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2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA NO RIO GRANDE DO NORTE

2.4 O CAMPUS NATAL – CENTRAL DO IFRN

O Campus Natal - Central (CNat), ou a “Escola”, como antes era chamada a instituição, sucedânea da antiga Escola de Aprendizes e Artífices e da forte e representativa Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN) é elevado, com a nova institucionalidade, à condição de “Escola Mãe”.

Situada no mesmo endereço desde 1967, no bairro de Morro Branco, o local é agora o cruzamento mais dinâmico da capital, tendo sua fachada visibilizada por meio de grandes metálicos ao invés de muros, dando maior aproximação com a comunidade e permitindo que os pedestres possam desfrutar a beleza e o ar do Bosque de 1,5 hectares exatamente no cruzamento das avenidas Salgado Filho com a Bernardo Vieira. Em seu entorno situam-se o maior shopping do Estado, o Hospital Walfredo Gurgel, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), a Faculdade de Odontologia da UFRN, o Centro de Formação do SESI-Natal e a Universidade Potiguar (UnP).

Com forte dinâmica presencial32, seus 9,5 hectares são integralmente protegidos e o acesso se dá por duas portarias abertas ao público e duas outras para atividades internas e de serviços da instituição. Em seu interior existe um outro campus do Instituto, o Campus de Educação a Distância (EaD), uma Fundação de Pesquisa (FUNCERN), uma agencia bancária da Caixa Econômica Federal, estacionamento para 600 veículos, uma biblioteca com 8.620 títulos e mais de 40 mil exemplares, o Núcleo de Incubação Tecnológica, diversos laboratórios, uma gráfica, um auditório central para 600 pessoas e cinco outros de menor porte, a sede do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica. (SINASEFE), Seção Sindical-Natal, uma Associação dos Servidores do IFRN (ASIFRN), um grêmio estudantil, um restaurante

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No Campus Natal Central circulam em média 6 mil pessoas de segunda a sexta feira, segundo estimativas do diretor geral, professor José Arnóbio de Araújo Filho.

institucional e outro terceirizado, uma cantina terceirizada e um parque esportivo com piscina semiolímpica, ginásio poli esportivo, campo de futebol, pista de atletismo e três quadras cobertas.

O Campus Natal – Central do IFRN é, por si só, uma referência educacional na Cidade e tornou-se símbolo de uma nova institucionalidade em todo o Rio Grande do Norte.

Após ter vivido seu apogeu logo após a construção da nova sede e sua transferência em março de 1967 para a Avenida Salgado Filho, esta instituição, assim como as demais pertencentes à Rede Federal, sofreu profundo isolamento acadêmico, político e principalmente financeiro com a promulgação da constituição em 1988.

A perspectiva da estadualização foi prontamente rechaçada pela comunidade acadêmica e diante a fragilidade orçamentária, o governo do estado jamais admitiu em receber a instituição, como um novo encargo. A opção que se colocou para a rede federal foi a busca da verticalização da oferta de ensino, construindo cursos em nível superior e assim adaptar-se a legislação maior e manter-se como Instituição Federal.

Havendo na Rede Federal modelos de instituições com cursos superiores desde 1978, no caso, o CEFET do Paraná, o CEFET do Rio de Janeiro e o CEFET de Minas Gerais, o presidente da República, José Sarney transforma por decreto em 1989 a Escola Técnica Federal do Maranhão em CEFET-MA, abrindo assim o caminho para a Cefetização de toda rede e consequentemente a verticalização do ensino e a adaptação a legislação maior.

Desde a inauguração da nova sede, a Escola viu a cidade crescer em seu entorno. A Indústria de Confecções Guararapes, situada literalmente em frente à Escola, mantinha no ritmo fordista 6 mil operários em sua maioria mulheres na linha de produção. Hoje, nesse espaço encontra-se o Shopping MidWay Mall do mesmo grupo econômico. A rápida verticalização nos bairros de Tirol e Morro Branco são acompanhadas por construções de espaços públicos como o Tribunal Regional Eleitoral e mais recentemente a

própria sede da Reitoria do IFRN há 500 metros do Campus, além das demais referências já citadas nesta dissertação.

A partir da década de 1970, passaram a ocorrer mudanças econômicas em todo Nordeste brasileiro. No Rio Grande do Norte em particular, a crise na cultura do algodão e a ausência de políticas agrícolas e agrárias elevam em muito o êxodo rural e o crescimento urbano, em especial na cidade do Natal e suas vizinhanças.

A construção civil, o fortalecimento de empresas estatais e a procura de jovens trabalhadores qualificados por parte de empresas de outros estados, se constituem em oportunidades de trabalho para os egressos do ensino técnico de nível médio no Rio Grande do Norte. Nas décadas de 1970 e 1980, a decadência da escola estadual e as elevadas mensalidades das escolas privadas e cursinhos de pré-vestibular, possibilitam que a instituição torne-se bastante atrativa aos estudantes que visam acessar o ensino superior através da UFRN e outras instituições de ensino superior.

Atrelada a acontecimentos diversos, sobretudo nos aspectos políticos e artístico-culturais, a década de 1975 a 1985 imprimiu esses valores socioculturais ao currículo institucional, com a criação do Coral Lourdes Guilherme (1975); a implantação do Atelier de Artes Plásticas; a criação do Grupo de Ginástica Rítmica; a fundação do Teatro Laboratório; a formação da Banda de Música e do Grupo de Metais; e a implantação, no dia 11 de dezembro de 1985, do Grêmio Estudantil Djalma Maranhão. Em continuidade, o ano de 1986 evidenciou um imponente pleito: as primeiras eleições diretas para Diretor- Geral, cuja disputa elegeu, entre os seis candidatos, a única mulher a exercer o cargo, até o presente momento, na Instituição, a professora Luzia Vieira de França. Desde essa data, ficou estabelecida a prática de eleições diretas para o cargo de Direção-Geral. A ETFRN, em 1995, despontou com uma proposta curricular inovadora na perspectiva da formação omnilateral e da educação politécnica. (IFRN, 2012, p. 22).

A Escola firmou também, ao longo de sua história, forte presença esportiva com repercussão e destaque nacional ao sediar os Jogos Escolares Brasileiros do Ensino Médio (JEBEM), em 1972 e produzir um conjunto muito significativo de atletas e professores treinadores em modalidades distintas

como xadrez, natação, vôlei e basquete. Tal performance repete-se agora com a participação na edição 2017, dos Jogos dos Institutos Federais (Jif’s), etapa Nordeste. O Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) sagrou-se como grande campeão das disputas: foram 84 medalhas e 18 troféus, nas modalidades atletismo, basquetebol, futebol, futsal, handebol, judô, natação, tênis de mesa, voleibol, vôlei de praia e xadrez (IFRN, 2017).

Por mais de uma década, após a promulgação da Constituição em outubro de 1988 até a transformação em CEFET–RN em novembro de 1999, a instituição vive momentos de incertezas e descontinuidades.

Assim, a Escola que formou toda uma geração de profissionais encaminhados ao mundo do trabalho e aos cursos superiores, em diversas áreas por décadas, entra, com a nova constituição de 1988, em um processo de transição.

Muitos dos seus professores e técnicos administrativos são egressos da própria instituição e inevitavelmente fazem a comparação entre os diferentes períodos, do Ginásio Industrial na Cidade Alta, da ETFRN com suas modernas instalações e os dias presentes. Em paralelo as políticas públicas para a educação profissional são avaliadas dentro de um contexto político que nesse trabalho busca-se atualizar cronologicamente.

A transição para CEFET – RN não alterou o cotidiano na sede da Escola em Natal. Mossoró já havia adquirido uma institucionalidade e dinâmicas próprias e passo à passo um novo modelo “multicampi” foi se instalando, a partir dessa primeira experiência. Muitos foram os concursados em Mossoró que hoje encontram-se no Campus Natal – Central inclusive com cargos destacados na administração, tanto da Reitoria como do Campus Natal–Central.

O período em que a instituição esteve sob a denominação de CEFET RN pode ser caracterizado como uma transição entre uma Escola Técnica, amplamente vitoriosa baseada numa única unidade de ensino, com amplo espaço físico, uma comunidade acadêmica consolidada e um futuro de incertezas.

O crescimento urbano em Natal e em Mossoró a partir das décadas de 1970 e 1990, respectivamente, apontavam novas demandas para a educação profissional, em nível médio e superior. O futuro de incertezas, chegou acompanhado por uma política neoliberal, com disputas na sociedade que forçam a realização de greves na instituição, cuja formação acadêmica generalista baseava-se num projeto pedagógico essencialmente político.

O Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN) constituiu-se com atribuições acadêmicas na oferta de educação profissional nos níveis básico, técnico e tecnológico. Manteve-se o ensino médio e sua atuação no nível superior iniciou-se com os cursos de graduação tecnológica, ampliando-se posteriormente para os cursos de formação de professores, as licenciaturas em física, química e matemática. Em seguida, a instituição passou a atuar também na modalidade de educação de jovens e adultos e no ensino a distância, hoje bastante fortalecido com o Campus EaD.

Quando a nova institucionalidade de 2008 se concretiza, o novo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte nasce reforçando o status de “Escola Mãe” ao Campus Natal Central, o CNat. A “escola” que no final da década de 1960, toda década de 1970 e início da década de 1980 havia se constituído em referência nacional era agora também a referência de uma nova institucionalidade interiorizada por todo o Rio Grande do Norte.

O quadro 3, a seguir, resume dados quantitativos das diversas modalidades de ensino praticadas no CNat nos diversos cursos ofertados.

Quadro 3 – Modalidades de Ensino e Respectivos Cursos no CNat, 2017.1

Modalidade Cursos Matriculas Totais

Pós Graduações

Especialização em Gestão Ambiental Mestrado Uso Sustentável em Recursos Humanos

Mestrado em Educação Profissional Mestrado em Ensino de Física

35 40 68 34 177 Graduações Física Geografia Espanhol Matemática Construção Edifícios Engenharia de Energia Gestão Ambiental

Análise e Des. de Sistemas Redes de Computadores Gestão Pública Comércio Exterior 76 86 64 107 180 83 173 218 181 172 110 1.450 Técnicos Subsequentes Edificações Estradas Eletrotécnica Mecânica Petróleo e Gás Natural Segurança do Trabalho Mineração Geologia 342 142 135 177 196 224 99 101 1.416 Técnicos Integrados Eletrotécnica Mecânica Controle Ambiental Mineração Geologia Administração

Informática para Internet

Manutenção e Sup. Informática Edificações 167 185 344 163 118 161 148 142 372 1.787 Totais 4.933

Fonte: O autor (2017).

O surgimento de novas vagas mediante concursos nas diversas áreas renova e amplia rapidamente os quadros docentes e técnico administrativos da instituição e a escola mãe, espalha-se por todo o instituto através de seus quadros nomeados. A cada novo campus instalado, três cargos de direção: diretor geral, diretor pedagógico e diretor administrativo saem, em sua imensa maioria, do CNat levando suas experiências e vivencias para construir a nova institucionalidade em outro ambiente. Com os concursos, 60 vagas para docentes e 40 para técnicos administrativos são ofertadas a cada novo campus, e o Natal Central constitui-se como polo de atração para as transferências e remanejamentos, a “dança das cadeiras” imensamente desejadas, principalmente pelos docentes recém concursados.

Esse novo paradigma de ser um campus, subordinado a reitoria e sob novas regras administrativas precisa dialogar com outros desafios, acadêmicos, de gestão e tecnológicos.

O país, inserido tardiamente na dinâmica da economia capitalista, precisa inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento, que supere problemas estruturais que entravam o seu crescimento sustentável. E as instituições de ensino precisam ser vetor dessa modernização. O CNat do IFRN não poderá responder por toda política de inovação do Instituto, mas necessariamente precisa se afirmar como vanguarda dada sua posição estratégica do ponto de vista histórico e seu potencial como formulador de políticas educacionais.

A existência do programa de pós-graduação em educação profissional estabelece uma grande oportunidade a esse objetivo que deverá, em diálogo com os cursos de nível técnico, tecnológico e superior da instituição, qualificar o debate da relação entre a educação e o trabalho.

O Campus Natal – Central do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (CNat – IFRN), tem diante de si desafios acadêmicos, políticos institucionais e orçamentários.

No âmbito acadêmico, qual o perfil do Campus? O fortalecimento dos cursos integrados de nível médio, a excelência histórica da “escola”, buscando aperfeiçoar o subsequente ou enfrentando o debate da extinção dos mesmos? Acelerar a verticalização com ampliação de cursos de nível superior e pós-graduação ou qualificar e consolidar os atualmente existentes? Retomar a educação de jovens e adultos (EJA), os cursos de curta duração tipo Mulheres Mil ou voltar-se com mais energia e qualidade a extensão e pesquisa junto aos professores e estudantes da educação profissional integrada ao nível médio e dos cursos superiores e de pós graduação?

Os desafios na formulação de suas políticas institucionais não se resumem na afirmação do CNat como mais um campus do IFRN. Herdeiro direto da tradição secular da instituição, a “escola” tem a responsabilidade de ser espelho, de puxar os debates exigidos pela conjuntura e portanto formular alternativas não apenas para o IFRN mas para a Rede Federal de Educação Ciência e Tecnologia do MEC.

Por fim no âmbito orçamentário, diante à crise econômica e política instalada, o maior desafio será manter o ritmo de trabalho com as limitações financeiras já percebidas e crescentes para os próximos anos, diante muitas, muitas demandas represadas. Em particular necessidades de investimento na estrutura física do Campus, diante o Projeto + 50 anos, a partir do seu Plano Diretor e da limitação de espaços. Até quando não será enfrentado o debate sobre a existência do Campus EAD no mesmo espaço físico do CNat?

As necessidades de investimentos em equipamentos nas diversas Diretorias. Desde as atividades estudantis, de ensino, extensão, pesquisa e inovação, até as diretoria acadêmicas. Tais investimentos não será supridos pelos recursos orçamentários, sendo necessária toda uma preparação, urgente, na elaboração de projetos e busca de recursos em fontes para além do orçamento ministerial.