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A elaboração do presente trabalho assenta num conjunto de questões que constituem pontos pertinentes que ajudarão a esclarecer o objectivo desta dissertação:

(1) A actividade vitivinícola pode potenciar melhorias significativas

na geração de rendimento e melhoria do nível de vida dos agregados?

(2) Nos agregados com baixo nível de rendimento, a viticultura pode

ser relevante para a diminuição da vulnerabilidade? (3)O processo de criação das cooperativas foi um instrumento necessário para conseguir a melhoria de rendimento dos viticultores?

A pobreza é caracteristicamente severa, manifesta-se de várias formas, é maioritária nos países em desenvolvimento, em especial, na África sub-sahariana onde a grande maioria das pessoas sobrevive em extrema pobreza. Resulta de uma interligação complicada de processos económicos, políticos e sociais, sendo um fenómeno complexo, multidimensional e multifacetado que vem adquirindo novas dimensões ao longo dos tempos, com graves consequências para o bem-estar das populações (Duarte, 2006).

A agricultura, embora seja apenas uma das actividades relacionadas com a economia rural, pode funcionar como um importante catalisador do desenvolvimento44, uma vez que continua a ser uma importante fonte de dinamismo nas áreas rurais: “(...) a melhoria da agricultura tem sido

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apontada como chave para atingir metas de redução da pobreza (...)” (Toulmin & Guèye, 2005: 23).

Por isso, uma estratégia e uma política agrícola orientada para o desenvolvimento rural são fundamentais para aumentar a produtividade e substancialmente os rendimentos das famílias dos pequenos agricultores e outros trabalhadores rurais45. A transformação da economia do pequeno produtor é um dos maiores desafios económicos do nosso tempo. No entanto, tal como afirma Hazell et al (2007: 2) “crescimento agrícola que aumenta a produtividade em pequenas propriedades, provou ser altamente eficaz em cortar a pobreza, a fome e elevar os padrões de vida rural (...)”. Apesar dos múltiplos desafios, ao associativismo é cada vez mais reconhecida como alternativa de desenvolvimento local e sustentabilidade social, constituindo-se uma força estratégica fundamental e indispensável nas estratégias de desenvolvimento dos territórios rurais (CTA, 2005; Guilherme, 2005).

A cooperativa46 não tem por finalidade exclusiva a obtenção do lucro. Acima de tudo a sua preocupação é a prestação de serviços que levem à satisfação das necessidades que originaram a sua constituição. Ajuda as famílias camponesas de modo a procurarem ter uma vida melhor, contribuindo na sua essência para o desencravamento das populações, fomentando o desenvolvimento rural. Segundo Pereira (1978: 7), “(...) no caso de se tratar de uma cooperativa agrícola o seu objecto será, naturalmente, orientado no sentido de facilitar e melhorar as condições de que os seus associados dispõem para a exploração agrícola, transformação e comercialização dos seus produtos. (...)”.

45. Ver Ferrinho (1987), Banco Mundial (2008), World Bank (2009), Scoones (2009). 46. Ver Campos (1999), Mendes, (1961).

O Fogo é, sobretudo uma região de vocação agrícola47, rara e espantosamente fértil num cenário nacional historicamente difícil, ainda que circunscrita a áreas limitadas. É a ilha mais rural de Cabo Verde, 66,6% da população vive no meio rural, proporção essa muito superior à média nacional que é de 38,2% posicionando-se como a 3ª ilha agrícola mais importante em termos de produção. 63,4% da população do Concelho de São Filipe vive no meio rural, 62,2% no dos Mosteiros e 87,6% no de Santa Catarina do Fogo. A maior parte da população residente dedica-se fundamentalmente à agro-pecuária de subsistência (quase exclusivamente mulheres) e à construção (frentes de alta intensidade de mão-de-obra), contribuindo também as remessas dos emigrantes para os rendimentos familiares (INE, 2011)

Actualmente a área ocupada pela videira é estimada em cerca de 500 ha (mais de 120 mil pés de videira) em toda a ilha do Fogo e em progressiva expansão sendo que em 2005 havia 80 mil pés e uma área de pouco mais de 200 ha. A idade média das vinhas desde a sua replantação a seguir à erupção de 1995 passou de 100 para 14 anos. O cultivo desta planta nos dias de hoje circunscreve-se às zonas altas dos concelhos de Santa Catarina do Fogo e do Concelho dos Mosteiros, por possuírem solos vulcânicos mais férteis e um microclima favoráveis à agricultura, numa altitude variável entre 800 e 1800 m. A maioria, sobretudo em Chã das Caldeiras localiza-se a 1700 metros altitude. (Battaglia & Egger, 2000; Rodrigues & Fattori, 2008) O solo vulcânico e fértil acompanhado pelas oscilações térmicas com noites frescas e pelas muitas horas de sol em anos de precipitação e durante o ciclo vegetativo são as razões para o desenvolvimento de uvas de boa qualidade com efeitos positivos sobre o grau açúcar e substâncias aromáticas dando origem a vinhos saborosos,

47. Para mais considerações consultar, Barros (1908), Campos (1945), Diniz (1902), Fonseca (1909), Fonseca (1936), Santos et al (2007), Sousa (2003),

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encorpados de alto teor alcoólico. A videira é cultivada num regime de sequeiro e, de acordo com o clima que caracteriza o arquipélago, a sua produção depende exclusivamente das escassas precipitações concentradas entre Julho e Setembro, determinando anos de boas ou más produções conforme a sua quantidade.

0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 2009 2010 Re nd im en to s ( €) Chã das Caldeiras Antes Depois 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 2007 2008 2009 2010 Re nd im en to s ( €)

Achada Grande, Corvo e Relva

Antes Depois

Fig 1 - Evolução dos rendimentos (€)

Fonte: Dados Inquéritos do Autor

Com base em indicadores de qualidade de vida do INE e de outras instituições oficiais, que nos auxiliarão na análise, verificamos que de facto os rendimentos provenientes da produção das uvas traduzem-se em melhorias substanciais na qualidade de vida.

Cerca de 70% dos agricultores inquiridos declararam que investiram na instrução escolar dos filhos por via da melhoria dos rendimentos provenientes da produção de uvas. A Educação nos locais de estudo conheceu, de facto, ganhos substanciais. Esta evidência é confirmada pelos números que mostram a evolução dos alunos inscritos, como se pode ver na figura 6 (anexo 10).

A actividade vitivinícola tem atraído e tem sido o motor do desenvolvimento de outras actividades nomeadamente do turismo, desta forma, têm vindo a receber muitos visitantes, advindo daí outras fontes de rendimento, como por via do artesanato, turismo de habitação e criação e emprego. Muitos jovens têm-se fixado nas suas localidades uma vez que não precisam ter que obrigatoriamente sair para procurar emprego fora, já conseguem efectuar um telefonema, aceder à internet.

O sector rural é um componente fundamental, pois o desenvolvimento do sector primário poderá ter um importante papel impulsionador no desenvolvimento e na diversificação da economia rural, ao permitir o surgimento de novas oportunidades de empregos em actividades a montante e a jusante do sector primário (comercialização, transformação agro-industrial, turismo rural, etc.) como consequência do seu crescimento. Nesta perspectiva o sector vitivinícola não pode ser visto como um sector isolado, mas antes como uma componente do desenvolvimento integrado. Tem maior potencial empregador para as populações com poucas alternativas mas pode também favorecer o crescimento de actividades não agrícolas.

A conclusão mais importante é a de que o nível geral de vida nas localidades vitícolas melhorou e tem estado a melhorar desde o aparecimento das cooperativas. Dito de outro modo, passou a haver menos pobres.

Quer pela análise e interpretação dos dados recolhidos no terreno quer pela consulta documental, verificou-se a importância que a viticultura e a vinicultura assumem na geração de rendimentos e na melhoria do bem-estar dos agregados familiares e das comunidades, permitindo adquirir outros bens alimentares e outros serviços. O tratamento dos dados dos inquéritos e a análise dos dados de várias instituições em Cabo Verde permitiu verificar que em os resultados, tanto monetários como os não monetários, foram positivos no que respeita à nas melhorias das condições de vida: aumento do rendimento, aumento da escolaridade das crianças e aumento da continuação dos estudos por parte das crianças e adolescentes, criação de postos de trabalho, e melhorias em indicadores de saúde e condições habitacionais.

Por esse facto, concluímos que:

– A viticultura é uma importante fonte de rendimento, representando cerca de 77,2% do rendimento global;