• Nenhum resultado encontrado

3.4 Tratamento de Dados

3.5.2.2 Aspectos Estruturais (P2)

A análise dos aspectos estruturais coloca em perspectiva a Descoberta de relações entre os níveis micro (CFC) e macro (STN) que influenciam o contexto organizacional da STN, favorecendo, com isso, a compreensão do comportamento da variável “Contexto local e imediato do órgão”.

(i) A Estruturação da Carreira de Finanças e Controle

A organização de sistemas de carreira é tida como uma dentre as mais importantes estratégias de profissionalização do Serviço Público. Não obstante, não se pode afirma que na Administração Pública Brasileira essa organização tenha ocorrido de fato. Apesar da força de trabalho do Poder Executivo Federal estar hoje distribuída em “mais de 100 (cem) carreiras” (P20), em cujo contexto se localiza o grupo da Universidades Federais que se distingue das demais pelo perfil heterogêneo de seus integrantes (administração e docência), pela composição diferenciada de sua remuneração (titulação) e pela lógica própria dos critérios presente no seu processo de avaliação de desempenho (P20).

A idéia de carreira tradicionalmente remete à ingênua ambição nutrida pelo empregado de, partindo do padrão inicial de da estrutura de cargo ao todo da carreira, o que na iniciativa privada seria o cargo do Dirigente.

Eu não consigo enxergar uma ‘carreira’, se não for aquela em que você entra na Instituição, deseja um dia chegar ao mais alto cargo e você não consegue porque (...) esses altos postos são sempre ocupados por partidos políticos (E06).

O normativo em que se definiram as atribuições dos cargos e classes que conforma a CFC foi a Portaria SEDAP nº 87, que se encontra, hoje, “completamente desatualizada” (E03). A questão da correição, hoje atribuída à CGU, não se encontra prevista entre as competências da CFC, o que precisa ser urgentemente revisto, inclusive no que diz respeito aos critérios de ingresso e promoção na Carreira, o que remete a um alinhamento com as regras definidas pelo Sistema de Desenvolvimento das Carreiras – SIDEC -, que normatiza a avaliação de desempenho dos servidores que integram as carreiras remuneradas por subsídio (E03) (E18) (E20).

Além dessa, outras singularidades foram apontadas em relação à estrutura da CFC, como o fato de suas atribuições derivarem, em grande medida, das atividades desenvolvidas pelas antigas CISET do MF, então responsável pela auditoria dos diversos órgãos e entidades da Administração, inclusive da Casa Civil.

Já na ocasião de sua criação, a STN recebera os papeis de Órgão Central de Controle Interno, da Programação Financeira e da Contabilidade. Anos mais tarde, até por uma questão de governança, ocorreu a separação entre as atividades de Finanças e de Controle, sendo que as últimas foram reposicionadas na estrutura da Casa Civil. No entanto, “as carreiras ficaram as mesmas” (E03).

Ocorre que essa separação entre atividades pressupõe a reformulação do conjunto de atribuições da Carreira, tendo em vista que as atividades desenvolvidas no âmbito da CGU em nada se assemelham às desenvolvidas pela STN. Também as atribuições de técnicos e analistas precisam ser revistas, seja pelo fato de que boa parte dos técnicos desenvolvem atividades que superam as atribuições definidas para o cargo de TFC, seja pela crescente complexidade das atividades desenvolvidas por ambos os cargos (TFC e AFC) em decorrência das novas funções e desafios assumidos por ambos os órgãos (E03).

A CGU, ela não tem competência pra fazer vários assuntos que ela faz. Competência legal. A Portaria que define qual as atribuições dos cargos e dos níveis da nossa carreira é uma Portaria SEDAP de 1987 (...) completamente desatualizada. (...) Então a questão de correição, que hoje é dada pra CGU, e que isso é vinculada a uma lei que diz que ela é que vai fazer, mas não tá nas competências dela. Então, isso precisa ser revisto. (...) Precisa ser revista a questão de verbas de entrada, verbas de promoção, SIDEC, várias outras coisas (...) (E02)

Essa é a razão pela qual vem o Sindicato reivindicando a elevação no nível de entrada do Técnico de Finanças e Controle para nível superior (E02).

Então, só entra agora quem tiver nível superior. É uma carreira em que existe uma seriedade, existe um um grau de complexidade maior. Todas essas atribuições que foram adquiridas nesse tempo no órgão (...) são atribuições totalmente novas. Então, (...) esses órgãos devem, primeiro, alinhar, botar atribuições novas em todas as situações e atribuições atuais: Técnico da CGU, Técnico da STN, AFC da CGU,

AFC da STN. A gente precisa regularizar isso. Todas as atribuições estão bem defasadas (E02).

Importa destacar que a forma com que se recruta servidores em carreiras estruturadas baseia-se nas atribuições do órgão e nas atribuições do cargo, razão pela qual tais atribuições requerem atualização (E15). “Por exemplo: você faz um concurso pra um cargo e o seu cargo, por lei, já tem aquelas atribuições. E a lei diz que você não pode fazer nada que esteja fora” (E20).

(...) hoje, a gente faz muito mais coisa do que tá lá na nossa portaria, que não foi atualizada; que ela é de 87! (...) o Tesouro cresceu muito e a gente tem que atualizar essa portaria. Até mesmo, de repente, pra segregar um pouco a parte de controle da parte de finanças (E15).

Com relação à segregação da carreira em duas distintas carreiras é uma necessidade que precisa ser urgentemente suprida pela Administração, tendo em vista as singularidades que diferenciam o perfil dos servidores que atuam nas áreas de Auditoria, Avaliação de Programa, Fiscalização, do perfil dos que atuam na formulação e implementação da política fiscal. Pode-se afirmar que essa diferença de perfil, por si só, justificaria a separação da carreira, ao menos do ponto de vista administrativo (E19).

Não obstante, há entraves de ordem legal que impedem que a questão seja racionalmente solucionada, haja vista o requisito constitucional que imporia aos atuais ocupantes dos cargos em questão a submissão a novo concurso público, condição que vem impedindo

o avanço da modernização da Carreira de Finanças e Controle no sentido de criar cargos próprios pra cada uma dessas áreas. (...) embora administrativamente seja justificável a separação dessas duas áreas dentro da Carreira, dada o perfil diferenciado de cada um deles, a questão jurídica, a questão constitucional, ela representa um entrave grave no avanço dessa questão, da solução pra essa questão (E19).

Outro aspecto considerado singular é o fato de estar a Carreira inserida ao Ciclo de Gestão, desde a reforma de 1995, como resultado do Programa de Modernização do Estado então implementado. Essa condição indicava o reconhecimento de que a Carreira fazia parte do ciclo orçamentário e financeiro do Poder Executivo Federal, o que fazia sentido até que outras carreiras, que nenhuma vinculação teriam com o referido processo, passaram a integrar o ‘ciclo’, quando outras que deveriam estar contempladas, dele foram excluídas (E03).

Nesse sentido, vale acrescentar que a criação de carreiras estruturadas no âmbito da Administração trazia oculto o propósito de diferenciá-las das demais categorias funcionais do Serviço Público (E17). Com isso, criou-se no Serviço público uma elite conhecida como

‘Carreiras Típicas de Estado’. Ocorre que, com o tempo, foi este conceito desvirtuado por interesses difusos, haja vista a quantidade de carreiras que hoje arroladas entre as CTEs.

(...) você criou carreiras estruturadas do Banco Central, pra Receita Federal, pro próprio Tesouro, pra CGU (...), puxadinhos que você foi fazendo, carreiras que você foi estruturando, pra se diferenciarem da vala comum, que era a situação dos demais Ministérios (E17).

Por essa razão, entende-se que faz mais sentido discutir carreiras no contexto dos Sistemas Estruturantes da Administração que, propriamente, as Carreiras Típicas de Estado, pois “se o Estado, (...) o governo federal, ele é sistêmico, essas carreiras fazem parte do ciclo de planejamento, execução orçamentária, execução financeira, controle. E o Banco central trabalhando na parte de política monetária” (E17).

A relevância conferida à CFC vem se refletindo na remuneração concedida aos seus integrantes, que hoje se encontra em patamar bastante próximo ao das carreiras mais fortes do Estado, como a da Receita Federal que também deveria integrar o Ciclo Orçamentário Financeiro (E03). Pode-se afirmar que, hoje, pertence a CFC à “elite do Estado” (E03), o que, em grande medida se deve ao desempenho global da Carreira no exercício das atividades típicas de Estado. Entretanto, não se pode vincular esse status ao desempenho do servidor, especificamente, mas ao desempenho da Carreira como um todo (E03).