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ASPECTOS GERAIS DA INOVAÇÃO

No decorrer da década de 1980 ocorreu a formação de consórcios de pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias emergentes que culminou em novas indústrias e novas oportunidades de mercado. Já na década de 1990 se intensificou o processo de inovação tecnológica, com o desenvolvimento de bens de consumo e comunicações pessoais. Os riscos elevados e as oportunidades de grandes lucros começaram a fazer parte das empresas que conseguiram ocupar posições estratégicas e possuíam tecnologias inovadoras (CARRETEIRO, 2009).

Tecnologia não é o único fator que determina a competitividade, mas na atualidade se reconhece esta como sendo preponderante. De maneira que as vantagens comparativas derivam do conhecimento científico transformado em tecnologias. Saenz e Capote (2002, p. 47) conceituam:

Tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos e empíricos, de habilidades, experiências e organização requeridos para produzir, distribuir, comercializar e utilizar bens e serviços. Inclui tanto conhecimentos teóricos como práticos, meios físicos, “Know how”, métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais, entre outros.

Importante ressaltar que as tecnologias não são obtidas apenas pela aplicação do método científico através da pesquisa aplicada. Isso porque há outras maneiras de criação e adaptação de conhecimentos tecnológicos vinculados à prática e aos processos, que repercutem na produção de bens e serviços (SAENZ e CAPOTE, 2002). A mudança tecnológica esta imbricada em mudanças profundas nas habilidades da força de trabalho, na base produtiva e nos hábitos de consumo.

Diariamente aumenta a quantidade de problemas que exigem soluções diferenciadas, que não podem aguardar as orientações dos processos tradicionais. E para estas demandas não é possível estabelecer regras prévias, contudo a solução depende da capacidade criativa dos gerentes e demais especialistas. Dessa forma, as organizações estão se reestruturando, inclusive com a descentralização do processo de decisão, através de uma estrutura organizacional mais horizontal (ALENCAR, 1996).

Aliado à situação acima, está em curso uma era de mudanças tecnológicas rápidas em âmbito mundial. Atualmente, além da inovação de produtos, se utiliza a tecnologia como fator de produção e se inova na gestão empresarial. Entre os atuais entendimentos está o declínio da noção linear sobre o processo inovativo, a qual preconizava que as atividades executadas pela ciência evoluiriam unidirecionalmente para a tecnologia, a produção e o mercado (LEMOS, 1999). A ciência já não é mais considerada a fonte absoluta de criação, pois o mercado, através das demandas, se apresenta como importante berço de inovações.

Com isso, se verifica a existência de uma estrutura complexa de interação entre o ambiente econômico e os rumos das mudanças tecnológicas, onde tanto a ciência atua no mercado como o mercado influi na ciência. Os conhecimentos adquiridos com os avanços da pesquisa científica combinados com as necessidades provenientes do mercado geram inovações em produtos e processos, tanto a nível empresarial e setorial quanto até mesmo do país (LEMOS, 1999).

De acordo com Alencar (1996), a necessidade de convivência das empresas em ambientes altamente competitivos é um dos principais motivos da busca contínua por inovações, com uma competência organizacional marcante e ênfase na melhoria de qualidade e redução de preços de produtos e serviços. Um exemplo é a vasta quantidade de marcas da ampla gama de produtos disponíveis no mercado, que força as empresas a fazerem uso dos mais diversos recursos para assegurar suas vendas e consequentemente sua sobrevivência.

De maneira mais ampla, é possível afirmar que existem duas razões básicas para se inovar: as razões tecnológicas e as razões econômicas. As primeiras abarcam o desenvolvimento de novos produtos, a melhoria dos processos existentes, adaptação das tecnologias existentes às necessidades da organização e a melhoria dos procedimentos existentes. Já as razões econômicas incluem a substituição de produtos obsoletos, a abertura de novos mercados, a redução dos custos de produção, o aumento da produtividade e outros. Além disso, o processo de inovação é gerenciado pela atividade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e não apenas pelo inventor isolado como no passado, sem apoio de infraestrutura. Assim como o processo de inovação do mercado para a ideia é atualmente gerenciado pelo marketing/vendas (CARRETEIRO, 2009).

Silva (2003) elenca sete razões para uma empresa inovar, que são estas: desenvolver a economia, gerar empregos, ter vantagens competitivas, aumentar a margem de lucro, melhorar fracos desempenhos, aproveitar oportunidades e obter bons retornos. Quanto a desenvolver a economia, isso é decorrência da criação e transformação dos novos conhecimentos em produtos, serviços e processos. Já a geração de empregos surge em função dos novos

negócios, como por exemplo na área de informática e telefonia celular. A obtenção de vantagens competitivas se refere ao fato de um produto, serviço ou processo ter sido feito sempre de determinada maneira não significa que atenda as necessidades dos consumidores eternamente, pois estes buscam sempre novidades. Aqui está a importância de analisar os anseios do consumidor e as tendências do mercado.

Logo, a concorrência gera um movimento incessante por produtos, serviços e, consequentemente, processos novos, como observam Mattos e Guimarães (2005, p. 12):

Ao verificar que a oferta de bens e serviços superava a demanda no mercado, os consumidores começaram a perceber seu poder de barganha entre as empresas. O poder de escolha do consumidor o remete ao princípio de valor, que corresponde ao menor sacrifício ou dispêndio de recursos para desempenhar certa função. Assim, o consumidor, ao se deparar com uma decisão de compra, escolherá o produto que lhe agregue maior valor, ou a melhor relação custo/benefício. Diante dessa realidade, empresas se vêem obrigadas a gerar, cada vez mais rápido, novas soluções que incorporem melhor desempenho de função a menores custos. Esse processo gera uma expectativa crescente dos consumidores pelo novo.

Entretanto, existem fatores que inibem a introdução de inovações. Alencar (1996) destaca alguns fatores psicológicos, de natureza individual, que tendem a promover a resistência à inovação, como conformismo às normas, dogmatismo, baixa propensão a correr riscos, medo do desconhecido e comodismo. Também elenca alguns fatores sociais, como a rejeição a um agente externo, quando este é responsável pela introdução da inovação e a falta de clareza na comunicação dos escalões superiores ao impor as inovações. Quanto aos fatores organizacionais, cita a centralização do poder decisório, a filosofia e os valores da organização.

Um processo que afeta um ou vários setores da economia é a mudança tecnológica. Esta se constitui na introdução, em nível macro da economia, de novos produtos e serviços, equipamentos, processos e métodos gerenciais. Embora transcorra em ritmos diferentes, está cada vez mais acelerada. A partir das mudanças tecnológicas surge a inovação tecnológica, a qual constitui o processo em que as empresas implementam a produção de bens e produtos que não são novos para esta, embora sejam novas para seus competidores nacionais ou estrangeiros (SAENZ e CAPOTE, 2002).

Então, a inovação faz parte de uma combinação de necessidades dos indivíduos e demandas do mercado com os meios tecnológicos para satisfazê-las. A inovação se insere em atividades científicas, produtivas, de distribuição, comerciais e financeiras, extrapolando o âmbito da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Na economia a inovação desempenha um papel crucial. De acordo com Schumpeter (1959) os ciclos econômicos possuem quatro fases: prosperidade, recessão, depressão e, por

fim, recuperação. A prosperidade abrange o surgimento de inovações e, por conseguinte, a obtenção de lucros. A depressão abrange o término da difusão das inovações, com deflação e diminuição geral dos lucros. Na fase de depressão ocorre a crise econômica e quebra de inúmeras empresas. Grande parte dessas empresas falem em função do desuso de produtos e processos derivados da inovação, que Schumpeter (1959) chama de “destruição criadora”. Esta destruição criadora desempenha papel essencial no capitalismo, porque provê movimentos que alteram o estado de equilíbrio da economia.

Após os estudos de Schumpeter, na década de 1930, nas décadas subsequentes os neo- schumpeterianos entenderam que o eixo indústria-mercado é o responsável por definir as possibilidades e oportunidades tecnológicas em produtos e processos, assim como as condições de apropriação da inovação através dos lucros. O eixo indústria-mercado faz parte do meio de interação da estratégia com a estrutura (SHIKIDA e BACHA, 1998).

Schikida e Bacha (1998) ainda expõem as contribuições dos neo-chumpeterianos: Dentre as principais idéias neo-chumpeterianas, constatou-se que, para Rosenberg, a atividade inovativa comporta-se como um procedimento de busca, cujos resultados aí derivados não são conhecidos ex-ante e cuja taxa de adoção de uma tecnologia, ou mesmo sua direção, estão ligadas às expectativas quanto ao futuro do progresso tecnológico, sendo que o nível de aprendizado influi no rumo da mudança tecnológica.

A inovação difere da descoberta e da invenção. A descoberta se reporta a racionalidade científica, onde busca a verdade ou a aproximação desta. O essencial na descoberta é a compreensão da natureza real dos fenômenos. Nesse sentido, Carvalho et al (2011, p. 22) explicam que: “Descoberta é a revelação de coisas ou fenômenos da natureza. Quando o ser humano percebe esse fenômeno pela primeira vez, caracteriza-se uma descoberta”.

Como exemplo, a pedra magnetita, que atrai migalhas de ferro, que leva este nome por ter sido descoberta na região da Magnésia na Grécia, pode ser considerada uma descoberta, pois esse fenômeno (magnético) independe da ação humana. Em contrapartida, a invenção se traduz em algo inédito produzido pelo homem, sem apropriação econômica ou utilidade prática. Aqui já há a atuação do ser humano. Saenz e Capote (2002, p. 71) entendem que:

A invenção, por outra parte, responde a uma racionalidade técnica; ou seja, um invento, para que se reconheça como tal, além de ser uma novidade, tem que demonstrar, em primeiro lugar, sua funcionalidade técnica; as considerações econômicas definitivas são posteriores.

Já a inovação diz respeito a uma racionalidade econômica ou social, pois deve ser comercializada ou ter utilidade social. A inovação se refere à implementação, com êxito, de

um produto ou serviço no mercado ou de um processo, método ou sistema na organização. Portanto, para ser considerada inovação é preciso implementação e ainda obter vantagem em relação aos demais competidores. A inovação pode ser a introdução de algo que não existia no mercado ou que possua alguma característica diferente do padrão vigente (CARVALHO et al, 2011).

O principal documento a respeito das atividades de inovação é uma publicação da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), se intitula Manual de Oslo (2005) e conceitua inovação como a implementação de um produto novo ou melhorado, ou um novo processo, ou um novo método de marketing, ou ainda um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Um aspecto relevante diz respeito às mudanças ou melhorias, que não se caracterizam como inovação. Mudanças são pequenas alterações no produto, que não contribuem para agregar valor. Carvalho et al (2011, p.32) trazem exemplos elucidativos de melhorias:

Customização, mesmo que o produto tenha ficado diferente do anterior. Por exemplo, apenas a colocação de um adorno em uma vestimenta não resulta em inovação. Realização de serviços de personalização não significa que se está inovando em série. Comércio de produtos novos, considerando-se que a comercialização é inerente ao negócio. Reduções ou ampliações no tamanho ou nos setores da empresa. Lançamentos de versões com poucas modificações se caracterizam mais como mudança. Mas, nesse caso, a questão principal a ser considerada deve ser quanto a modificação implementada agregou valor. Aumento do capital social pode valorizar a empresa, mas não é inovação. Alteração do visual de uma loja pode ser considerada apenas novidade.

A inovação pode ser fundamental, radical ou incremental. A primeira é verificada quando o impacto da inovação for de tamanha magnitude que possibilita o desenvolvimento de outras inovações, como o que ocorreu com a biotecnologia. A segunda ocorre quando uma nova ideia resulta em um produto ou processo totalmente novo e inexistente no mercado. As inovações radicais rompem estruturalmente e criam desde um novo segmento até um novo mercado, através de uma referência muito superior. Por último, a inovação incremental se estabelece em função de uma melhoria ou aperfeiçoamento significativo de um produto ou processo, por meio da agregação de vantagem sem alteração do padrão de referência (MATTOS e GUIMARÃES, 2005).

E ainda, a inovação pode ser dividida em diferentes tipos. O conhecimento desta classificação é imprescindível para o entendimento de um tipo específico: a inovação em processos. Logo, a tipologia da inovação é exposta a seguir.

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