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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 ANÁLISE TEMÁTICA

4.1.7 ASPECTOS NEGATIVOS DA CARREIRA

Ao serem questionados quanto aos aspectos negativos e dificuldades que a carreira oferece, todos os entrevistados foram unânimes em apontar que o maior ônus que a carreira de trader impõe ao indivíduo consiste no fato de estarem constantemente viajando para o exterior, muitas vezes afastando-se do convívio familiar por longos períodos de tempo. E isso pode trazer sérias dificuldades e transtornos à vida pessoal do indivíduo.

Uma outra questão levantada pelo entrevistado E-2 é que verifica-se hoje, aliás não só nos indivíduos que exercem a função de trader, uma tendência, às vezes exagerada, de se priorizar as necessidades e as exigências da empresa em detrimento da sua vida pessoal.

Além disso, esse mesmo entrevistado ressalta o fato de o trader trabalhar constantemente sob um grau de pressão e cobrança muito grande, o que provoca um elevado nível de stress e, por conseqüência, causa um impacto negativo na vida pessoal do indivíduo.

Falando-se em dificuldades, o trader renuncia a muitas coisas. Por exemplo, você renuncia à uma convivência maior com a família. Você toda hora está viajando. Chega na semana, descansa 10-15 dias e, de repente, vai ficar fora mais um mês, de novo porque tem uma feira não sei onde, uma reunião não sei onde e você tem que ir. Isso provoca um distanciamento familiar muito grande. E isso é um ônus que dificulta a sua vida pessoal. Sem falar que normalmente você tem a tendência, às vezes, exagerada, de valorizar as exigências, as necessidades, as urgências da empresa, dos negócios, em detrimento da sua vida pessoal. Isso é um risco; é um dos ônus mais difíceis de controlar. Não administrar isso corretamente, pesa. Tem que ter isso muito presente e saber administrar. Essa é uma questão que deve ser vista.

Uma outra questão que eu acho difícil também é um grau de exigência muito grande sobre o trader. O grau de stress é muito grande e o stress desgasta. A sua empresa tem necessidades, os interesses envolvidos em todas as operações são muito grandes e isso, de uma forma ou de outra, te impacta, isso recai sobre você. E não é fácil. (E-2).

A parte negativa da carreira de trader foi a parte pessoal que foi bastante dura para mim, nesse período, porque a gente se afastou da família. Meu filho nasceu em 1973 e eu estava viajando. Eu recebia notícias dele por carta, porque naquela época não se tinha a facilidade de computador (e-mails). Então era uma dureza! Eu até que conseguia mandar as cartas, o duro era minha esposa me mandar correspondência porque eu estava cada semana num lugar. Era muito complicado. Era uma operação de solidariedade com pessoas que eu não conhecia e com as quais eu acabava fazendo alguma amizade no hotel onde estávamos hospedados. Então eu pedia o favor de contatar minha esposa, em São Paulo, e me trazer fotografia do meu filho e carta da minha mulher. Porque dali a alguns dias ou semanas a gente ia se encontrar em outro país, em outra feira internacional. Isso me ajudou bastante nesse período que eu fiquei fora, porque eu estava recém-casado e com filho novinho. Posso até dizer que vi meus filhos crescerem, por fotografia! [...] Eu sou um apaixonado pela área e acho

que,como em qualquer profissão, para você dar certo na profissão de comércio internacional você tem que ser apaixonado; fazer a coisa com gosto, com prazer, com amor mesmo! Veja, você ter que viajar para o exterior, por causa da sua profissão, e seu filho está doente, às vezes você não quer ir, quer ficar com seu filho, mas é importante que você vá. Claro que, resguardado um certo grau de segurança, mesmo com a inquietação de deixar seu filho doente, você vai. Você tem que gostar muito do que faz para superar certas coisas! Portanto, o ônus é suportável, mas é difícil. Não é fácil, não! Teve dias em que eu pensei duas vezes [...] (E-3)

Já o entrevistado E-4, considera que o distanciamento da família é o maior ônus da carreira de trader e, talvez, o único. Por outro lado, E-4 levanta um aspecto interessante, ao qual os demais entrevistados não se referiram. Para ele, as viagens de negócio longas, ou seja, aquelas em que o trader passa várias semanas visitando clientes ou potenciais clientes, em diversas cidades e países têm se mostrado pouco produtivas, pois o desgaste emocional provocado pelo afastamento da família e pela solidão faz com que o trabalho do trader apresente uma queda de rendimento/produtividade. E aqui ele recomenda/aconselha que, para que as viagens de negócio apresentem resultados realmente positivos, elas devem ser de curta duração: no máximo de uma a duas semanas.

Eu diria que o maior ônus dessa carreira é o distanciamento da família. Eu tenho duas filhas; durante um período de aproximadamente 8 a 10 anos, por força das circunstâncias, eu fui um pouco alheio, omisso, eu diria que não acompanhei par-e- passo o crescimento das minhas filhas. Elas tinham entre 4 a 5 anos de idade quando eu comecei a viajar. Então dos 4 aos 14 anos eu viajei demais. Chegava a ficar 40 dias fora de casa. Então isso já trazia, também, um certo desgaste emocional para mim e uma certa queda no meu rendimento. Eu percebia que o tempo ideal de duração das viagens era de 1 a 2 semanas. Uma semana para você se ambientar, se fosse um país estranho, e uma semana para você circular; a terceira semana já era uma

semana que a gente percebia uma queda na produtividade. Daí pra frente era uma questão de cumpri ordens e não trazer efetivamente rendimentos/negócios para a empresa. [...] Mas, certamente, o ônus do distanciamento familiar será muito mais suportável para um trader que exerce esta atividade com prazer. Conheci pessoas que não suportaram a ausência do lar e preferiram sacrificar a carreira. Portanto, creio que a função de trader está muito mais ligada a uma opção pessoal do que a uma simples promoção dentro da empresa. É preciso ter gosto por esta carreira; é preciso sentir prazer. Isto seria uma moeda de troca favorável para poder amenizar as dificuldades e pressões inerentes à profissão de trader. (E-4)