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2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA NO RIO GRANDE DO NORTE

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO

Com mais de 90% de seu território inserido no semiárido brasileiro28, economia agrária, estruturada historicamente pelas culturas do algodão, sisal, feijão, milho, mandioca e cana de açúcar; pelo no extrativismo do tungstênio e do sal marinho; pela pesca artesanal e pecuária bovina, o Rio Grande do Norte convive desde sua colonização até o final do século XX com uma população pouco escolarizada, em especial nas áreas rurais, nas pequenas e médias cidades.

O Apêndice A, relaciona os trinta maiores municípios do Rio Grande do Norte por população, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016. Nele observa-se a concentração populacional de 70,37% nesses maiores municípios onde encontram-se 68% das escolas estaduais de ensino médio. Acrescentou-se ao quadro uma coluna informando a presença dos campus do IFRN, registrando-se que apenas dois campus estão fora desses trinta maiores municípios, sendo um deles Ipanguaçu, devido a sua origem agrícola numa área com 133 hectares de antiga Fazenda-Escola da Campanha Nacional das Escolas da Comunidade (CNEC), em parceria com o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), passou a ser gerenciada pelo então CEFET-RN transformando-se no Centro de Tecnologias em Agronegócios do Vale do Açu. Ipanguaçu é um município vizinho a Açu, oitavo maior município do estado, com 57.743 habitantes.

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Região semiárida do Brasil possui uma extensão de 982.563,3 km². Dessa área, a Região Nordeste concentra em torno de 89,5%. A Região Semiárida foi delimitada com base na isoieta de 800 mm, no Índice de Aridez de Thorntwaite de 1941 e no Risco de Seca superior a 60%. Como consequência das condições de semiaridez, a hidrografia é pobre. As condições hídricas são insuficientes para sustentar rios caudalosos que se mantenham perenes. Constitui-se exceção o Rio São Francisco. www.ibge.gov.br

O outro campus situa-se no município de Lajes, em pleno sertão central com apenas 11.234 habitantes e uma escola estadual de nível médio com aproximadamente 300 estudantes matriculados em 2016. Lajes é a cidade polo do território do sertão central.

Fruto de iniciativa do Governo Federal em 1909, a Escola de Aprendizes e Artífices de Natal, vinculada ao ministério da agricultura, indústria e comércio, teve como público alvo meninos de baixa renda, com idade entre 10 e 13 anos, aos quais eram ministrados curso primário, de desenho e os ofícios de marceneiro, sapateiro, funileiro, alfaiate e serralheiro. Está, pois na origem da instituição, hoje IFRN, sua vinculação com o mundo do trabalho, sua vocação para auxiliar os governos a realizarem suas proposições e seu modelo de escola unitária, através de cursos profissionalizantes integrados ao ensino regular.

Instalada no prédio do Hospital da Caridade Juvino Barreto, onde hoje funciona a Casa do Estudante de Natal, na Cidade Alta, a instituição adquire o típico perfil ao qual se referem Fonseca (1961) e Silva (1991) de instituição assistencialista e voltada a educação dos pobres. Em 1914 a escola foi transferida para o antigo Quartel Militar na avenida Rio Branco, saindo da periferia para o centro urbano de Natal. O antigo casarão do século XIX passa por adaptações para desenvolver-se como escola. Hoje, depois de grande restauração em 2004, funciona nesse endereço o Campus Cidade Alta do IFRN.

Nesse período, em Mossoró, a Sociedade União Caixeiral mantinha uma escola técnica de comércio desde 1935 e desenvolveu a ideia de uma Universidade em 1943, através da Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró.

Em 1937, a Lei nº 378, de 13 de janeiro transforma as Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Industriais. Já em 1942, o Decreto Lei nº 4.073, de 30 de janeiro, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Industrial, transforma o Liceu em Escola Industrial de Natal, passando a instituição a oferecer cursos para professores e suas oficinas são organizadas em quatro seções: trabalhos de metal, indústria mecânica, eletrotécnica e artes

industriais. Essa lei é decorrência da nova organização da educação básica originada na reforma Capanema29.

Nesse mesmo período são constituídos no plano nacional o Serviço Nacional da Indústria (SENAI), em 1942, e o Serviço Nacional do Comercio (SENAC), em 1946, com suas respectivas representações estaduais.

Após a 2ª Guerra Mundial, onde a presença norte americana em Natal nos eleva a condição de centro consumidor, inicia-se um processo de modernização econômica e surgem as primeiras indústrias vinculadas às atividades extrativistas e agropecuárias. Não havendo no estado cursos de nível superior, os grupos econômicos vinculados as empresas de economia familiar enviam seus filhos e filhas para outros centros com intuito da formação acadêmica, enquanto aos filhos e filhas da classe trabalhadora eram oferecidos os cursos de artes, ofícios e técnicas agrícolas em poucas instituições.

Em 1949 é constituída a primeira escola agro técnica no Rio Grande do Norte. Organizada e administrada pelo governo do estado na cidade de Macaíba (hoje situada no município de Jundiaí) foi federalizada em 1954 e incorporada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1967, constituindo-se atualmente no Centro de Ciências Agrárias e Zootécnicas da UFRN.

Em 1959, é promulgada a Lei Federal nº 3.552 que transforma todas as Escolas Industriais do Brasil em autarquia que passam a ter “autonomia administrativa, didática e financeira, transformando-se em instituições federais destinadas a ministrar cursos de nível médio”. (IFRN, 2012, p.24).

No dia 11 de março de 1967, há cinquenta anos, um arrojado prédio é inaugurado na Av. Salgado Filho, nº 1559, no bairro do Tirol. Esse é o endereço do atual Campus Natal Central do IFRN. Com a Portaria Ministerial nº 331 de 16 de junho de 1968, a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), passa a oferecer os cursos de nível médio profissionalizante,

29 Termo utilizado devido ao nome do ministro da educação Gustavo Capanema a época da promulgação das Leis Orgânicas da Educação Nacional.

encerrando definitivamente a educação profissional em oficinas e o antigo ginásio industrial.

A partir da década de 1960 o Nordeste brasileiro passou a introduzir o turismo como política a ser incentivada. Políticos conservadores, com tradição na economia agrária buscam assumir discursos desenvolvimentistas e é nesse contexto que o turismo chega ao Rio Grande do Norte na administração Aluísio Alves (1961–1965). Aproveitando-se um sentimento de modernidade desde a presença norte americana na segunda guerra mundial, o governo constrói segundo Linhares (2003) com recursos próprios, do Governo Federal, da Aliança para o Progresso e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma rede de hotéis públicos incluindo o Hotel Reis Magos (Natal), o Esperança Palace Hotel (Mossoró), o Cabugi Palace Hotel (Angicos) e o Balneário de Olho D’Água do Milho (Caraúbas).

Em paralelo a essa nova perspectiva econômica, ocorre o fortalecimento da indústria têxtil e de confecções e o início da produção de petróleo e gás natural no Estado.

Contudo nesse mesmo contexto ocorre o sucateamento da escola pública nas esferas estadual e municipal, pela ausência de investimentos e pela concepção privatizante dos governos militares. Assim, a ETFRN passa a constituir-se muito mais em oportunidade para jovens concluírem o segundo grau (última etapa da educação básica) com qualidade e ingressarem no nível superior de ensino, do que profissionalizarem-se para ingressar diretamente no mundo do trabalho, mesmo num período em que novas demandas estão fortemente colocadas em relação à formação profissional.

Em decorrência da irrealidade da Lei 5.692/71 e das condições concretas do contexto de desenvolvimento do processo produtivo, a generalização do ensino profissionalizante tornou- se uma falácia.

Contraditoriamente essa situação reforçou o ensino técnico industrial, através, principalmente, das escolas Técnicas Federais ministrando o ensino do 2° grau. O reforço se deu, não só a nível da introdução de novos cursos, como também do prolongamento dos níveis de ensino. (SILVA, 1991, p.45).

Na virada do século XX para o XXI a fruticultura irrigada soma-se a produção de energia eólica como novos paradigmas econômicos e tecnológicos para o Rio Grande do Norte que tem em suas universidades públicas e privadas, no sistema “S” e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia uma rede bem estruturada de Educação Profissional, Científica e Tecnológica com cursos técnicos, tecnológicos, superior e de pós-graduação em diversas áreas do conhecimento.

Figura 8 - ETFRN em 1994 inaugura a Unidade de Ensino de Mossoró (UNED)

Fonte: O autor (2016).