2.1 COOPERAÇÃO
2.1.3 Ações coletivas
2.1.3.2 Fatores responsáveis pela ação coletiva
O trabalho de Olson (1971) sobre a ação coletiva pode ser considerado
como referência para análise das motivações dos agentes agirem
coletivamente (lógica da ação coletiva). O autor inclui o conceito de bens
coletivos como fator de estímulo para a formação dos grupos, visto que assim
os indivíduos deveriam se unir para conseguir um objetivo em comum que não
alcançariam individualmente, uma vez que individualmente eles são incapazes
de arcar com os custos.
Conceitualmente, bens coletivos são oriundos de bens públicos que são
bens não exclusivos e não rivais. Bens não exclusivos são aqueles pelo qual os
indivíduos não podem ser excluídos de seu consumo e cujo uso dificilmente
pode ser cobrado. Os bens são não rivais quando o custo marginal de
fornecimento para um consumidor adicional é zero (PINDYCK; RUBINFELD,
2002).
Operacionalmente, os bens públicos tornam-se bens coletivos quando
são do interesse específico de um determinado setor. Esses bens, tanto
públicos quanto coletivos, estão sujeitos ao comportamento de carona. Nesse
caso, a racionalidade individual não corresponde automaticamente à
racionalidade coletiva e pode prejudicar a cooperação. Uma legislação, por
exemplo, que cria isenção fiscal específica para um setor é um bem coletivo
típico (FARINA, 1997).
Na lógica de Olson (1971), os integrantes de grupos pequenos percebem
com maior nitidez o peso de suas contribuições para o provimento do bem
comum. No caso dos membros de grupos grandes, a ação coletiva é mais
difícil, pois estes percebem, racionalmente, que seu peso individual na
consecução do bem é irrisório. Portanto, os indivíduos não têm incentivos
suficientes para cooperar e o bem comum advindo dessa cooperação
provavelmente não será provido.
Olson (1971) observou dois aspectos em relação a grandes grupos
envolvidos no fornecimento de bens coletivos. O primeiro foi que, à medida que
os grupos se tornam maiores, a contribuição individual tende a ser maior do
que a percepção individual do retorno do bem coletivo compartilhado entre os
membros que compõem a ação. Nesse caso, na percepção dos indivíduos, o
custo da cooperação ultrapassa seus benefícios. O segundo aspecto revela
que, em grandes grupos os membros tendem a tolerar outros membros que
não se envolvem diretamente na ação coletiva (free-rider). Porém, se muitos
membros adotarem essa postura, os objetivos da ação coletiva não serão
alcançados.
A lógica de não cooperação em grupos grandes é reforçada pelo caráter
não-exclusivo do bem, pois os chamados free-riders, ou “caroneiros”, podem
supor que se beneficiarão, de todo modo, no caso de provimento do bem,
ainda que não contribuam para a ação coletiva pertinente (LACERDA, 2011).
Olson (1971) afirma que o “carona” surge em decorrência dos indivíduos
possuírem disposições diferentes em alcançar o objetivo comum. Alguns
indivíduos trabalharão mais arduamente que outros, uma vez que o benefício é
o mesmo para todos, independentemente do esforço despendido. Para Britto
(2002), o free-rider é o oposto da cooperação, que significa contribuir para os
objetivos comuns, relegando os objetivos individuais ao segundo plano.
Baseado nos problemas de “free riding” e de valor da contribuição em
relação ao valor do bem coletivo, Olson (1971) conclui na interferência do
tamanho do grupo sobre a eficácia da ação coletiva. Independentemente da
sua composição, grupos menores possuem custos de transação menores,
sendo mais eficientes que grupos grandes. Ainda, segundo o autor, o ponto
mais importante no que se refere aos grupos pequenos é que eles podem ser
capazes de promover-se por causa da atração individual que o benefício
coletivo tem para cada um de seus membros.
Olson (1971) aponta que indivíduos com interesses em comum tendem a
agir visando aos objetivos do grupo. No entanto, é evidente que alguns
interesses individuais podem diferir dos interesses do grupo, favorecendo o
surgimento de conflitos e dificuldades de se estabelecerem as estratégias
coletivas.
Segundo a teoria de Olson (1971), que procura explicar a atitude
daqueles que promovem ações voltadas à busca de bens coletivos – como por
exemplo os dirigentes de associações de bairro, os síndicos de prédios e os
políticos bem-intencionados, estas pessoas fazem mentalmente um raciocínio
matemático conforme o qual os esforços que empreendem são resultados de
duas variáveis, as quais correspondem ao custo de obtenção do bem comum e
ao benefício que este bem proporciona. Ou seja, os indivíduos realizam a
seguinte operação mental:
(1) Ação coletiva = valor atribuído ao bem comum – custo de obtenção
Se o valor atribuído ao bem comum é maior que o custo de obtenção, a
ação individual que trará benefícios coletivos será disparada. Enquanto muitas
vezes os beneficiários do bem comum ficam parados, mesmo desfrutando de
tais benefícios, aqueles que lutam pelos benefícios coletivos o fazem ou por
uma valorização (do benefício) além dos demais, ou por não enxergarem custo
tão elevado quanto os demais enxergam.
Assim, mesmo que os indivíduos compartilhem os mesmos interesses,
não é evidente que eles devam atuar coletivamente, pois eles podem imaginar
que o esforço individual será maior que o benefício que se poderá obter com a
ação coletiva (PARAMIO, 2000).
Para Olson (1971) o conceito de bens coletivos pode ser aplicado a bens
que interessam apenas a um subconjunto da sociedade, onde os membros
desse grupo, mesmo desejosos de um benefício coletivo, individualmente não
têm incentivos para arcarem com os custos da sua obtenção. Se a melhor
escolha de cada agente for a não-contribuição, obtém-se um resultado
“pareto-ineficiente” para o grupo como um todo. O autor cita como exemplo uma greve
de trabalhadores em busca de maiores salários, onde um possível acréscimo
nos pagamentos beneficiará a todos os empregados. Neste caso, tanto os
grevistas como os não grevistas se beneficiarão da greve e a escolha racional
seria evitar os riscos de uma retaliação patronal e comparecer ao trabalho,
deixando os outros fazer a greve. Em consequência, a greve fracassa e o bem
coletivo não é alcançado. Quando a racionalidade individual não coincide com
a racionalidade coletiva tem-se o chamado problema da ação coletiva.
No documento
Ações coletivas nos assentamentos rurais da reforma agrária do Centro-Oeste brasileiro
(páginas 46-49)