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Tabela 6.7 – Problemas de saúde referenciados pelos inquiridos 6.50 Tabela 6.8 – Distribuição dos inquiridos em função do andar da sua residência 6

1.1 Considerações gerais

Estima-se que 80% dos cidadãos europeus vivem em zonas urbanas, devendo, para a obtenção nestas zonas de uma elevada qualidade de vida, o ambiente ser considerado como um elemento essencial neste processo [CCE, 2004]. De entre os vários descritores ambientais, o ruído é uma das principais causas da degradação da qualidade do ambiente urbano, devido, em parte, ao facto de a sua presença poder ser imediatamente apercebida pelo ser humano e também poder facilmente ser conotada de incomodativa, ao contrário do que sucede, por exemplo, com alguns poluentes atmosféricos.

São inúmeras as fontes sonoras fixas ou móveis, temporárias ou de carácter permanente que influenciam o ambiente sonoro das zonas urbanas. No entanto, o ruído de tráfego rodoviário constitui a fonte de ruído mais generalizada e importante em áreas urbanas. Esta hipótese é sustentada, por um lado, nos resultados das medições dos níveis sonoros correspondentes e na incomodidade induzida pelo ruído de tráfego rodoviário, nos habitantes das zonas urbanas [Garcia, 2001]. Em segundo e terceiro lugar de importância, aparecem, respectivamente, o ruído de tráfego aéreo e de tráfego ferroviário. Outras fontes de ruído importantes para o ambiente sonoro em zonas urbanas são o ruído provocado pelo funcionamento das actividades industriais e o ruído provocado por trabalhos de construção civil, embora esta última fonte esteja mais irregularmente distribuída e tenha um carácter temporário. Finalmente, no espaço urbano existe uma grande variedade de outras fontes sonoras, decorrentes da actividade humana e geralmente caracterizadas pela sua natureza esporádica e singular, como por exemplo as sirenes das ambulâncias, os sinais sonoros provocados por sistema contra- intrusão e o ruído provocado por sistemas centralizados de ventilação de edifícios. Em consequência da elevada densidade populacional e complexidade da malha urbana, é nas grandes cidades que existe uma maior sensibilidade ao ruído, sendo que a coexistência de uma ocupação sensível e de actividades ruidosas, pode conduzir a uma situação de conflito entre os habitantes e a respectiva percepção do meio ambiente.

Tradicionalmente, a influência do ruído na qualidade de vida do ser humano foi estudada centrando-se nos efeitos negativos que este descritor ambiental provoca, designadamente a incomodidade e a perturbação do sono [Berglund e Lindvall, 1995]. Por iniciativa da União Europeia foram desenvolvidos estudos [Miedema et al., 2001] no sentido de estabelecer relações entre a exposição ao ruído e incomodidade, para os diferentes modos de transportes. No entanto, ao confrontar as relações assim obtidas, com inquéritos sócio-acústicos, constata-se um nível de correlação muito baixo entre as duas variáveis. Este facto permite salientar a importância da influência de factores não- acústicos para a compreensão dos julgamentos e atitudes de cada indivíduo face ao ruído.

Um outro tipo de abordagens sobre o meio ambiente sonoro tem em conta que os espaços urbanos incluem uma combinação complexa de sons “agradáveis” e “desagradáveis”, dependendo a sua avaliação subjectiva não só da intensidade sonora correspondente, mas também do contexto em que são percebidos e dos significados sociais e culturais que lhe são atribuídos pelos indivíduos. Neste contexto, foi introduzida e desenvolvida por [Schafer, 1977] a noção de “paisagem sonora”, que traduz de um ponto de vista auditivo o ambiente urbano, de modo similar que a forma e as cores estão ligadas com a paisagem visual, colocando o receptor humano no seu centro.

Para a descrição da paisagem sonora de um espaço é necessário ter em conta diversos aspectos, entre os quais se salienta a caracterização das fontes sonoras presentes. Neste âmbito, deve considerar-se para cada fonte sonora, o nível de pressão sonora emitido, o seu espectro, as variações temporais (número de eventos, correspondente duração e eventual existência de características impulsivas), a sua localização e respectiva distância ao receptor, assim como o seu movimento. Também importante para esta descrição é a associação a cada fonte de determinadas características psicológicas e sociais que poderão modificar a percepção do som emitido, como, por exemplo, a sua natureza (som artificial e/ou som natural), e o significado que lhe é atribuído, assim como a sua relação com as actividades que são desenvolvidas nesse espaço.

Outros aspectos a ter em conta para a descrição da paisagem sonora são a morfologia do espaço urbano, uma vez que os elementos da paisagem e os elementos de fronteira (caso de edifícios) podem originar reflexões múltiplas das ondas sonoras, de modo a afectar a qualidade sonora de um determinado local, e a influência de elementos de

arquitectura como por exemplo a introdução de vegetação nas fachadas dos edifícios e no solo, de modo a aumentar o coeficiente de difusão do som incidente e reduzir os níveis de ruído.

Igualmente importantes na descrição da paisagem são os aspectos sociais, onde se podem incluir características como o grupo etário, local de residência, sexo, códigos sociais de vizinhança, o tipo de ambiente sonoro doméstico e laboral, assim como o modo e estilo de vida, critérios culturais em relação ao ruído e educação dos indivíduos. Finalmente, há que ter em conta a interacção entre aspectos visuais e auditivos na apreciação de paisagens sonoras. Alguns estudos efectuados [Viollon, 2000] constataram a dependência da apreciação dos registos sonoros com o tipo de urbanização presente numa imagem, verificando-se, para determinados sons, uma depreciação da avaliação dos registos sonoros quanto maior for o grau de urbanização presente.

Neste contexto, o desenvolvimento de uma metodologia para a avaliação qualitativa do ambiente sonoro constitui assim um contributo essencial para o desenvolvimento sustentável de zonas urbanas, uma vez que a caracterização das paisagens sonoras urbanas e o estudo do conforto acústico de espaços exteriores se centram nas relações entre os estímulos físicos, o ser humano, o ambiente sonoro e a sociedade. Tendo em conta que o de tráfego rodoviário é a principal fonte sonora em zonas urbanas, a avaliação da sua percepção é um aspecto fundamental para a correspondente avaliação do ambiente sonoro.