2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.3. Gestão de Qualidade no Meio Ambiente
2.3.1 Padronização de Qualidade e de Gestão Ambiental
A International Organization for Standardization (ISO), com sede em Genebra, Suíça, cria e institui o processo de normalização (ou normatização) no mundo. As normas existentes são aplicáveis a diferentes segmentos, variando de normas e especificações de produtos, matérias-primas, em todas as áreas como, por exemplo, hotéis, produção de café, usinas nucleares, entre outros. Mas a ISO ficou mais conhecida com a série 9000, principalmente, por tratar-se de Sistemas para Gestão e Garantia da Qualidade nas organizações (SGQ Consultoria, 2006).
Há 2 tipos de padrões ISO, segundo Harrington & Knight (2001):
1) Padrão Normativo: especificam requisitos passíveis de auditoria e que são exigidos para certificação. É o caso das normas ISO 9000 e ISO 14000;
2) Padrão Informativo: apenas orientam, não sendo exigidos para certificação.
A norma ISO 9000 foi lançada no Brasil em 1990 pela ABNT, cuja revisão foi realizada em 2000. Em 1996, foi lançada a norma ISO 14000, que vem sendo incorporada por instituições que pretendem manter-se competitivas na área de meio ambiente, pois essa série define os principais elementos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
2.3.1.1. Série ISO 9000
A série ISO 9000 foi elaborada com a finalidade de tratar do manejo da qualidade, assegurando que o produto esteja em conformidade com as exigências do consumidor (EMBRAPA, 2006a).
Essa norma estabelece alguns critérios para atender a satisfação do cliente e do consumidor, por meio das seguintes ações (SGQ Consultoria, 2006):
a) comprometimento da empresa com a qualidade, desde a alta administração até os operadores de chão de fábrica;
b) gerenciamento adequado dos recursos (humanos, tecnológicos, naturais e materiais) necessários para as operações do negócio;
c) existência de procedimentos, instruções e registros de trabalho, formalizando todas as atividades que afetam a qualidade;
d) monitoramento dos processos por meio de indicadores;
e) tomada de novas ações, quando os objetivos pré-estabelecidos não forem alcançados.
A série da família ISO 9000 inclui as normas ISO 9001, ISO 9002 e ISO 9003, as quais dependem do interesse a ser certificado por cada organização, considerando as suas atividades no processo de gestão. Assim, caso a organização seja responsável pelo produto desde a fase do projeto até o pós-venda, ela poderá optar em se adequar à ISO 9001 (Bido, 1999).
Segundo a DNV Brasil (2006), a norma ISO 9001 é genérica e não é uma norma de produto, porém, pode ser aplicada a qualquer ramo da manufatura ou prestação de serviços. Tem o objetivo de estabelecer exigências que possibilitem um nível internacional para Sistemas de Gestão de Qualidade (SGQ). Os pontos mais importantes dessa norma são:
• Sistema de Gestão de Qualidade;
• Responsabilidade na Administração;
• Gestão de Recursos;
• Geração do Produto;
• Mensuração, Análise e Aperfeiçoamento.
A norma ISO 9001 estabelece os requisitos para assegurar a qualidade de processos, ou seja, estabelece critérios para: a) agregar confiabilidade ao produto; b) atender as necessidades do cliente; c) atentar para a conformidade na produção; d) orientar o acompanhamento por processo relevante para a qualidade; e) ser aplicável a processo ou a parte da organização (EMBRAPA, 2006a).
Para a certificação de qualidade, não importa o que a organização faz, seu tamanho ou se pertence ao setor público ou privado (EMBRAPA, 2006a). Essa norma é descritiva e define
os requisitos técnicos que devem ser implementados para o sistema de qualidade, tais como os procedimentos, os registros, a manutenção e as auditorias. Seu enfoque está na conformidade e não no desempenho (Umeda6, 1996 apud Bido, 1999).
2.3.1.2. Série ISO14000
Um SGA pode ser definido como (Harrington & Knight, 2001):
[...] parte do sistema global de gestão que inclui a estrutura organizacional, o planejamento de atividades, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, adquirir, analisar criticamente e manter a política ambiental da organização.
Esses autores afirmam que o processo de aprimoramento do SGA, denominado melhoria contínua, visa atingir melhorias no desempenho ambiental, de acordo com o estabelecido em sua política ambiental (declaração da empresa sobre suas intenções e princípios para seu desempenho ambiental, com base em metas e objetivos definidos).
O SGA pode ser representado, resumidamente, com os elementos-chave (grupos de normas) que constroem este sistema (Figura 2.8).
Figura 2.8 – Pirâmide do Sistema de Gestão Ambiental
Fonte: Harrington & Knight (2001)
6 UMEDA, M (1996). ISO e TQC: o caminho em busca do GQT. Belo Horizonte-MG: Fundação Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG.
Política e Comprometimento Ambientais Melhoria
Contínua
Análise Crítica
Auditoria e Ações Corretivas
Processo de Gestão Ambiental
Fica evidente que a base do SGA é a política ambiental, cujo comprometimento parte da alta administração para os demais chefes e funcionários. As metas e os objetivos são detalhados no segundo nível e, a partir dos interesses estabelecidos anteriormente, inicia-se o processo de gestão (3º nível). É nesta etapa do sistema que se desenvolve a análise de desempenho da organização e, com as auditorias, algumas discrepâncias observadas no processo podem ser corrigidas (4º nível). No penúltimo nível, a análise crítica funciona como um meio de conduzir as garantias do sistema em relação ao que foi estabelecido. Por fim, no topo da pirâmide está o principal compromisso da organização para o pleno funcionamento do sistema que é a melhoria contínua (6º nível), a qual será obtida ao longo dos níveis anteriores.
Além disto, as normas da série ISO14000 permitem que a instituição consiga controlar e administrar com sucesso os elementos-chave do processo de produção da organização e identifique as falhas, as melhorias necessárias e as oportunidades de aperfeiçoamento.
De modo geral, a norma ISO 14001 orienta o SGA (EMBRAPA, 2006b), pois:
1. Avalia as consequências ambientais das atividades, produtos e serviços da organização;
2. Atende a demanda da sociedade;
3. Define políticas e objetivos baseados em indicadores ambientais, os quais retratam as necessidades de adequação ambiental, desde a redução das emissões de poluentes até a utilização racional dos recursos naturais;
4. Implica redução de custos, prestação de serviços e prevenção;
5. É aplicável às atividades com potencial de efeito no meio ambiente e à organização como um todo.
Essa norma permite estabelecer o que precisa ser feito e definir a política ambiental em um plano de estruturação da organização. Assim, é fundamental desenvolver mecanismos para o alcance dessas diretrizes, objetivos e metas. Para medir, monitorar e avaliar a desempenho da organização, alguns critérios, parâmetros e métodos devem ser estabelecidos para verificar o funcionamento do SGA (Ambientebrasil, 2006).
Em outras palavras, o SGA é um meio de aperfeiçoar o uso dos recursos (humanos, tecnológicos, financeiros, naturais) com instrumentos de medida e avaliação do sistema, para que se estabeleça a responsabilidade de todos com o objetivo de que a organização mantenha-se competitiva no mercado.
Como ressaltam Harrington & Knight (2001), outras normas relacionadas ao SGA são: • 14004: SGA- diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio; • 14010 a 14012: Diretrizes para auditoria ambiental;
• 14021 a 14025: Rótulos e atestados ambientais; • 14031: Avaliação de Desempenho Ambiental;
• 14032: Avaliação de Desempenho Ambiental - Exemplos; • 14040 a 14043: Análise do Ciclo de Vida;
• 14050: Vocabulário de Gestão Ambiental;
• 14061: Guia para orientar organizações florestais para as normas ISO14001 e ISO14004.
Os mesmos autores enfatizam a necessidade das entidades elaborarem seu próprio sistema, procurando atender o mercado, a gestão da conformidade, os incentivos reguladores, a redução da responsabilidade e do risco, o melhor acesso ao seguro e ao capital de baixo custo, a melhoria na eficiência do processo e no desempenho ambiental, a melhoria na gestão global, a redução de custos e aumento de receita, a melhoria nas relações com os clientes, fornecedores, funcionários, a melhoria da imagem pública e a busca pelo desenvolvimento sustentável.
Segundo as orientações constantes na norma ISO14031 (CHILE, 2002), a avaliação de desempenho ambiental está baseada no modelo de gestão Plan-Do-Check-Action. Na fase de planejamento, recomenda-se utilizar indicadores novos ou existentes para avaliar o desempenho ambiental. Para realizar a avaliação, recomenda-se coletar os dados de interesse; analisar e convertê-los em informações que descrevam o desempenho ambiental da organização para, em seguida, divulgar tais informações. As últimas fases de verificação e ação representam a revisão e adequação da avaliação de desempenho
Neste contexto, pode-se observar que diferentemente da ISO9000, a série 14000 permite, entre outras vertentes, aplicar a avaliação de desempenho ambiental em qualquer tipo
de organização, independente de seu porte e capital de investimento. São diretrizes organizacionais que auxiliam a investigação de procedimentos, de recursos, de pessoal e de tecnologia envolvidos, visando auxiliar ferramentas de avaliação e mensuração. A ISO 14031 é uma norma que direciona os caminhos para o levantamento das informações desejadas e colabora com a avaliação do desempenho por meio de indicadores. No entanto, não são apresentados os indicadores ideais, pois cada processo de gestão deve construir o seu conjunto de indicadores, conforme as informações necessárias e disponíveis à avaliação.
A apresentação mais apurada dessa norma e do uso de indicadores para avaliar o desempenho ambiental está melhor detalhada no item Indicadores de Gestão Ambiental.