2.2 SOLUÇÕES PARA COOPERAÇÃO
2.2.4 Aspectos relevantes para a escolha de ações coletivas
Um resumo das proposições de Ostrom (1990) está apresentado na
Figura 12, onde consta o quadro geral das variáveis que afetam a escolha
institucional.
É possível estimar que indivíduos estejam dispostos a adotar novas
regras quando existirem indicadores claros de degradação dos recursos e
danos futuros, ou quando os líderes forem capazes de convencê-los de que
uma "crise" é iminente. Nesse caso, os indivíduos vão ponderar melhor os
benefícios esperados em evitar danos futuros a partir da ação coletiva
(OSTROM,1990).
Figura 12: Variáveis que afetam a escolha institucional Fonte: Adaptado de Ostrom (1990), tradução nossa.
Andrews (2005) indica que Ostrom concebe as normas sociais como uma
das quatro variáveis internas que afetam a escolha individual. As outras
variáveis internas são: benefícios esperados, custos esperados e taxas de
desconto. Para o autor, chama atenção o fato de que Ostrom coloca normas
sociais lado a lado às variáveis típicas da análise econômica. Assim, apesar de
reconhecer a importância das normas de interação social para a coordenação
da ação coletiva, a autora não coloca a elaboração dessas normas no centro
de seu argumento. Sua abordagem ainda depende de conceitos e referências
teóricas da escolha racional, não conseguindo fazer a distinção entre o
momento no qual atores sociais se orientam pela ação estratégica (avaliação
de custos-benefícios e cálculos de taxas de desconto) e o momento no qual
eles se referem ao mundo social, orientando-se pela ação comunicativa
(normas consensuais de interação social).
Andrews (2005) analisa as variáveis de mudança institucional
apresentadas por Ostrom em 1990. Para ele fica difícil entender como normas
sociais poderiam ser “capturadas” em termos de variáveis. Enquanto variáveis
como custos, benefícios e taxas de desconto são expressas em termos
quantitativos, normas de interação social pertencem à dimensão interpretativa
e, portanto, só podem ser avaliadas em termos qualitativos.
Sobre as variáveis que afetam as escolhas, Faller (2009) afirma que o
quadro consiste principalmente em duas esferas: o mundo interno e o mundo
externo onde são tomadas as decisões. Para a análise dos CPR’s faz-se
necessário tomar a posição de um indivíduo que enfrenta a questão dos custos
x benefícios de uma mudança de regras numa situação de CPR, com duas
possibilidades: manter as regras ou alterá-las.
Além da análise dos custos e benefícios das mudanças de regras, Ostrom
(2009) identifica sete grandes tipos de regras que afetam as ações e decisões
dos indivíduos (Figura 13). Os sete tipos de regras são:
1. As regras de limite, que especificam como são decididas a entrada e
saída dos indivíduos nas posições que ocupam numa CPR;
2. As regras de posição, que especificam as posições ocupadas pelos
atores e quantos deles ocupam cada um;
3. As regras de escolha, que especificam quais ações um ator deve, pode
ou não deve fazer, em função de sua posição e de uma determinada situação;
4. Regras de informação, que especificam os canais de comunicação
entre os atores e quais informações devem, podem, ou não devem ser
compartilhadas;
5. As regras de escopo, que especificam os resultados possíveis de cada
ação;
6. As regras de agregação, que especificam como as decisões dos atores
devem ser tomadas (eleições majoritárias, unanimidade...); e
7. Regras de pagamento que especificam como os benefícios e custos
devem ser distribuídos aos atores em função de suas posições.
Figura 13: Regras de afetam as ações e decisões dos atores de uma CPR Fonte: Ostrom (2009, p. 20), tradução nossa
As regras de limite afetam o número de participantes, seus atributos e
recursos, se eles podem entrar livremente e as condições que enfrentam para
sair. As regras de posição estabelecem a hierarquia da estrutura pesquisada.
As regras de escolha estabelecem as diferentes opções de ação dos atores em
diferentes posições. As regras de escopo delimitam os resultados potenciais
das diferentes ações e, no sentido inverso, as ações vinculadas aos resultados
específicos. As regras de escolha definem o grau de controle que os indivíduos
possuem sobre as diferentes situações possíveis. As regras de agregação
afetam o nível de controle exercido pelos atores na seleção de uma ação em
uma determinada situação, pois indicam as ações necessárias para a
realização de uma determinada atividade. As regras de informação afetam o
conjunto de informações disponíveis para os participantes, os canais de
comunicação possíveis de serem utilizados e quem pode comunicar com
quem. As regras de pagamento afetam os pagamentos e penalidades
atribuídos aos diferentes tipos de ações possíveis. Todas as regras são
interdependentes no sentido de que o efeito da mudança de uma regra pode
depender das outras regras (OSTROM, 2009).
Ostrom (1990) também relaciona oito Princípios para a Gestão
Sustentável dos CPR. Nem todos os princípios têm de ser realizados em todas
as circunstâncias, mas as perspectivas para a governança sustentável tendem
a aumentar com o aumento do número desses princípios realizados. Os
princípios definidos por Ostrom (1990) são:
1. Limites claramente definidos:
de usuários: limites claros entre usuários e não usuários legítimos
devem ser claramente definidos.
de recursos: limites claros entre a CPR e o ambiente externo.
2. Congruência entre as regras de apropriação e de oferta e as condições
locais:
adaptação às condições locais: regras de apropriação e de oferta
adaptadas as condições sociais e ambientais locais
apropriação e disposição: Os benefícios obtidos por usuários de
recursos de propriedade comum (CPR), como determinado pelas
regras de apropriação, são proporcionais as regras de oferta
disponíveis na CPR, como mão de obra, material, ou dinheiro
disponíveis.
3 Arranjos de escolha coletiva: a maioria das pessoas afetadas pelas
regras operacionais deve poder participar das decisões para modificar as
regras operacionais.
4 Monitoramento: os monitores responsáveis perante os usuários para
monitorar os níveis de apropriação devem prestar conta aos usuários e serem
responsabilizados pelo monitoramento, ou serem eles mesmos usuários das
CPR.
5 Sanções progressivas: apropriadores que violam as regras de
funcionamento são susceptíveis de receberam sanções progressivas em
função da gravidade da violação e do contexto da infração. Essas sanções
podem ser aplicadas por outros usuários da CPR, por funcionários
responsáveis perante os usuários, ou por ambos.
6 Mecanismos de resolução de conflitos: os usuários das CPR e seus
representantes devem ter acesso rápido e a baixo custo às instâncias locais de
resolução de conflitos entre usuários ou entre usuários e representantes.
7 Reconhecimento mínimo dos direitos a se organizar: os direitos dos
apropriadores para conceber as suas próprias instituições não são contestados
pelas autoridades governamentais externos.
8 Grupos aninhados: esse último ponto foi adicionado por Ostrom para
contemplar os grupos com um grande número de usuários. Nesses caso a
apropriação, provisionamento, monitoramento, fiscalização, resolução de
conflitos e atividades de governança são organizadas em camadas múltiplas de
grupos aninhados (OSTROM, 1990).
Depois de descrever a metodologia de pesquisa desenvolvida por
Eleanor Ostrom, é importante tratar da reforma agrária, com enfoque para os
assentamentos e assentados, sujeitos da pesquisa.
3 REFORMA AGRÁRIA
Para entender o contexto reforma agrária e sua importância no país,
faz-se necessário uma breve abordagem de sua implantação no país, da
concentração de terra e dos assentamentos no Brasil e no Centro-Oeste.
No documento
Ações coletivas nos assentamentos rurais da reforma agrária do Centro-Oeste brasileiro
(páginas 69-75)