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Aspectos gerais da psicoacústica 2.1 Considerações gerais

Tabela 6.7 – Problemas de saúde referenciados pelos inquiridos 6.50 Tabela 6.8 – Distribuição dos inquiridos em função do andar da sua residência 6

Capítulo 2 Aspectos gerais da psicoacústica 2.1 Considerações gerais

Inicialmente, a psicoacústica compreendia o estudo das relações entre estímulos sonoros e as correspondentes respostas auditivas, o que possibilitou um progresso no conhecimento do funcionamento do sistema auditivo e respectiva modelação. Com a evolução das técnicas de tratamento do sinal, a psicoacústica passou também a ser considerada como uma ciência dos sons, em que se estudam as propriedades particulares de um som, também designadas por "atributos subjectivos", e em que o sistema auditivo constitui uma ferramenta para a análise do som [Guski, 1997]. Efectivamente, a psicoacustica estuda o relacionamento entre a percepção do som e as propriedades físicas das ondas sonoras.

Para a descrição física dos estímulos sonoros, utilizam-se grandezas como o nível de pressão sonora, a evolução no tempo, a evolução na frequência, enquanto que, para a caracterização das correspondentes sensações físicas, se utilizam descritores, como, por exemplo, a sensação de intensidade auditiva, a força de flutuação, a agudeza, etc. No entanto, é importante realçar que uma determinada sensação auditiva não é influenciada exclusivamente por uma única grandeza física. Por exemplo, o aumento da intensidade de um som puro provoca uma determinada variação na sensação de altura do som, uma vez que o atributo subjectivo altura é aproximadamente equivalente ao correspondente perceptivo da frequência, sendo também dependente da intensidade [Genuit et al., 2007]. As actividades de investigação científica relacionadas com a psicoacústica distribuem-se fundamentalmente entre os campos da pesquisa fundamental e das aplicações. No que respeita à pesquisa fundamental, este campo integra a descrição dos mecanismos da percepção auditiva e o impacto perceptivo dos estímulos sonoros. Relativamente às aplicações, a psicoacústica toca todos os domínios onde o auditor humano é o recipiente principal (audiologia, qualidade sonora de produtos, ambiente, comunicações). Essencialmente, pode considerar-se que em psicoacústica se trabalha num mundo duplo, constituído por uma parte física e uma parte psicológica. O foco da investigação em psicoacústica reside no estabelecimento de uma relação entre um evento acústico e a

respectiva percepção auditiva, procurando-se estabelecer correspondências entre o domínio físico (evento acústico), cujas características são mensuráveis, e o domínio sensorial, onde o escalonamento de sensações é realizado com a ajuda de métodos quantitativos específicos.

No campo da psicoacústica, o desenvolvimento dos algoritmos utilizados é baseado em dados obtidos em sessões de escuta de estímulos sonoros, planeadas de modo a explorar a relação entre os parâmetros acústicos e as sensações humanas. Para um participante neste tipo de sessões, a grande dificuldade na avaliação de um som reside no facto de os indivíduos não estarem habituados a realizar este tipo de tarefas, sendo necessário proceder-se previamente a uma aprendizagem. Assim, os participantes numa sessão de escuta são habitualmente distribuídos em grupos qualificados e não qualificados [Bismark, 1974]. Para um indivíduo, de um modo geral, um som é percebido inconscientemente como parte da impressão global de um cenário. Só em situações extremas, como, por exemplo, a exposição a níveis sonoros muito elevados ou muito baixos, é que essa pessoa reflectirá sobre o ambiente sonoro. A percepção sonora pode ser considerada como a recolha activa de informação, cuja tarefa é constituída pela focalização do indivíduo em partes do ambiente global. Porém, se outros indivíduos ouvirem o mesmo som, a informação extraída do sinal poderá ser distinta, desde que estes últimos não estejam directamente relacionados com a actividade que produz o som. Este facto conduz novamente à distinção entre som desejado (ou informação) e som não desejado (ou ruído). Um sinal cuja intensidade excede a amplitude exigida, sem transmissão de informação, é essencialmente conotado com o atributo de incomodativo [Kuwano e Namba, 2001].

Actualmente as características físicas da conversação humana, da música e do ruído podem ser avaliadas com uma exactidão considerável, pela utilização de um conjunto de instrumentação actualmente disponível (por exemplo, microfones, sonómetros, analisadores espectrais, filtros, osciloscópios), sendo os resultados destas medições expressos em termos de parâmetros físicos. No que respeita às características interpretativas da audição, estas são expressas por parâmetros subjectivos, determinados pela realização de experiências, em condições de audição pré-definidas. Os resultados destas experiências, conduzem a previsões estatísticas sobre as avaliações subjectivas de um conjunto de auditores ontologicamente normais [Guski, 1997].

A aplicação mais generalizada da psicoacústica, a avaliação da qualidade sonora de produtos, depende de três aspectos fundamentais: aspectos de acústica relacionados especificamente com engenharia mecânica e física; aspectos de psicoacústica referentes as inter-relações entre o estímulo sonoro e a correspondente percepção; e aspectos relacionados com os efeitos psicológicos e correspondentes regras que determinam o processo de julgamento pelo qual a qualidade sonora é avaliada [Genuit e Fiebig, 2006]. Neste caso, assume-se que os indivíduos participantes nas sessões de escuta realizadas em laboratório são capazes de avaliar algumas características do estímulo sonoro em estudo, de tal modo que possibilite a monitorização cuidada de efeitos da cognição e emoção, permitindo a sua contabilização na apreciação global da qualidade sonora. Nestas situações, é possível a utilização de atributos, como, por exemplo, a sensação de intensidade auditiva (loudness), rugosidade (roughness), agudeza (sharpness), força de flutuação (fluctuation strength) e tonalidade (tonality) na avaliação da “qualidade” dos estímulos sonoros. Este facto permite considerar que a qualidade sonora não é um parâmetro absoluto, mas orientado em direcção a um produto específico e respectivos grupos de utilizadores. A sua avaliação deve ser expressa como um problema multidimensional que requer o conhecimento de aspectos auditivos e físicos do estímulo sonoro e de factores cognitivos e emocionais.