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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A Gestão de Resíduos Sólidos

2.1.4 Aspectos Gerais de Biossegurança

No início do século XX, surgiu o emprego do termo Biossegurança, que é uma medida voltada ao controle e à minimização de riscos de práticas aplicadas aos laboratórios ou ao meio ambiente. Existem diversos países que regulamentaram leis e procedimentos, como é o caso do Brasil, cuja legislação engloba apenas a tecnologia de Engenharia Genética (tecnologia do DNA ou RNA recombinante) e estabelece os requisitos para o manejo de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), a fim de que se possa permitir o desenvolvimento sustentado da biotecnologia moderna (Ambientebrasil 2007).

O órgão que presta apoio técnico consultivo e assessora o governo federal na questão da biossegurança é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Essa comissão tem auxiliado na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a OGMs, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos referentes à proteção humana e ambiental “[...]para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivados [...]” (COMISSÃO TÉCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA, 2007).

No Brasil, a norma que se refere a alguns aspectos da biossegurança é a Norma Reguladora NR32/2005, do Ministério do Trabalho, a qual aborda questões de segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Nela, estão presentes os detalhamentos dos riscos biológicos e químicos.

Risco biológico é considerado como a “[...]probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos [...]”, cujos agentes são classificados em (MTE, 2005):

Classe de risco 1: baixo risco individual para o trabalhador e para a coletividade, com

Classe de risco 2: risco individual moderado para o trabalhador e com baixa

probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças ao ser humano, para as quais existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Classe de risco 3: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade de

disseminação para a coletividade. Podem causar doenças e infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com probabilidade

elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Tanto para os riscos biológicos quanto para os químicos, deve-se ter um Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA), no qual constam as preocupações mínimas para identificação dos riscos e avaliação do local de trabalho. Segundo a Norma Regulamentadora (NR) - 9, de 15/02/1995, que aborda sobre o PPRA, deve-se desenvolver este programa toda vez que um funcionário/colaborador tiver a possibilidade de sofrer riscos ambientais. O PPRA visa à proteção da saúde do trabalhador, juntamente com a preservação dos recursos naturais. Este programa deve ser reavaliado anualmente, ou toda vez que ocorrer: i) alguma alteração nas condições de trabalho; ii) acidente ocupacional, ou acidental.

Neste caso, o Plano de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) deve conter informações sobre as medidas de descontaminação do local, a identificação dos responsáveis por essa descontaminação, o tratamento de emergência aos trabalhadores, os estabelecimentos de suporte médico (vacinas, remédios necessários, insumos especiais e certos materiais) e as medidas de proteção pós-contaminação (Atlas, 2008).

No caso dos RSS, além da NR-9, deve-se implementar a NR-32, revisada em16/11/2005, nos estabelecimentos de saúde, pois ela aborda sobre a segurança e saúde do trabalho em serviços de saúde. A NR-32 aponta o campo de aplicação da presente norma, as situações que possibilitam os riscos biológicos e químicos, os procedimentos a serem providenciados, a atuação do PCMSO, a postura do emprego frente a uma dessas situações de risco, a capacitação do funcionário, mas sobretudo, o manuseio seguro dos resíduos gerados (Atlas, 2008).

Essa norma esclarece e reforça a preocupação dos responsáveis da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) quanto ao tipo de resíduo gerado, que exige procedimentos específicos desde a segregação, acondicionamento e coleta internos até a disposição externa para coleta. Cabe ressaltar que constam, nos anexos da NR-32, informações sobre a classificação dos agentes biológicos, um glossário dos termos citados e uma lista de prazos para o cumprimento das recomendações apontadas nessa norma regulamentadora.

Observa-se que existem procedimentos, normas e leis difundidos sobre a importância da biossegurança no país. Entretanto, existem poucos estudos que demonstram uma relação direta ou indireta entre o tipo de RSS gerado e os riscos à saúde ambiental e humana associados a esses resíduos.

Takayanagui (2005a) constatou, em seu levantamento sobre causa e efeito das doenças, que não basta apenas o indivíduo estar em contato com o agente patogênico para ele contrair uma doença, mesmo sabendo que os micro-organismos podem sobreviver no ambiente dos RSS. O risco de contaminação existe, porém são necessários que outros fatores (ambientais, culturais, econômicos e sociais) e procedimentos de manuseio sejam analisados para determinar a relação do processo saúde-doença. Desta forma, verificar esses aspectos é uma forma de prevenir doenças e garantir a segurança do funcionário no ambiente de trabalho.

Em outro estudo realizado pela mesma autora, foi possível investigar quais e quantas publicações relacionam a periculosidade dos RSS ao risco de contaminação. Foram identificados 26 artigos publicados em revistas indexadas internacionalmente que estabeleciam essa relação, principalmente para os resíduos do grupo A (infectantes) e E (perfurocortantes). Desses artigos, aproximadamente 88,5% informavam que os RSS representam um meio de contaminação, devido às suas causas epidemiológicas, biológicas, químicas e/ou físicas; o que pode contribuir para aumento das doenças (Takayanagui, 2005b).

Diante deste quadro, torna-se evidente que com a falta de planejamento ou a execução de um gerenciamento inadequado dos RSS, sobretudo, nos aspectos de biossegurança, pode-se favorecer um meio para transmissão de doenças infecciosas pelos resíduos gerados. Este ciclo de implicações deve ser minimizado com uma efetiva gestão dos RSS nos estabelecimentos geradores, porque a redução dos impactos (ambientais e da saúde humana) depende do conhecimento de procedimentos, do uso de instrumentos / equipamentos necessários e medidas de monitoramento das informações sintetizadas e da aplicação de normas e leis, para, finalmente, atingir a qualidade no serviço prestado e o desempenho desejado.

Com relação à identificação de riscos por produtos perigosos, como é o caso dos RSS, a ABNT elaborou a Norma Brasileira (NBR) 7500, que estabelece a simbologia convencional para os rótulos de produtos perigosos em embalagens e em veículos utilitários.

A NBR 7500 trata do tipo de sinalização do transporte terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos e rótulo de embalagens. Dentre as recomendações pertinentes aos riscos e segurança de resíduos, vale destacar alguns (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005):

• “[...]Os rótulos de risco e os painéis de segurança devem ser de material impermeável, resistente a intempéries, que permaneça intacto durante o trajeto[...]”.

• Os rótulos de risco são divididos em duas metades. A parte superior do rótulo deve exibir o símbolo de identificação do risco (pictograma) e a inferior, exibir o número da classe ou subclasse e grupo de sua compatibilidade;

• Para substâncias tóxicas (venenosas) e infectantes, usa-se a classe 6 (sub-classe 6.1 ou 6.2). O símbolo deve ter fundo branco, linha de contorno preta (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Símbolo de risco para resíduos infectantes.

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2005).

As medidas do rótulo atendem a uma modulação específica, conforme a dimensão das embalagens ou veículo de transporte. Essa norma também apresenta seus critérios para o uso desses rótulos de risco, dos painéis de segurança, dos rótulos especiais e dos símbolos de risco e de manuseio.