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Aspectos gerais dos meios de comunicação em massa

3 MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA NAS DECISÕES PROFERIDAS PELO CONSELHO

3.1 Aspectos gerais dos meios de comunicação em massa

Mídia, em português segundo o Dicionário Aurélio (2008, p. 337) significa: “designação genérica dos meios, veículos e canais de comunicação, como por exemplo, jornal, revista, rádio, televisão, outdoor, etc”.

Finda a II Guerra Mundial em 1948, durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, representantes da maioria das nações mundiais, ratificaram a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em que se assegurou, em seu artigo 19, a liberdade de expressão a todo homem.

Art. 19 - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

No Brasil, a primeira Lei de Imprensa surgiu em 20 de setembro de 1830, sendo substituída pela segunda Lei de Imprensa, através do decreto nº 24776 de 14 de julho de 1934, baixado por Getúlio Vargas, o qual atentou contra a liberdade da imprensa veicular notícias.

Tal situação de censura perdurou até 1945, quando, findada a ditadura, voltou a ter vigência a primeira Lei de Imprensa, que, por sua vez, somente sofreu revogação em 12 de dezembro de 1953, com a promulgação da Lei Nº 2083.

Em 1967, no dia 9 de fevereiro a Lei nº 2083 foi revogada pela conhecida Lei nº 5250, a qual, no dia 30 de abril de 2009, foi considerada inconstitucional por quatro votos a três no Supremo Tribunal Federal, em razão de cercear a liberdade de expressão.

Assim, o Brasil, como inúmeros países desenvolvidos, atualmente não dispõe de uma lei específica que apresente freios à atividade de informar, se sujeitando os veículos de comunicação à aplicação substituta do Código Civil e do Código Penal Brasileiro.

A liberdade de pensamento, assegurada no artigo 5º, incisos IV, VI e IX da Constituição Federal consiste, segundo Gilberto Haddad Jabur (2000, p. 45) na “atividade intelectual através da qual o homem exerce uma faculdade de espírito, que lhe permite conceder, raciocinar ou interferir com o objeto eventual, exteriorizando suas conclusões mediante uma ação”.

De tal liberdade deriva a chamada liberdade de informação a qual se determina pelo direito que tem a pessoa de informar, comunicar, isto é de exteriorizar sua conclusão, bem como o direito da pessoa ser informada, correspondendo, assim, a um direito coletivo à informação.

Neste contexto, consubstanciada na liberdade de pensamento, na liberdade de informar e liberdade de ser informado, surge à conhecida liberdade de imprensa, conceituada como o direito de imprimir palavras, desenhos ou fotografias em que se expressa o que se pensa e se fornecem informações ao público acerca de fatos ou atividades próprias ou alheias. (JABUR, 2000, p. 61)

Tal conceito perdeu parcialmente o sentido estrito, vez que a liberdade de imprensa, com a globalização, hoje é exercida por qualquer outro meio jornalístico, tal como a televisão, a informática e o rádio, os quais não necessitam, necessariamente, da impressão de palavra, desenhos ou fotografias para expressarem informações à coletividade.

Tem como função e responsabilidade a liberdade de imprensa, além da dita informação, segundo aponta William Rivers e Wilbur Scharamm (2002, p. 27) que:

[...] a denominada formação do cidadão, garantindo-lhe a liberdade de imprensa o desenvolvimento da personalidade deste, pois, um indivíduo isolado das notícias, acontecimentos históricos e informações sobre o mundo é incapaz de desenvolver sua personalidade e cidadania no mundo moderno.

Com a evolução que experimentou ao longo do nosso século, a comunicação social estabeleceu, com o comportamento humano, vínculo de incrível intimidade. Tanto é assim que devemos admitir que: ‘ Todos nós dependemos dos produtos da comunicação de massa para a grande maioria das informações e diversão que recebemos em nossa vida. É particularmente evidente que o que sabemos sobre números e assuntos de interesse público depende enormemente do que nos dizem os veículos de comunicação. Somos sempre influenciados pelo jornalismo e incapazes de evitar esse fenômeno. Os dias são muito curtos e o mundo é muito enorme e muito complexo para podermos cientificar-nos de tudo o que se passa nos meandros do governo. O que pensamos saber, na realidade, não sabemos, no sentido de que saber representa experiência e observação. ’ Cada vez mais concordamos que, nos dias presentes, aquilo que não penetrou e foi divulgado pelo sistema de notícias é como se realmente não tivesse acontecido. (RIVERS; SCHARAMN, 2002, p.57-58). Explicitado o mister da tutela jurídica dos direitos e liberdades expostos, visando à garantia da efetividade constitucional, se depara com um aparente conflito entre o dever de informação sustentado pelas Liberdades da Imprensa e o direito de ter salvaguarda sua vida privada, honra, imagem, intimidade, enfim o direito de estar só, garantido em nome da dignidade da pessoa humana.

Encontra-se incidido tal conflito aparente de direitos constitucionais, quando se verifica que o excesso de informações se torna um abuso, expondo de forma indevida a imagem de um indivíduo, ou, ainda, criando fatos distorcidos que estariam sendo apurados pelo Processo Penal.

Nesse sentido, Cícero Henrique Luís Arantes da Silva (2002, p. 5):

Com efeito, a notícia sobre o crime fascina a humanidade desde os primórdios. Trata-se de um fascínio sobre o que motiva o crime e principalmente sobre a pessoa do criminoso, diferenciando-o do homem de bem.

A imprensa, assim, se utiliza de suas liberdades e, em nome do direito de informar e formar opiniões, legítima sua atuação, se utilizando de um sentimento punitivo que possuem as pessoas pelo direito penal, à curiosidade pública que se converte em comoção popular, que por sua vez, transforma-se em opinião pública, a qual exige das autoridades a punição dos suspeitos, já pré-julgados, de forma severa e sem o devido processo legal.

Ranulfo de Melo Freire (2004, p.4-5), de maneira bem sintética tem opinião parecida sobre o tema:

Não rara é a constatação destes abusos, basta que apenas se ligue a televisão, se abra um jornal ou se acesse um sítio na rede mundial de computadores para se deparar com os meios de comunicação noticiando estardalhaços criminais em busca da predileção mediática, trazendo, em sua grande maioria, notícias que causam grande comoção social e, ocasionalmente, grande audiência e edições de revistas e jornais vendidos de forma imediata.

Felizmente, ao menos para a dona da notícia, a audiência dos programas televisivos dispara, os jornais e revistas não ousam trazer outra matéria em sua capa que não a violência em discurso, e assim “ganha-se dinheiro e a sociedade resta aparentemente satisfeita diante de mais um caso de atuação irresponsável da imprensa perante o direito penal”. (RANULFO, 2004, p. 5).

Vê, então, o suspeito, sua imagem, reputação, honra e vida privada devastadas em nome do direito à informação, configurando o aparente conflito que Sérgio Cavalleri Filho (2007) em seus ensinamentos, defende que “pode ser resolvido através da colocação do princípio da proporcionalidade, no qual a liberdade de informação deveria ser preservada, contudo, limitada ao direito da pessoa ter sua dignidade respeitada”.

A luz desses princípios é forçoso concluir que, sempre que direitos constitucionais são colocados em confronto, um condiciona o outro, atuando como limites estabelecidos pela própria lei maior para impedir excessos e arbítrios. Assim, se ao direito à livre expressão da atividade intelectual e de comunicação contrapõe-se o direito à inviolabilidade da vida provada, da honra e da imagem, segue-se como consequência lógica que este último condiciona o exercício do primeiro.

Os nossos melhores constitucionalistas, baseados na jurisprudência da Suprema Corte Alemã, indicam o princípio da proporcionalidade como sendo o meio mais adequado para se solucionarem eventuais conflitos entra a liberdade de comunicação e os direitos da personalidade. Ensinam que, “embora não se deva atribuir primazia absoluta a uma ou a outro princípio ou direito, no processo de ponderação desenvolvido para a solução do conflito o direito de noticiar há de ceder espaço sempre que o seu exercício importar sacrifício da intimidade, da honra e da imagem das pessoas”. (BASTOS, 1999, p. 103).

Em conclusão, podemos usar os dizeres de Cézar Cavaleri Filho (2007, p. 104-105), segundo o qual “os direitos individuais, conquanto previstos na constituição, não podem ser

considerados ilimitados e absolutos, em face da natural restrição resultante do princípio da convivência das liberdades, pelo que não se permite alheias”.

Fala-se, hoje, não mais em direitos individuais, mas em direitos do homem inserido na sociedade, de tal modo que não é mais exclusivamente com relação ao indivíduo, mas com enfoque de sua inserção na sociedade, que se justificam, no Estado Social de Direito, tanto os direitos como as limitações.

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