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Aspectos metodológicos

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CAPÍTULO 1: SOBREVOANDO A ÁREA

1.5 Aspectos metodológicos

Nossa pesquisa baseia-se numa metodologia do tipo etnográfico que busca centrar sua investigação na “compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações” e que para isso, é necessário “colocá-los dentro de um contexto” (WEBER apud ANDRÉ, 2012, p. 17). Compreendemos assim, como disse Marli André (2012, p. 17), que a etnografia “é a tentativa de descrição da cultura” e essa cultura, em nosso entendimento, é um conjunto de símbolos e significados atribuídos pelos sujeitos, neste caso as juventudes, aos eventos sociais. Rosalie Wax (apud ANDRÉ, 2012) diz que o papel do pesquisador etnográfico é o de buscar, de forma gradativa, se aproximar dos significados e da compreensão da realidade dos sujeitos estudados, buscando partilhar com estes tais significados.

Nossa pesquisa se baseia no estudo de caso etnográfico citado por André (2012, p. 31) que precisa possuir “um sistema bem delimitado, isto é, uma unidade com limites bem definidos, tal como uma pessoa, um programa, uma instituição ou

um grupo social” e, é claro, que esteja de acordo com os princípios da abordagem etnográfica, como já dissemos antes. Estudamos o caso do IPJ que em suas práticas educativas transdisciplinares são construtoras de identidades juvenis em Surubim/PE. Embora o estudo de caso “enfatiza o conhecimento do particular” nosso interesse ao selecionar o IPJ foi compreendê-lo “como uma unidade” buscando, no entanto, levar em consideração o “seu contexto e às suas inter- relações como um todo orgânico, e à sua dinâmica como um processo, uma unidade em ação” (ANDRÉ, 2012, p. 31).

Justificamos nossa escolha por compreender que a pesquisa do tipo etnográfico “se caracteriza fundamentalmente por um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência (...) diária”, conforme disse André (2012, p. 41) citando as razões para o uso da etnografia no estudo da prática escolar cotidiana. Com as técnicas etnográficas,

(...) é possível documentar o não documentado, isto é, desvelar os encontros e desencontros que permeiam o dia a dia da prática escolar, descrever as ações e representações dos seus atores sociais, reconstruir sua linguagem, suas formas de comunicação e os significados que são criados e recriados no cotidiano do seu fazer pedagógico (ANDRÉ, 2012, p. 41).

Considerando a pesquisa de tipo etnográfico que fizemos, utilizamos as três técnicas citadas por André (2012, p. 28) como características desse tipo de pesquisa qualitativa, foram elas a “observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documentos”. Na observação participante, que tem como princípio de que o pesquisador possui uma aproximação com a situação estudada, realizamos rodas de conversas com jovens que são o público do IPJ para estudar de que forma as práticas educativas transdisciplinares do instituto tem contribuído na construção de identidades nessas juventudes. Para isso, realizamos rodas de conversas com jovens que participam e/ou já participaram de algum processo educativo do IPJ como também com jovens que não participam e/ou participaram, para que pudéssemos conhecer de que forma os jovens lidam com situações do cotidiano, principalmente referentes aos temas emergentes, como por exemplo, sustentabilidade, participação política, racismo, (homo)sexualidade, família etc.

As rodas de conversas que tratamos nesta técnica de pesquisa ocorriam a cada 15 (quinze) dias com temáticas distintas. O público que participavam das rodas eram jovens e não-jovens do município de Surubim. Os convites para participar dos encontros aconteciam de forma mais forte através da rede social facebook. Com este convite, os participantes das rodas de conversas eram jovens que já costumavam participar de atividades realizadas pelo IPJ e jovens que nunca ouviram falar no instituto. O IPJ havia organizado um novo projeto de rodas de conversas qual chamou de “Roda de Conversa Sem Vergonha”. Fizemos nossa observação participante neste novo projeto do IPJ.

Em relação às entrevistas que, como citou André (2012, p. 28), “têm a finalidade de aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados” realizamos entrevista com o Conselho Diretor do IPJ a fim de compreender, esclarecer e aprofundar a respeito do fazer pedagógico que envolve os processos educativos do IPJ analisando seus elementos transdisciplinares. A entrevista foi realizada com os quatro membros titulares do Conselho Diretor, sendo a Diretora Presidenta, o Diretor de Projetos, o Diretor Financeiro e o Secretário. Fizemos uso do tópico guia de entrevista (apêndice 2) de forma dinâmica. Algumas poucas perguntas foram suprimidas porque as respostas já haviam sido dadas em perguntas anteriores. As perguntas iniciais de identificação foram direcionadas de forma individual a cada participante, as demais eram direcionadas para o coletivo e entre eles decidiam quem respondia a pergunta, em seguida outro(s) completava(m). Em grande maioria das perguntas quem respondia era a Diretora Presidenta e/ou o Diretor de Projetos e os outros dois participantes quando direcionávamos a eles para saber se tinham algo a acrescentar, eles mostravam concordância com o que os colegas de diretoria havia falado. Poucas vezes houve complemento do que fora dito.

A segunda pergunta do bloco 2 do tópico guia de entrevista preferimos perguntar de forma individual. A pergunta: “O IPJ é importante para você? De que forma?” iria nos trazer diversos elementos para compreender o papel da instituição na vida das juventudes de Surubim. Essa era um pergunta, em nossa compreensão, importante para analisar também se o IPJ havia alterado a realidade das juventudes no município. De forma bem tranquila, refletindo sobre sua própria realidade, os membros do Conselho Diretor teciam seus comentários a respeito da importância do

IPJ para cada um deles a medida que usavam suas realidades pessoais como justificativa para o que se dizia.

E, completando as técnicas de pesquisa qualitativa do tipo etnográfico, fizemos análise dos documentos do IPJ, tais como estatuto, projeto político pedagógico, entre outros, com o objetivo de “contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes” (ANDRÉ, 2012, p. 28). Fizemos estudos, inclusive, das atividades divulgadas no website da instituição pelo longo em que esta pesquisa aconteceu para confrontar com a fala da equipe diretora e com o que estava disposto nos documentos oficiais a respeito da missão institucional do IPJ.

Esta técnica não aconteceu de forma isolada, mas conectada com as demais técnicas. Com a utilização do estatuto e do projeto político pedagógico pudemos analisar as diretrizes e objetivos do IPJ, fazendo análises e comparações às falas dos membros do Conselho Diretor. Nestes dois documentos citados fizemos buscas para encontrar os princípios de uma abordagem transdisciplinar como era uma das hipóteses desse trabalho. Ao longo de nossa escrita também utilizamos o website da instituição como um documento de pesquisa, tendo em vista que nele a organização publicava materiais que corroborava com seus princípios estatutários e pedagógicos.

Nossa escolha pelos três procedimentos metodológicos quais citamos acima se justifica com base nas três dimensões citadas por André como possibilidades para apreender o dinamismo próprio da prática escolar, sendo eles: “a institucional ou organizacional, a instrucional ou pedagógica e a sociopolítica/cultural” (2012, p. 42). Cada uma dessas dimensões tentou dar cabo dos procedimentos metodológicos escolhidos por esta pesquisa e, para tanto, usamos uma abordagem metodológica específica com a intenção de melhor responder ao objetivo destes.

É importante que se diga, conforme bem pontuou Marli André, que uma pesquisa etnográfica possui pelo menos cinco características, a saber: “quando faz uso das técnicas que tradicionalmente são associadas à etnografia, ou seja, observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documentos”; que “o pesquisador é o instrumento principal na coleta e na análise dos dados”; outra característica “é a ênfase no processo, naquilo que está ocorrendo e não no produto ou nos resultados finais”; ainda é característica da pesquisa etnográfica “a

preocupação com o significado, com a maneira própria com que as pessoas veem a si mesmas, as suas experiências e o mundo que as cerca”; outra característica “é que ela envolve um trabalho de campo” e ainda a “descrição e a indução” e por fim, ela “busca a formulação de hipóteses, conceitos, abstrações, teorias e não sua testagem” (2012, pp. 28-30). Vale salientar ainda que essas características são características de uma pesquisa qualitativa.

Refleti muito sobre as aventuras da selva e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho.

(...) Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes dava medo. Responderam-me: “Por que um chapéu daria medo?”

Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem entender melhor. Elas têm sempre necessidade de explicações detalhadas. (...) O Pequeno Príncipe – (Antoine de Saint-Exupéry)

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