ASPECTOS INFLUENCIADORES PARA A SETUR TERCEIRIZAR

De acordo com todo referencial visto e como uma forma de analisar o porquê dessa terceirização e contratação da empresa Solimar International foi realizada uma entrevista com a Secretaria de Turismo do Estado, para entender os principais motivos desse processo.

Inicialmente, é possível destacar algumas falas voltadas para a composição da equipe técnica da Setur e quais as atribuições dessas pessoas, a fim de buscar compreender se isso seria um fator influenciador para busca de alternativas para a elaboração de produtos de planejamento e estratégia para o desenvolvimento do turismo no RN:

[SETUR/RN] Bom, o perfil dos técnicos aqui da secretaria de turismo tá passando por uma etapa de mudança que como houve mudança de gestão está tendo nomeações e exonerações, mas de uma maneira geral, é um quadro reduzido e com uma equipe técnica específica em algumas áreas, não temos técnicos de todas as áreas necessárias para cobrir, a equipe é um quadro bem enxuto aqui da secretaria. [SETUR/RN] As atribuições e competências dos cargos elas não são, não estão todas totalmente definidas, inclusive porque vai haver agora uma reestruturação com a mudança de gestão e essas competências vão ser é, definidas por meio da legislação do gabinete civil.

Nota-se duas principais questões a partir das falas acima: a) as alterações de quadro de funcionários que acompanham as mudanças de representantes políticos, o que é uma realidade dentro do cenário das políticas públicas em todas as esferas (federal, estadual e municipal), fator esse que consiste em um entrave para avanços e continuação de projetos e planos. E b) o tamanho da equipe é reduzida e com definições ainda não estabelecidas, o que também pode ser um fator influenciador

para a necessidade de buscar a terceirização no processo de construção e elaboração de elementos que contribuam para uma política pública estadual do turismo.

Percebe-se que esse argumento utilizado pelo gestor é uma realidade de vários setores públicos, onde geralmente as equipes são reduzidas e nem todos são devidamente qualificados para exercer a função. Chama-se atenção para o que Todesco (2013) destaca como justificativa para a expansão da terceirização no setor público está atrelada principalmente a redução de custos e ganhos de produtividade, mas que também de certo modo contribui para a redução de realização de novos concursos e contração do setor público.

No processo de elaboração dos planos feitos pela Solimar International, houve uma participação de atores do estado, que foram terceirizados pela consultoria e desenvolveram junto com a mesma, algumas atividades, como pesquisas de demanda, oferta e análise de mercado de algumas regiões, sendo esses, alunos e professores que atuam na área do turismo.

É possível afirmar a partir de uma análise do corpo técnico dos produtos entregues que a Solimar buscou os profissionais, principalmente docentes e discentes de instituições de ensino superior do próprio RN. Isso demonstra que, mesmo havendo uma contratação do órgão estadual do turismo, um número considerável de profissionais que executaram e participaram de todo o processo, consiste em ser da própria localidade, confirmando que no Estado existem possibilidades de parcerias e até mesmo contratações de agentes locais, o que em certo modo, fortalece a gestão integrativa e participativa no planejamento do turismo.

Quando perguntado sobre qual o papel da Secretaria de estado do Turismo do RN na produção de Políticas Públicas e sua capacidade de gestão, foi destacado o trabalho baseado nas legislações e no Programa de Regionalização do Turismo e suas atribuições.

[SETUR/RN] Fazer essas definições das políticas públicas a serem implantadas no estado, a gente trabalhando em consonância com as diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo, do Ministério do Turismo, seguindo a lei geral federal do turismo e a lei estadual de turismo e as ações, e as políticas são definidas seguindo essas legislações e as competências.

[SETUR/RN] Quando a gente trabalha com as diretrizes do Programa de Regionalização, a gente segue o Plano Nacional de Turismo e também tivemos o nosso Plano Estratégico que dar as nossas diretrizes para curto, médio e longo prazo, as quais estão sendo

cumpridas e também as dos PDITS, Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável, dos cinco polos implantados no Estado.

As falas acima mostram o quanto o órgão se preocupa em seguir as diretrizes e legislação do turismo, e que o papel destacado da SETUR é o de realizar definições de políticas públicas que precisam ser implementadas no RN, compreendendo as diferentes esferas, ainda é destacado a construção do Plano Estratégico do Estado e os PDITS das regiões, que contribuem para a formulação das diretrizes e ações a desenvolver.

Visando a resposta ao objetivo específico de identificar as principais influências para terceirização da elaboração de produtos vinculado a políticas públicas no RN, em dois momentos da entrevista podem ser destacados:

[SETUR/RN] a SETUR não terceiriza a produção de políticas públicas, o que a SETUR fez com relação as perguntas a seguir, foi contratar uma empresa para prestar serviços sobre a coordenação da secretaria de estado do turismo realizar as definições e ordenar isso num instrumento de planejamento;

[SETUR/RN] a secretaria tem uma equipe técnica enxuta e pequena; [SETUR/RN] é um quadro reduzido e com uma equipe técnica específica em algumas áreas, não temos técnicos de todas as áreas necessária para cobrir.

Observa-se que dois aspectos podem ser destacados nesse contexto: a) tamanho da equipe envolvida na secretaria, sendo considerada pequena e enxuta; e b) falta de pessoas técnicas em todas as áreas para que seja possível pensar no planejamento e elaboração de produtos que possam subsidiar as políticas públicas do RN. Diante disso, é pertinente destacar que, buscar parcerias e oportunizar os profissionais capacitados no RN a partir de instituições de ensino superior de qualidade pode contribuir para minimização dessa fragilidade.

Sobre a fala de que a SETUR não terceirizou a política pública de turismo do estado, pode-se entender nesse contexto que houve sim uma terceirização de acordo com a teoria discutida na presente pesquisa, onde deve-se destacar que mesmo com tais justificativas, é preciso compreender que atividades de planejamento, elaboração, fiscalização, implementação, acompanhamento de políticas públicas são atividades finalística, sendo então, de responsabilidade dos órgãos públicos da pasta do turismo. (TODESCO, 2013).

A fim de entender sobre fiscalização, monitoramento e acompanhamento no processo de construção dos produtos desenvolvidos pela Solimar para o turismo no RN destacou-se algumas falas:

[SETUR/RN] Foi feito uma portaria designando 5 técnicos para acompanhar, supervisionar todo o trabalho elaborado, feito de forma participativa, tanto nos municípios, como o trade de turismo que trabalha no estado;

[SETUR/RN] Foram etapas de oficinas, um trabalho realizado ao longo de quase 2 anos, com produtos construídos coletivamente e sobre o tempo inteiro da supervisão da secretaria de turismo, revisando relatórios, opinando em quais itens deveriam ser inseridos ou não; [SETUR/RN] Todas as etapas foram validadas tanto nos conselhos regionais como no conselho estadual de turismo.

De acordo com essa perspectiva, foi observado que durante o planejamento e criação dos documentos a SETUR possuía no mínimo uma pessoa para acompanhar e monitorar todo o desenvolver dos projetos. A cada reunião, um representante da SETUR acompanhou a equipe da Solimar nas reuniões e oficinas realizadas.

Sendo assim, percebe-se que a SETUR/RN aponta como principais aspectos influenciadores para a produção terceirizada de planos e documentos essenciais para desenvolvimento do turismo no Estado, dois aspectos, primeiro a necessidade de produzir um produto específico e qualificado, mas em contramão a ausência de técnicos qualificados em diferentes áreas, sendo essa uma realidade do setor público que impossibilita tal execução.

No entanto, é relevante destacar que é dever do governo e do estado realizar as atividades a que lhe competem, podendo então contribuir de uma melhor forma para elaboração das políticas, tendo a vista o maior conhecimento sobre a realidade local, sendo preciso pensar e articular maneiras de planejar as políticas públicas estaduais com maior participação e integração com os atores e instituições interessadas no desenvolvimento do turismo.

Além disso, para Todesco (2013) a presença de empresas de consultorias pode acabar privilegiando interesses do mercado e não atuando de maneira neutra, encobrindo interesses em jogo e não respondendo pela política pública que elaboram,

sendo, portanto, relevante compreender a percepção de atores locais quanto aos resultados desses produtos.

4.3 PERCEPÇÃO DOS MEMBROS DOS POLOS AGRESTE-TRAIRI E SERIDÓ,