• Nenhum resultado encontrado

2. MODA: da concepção ao uso

2.2. O estabelecimento do Ciclo da Moda

Para entender o universo da Moda é preciso compreender seus ciclos, visto que desde o início eles marcam sua evolução por uma continuidade de criação e consumo em uma incessante busca por um estilo próprio que permite a diferenciação social. Essa busca que teve início pela burguesia tentando copiar os „modos‟ da nobreza ficou marcada pela constante renovação estética ditada pelo que hoje chamamos de tendências (CASTILHO, 2004).

A partir do final do século XIV, a Moda surge como fenômeno intrínseco à sociedade, impulsionando a renovação das formas, o individualismo, o anseio pela novidade e, sobretudo, a ruptura com a situação estabelecida outrora.

Já sabemos que o sujeito começa a “inventar Moda” para se distinguir social e pessoalmente, mesmo que continue se submetendo às regras coletivas. Considerando o fato de que o sujeito reflete sobre sua imagem e seu vestuário, já podemos anunciar um grande paradoxo presente no sistema da Moda: ao mesmo tempo, ele serve à padronização (regras coletivas, tendências, poder da publicidade etc.) e a diferenciação (exercícios estéticos pessoais) (MESQUITA, 2004, p. 26).

O ciclo da Moda se determina basicamente pela introdução de uma tendência no mercado, crescimento da sua popularidade e aceitação estética, desenvolvimento até seu pico de popularidade e consumo18, maturidade e desgaste da tendência, declínio e rejeição da tendência até sua obsolescência (COBRA, 2007). Também, podemos resumir como na figura 2.2.9.

Figura 2.2.9: Interpretação da autora sobre o ciclo da Moda proposto por Cobra, 2007. Fonte: COBRA, 2007, p.30.

Para compreendermos a dinâmica do ciclo da Moda é necessária a compreensão de três momentos: o surgimento da Moda nos moldes atuais, a Revolução Industrial e a inserção do marketing no consumo de Moda. Se o surgimento da Moda implantou o ciclo de renovação estética, a Revolução Industrial estabeleceu sua dinâmica com a programação da obsolescência e a inserção do marketing estimulou o consumo, suprindo a demanda criada pela indústria cada vez mais eficiente, em ciclos cada vez mais rápidos e curtos.

Se no período anterior à Revolução Industrial a produção de produtos de Moda era artesanal, existia uma demanda de mercado por produtos que o processo artesanal não conseguia suprir. Após a revolução com a produção em massa, a oferta de produtos superou a demanda, fato que só foi suprido após a inserção do marketing no estímulo ao consumo.

Para entender melhor, a Revolução Industrial alterou o estilo de vida das pessoas e seus reflexos atingiram todos os campos: social, cultural, tecnológico, econômico e político. Se antes existiam apenas duas classes sociais, os ricos proprietários e os pobres/agricultores, após a revolução os contrastes diminuíram pela simplificação dos vestuários dos mais ricos e pelo acesso da classe trabalhadora à aquisição de roupas, visto que esses antes somente vestiam doações.

O ciclo da Moda como conhecemos hoje teve início com a produção industrial, que de fato se iniciou no Pós-Guerra, particularmente em 1949, com o surgimento do prêt-à-porter19, que se traduz por “pronto para vestir” na língua portuguesa e deriva da fórmula americana do ready to wear. O prêt-à-porter supriu a demanda dos que não tinham acesso aos produtos de Alta Costura20 e tornou os produtos de Moda mais acessíveis.

Com o crescimento da classe média, a Moda torna-se símbolo de status. A velocidade se propaga, desencadeando o ciclo do varejo e o crescimento das indústrias, do marketing e da necessidade de consumo. A Moda como um todo necessitou acompanhar esse processo. Com o advento da tecnologia e da orientação do marketing, o consumo foi estimulado como sendo o motor da Moda e os ciclos da Moda tornaram-se cada vez mais rápidos, deflagrando o sistema que conhecemos hoje por Fast Fashion.

Cabe ressaltar a velocidade e o desafio de projetar esses produtos, que apresentam alto nível de desuso e constantes lançamentos de tendências internacionais que rapidamente precisam estar expostas nas vitrines. Para isso, os produtos de Moda requerem planejamento e profissionais que trabalhem com datas predeterminadas, cumprindo metas e prazos. Organização e parâmetros precisam ser seguidos pelos designers durante a elaboração da coleção.

A cadeia da Moda cresceu e hoje é composta por executivos de Moda, gerentes de produto, comerciantes, designers, compradores, costureiras, consultores de estilo, produtores de Moda, publicitários, dentre outros (FRINGS, 2009). Estar atento ao processo, conhecer o universo da Moda, aprender continuamente sobre os novos desenvolvimentos na demanda do consumidor, economia, comércio mundial e tecnologia é essencial para o êxito nesse ramo de atividade. Todos os processos de desenvolvimento, produção e decisões de marketing são baseados em informações de quem reconhece as motivações e os ciclos desse mundo particular.

19 O prêt-à-porter surgiu depois da Segunda Guerra Mundial e se popularizou por oferecer maior variedade de estilos e preços mais acessíveis devido à produção em série (TREPTOW, 2007, p. 31).

20 A Alta Costura é confecção artisanal, sob medida e com exclusividade, o que torna inacessívela grande maioria das pessoas (TREPTOW, 2007, p.31).

Para tanto, o objetivo atual da indústria da Moda é projetar produtos de forma a conseguir melhor interação com o usuário. Tanto os produtos de Moda como a ergonomia possuem pontos em comum, pois conforme Kaminski (2000), os objetivos práticos da ergonomia são a segurança, a satisfação e o bem-estar dos usuários em seu relacionamento com os sistemas produtivos e com os produtos propriamente ditos.

A mudança faz o universo da Moda girar. A Moda é um produto da mudança, seu sentido de temporalidade é um atributo importante em todos os níveis da indústria. Por isso, a constante oferta de mercadorias e a estratégia de marketing realizada para venda de tais produtos estimulam o consumo, mas se não promoverem a satisfação dos usuários não sobrevivem à concorrência acirrada que o mercado impõe.

A efemeridade da Moda, então, passa a fazer parte da vida dos consumidores, cada vez mais suscetíveis às novidades, desapegados dos bens adquiridos anteriormente e com preferências mutáveis constantemente (LIPOVETSKY, 1989).

A subjetividade contemporânea é composta por fluxos tão intensos que mais desestabilizam do que indicam territórios fixos. A capacidade de mudar é tratada, na era moderna – e principalmente, após a década de 60 –, não como desequilíbrio, mas como um estado ideal. O que se modifica é tratado como “melhor” do que aquilo que permanece. Podemos pensar que a mudança na aparência ou na superfície, ou ainda no corpo, acaba gerando aparência de mudança, pois sugere, incessantemente, novas imagens para o “eu”. Novas roupas, cores e cortes de cabelo, piercings... Novo estilo, acessórios diferentes, marcas registradas, “a sua nova cara” (MESQUITA, 2004, p.18-19).

Os consumidores também podem ser identificados com as fases do ciclo da Moda. As categorias da Moda surgem em resposta à demanda e mudanças no estilo de vida dos consumidores.

O consumo, que movimenta o ciclo da Moda, pode ser motivado por considerações práticas (preço, conforto, adequação, encaixe, marca e etiqueta do designer, fibra e tecido especiais, qualidade e durabilidade) ou emocionais. Entender o público-alvo é o ponto crucial para o marketing de Moda, pois, por meio do conhecimento do poder aquisitivo, da cultura e da situação econômica, pode-se desenvolver o planejamento estratégico e atender as necessidades dos usuários.

Entender sua evolução e como se processa a Moda é compreender a cadeia de produção e comercialização como um ciclo e sua motriz como a criação da demanda de consumo. Presumir seu universo e como o marketing de Moda se utiliza de fatores externos como a internet, a televisão, as redes sociais, as revistas, os desfiles e o e-commerce para criar a demanda de consumo é o ponto crucial para o entendimento da Moda e suas mudanças ao longo da história.