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Medidas de minimização do ruído de tráfego rodoviário em zonas urbanas

h r a altura do receptor:

3.3 Medidas de minimização do ruído de tráfego rodoviário em zonas urbanas

3.3.1 Introdução

Para a gestão e redução das emissões sonoras e respectiva exposição das populações, podem ser distinguidas diferentes categorias de medidas de minimização de ruído, designadamente, no âmbito de medidas para a redução do ruído na fonte, no âmbito de medidas para a redução da propagação do ruído o mais próximo possível da fonte, de

modo a proteger um maior número de pessoas, e no âmbito das medidas de minimização do ruído no receptor. Assim, tem-se:

1) Na fonte:

Adopção de pavimentos rodoviários com características absorventes sonoras, sistemas de gestão do tráfego (utilização de sistemas de controlo de tráfego de sinalização sincronizada, a adopção de medidas de alteração de tráfego, com a introdução de zonas de baixa velocidade de circulação rodoviária, zonas de restrição ao tráfego de veículos pesados, e introdução de rotundas), a adopção de pneus com baixa emissão de ruído e/ou adopção de comportamentos de condução rodoviária mais favoráveis. A nível europeu este tipo de medidas é essencialmente introduzido no âmbito de directivas comunitárias.

2) Na propagação:

Planeamento do uso do solo e respectiva gestão (por exemplo, a partir da definição de zonas sensíveis ao ruído, a que estão associadas limites de ruído), construção de edifícios com usos comerciais ou de serviços funcionando como barreiras acústicas relativamente a edifícios de habitação, implantação de barreiras acústicas e túneis, utilização de vegetação para protecção acústica, cuja função se situa essencialmente ao nível da incomodidade e da agradabilidade do ambiente, em vez da redução física do ruído.

3) No receptor (a utilizar somente se as outras medidas são ineficazes):

Reforço do isolamento sonoro dos edifícios, disposição urbanística do edificado mais favorável ao aparecimento de zonas ambientalmente favorecidas em termos de níveis sonoros, com a introdução de fachadas “calmas”, organização da compartimentação interior de modo a que os espaços mais sensíveis ao ruído (quartos e zonas de estar) estejam mais protegidos.

A primeira categoria de medidas de minimização de ruído na fonte é claramente a mais eficaz e a que apresenta uma relação custo-eficácia mais favorável. Além disso, existe um conjunto de medidas sócio-economicas que podem ser consideradas, tais como a

introdução de taxas de ruído, incentivos económicos à utilização de veículos menos ruidosos e a redução da necessidade de transportes. No entanto, para uma decisão sustentável de quais as medidas a implementar para a redução da poluição sonora, a percepção dos cidadãos é um factor chave a ter em consideração. É, de facto, importante saber como o ruído é apercebido pelas populações e como esta análise é traduzida em termos de mapas de ruído, para que seja possível optar pelo melhor tipo de medidas que efectivamente poderão diminuir a incomodidade apercebida.

No âmbito do projecto SILENCE (Sustainable Development, Global Change & Ecosystems), integrado no 6º Programa Quadro de I&D da União Europeia, foi realizada investigação sobre o estado da arte das políticas e ferramentas para a redução de ruído nas cidades [Vancluysen et al., 2005]. Neste contexto, foi efectuada uma síntese das estratégias planeadas para a redução do ruído devido aos sistemas de transporte em cidades europeias. Salienta-se o caso da cidade de Barcelona, em que grande parte da estratégia de redução do ruído assenta na informação e no despertar dos cidadãos para o problema do ruído. De facto, este problema é paradoxal, uma vez que as pessoas sofrem devido ao ruído e, no entanto, são elas que o produzem. Assim, o referido programa de redução de ruído assenta em três modos distintos de actuação, respectivamente:

─ Implementação de uma estratégia com o intuito de despertar a atenção e comunicação com as populações, englobando acções de promoção de transportes públicos, campanhas de alerta dos cidadãos relativamente ao ruído, campanhas nas escolas e cooperação com associações de cidadãos.

─ Implementação de estratégias de correcção, em que se incluem acções de correcção de situações inadequadas por meio de legislação, controlo e sanções, subdivididas em três programas de intervenção:

a) programa de correcção do ruído de fundo (infra-estruturas, licenças de actividade, frotas de carros municipais, extensão de ciclovias, promoção de partilha de carros por meio de associações e revisão da sincronização de semáforos );

b) programa de correcção de sons de pico, de fontes móveis (transportes de mercadorias, motociclos e automóveis, por meio do estabelecimento de programas para a detecção de veículos ruidosos, respectiva inspecção e execução de acções legais, e renovação do parque de motociclos);

c) programa de correcção de sons de pico de fontes estacionárias (actividades de lazer nocturnas e trabalhos de construção);

─ Implementação de estratégias de coordenação, que englobem acções de todos os intervenientes a nível municipal.

Deste modo, pode-se dizer que existem três instrumentos para a redução do ruído, designadamente: informação dos agentes que provocam o ruído e aos cidadãos sobre a sua importância (em que se incluem a indicação sobre boas praticas de redução de ruído); o recurso a programas para obtenção de compromissos para a redução de ruído (por exemplo, com os serviços médicos, companhias de transporte e estações de reparação de automóveis) e de responsabilização por parte dos produtores do ruído, assim como a cooperação dos indivíduos implicados; e, finalmente, o recurso a actividades de controlo e estabelecimento de sanções, em que o produtor de ruído é informado sobre o problema causado e, caso não haja lugar à correcção devida, seja aplicada uma sanção, de acordo com a legislação em vigor.

A título informativo, no que respeita a medidas mais técnicas, relacionadas com as infra- -estruturas rodoviárias, refira-se a adopção de pavimentos com características de absorção sonora, que permitem reduzir os níveis sonoros entre 2-3 dB(A), podendo atingir valores de 4-5 dB(A) para velocidades médias superiores a 50 km/h, a implementação de barreiras acústicas, e a utilização de janelas de vidro duplo.

Resumidamente, pode-se dizer que, para a redução dos níveis sonoros em zonas urbanas, poderão ser utilizadas estratégias quer de longo prazo, quer de curto prazo. As acções continuadas de sensibilização e educação dos cidadãos, que englobam a informação dos cidadãos, em geral, dos alunos nas escolas, em particular, por integração da componente do ruído nos programas escolares de educação ambiental, geram uma maior aceitação dos princípios e soluções para controlo de ruído, embora só produzam efeitos a médio e longo prazo. Tendo em conta que em zonas urbanas o ruído de tráfego rodoviário é predominante, salienta-se a importância de uma adequada politica de gestão de tráfego, que inclua restrições à travessia e/ou acesso de veículos pesados, concentrações de tráfego em determinados eixos e diferenciação de velocidades de circulação com a criação de zonas de velocidade reduzida. As acções de educação dos condutores, relativamente ao seu comportamento na estrada, também se pode revelar

importante. As intervenções a nível urbano passam pela estratégia do uso dos solos e de tipos de ocupação dos edifícios, implantação dos edifícios e sua disposição arquitectónica, planeamento das vias de tráfego, política integrada de transportes e de acessos de veículos.

No que respeita a medidas com efeitos a mais curto prazo, estas englobam a adopção de tipologias de pavimentos com características de absorção sonora ou, em casos especiais, nas proximidades de vias de tráfego intenso, o recurso a barreiras acústicas ou então de uma solução de encapsulamento total da fonte (túneis). Refira-se contudo que o redesenho dos grandes eixos viários com aproveitamento de desníveis e muretes poderá conduzir a atenuações sonoras importantes.

3.3.2 Pavimentos com características absorventes sonoras

No que respeita ao estado de conhecimentos no âmbito de pavimentos com características melhoradas de absorção sonora, designados doravante nesta dissertação como “pavimentos pouco ruidosos”, apresenta-se de seguida uma descrição das realizações práticas deste tipo de superfícies, a qual é subdividida em três categorias, tendo em conta o tipo de optimização introduzida para a redução dos níveis sonoros: superfícies optimizadas a nível de textura; superfícies porosas (drenantes) e superfícies elásticas [Descornet et al., 2000].