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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 ANÁLISE TEMÁTICA

4.1.3 A FORMAÇÃO DO TRADER

Dos quatro entrevistados, três afirmaram ter iniciado suas carreiras de trader sem nenhum aprendizado formal, sem nenhuma preparação prévia de como deve ser a atuação de um trader, que competências, habilidades e atitudes um profissional deve ter para exercer a função de trader com sucesso. Sabiam apenas o que as suas respectivas empresas esperavam deles: que fossem prospectar mercados no exterior no princípio, buscando novos clientes e, mais tarde, acompanhando o desenvolvimento desses mercados, visitando e fidelizando clientes. Foram como que “jogados no fogo” e aprenderam o oficio fazendo.

Aprendi fazendo porque na minha época não tinha muito suporte, não tinha quem ensinasse essa atividade. (E-3)

Eu nunca freqüentei um curso de comércio exterior, aprendi fazendo mesmo. (E-1)

Eu comecei no Rio de Janeiro, numa grande empresa do setor de telecomunicações, como assistente de exportação. Na ocasião a minha função era de assistir o gerente em todas as atividades principalmente de concorrências internacionais. A empresa participava de concorrências no exterior e minha função era de preparar propostas, acompanhar a documentação, enfim dar todo o suporte na área interna. Isso foi em 1976. Em 1977 vim para São Paulo e fui trabalhar num outro grande grupo da área têxtil, também na área de comércio exterior, mas agora como trader na área de produtos acabados. Aprendi no dia-a-dia do exercício dessa função e assim fui me desenvolvendo. (E-2)

Apenas um dos entrevistados – aquele que iniciou sua carreira de trader em 1990 - teve formação em comércio exterior; formou-se na segunda turma do curso de comércio exterior, no IMES, faculdade municipal de São Caetano do Sul, em meados dos anos 80. Assim como os demais entrevistados, este também afirma que aprendeu fazendo.

Não fui treinado para isso, foi algo que eu aprendi no dia-a-dia; aprendi fazendo. Eu mesmo cuidava da minha prospecção, dos meus contatos. Para não fazer vôo cego para determinado país, eu procurava fazer o máximo de contato através das Câmaras de Comércio aqui no Brasil, embaixadas e coisas até como consultar as listas telefônicas do país que eu ia visitar. Fazia mesmo um trabalho de prospectar, de garimpar clientes lá fora. (E-4)

Ainda no aspecto da formação profissional do trader, um dos entrevistados (E-2) afirma que o indivíduo que pretende entrar para essa carreira deve investir na sua preparação técnica-

profissional, procurando não só fazer cursos formais de comércio internacional (em nível de graduação e/ou pós-graduação) e de idiomas, como também na sua preparação pessoal, aprimorando seus conhecimentos sobre a cultura, a história, os usos e costumes dos diferentes povos, o que demanda muita leitura.

Eu não só procurava fazer os cursos que eram necessários (fiz curso de pós- graduação na Getúlio Vargas) como estudei idiomas; estudei inglês com afinco e busquei isso com DETERMINAÇÃO. Estudei alemão durante dois anos, duas horas por dia. Era CARÍSSIMO! Eu gastava quase 30% do meu salário estudando idiomas. Inglês eu tinha aprendido na escola, mas era insuficiente. Fiz curso de inglês nesses cursinhos, mas percebi que não iam me ensinar nada.Passei a ter aulas particulares de inglês, pagando professores nativos, por aula. Quer dizer, fiz esse investimento pessoal e um COMPROMETIMENTO porque eu via a necessidade de você estar qualificado para isso. Além, evidentemente, de todo um contexto pessoal, cultural de procurar ler, compreender, apreender, conhecer, através da literatura, a história, digamos, dos povos, como era, como não era. Enfim, um investimento cultural que eu acho que também é uma condição necessária. Se você não tiver uma condição SOCIAL E CULTURAL você vai ter mais dificuldade. Você precisa estar preparado profissionalmente. Você precisa estar preparado culturalmente. Você precisa estar preparado SOCIALMENTE. Não basta uma preparação intelectual ou profissional se isso não for acompanhado de atitude e comportamento que fazem parte do seu trabalho. (E-2)

Já um outro entrevistado (E-3) entende que, à parte da qualificação profissional formal, é muito importante que os iniciantes nessa carreira ouçam as experiências de profissionais mais antigos na carreira, que passaram por situações ricas em aprendizado nessa área e aprendam com eles, com a vivência e experiência deles, e deles extraiam o máximo de informações, porque isso pode ser um diferencial na formação e atuação do trader.

Eu brinco dizendo que, para trabalhar comigo, eu sou um cara bastante exigente. Eu tenho como característica escolhe aquele que pode oferecer algum diferencial, como conhecimento, não como atividades. Quando você tem informação, você tem o diferencial profissional. Então a idéia é: se preparar com a informação e saber onde buscar a informação. Para trabalhar no comércio internacional não adianta você ser um ótimo conhecedor do idioma inglês. Não é só isso; ajuda, mas não é só isso. Você tem que saber falar idiomas, mas ACIMA DISSO, ser um profissional MUITO BEM INFORMADO. Esse sim é o diferencial! (E-3)

Além disso, E-3 alerta que, para o bom desempenho da sua função, o trader deve dominar, não apenas idiomas, mas alguns outros conhecimentos que ele considera essenciais, tais como: geo-política, logística e comportamento do consumidor em países de culturas diferentes.

Não é só com idiomas que se constrói um bom trader. Idioma ajuda, mas não é tudo. Tem que ter conhecimento sobre logística, geo-política, conhecimento a respeito do comportamento do consumidor em culturas diferentes. Como você vai entrar num país sem conhecer um mínimo da sua cultura, para saber se o produto pode ter aceitação ou não? Eu sempre cito o exemplo clássico da faca elétrica,.... (E-3)

Ainda quanto à educação formal, todos os entrevistados acreditam, portanto, que o indivíduo que queira se tornar um trader tenha que adquirir conhecimento teórico em comércio internacional, antes de exercer essa função. Tal conhecimento teórico deve ser fornecido por instituições de ensino credenciadas que mantenham cursos nessa área. No entanto, o entrevistado E-1 e o entrevistado E-4 consideram que a formação teórica é condição necessária, porém não suficiente; ou seja, assim como ocorre em outras profissões como, por exemplo, a de médico, é necessário que, além do conhecimento teórico o indivíduo iniciante na carreira seja exposto a experiências concretas de trabalho. Assim como o médico, o trader só aprende a ser trader exercendo essa atividade, na prática.

Em minha opinião, um trader deve adquirir a essência técnica numa faculdade de comércio exterior evidentemente alicerçado por cursos paralelos de cada uma das nuances de que um trader deve possuir para o pleno exercício da sua função: curso de câmbio; formação de preços; embalagem; técnicas portuárias, aeroportuárias e rodoviárias; deve possuir um embasamento cultural dos usos e costumes de cada país; computação, além de possuir o completo domínio de, pelo menos, dois idiomas, sendo um deles o inglês. Igualmente tenho a convicção de que existe a necessidade de o indivíduo ter experiência em comércio, indústria, comércio internacional, antes de ser trader, simplesmente pelo fato de que confiança só se conquista com conhecimento. (E-1)

Acho que nunca é demais receber formação acadêmica. Melhor do que começar do zero é ter algum amparo teórico. Nesse caso, acredito que um curso bem estruturado, com professores experientes, pode dar uma contribuição interessante. Um médico não se consagra médico antes de passar por uma fase de residência num hospital. Mesmo assim, após esse período, ele precisa de algum tempo de prática para adquirir confiança. Assim também entendo que só se aprende a ser trader exercendo a atividade na prática. Tanto melhor se ele puder receber orientações teóricas antes de

partir a campo. Também creio que é fundamental que o indivíduo tenha experiência anterior em comércio internacional. (E-4)