as consequências das ações ali realizadas. Sob estes parâmetros, chamamos de

HOMEM MÁQUINA PRODUTO TAREFA AMBIENTE CONTEXTO DE USO SISTEMA

interface a zona de contato do homem com a máquina, sob a qual o usuário interage em um ambiente determinado com todo o sistema.

A interface sistemática ergonômica, por todos seus subsistemas (homem, máquina e ambiente) é complexa. Pois ao relacionar todos os componentes, verificamos que os subsistemas se influenciam mutuamente de forma ativa, considerando em quando ocorre a ação de uso do produto ou realização da tarefa. Pela figura 4.3.4 é visto a diversidade de fatores que influem no sistema, ressaltando assim, que o mesmo não pode ser visto por partes.

Figura 4.3.4: Diagrama do sistema Homem-Máquina-Ambiente. Fonte: GOMES FILHO, 2010, p.19.

Nesse enfoque, a atividade que o indivíduo coloca em curso na sua interação com o ambiente constitui um processo permanente de (re)construção de estratégia de regulação. Esta estratégia de regulação, uma busca pela estabilidade, é uma atividade multi-influenciada por fatores de natureza distinta: da interação do indivíduo com a tarefa prescrita (que veicula uma carga de trabalho específica com exigências físicas, cognitivas e afetivas); das condições pessoais (estado de saúde, objetivos pessoais e experiência de trabalho); dos meios disponibilizados (materiais, instrumentais, tecnológicos) e das condições ambientais existentes (espaço, luz, temperatura, iluminação, qualidade do ar) (MORAES, 2010).

A interação desses fatores que influenciam a forma pela qual o sujeito elabora suas estratégias operatórias não está imersa em um contexto sociotécnico singular e que, por sua vez, é inseparável de situações específicas que evoluem dinamicamente, impactando na atividade do indivíduo.

Sendo assim, do ponto de vista ergonômico, os produtos não são considerados apenas como objetos em si, mas como meios para que o homem possa executar determinadas funções, onde o somatório dos participantes formam o sistema. O objetivo da ergonomia é estudar esses sistemas, para que as máquinas e ambientes possam funcionar em harmonia com o homem de modo a tornar seus desempenhos adequados, proporcionando conforto e bem-estar.

Cabe ressaltar ainda, na abordagem ergonômica a partir do sistema devem- se considerar algumas questões importantes. No homem, é importante levar em conta no projeto o sexo, a etnia, o biótipo, dentre outras características, pois existem muitos exemplos de inadequação de produtos que foram exportados de um país para outro por não se preocuparem com as questões de adaptação ao usuário. Por exemplo, durante a guerra do Vietnã, os soldados vietnamitas, com altura média de 160,5 cm tinham muita dificuldade de operar as máquinas bélicas fornecidas pelos norte-americanos, projetados para altura média de 174,5 cm (IIDA, 2005).

Um princípio importante na aplicação da ergonomia recomenda que os equipamentos, produtos, sistemas e tarefas devem ser projetadas para uso coletivo. Sabendo-se que há diferenças individuais em uma população, os projetos, em geral, devem atender a 95% dessa população. Isso significa que há 5% dos extremos dessa população (indivíduos muito gordos, muito altos, muito baixos, mulheres grávidas, idoso, deficientes físicos), para os quais os projetos de uso coletivo não se adaptam bem. Nesses casos, é necessário realizar projetos específicos para essas pessoas (WEERDMEESTER, 2012, p. 16).

Para a Ergonomia conhecer e reconhecer as diferenças humanas são imprescindíveis. Isso foi evidenciado com o desenvolvimento do comércio internacional e a globalização, onde o mesmo produto deve atender o máximo de pessoas, etnias, culturas, adequando-se as diferenças antropométricas de diversos países, buscando uma universalidade em seu uso52.

Além dessas diferenças, também devem ser consideradas as situações de medição dessas medidas, visto que existem diferenças na utilização dos tipos de Antropometria. A Antropometria Estática é aquela em que as medidas se referem ao corpo parado e com pontos anatômicos claramente identificados. É utilizada para projeto de móveis e máquinas onde não necessita de mobilidade. A Antropometria Dinâmica mede o alcance dos movimentos, onde a parte analisada é movimentada, mas o corpo permanece parado. Utilizado em projeto de postos de trabalho, onde o operário movimenta uma parte do corpo para realizar seu trabalho. A Antropometria Funcional é aquela que trata de atividades e execuções de tarefas. Vários movimentos são conjugados para se realizar a tarefa (IIDA, 2005). Dirigir um automóvel, por exemplo, exige a interação de diversos movimentos do corpo. Esta é a mais importante e complexa, por isso, a que promove menor erro no projeto. Para o êxito da Ergonomia, cada subsistema deve ser analisado isoladamente e, posteriormente em conjunto, mas seu funcionamento deve ser pensado somente em conjunto.

Na abordagem ergonômica em projetos de Design, a utilização da medição deverá ser pensada a partir das necessidades de movimentação do usuário/consumidor. Por exemplo, para se projetar uma cadeira o designer deverá usar a Antropometria Estática, pois considera que o homem após o movimento de sentar, permanecerá estático. No projeto de uma bancada de banheiro, o designer deverá utilizar a Antropometria Dinâmica, visto que o usuário ao utilizar a bancada fará movimentos pré-determinados, como abrir a torneira. Já no projeto de uma peça de vestuário, deve-se utilizar a Antropometria Funcional, pois o usuário deverá executar um conjunto de movimentos, e, portanto, são difíceis de pré-determinar. Para a Antropometria Funcional, devem-se estabelecer limites a partir das extremidades de movimentos a serem alcançados (o máximo e o mínimo alcance). A falta de conhecimento dos designers sobre a Antropometria ocasiona muitos erros de dimensionamento em projetos.

“Os ergonomistas contribuem para o projeto e a avaliação de tarefas, trabalhos, produtos, ambientes e sistemas, no sentido de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas” (IEA, 2006).

E a adequação objetivada pela atuação da Ergonomia não se limita ao que foi exposto, ela é muito maior. É importante que se perceba que o desenho do mundo contemporâneo envolve, além das questões de natureza organizacional, questões cognitivas e afetivas implicadas na interação entre o ser humano e a tecnologia. A partir de diferentes abordagens, como estudos de usabilidade a partir das tentativas de universalização do Design, os estudos de natureza ergonômica estão presentes na concepção de todos os produtos e serviços que almejam o bem-estar humano.

“Essa é uma das verdadeiras atribuições da ergonomia, permitir atuar como uma ciência que possa contribuir para a qualidade de vida da sociedade” (BITENCOURT, 2011, p.16).