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Aspectos geográficos x Universalidade do acesso:

UNIDADE SEXO PROFISSÃO TEMPO DE FORMAÇÃO

IV) INFLUÊNCIA DAS DEMANDAS COTIDIANAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE

IV. 5) Aspectos geográficos x Universalidade do acesso:

Através dos relatos, ficou evidente que aspectos como: distância da residência, bem como a forma de locomoção / transporte utilizado para o serviço de saúde e tempo de espera para atendimento influenciam positiva ou negativamente o acesso aos serviços de saúde.

Os relatos evidenciam que as condições de distância e de locomoção são vistas como fatores imperativos à sensação de adequação da oferta e de boas condições de prestação de serviços:

[...] Ahhh, eu me sinto bem! Satisfeita! Bom, pelo menos eu tenho um lugar mais perto [...] U 7

[...] Eu acho fácil Que eu não pago passagem, aí eu pego um ônibus aqui e vou lá... [...] U3

Pode-se considerar, portanto, que pequenas distâncias estimulam a busca por atendimento. Uglert (1987) sustenta esta afirmação ao citar que o grau de

acesso real aos serviços de saúde depende da distância que se deve percorrer para obtê-los, do tempo que leva a viagem e do seu custo.

A partir desta lógica, pode-se afirmar que situações como distância percorrida e condições de transporte geram desigualdades no acesso, exatamente por interferir na sua utilização, de forma a facilitar ou dificultar a concretização do atendimento pretendido. Oliveira et al (2004a) afirmam que a utilização se reduz à medida que aumenta a distância entre as pessoas que demandam atendimento e os serviços de saúde.

Dada a importância que estes fatores representam para a efetivação do atendimento, Uglert (1987) propõe a terminologia “acesso geográfico” como uma subcategoria de acesso caracterizado por forma de deslocamento, tempo de deslocamento e distância entre a residência do usuário e o serviço de saúde.

Já Oliveira et al (2004b) utilizam-se do termo acessibilidade, considerando- o como um dos componentes do acesso, aquele que relaciona a localização da oferta e dos usuários, considerados os meios de transporte destes e o tempo, a distância e os custos envolvidos no deslocamento. As autoras ainda consideram que a simples distância linear entre dois pontos pode representar mal a fricção do espaço, cuja intensidade é diferente dependendo dos meios disponíveis para transpô-lo (OLIVEIRA, 2004a).

Evidencia-se, portanto, que não somente a distância percorrida é fator interveniente para o acesso, mas também os meios de transportes disponíveis para efetivá-lo:

[...] eu só acho que lá no Pronto Socorro o que prejudica é a distância né? Que dependendo do horário a gente não tem um ônibus pra ir...né?....então assim...é...difícil mesmo é só a localidade, que ta muito afastado, você vê a distância daqui lá, a distância que não é! Isso complica né?[...] U6

[...] Ah, o que é difícil as vez é o andar pra pegar ônibus lá embaixo é que é difícil [...] U3

A relação do acesso, transporte e custo fica evidenciada na contradição dos relatos do usuário 3, dado que, em certo momento, ele relata que o transporte gratuito revela-se como fator facilitador quando busca o acesso aos serviços de saúde, ao mesmo tempo em que ressalta que a distância percorrida entre a sua residência e o ponto de ônibus torna-se desestimulante.

Neste sentido, como destaca Oliveira et al (2004a), além da distância e dos meios de transporte utilizados, a questão do custo parece também influenciar o acesso aos serviços de saúde. Ainda segundo as autoras, a “distância” deveria medir os custos de deslocamento em unidades de tempo ou de dinheiro, em vez de em quilômetros.

Sobre esses aspectos, Frenk (1985, apud Evangelista) sugere o termo acessibilidade, sendo este entendido como a relação funcional entre o conjunto de obstáculos (resistência) à busca e obtenção de atenção (distância, problemas de ordem financeira, formas de organização) e o correspondente poder de superação desses obstáculos por parte da população (poder de utilização) (EVANGELISTA, et al, 2008).

Desta forma, observa-se que distância, transporte e os custos gerados, quando o usuário parte em busca do atendimento, podem ser considerados fatores limitantes para a efetivação do acesso aos serviços de saúde. Ressalta-se ainda, como destaca Uglert (1987), que o fator geográfico é fundamental na origem da iniquidade, especialmente no que se refere a áreas rurais ou regiões periféricas de grandes cidades.

A partir dessas considerações e levando-se em conta a especificidade da localidade estudada, pode-se inferir que este seja um dos pontos de merecido destaque para melhoria do acesso e adequação da oferta.

Observou-se que, na unidade de saúde estudada, situada na zona rural, existiam residências distantes 13 quilômetros da sede da unidade, não havia transporte coletivo e o acesso era feito por ruas de barro, desprovidas de calçamento. Já a área urbana e central da cidade de Manhuaçu possui relevo montanhoso, o que faz com que as pessoas necessitem andar, por vezes, pequenas distâncias, em terreno irregular, em calçadas estreitas, com presença de buracos e em sua maioria íngremes.

A cidade parece ter crescido desordenadamente, sem planejamento urbanístico, às margens da Rodovia BR 262, onde inúmeras casas com aspectos inacabados, ainda no tijolo, podem ser vistas. Por estarem localizadas em vielas, muitas delas não possuem acesso para automóveis ou ônibus coletivos.

Como a cidade é cortada pela rodovia, é comum que os moradores necessitem atravessá-la para realizarem suas atividades; no entanto, para esta travessia não existem passarelas disponíveis. Além disso, a BR possui apenas

um sinal de trânsito na extensão da área urbana da cidade de Manhuaçu, ou seja, para cruzarem a pista da rodovia, os moradores necessitam atravessá-la aguardando a diminuição do trânsito na pista, ou a boa vontade de algum motorista em reduzir a velocidade nas faixas de pedestres localizadas em alguns pontos da BR.

Nestes termos, vale ressaltar que tais condições geram o que se pode chamar de barreira geográfica, cujo conceito deriva daqueles obstáculos naturais ou gerados pela implantação urbana orientadores da organização desses fluxos numa dada estrutura de circulação e que criam "distâncias relativas" que variam do nível local para o regional. (UNGLERT, 1987.)

Além disso, outro fator que deve ser considerado é a relação da localidade do serviço de saúde, número de habitantes da localidade e extensão territorial de cobertura. Existem, na cidade, regiões/bairros populosos que concentram, em uma pequena extensão territorial, um maior número de habitantes. Já outros, principalmente os da zona Rural, possuem um número menor de pessoas distribuídas em uma extensão territorial maior, o que confere maiores distâncias em relação às regiões centrais.

Desta forma, ao levar em conta somente o número de habitantes / famílias cadastradas, para efeito de cálculo de cobertura assistencial das unidades, corre- se o risco de superestimar a questão do acesso, entretanto este aspecto deve ser considerado pertinente. Sendo assim, para uma efetiva avaliação do acesso aos serviços de saúde, além da questão do transporte e dos custos, outros fatores devem ser considerados.

Estas considerações apontam que a questão do acesso aos serviços de saúde deve estar conjugada com outras instâncias do município, como Secretaria de Obras, Urbanismo e Transporte, de forma a permitir melhoria significativa nesta ordem; pois é visto que, apesar de a oferta parecer ser adequada, a dificuldade de transporte para percorrer as distâncias necessárias são evidentes, bem como a divisão urbana irregular da cidade, fatores interferem na utilização dos serviços de saúde.

V) O FAZER COTIDIANO E TECNOLOGIAS DE TRABALHO DOS