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3.1 CONTEXTO

3.1.4 Assentamentos no Brasil

Veiga (1991) defende que uma das formas de superação da desigualdade

na estrutura fundiária se dá por meio da implantação de assentamentos rurais,

que fornecem terra e as devidas condições para a sustentabilidade dos

assentados.

A redistribuição de terras, através da reforma agrária, se dá por meio de

concessão de lotes individuais para pessoas que na sua maioria são ex

assalariados, com uma política que visa a implementação de empreendimentos

econômicos de natureza familiar denominados de assentamentos (MDA, 2004).

O termo de assentamento surgiu com o objetivo de fixar grupos de sem-terra,

que se organizaram principalmente a partir do final da década de 70 e início

dos anos 80, bem como aliviar as tensões sociais provocadas por esses grupos

(MEDEIROS, 1994).

A situação de assentamento significa uma mudança de perspectiva para

esses trabalhadores. As estratégias de gestão do trabalho e do território,

desenvolvidas por esse segmento, se somam com outras dimensões da vida

social, compondo um singular modo de vida (FERRANTE; BARONE, 2011).

No entanto, segundo Bergamasco e Norder (1996), a conquista da terra

impõe aos assentados desafios, incertezas e expectativas da produção

econômica. Porém, nem sempre este ambiente, no qual os produtores se

inserem, é adequado às suas necessidades, e a precariedade pode impedi-los

de obter avanços produtivos. A carência de meios de trabalho pode fazer com

que os assentados entrem num sistema que dê continuidade à sua pobreza.

Por meio do INCRA os assentamentos estão apoiados em uma política de

crédito própria, que financia a implantação dos lotes com recursos para a

construção da moradia, da manutenção da família no primeiro ano, além de

financiar o custeio da produção e disponibilizar crédito para investimento, com

prazos e carências (ALBUQUERQUE; COELHO; VASCONCELOS, 2004).

O assentamento rural é um conjunto de unidades agrícolas

independentes entre si, instaladas pelo INCRA onde originalmente exista um

imóvel rural que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas unidades

é chamada de parcela, lote ou gleba, sendo entregue às famílias sem

condições econômicas para adquirir e manter um imóvel rural por outras vias. A

quantidade de glebas num assentamento depende da capacidade da terra de

comportar e sustentar as famílias assentadas. Já o tamanho e a localização de

cada lote são determinados pela geografia do terreno e pelas condições

produtivas que o local oferece (INCRA, 2016b).

Em relação ao funcionamento dos assentamentos, ao receberem o lote os

trabalhadores rurais devem morar no lote e explorá-lo para seu sustento,

utilizando a mão de obra familiar. Há a disponibilidade de créditos, assistência

técnica, infraestrutura e outros benefícios de apoio ao desenvolvimento das

famílias. Quando recebem o lote, os beneficiários só detêm a posse da terra, a

qual continua vinculada ao INCRA. Neste caso, sem a escritura os beneficiados

ficam impedidos de vender, alugar, doar, arrendar ou emprestar a terra a

terceiros. Após o recebimento, eles pagam pela terra que receberam e pelos

créditos contratados (INCRA, 2016b). Segundo o INCRA (2016c, p.1), a

tipologia desses projetos está dividida em dois grupos:

1- Projetos de reforma agrária criados por meio de obtenção de terras pelo Incra, na forma tradicional, denominados Projetos de Assentamentos - PAs, e ambientalmente diferenciado, denominados

Projeto de Assentamento Agroextrativista – PAE, Projeto de

Desenvolvimento Sustentável - PDS e Projeto de Assentamento Florestal- PAF;

2- Projetos de reforma agrária reconhecidos pelo Incra, criados pelas instituições governamentais para acesso às políticas públicas do PNRA.

Segundo o INCRA (2016d) o Brasil incorporou ao Programa de Reforma

Agrária 9.290 assentamentos, totalizando 88.269.706,92 ha de área até 2014.

Neste contexto, beneficiou 969.640 famílias assentadas, com capacidade total

para beneficiar 1.175.091 famílias (INCRA, 2016e).

A Figura 14 apresenta a série histórica das famílias assentadas,

computando o acumulado até 1994 e, na sequência, por exercício até o ano de

2014.

Figura 14: Série histórica de famílias assentadas - Brasil até 2014 (em mil famílias)

Fonte: elaborado pela autora com dados do DT/GAB-Monitoria - Sipra/Web de 31.12.2014 (INCRA, 2016e)

Entre 1995 e 2002, o Brasil foi governado por Fernando Henrique

Cardoso que assentou 280 mil famílias durante o primeiro mandato

(1995-1998). No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002),

diferentemente do anterior o programa agrário não apresentava metas de

assentamentos (MATTEI, 2012) e a quantidade de famílias assentadas caiu

muito. No período de 1995 a 2002 houve um acréscimo de 927,18% em

relação ao total existente de famílias assentadas até 1994. Entre 2003 e 2010,

o Brasil foi governado pelo presidente Lula, que contou com amplo apoio dos

movimentos sociais agrários (MATTEI, 2012). No primeiro mandato

(2003-2006) foram assentadas 381.419 famílias e no segundo 232.669, o que totaliza

614.088. Comparando com o Governo anterior, obteve-se um padrão similar

das famílias assentados, com um aumento regular no primeiro mandado e

queda no segundo, com um acréscimo de 113% em relação as famílias

assentadas no Governo Fernando Henrique Cardoso.

Apesar do aumento, Mattei (2012) indica que a posição do Governo foi

muito questionada pelas lideranças de movimentos ligados ao Movimento dos

Sem Terra (MST). A não efetivação do número de assentamentos

programados, bem como a redução do volume de desapropriação de terras no

segundo mandato, revelam que a reforma agrária não foi priorizada.

De 2011 a 2014 o Brasil foi governado pela presidenta Dilma e passou

por um grande declínio das ações políticas voltadas para a reforma agrária.

Nesse período foram assentadas 107.354, uma redução de 46,14% em relação

ao último mandato do Presidente Lula, que já tinha passado por uma grande

redução (Figura 14).

A região Norte possui a segunda maior área de Projetos de

Assentamentos (PAs) com 23.160.125,70 ha (26,24%), atrás do Amazonas

com 27.303.402,74 ha (30,93%). No entanto, o Pará possui 1.123

assentamentos (12,09%) e capacidade de abrigar 315.067 famílias (26,81%),

apesar de assentar apenas 245.511, o que equivale a 25,32% dos assentados

do país.

Na região Centro-Oeste destaca-se o estado do Mato Grosso, que

contém uma área de 6.067.509,27 ha (6,87% do Brasil), comportando um total

de 547 assentamentos, equivalendo a 5,89% do total em nível nacional. O

estado possui uma capacidade de atendimento superior a 100.000 famílias

(Tabela 5).

Tabela 5 – Assentamentos do Brasil por região e por estado do Centro-Oeste – 2014

Região Área PA Quant.

Assentamentos Capacidade Famílias Assentadas

Sudeste 1.463.821,58 779 55.166 43.701 Sul 825.367,371 830 39.952 36.544 Norte 67.168.176 2.140 554.279 428.903 Nordeste 10.792.059,30 4.283 361.778 323.987 Centro-Oeste 8.020.282,69 1.258 163.916 136.505 MS 716.104,22 204 32.144 27.840 DF / GO / MG 529.210,47 206 16.180 12.863 GO 707.458,73 301 14.448 13.231 MT 6.067.509,27 547 101.144 82.571 Total 88.269.706,90 9.290 1.175.091 969.640

Fonte: Elaborado pela autora, com dados do INCRA (2016d)

Na Tabela 5, a Seção Regional do INCRA responsável pelo Distrito

Federal inclui assentamentos que fazem parte dos estados de Goiás e Minas

Gerais, o que dificulta a contabilização do número de assentados nesse

estado. A região que possui a maior área de Projetos é a região Norte, com

76,09% do total. Porém, a maior quantidade de assentamentos está localizada

na região nordeste, com 46,10%.

A região sul é a que detém a menor área de assentamentos, com

825.367,37 (0,94%). Porém, a menor quantidade de assentamentos está

localizada na região sudeste, com 779 (8,39%). A região Centro-Oeste ocupa

uma posição intermediária em todos os segmentos, com uma área destinada

aos Projetos de Assentamentos de pouco mais de 8 milhões de hectares

(9,09%), com 1.258 assentamentos (13,54%), e a capacidade de assentar

163.916 famílias (13,95%).

É nesse contexto, frente a grande concentração de terras no Brasil que os

assentados buscam sobreviver atendendo à requisitos legais da reforma

agrária e da agricultura familiar.