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CAPÍTULO 4 – ESTUDO DE EXEMPLOS

4.3 ASPECTOS NORTEADORES DAS AÇÕES DE REGULARIZAÇÃO

O “Estudo de Avaliação da Experiência Brasileira sobre Urbanização de Favelas e Regularização Fundiária”48

promovido pelo IBAM (Instituto Brasileiro de Administração Municipal) em 2002, analisou dez cidades brasileiras e seus respectivos programas de regularização de assentamentos informais, e dentre eles, o município de Goiânia.

Uma das características realçadas pelo estudo foi a prioridade das ações voltadas à questão habitacional do município, na atuação “sobre as situações de risco social e ambiental para minimizar a ocorrência de acidentes”, conforme o texto. A predominância de ocupações informais sobre áreas de proteção ambiental somada à ocorrência de incidentes (que representam riscos à vida e à saúde) passam a dar status de prioridade às intervenções sobre os assentamentos dessas áreas.

Contudo, a necessidade de intervir nestas áreas é derivada ainda de uma problemática ambiental flagrante: a maior parte destes assentamentos se

48 O estudo é iniciativa do Programa das Nações Unidas para os assentamentos humanos - UN-HABITAT em

parceria com o Banco Mundial. Foram selecionadas dez cidades cujos programas em andamento visam à melhoria das condições de vida e moradia da população pobre vivendo em favelas e o enfrentamento dos problemas decorrentes da informalidade urbana. Belém – Programa de Gestão de Rios Urbanos, Belo Horizonte – Programa Estrutural em Áreas de Risco, Política Municipal de Habitação de Goiânia, Porto Alegre – Programa de Regularização Fundiária, Recife – Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social – PREZEIS,Rio de Janeiro – Programa Favela-Bairro, Salvador – Projeto Ribeira Azul, Santo André – Programa Integrado de Inclusão Social, Teresina – Programa Vila-Bairro e Vitória – Projeto Terra.

localiza em fundos de vale, áreas frágeis do ponto de vista ambiental, portanto impróprias para a ocupação urbana (IBAM, 2002, pág. 95).

Pode-se depreender que a problemática ambiental, sem dúvida, chama a atenção para proposição de soluções, pelo grande número de moradias nas beiras de água e pela contaminação das dezenas de cursos d'água do município. Portanto, grande parte da importância adquirida pela questão ambiental é relativa ao problema social e aos riscos para os ocupantes dessas áreas.

Apesar dos levantamentos, estudos e projetos para regularização de áreas de posse, em andamento, o estudo do IBAM constatou que uma das características das ações do município sobre as ocupações informais é o investimento maior em serviços pontuais (socorro emergencial nas enchentes, arruamento ou reformas) do que na atuação integral e abrangente (regularização fundiária ou recuperação ambiental). A distribuição dos recursos pelo Orçamento Participativo pode explicar em parte essa situação: em 2002, dos 41 milhões de reais disponibilizados para o setor, apenas pouco mais de um milhão foi destinado à regularização fundiária (IBAM, 2002, pág. 98).

Uma das formas de alocação dos recursos financeiros é através do Orçamento Participativo, cuja prática no município foi destacada no cenário nacional, pelo estudo do IBAM, de forma positiva. É um importante mecanismo de gestão com a participação da sociedade, portanto as experiências do início da década mostraram ser esse método ainda pouco sensível à questão dos assentamentos informais. Como um dos desafios do município, a avaliação das experiências pelo IBAM aponta a necessidade de ampliar a capacidade de obter recursos e de melhor gerir os investimentos.

A atuação pontual do Poder Público sobre problemas diversos advindos das áreas de posse, no lugar de uma ação mais estratégica, converge com o diagnóstico feito pelo PEMAS – Plano Estratégico para Assentamentos Subnormais de Goiânia, em exigência do Habitat- Brasil/BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). É ressaltada a ausência de uma Política Habitacional formalizada, apesar de existir na prática ações referentes às habitações, em especial, sobre as áreas consideradas pelo município, como de risco:

Embora o município de Goiânia não conte com uma Política habitacional formalizada existe, na prática, toda uma política delineada que se concretiza nas ações em execução pela PMG no tocante ao setor habitação. [...]

Entretanto, as ações vem sendo implementadas sem a explicitação de critérios para a sua priorização, embora venha sendo priorizada a atuação em invasões situadas em áreas de risco (especialmente áreas inundáveis)

(PEMAS, 1999, pág 21).

O diagnóstico também observa a baixa capacidade de investimentos no setor de habitação e urbanização (analisados os quatro anos anteriores) e o direcionamento prioritário dos recursos existentes para as ações emergenciais, sobre problemas causados pelas enchentes nos períodos chuvosos. Inclusive, ambos os estudos apontaram a necessidade de aprimorar a forma de atuação sobre a questão, através de um planejamento mais abrangente, o que pode vir a contribuir com a ampliação da capacidade de distribuir os recursos de forma eficaz.

Essa constatação se reflete na forma de enfrentamento da questão da irregularidade como um todo. As ações têm sido pulverizadas nas áreas críticas e os resultados ainda são bem menores que o problema em si. Muito trabalho para as áreas de posses já foi desenvolvido pela secretaria responsável: levantamentos cadastrais para a maioria dos casos existentes49, projetos elaborados para a requalificação urbana, obras diversas iniciadas,

recursos pleiteados e em parte conseguidos. Portanto, em grande parte das ocupações não foram finalizados seus respectivos processos de regularização fundiária, desadensamentos ou reassentamentos. Em alguns, as intervenções foram apenas iniciadas, os recursos financeiros já se esgotaram e o projeto não foi implantado em sua totalidade. Pela grande quantidade de programas em aberto, fica bastante clara a descontinuidade das propostas e ações entre as várias gestões municipais.

4.3.1 Algumas APP ou ZPA ocupadas e as ações do município

Com o intuito de traçar um perfil geral das ações municipais sobre ocupações em ZPA (ou APP), que para uma amostragem foram escolhidas quatro. São processos desenvolvidos separadamente, em diferentes estágios, sendo alguns bastante antigos. Não há, no momento atual, um programa único que englobe esses processos.

Desse breve paralelo, mostrado de forma esquemática em quadro a seguir, é possível detectar:

1. Todas as ocupações existem há mais de 25 anos;

2. São consideradas, pelos levantamentos e cadastros municipais, como ocupações de 49 O município tem matriculadas no Cadastro Imobiliário todas as edificações, mesmo as posses (favelas), pois é

cobrado o IPTU (excluído o territorial) de todas as edificações.

risco;

3. Todas possuem projeto de urbanização, uns mais completos outros mais antigos. Não formam um conjunto de intervenções, são planos separados.

4. A maioria possui como maior problema as inundações;

5. Todas possuem no mínimo três itens de infra-estrutura, que foram executadas ao longo do tempo, sem planejamento;

6. Não foi iniciado processo para regularização de títulos;

7. Em todos são previstas ou já ocorreram remoções;

8. Em nenhum houve recuperação ambiental;

9. Dos quatro, dois possuem estudos ambientais;

10.Três projetos trabalham com a redução da faixa de preservação permanente;

11.Dois obtiveram uma autorização prévia do órgão ambiental municipal para a redução da faixa; em um projeto, o acordo foi verbal.

A seguir, o Quadro 5, apresenta de forma resumida algumas características de algumas áreas de posse e as ações já empreendidas pelo município.

Ocupação Jardim Goiás Emílio Pó- voa Coronel Cosme Vila Monti- celli População 992 1006 608 160

ZPA III ou APP

Nascentes Córrego - 50m Córrego Bo- tafogo - 50m Rio Meia Ponte - 100m e Córrego da Onça - 50 m

Rio Meia Pon- te - 100m e Córrego - 50

m

Data 1980 1961 1971 1976

Tipo de risco Inundação

parcial Desabamento Inundação

Inundação e Desabamento Ações da prefeitura Urbanização Asfalto parcial, água, energia Asfalto, água, energia Asfalto, água, energia, esgoto Asfalto, água, energia, esgo- to Regularização Titula-

ção Não Não Não Não

Remoção Parcial Parcial Parcial Parcial

Recuperação Não Não, mas

há projeto Não Não, mas há projeto Flexibilização da faixa Nascentes- menos de 100 metros

Ainda sem in- formação Meia Pon- te 50m Meia Ponte 35m

Estudo Ambiental Não Sim Não Sim

Licença Ambiental Não

Autorização prévia inter- venção APP Acordo verbal Autorização prévia inter- venção APP

Quadro 5 – Algumas ocupações em APP e as ações do município.