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4. BRIGHT: UM MODELO DE EQUILÍBRIO GERAL COMPUTÁVEL COM FOCO

4.2. Aspectos gerais do modelo BRIGHT

O modelo BRIGHT conta com diversos elementos que o tornam adequado às análises do tema da distribuição de renda no Brasil. Trata-se de um modelo EGC multiproduto com elementos de dinâmica recursiva (backward looking), especificado para 55 setores, 110 produtos e 13 setores institucionais: 10 famílias representativas (definidas por 10 classes de renda), Empresas, Governo e Resto do mundo. São detalhados 3 fatores produtivos primários (terra, trabalho e capital), 2 setores de margens (Comércio e Transportes), importações por produto para cada um dos 55 setores e componentes da demanda final, impostos indiretos (desagregados em IPI, ICMS e Outras taxas e subsídios) e sobre produção (dois tipos: sobre produção e outros custos e subsídios), além de impostos diretos (impostos sobre renda e patrimônio pagos pelas famílias e empresas). Como é calibrado a partir da MCS apresentada no Capítulo 3, é um modelo especialmente estruturado para interconectar os fluxos de renda entre os setores produtivos, as famílias e os demais agentes da economia brasileira. O ano base dos dados do modelo é 2008.

O BRIGHT segue a tradição australiana em modelos EGC e foi construído com base nas estruturas teóricas dos modelos BRIDGE53 (DOMINGUES et al., 2014) e PHILGEM (CORONG e HORRIDGE, 2012; CORONG e HORRIDGE, 2014). São modelos do tipo Johansen, formulados como um sistema de equações linearizadas e solucionadas pelo software GEMPACK (HARRISON E PEARSON, 1994), o qual permite acessar as soluções como taxas de crescimento (elasticidades),

53 O modelo BRIDGE foi desenvolvido como parte das atividades do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica Aplicada (NEMEA) do CEDEPLAR/UFMG. O grupo conta com a participação de professores e alunos da pós- graduação no CEDEPLAR, sob coordenação do Prof. Dr. Edson Paulo Domingues. O BRIDGE tem sido adaptado para diversos estudos desenvolvidos no CEDEPLAR. Dentre eles, estudos sobre a crise econômica (DOMINGUES et al., 2014), políticas tributárias (SOUZA, CARDOSO E DOMINGUES, 2016), mercado de energia e carbono (MAGALHÃES, 2013; MAGALHÃES E DOMINGUES, 2014), setor de transportes e retornos crescentes de escala (BETARELLI JR, 2013), saúde (DOMINGUES et al., 2015), dinâmica populacional (SANTIAGO, 2014) e mercado de trabalho (SOUZA, 2014, 2015).

93 utilizando variados tipos de fechamento. A especificação teórica é composta por blocos de equações que determinam relações de oferta e demanda, derivadas de hipóteses de otimização e condições de equilíbrio de mercado (market clearing).

Esses dois modelos apresentam, todavia, uma importante diferença: Enquanto o BRIDGE segue a estrutura original do ORANIG com dinâmica recursiva, o PHILGEM representa uma extensão do ORANIG, uma vez que inova ao incorporar múltiplas famílias e equações adicionais que permitem o uso de uma matriz de Contabilidade Social (MCS) ao invés de uma Matriz de Insumo Produto (IP). Desse modo, o BRIGHT partiu da estrutura teórica do BRIDGE para a calibração do modelo a partir da matriz de IP, mas conectou ao mesmo, com algumas adaptações, a extensão do PHILGEM, que permitiu a incorporação dos fluxos adicionais da MCS – Famílias apresentada no capítulo anterior.

O BRIGHT representa, portanto, um avanço em relação ao modelo BRIDGE e aos demais modelos EGC brasileiros que seguem a abordagem Johansen-australiana, principalmente por contribuir para essa literatura ao incorporar o tratamento explícito das interdependências entre os setores produtivos e os setores institucionais da economia, explicitando o processo de geração, distribuição e transferência de renda, requisitos indispensáveis para a investigação do problema de pesquisa proposto neste estudo. Especificamente, pode-se enumerar as principais modificações incorporadas ao BRIGHT:

i) Incorporação do setor institucional “Empresas” ao modelo. Esse agente complementa o processo de apropriação e uso da renda originada no setor produtivo; ii) Caracteriza a renda por todas as suas fontes para os diversos setores institucionais. Além da usual apropriação de salários pelas famílias, o modelo conta com a distribuição do EOB entre Famílias (por suas 10 classes), Empresas e Governo e adiciona a renda proveniente de transferências institucionais, como, por exemplo, as transferências do Governo para as famílias, constituídas basicamente de benefícios sociais, que incluem a previdência social e os programas e auxílios sociais (subdivididos em transferências do Bolsa Família e outras transferências). Outro exemplo de fonte de renda são as transferências das empresas para as famílias, compostas em grande parte por rendas de propriedade (dividendos e juros);

94 iii) Na apropriação dos rendimentos do trabalho pelas famílias, o modelo atrela os salários pagos por cada setor produtivo ao tipo de família, definidas por classe de renda (usualmente, modelos EGC não fazem essa distinção54).

iv) Detalha o uso da renda dos diversos setores institucionais. Além do gasto em consumo com bens e serviços domésticos e importados pelas Famílias e Governo, e o consequente pagamento de impostos indiretos, já usual em modelos EGC, o BRIGHT detalha os demais dispêndios, como, por exemplo, transferências das famílias para o Governo (contribuição para o sistema de Previdência social) e os pagamentos de impostos diretos (sobre renda e patrimônio), tanto das famílias quanto das empresas. O detalhamento do dispêndio com impostos diretos pagos pelas famílias permite a diferenciação entre renda total e renda disponível, importante para análises com foco na renda das famílias e sistema tributário. v) Definição de poupança dos diversos setores institucionais, como resíduo entre a

renda apropriada e o gasto corrente. Especialmente importante é a possibilidade de caracterização da poupança do Governo e do Resto do Mundo (saldo em conta corrente);

vi) O Consumo das famílias passa a ser função da renda disponível. No modelo BRIDGE essa relação era implícita no fechamento do modelo. O detalhamento do processo de geração e correspondente apropriação da renda incorporado ao BRIGHT permite a inserção de uma função de consumo que liga diretamente o consumo à renda disponível;

vii) O Consumo do Governo pode ser endógeno, em função da receita total com impostos diretos e indiretos (usualmente, modelos EGC assumem gasto do Governo exógeno, seguindo o consumo das Famílias ou as variações do PIB).

viii) Detalhamento do investimento em privado e do Governo;

54 Outra extensão do BRIDGE, o BRIDGE-Labor, desenvolvido por Souza (2015) faz essa distinção, contudo, por ocupações e gênero.

95 Nesta Tese optou-se por manter a notação de variáveis como no código computacional do modelo, facilitando a correspondência com outros modelos e interpretação das variáveis. Os nomes das variáveis seguem determinados padrões, conforme detalhados no Quadro 4.