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Aspectos territoriais do agronegócio da soja no complexo portuário de Paranaguá Paranaguá

3.3 Fluxos e fixos no porto de paranaguá no período pós 1990 frente ao (re)dimensionamento das relações continentais e extracontinentais (re)dimensionamento das relações continentais e extracontinentais

3.3.2.2 Aspectos territoriais do agronegócio da soja no complexo portuário de Paranaguá Paranaguá

nordeste brasileiro, além do aumento da posse de terras e expansão da produção.

O processo de entrada chinesa como ator estrategicamente posicionado no sistema mundo contribui para explicitar as conseqüências da inserção brasileira no pós-1990. De forma clara, o que se pode aferir é que a inserção periférica, baseada no desenvolvimento dependente e associado, persiste como linha geral, que posiciona o capitalismo brasileiro dentro do sistema. No contexto da lógica de produção global, mediante os requisitos da etapa financeirizada do capitalismo, é possível identificar o papel crescentemente territorializado das corporações vinculadas aos setores mais relevantes na inserção internacional, em especial isto se processa no que se refere ao complexo soja, como resposta aos estímulos de crescimento.

3.3.2.2 Aspectos territoriais do agronegócio da soja no complexo portuário de Paranaguá

No Brasil, quatro grandes empresas dominam a cadeia produtiva do agronegócio, com centralidade no complexo soja, ADM, Bunge, Cargill e Coinbra/LDC (FAJARDO, 2007, p.18). No processo de modernização da agricultura paranaense as grandes tradings, especialmente a Bunge e a Cargill, se

encarregaram das relações externas. Tais empresas conformam um arranjo territorial, através de suas estruturas de armazenagem, beneficiamento e, dos terminais portuários. De outro lado, estão as cooperativas rurais estimuladas nos anos 1970, e que passaram por forte crise nos anos 1980. Estas passaram por reestruturações profundas nos anos 1990, o que levou à verticalização e horizontalização como estratégias de sobrevivência no novo cenário. Parte dessas cooperativas conseguiu ampliar seu poder econômico e territorial de forma significativa, tornando-se atores decisivos no mercado nacional, sem, contudo conseguir estender suas ações para o ambiente internacional de forma significativa.

Os dois grupos corporativos, multinacionais e cooperativas regionais, são os atores mais relevantes na produção do espaço portuário. Para ambos, a atividade portuária assume função estratégica no processo de integração das atividades e na elevação de barreiras aos concorrentes. Dentre as cooperativas, em Paranaguá destacam-se a Cotriguaçu, originada como consórcio de Cooperativas fomentada pelo governo do estado do Paraná nos anos 1970; e a COAMO, também originada nos anos 1970 em Campo Mourão. No que se refere às corporações multinacionais, atuam como operadores portuários, e com estruturas na Área de Porto Organizado (APO), as empresas Bunge Alimentos, Cargill e Coinbra, empresa do grupo LDC (Louis Dreyfuss Company). Deve-se citar ainda a Sociedade Cerealista de Produtos Paranaenses (SOCEPAR), adquirida pela Bunge em 2007, que passou a operar suas instalações no porto.

O Quadro 06 sintetiza a atuação das corporações que se ligam à cadeia produtiva do complexo soja de forma integrada, e que estão presentes na cidade e no Porto de Paranaguá. Interessante destacar que Exame (2008, p.68) estabelece um ranking das 400 maiores empresas do agronegócio brasileiro, na qual Bunge e Cargill aparecem como primeiro e segundo lugar respectivamente, e a Coamo aparece como a 18ª maior empresa do setor de alimentos. Considerada a região sul, a COAMO sobe para o 4º lugar, onde também se destacam as cooperativas que compõem a Cotriguaçu (C. Vale, 11ª; Lar , 16ª; Coopavel 28ª; Copacol, 29ª). Tais dados apenas corroboram para que se compreenda o peso das corporações, que assumiram papel mais relevante no que se refere à dimensão territorial.

ATUAÇÃO CONCESSÃO MATRIZ FILIAIS

Um aspecto que deve ser destacado aqui se refere ao fato de que todas as organizações já atuavam na cidade antes da implementação da lei de modernização portuária (Lei 8.630/93). Todavia, o nível de profundidade e de vinculação territorial na região são bastante distintos, tanto entre as empresas da mesma categoria, como entre as duas categorias.

A Cotriguaçu tem sua história vinculada à sobrevivência competitiva dos produtores rurais do Paraná, através da estratégia de unificação e produção para exportação, o que por sua envolveu, desde os anos 1970, estar presente de forma significativa no Porto de Paranaguá. Reúne quatro cooperativas (citadas acima:

Cooperativa Vale, Coopavel, Copacol e Lar) das cidades paranaenses Cascavel, Toledo, Palotina, Marechal Cândido Rondon e Campo Mourão. Em 1975, deixou de ser consórcio e passou à cooperativa, mas foi nos anos 1980 que deu início à expansão de suas instalações na cidade de Paranaguá, tendo em vista ampliar a competitividade de seus cooperados. A expansão de mercado dos anos 2000, por sua vez, possibilitou investir na ampliação do terminal portuário, na construção de uma segunda linha de embarque (com capacidade 1500 toneladas/hora), construção de novo desvio ferroviário, moega com 3 linhas de descarga ferroviária, ampliação da subestação de geração de energia elétrica, dentre outras ações (Ver Figura 01).

Embora todas as cooperativas que compõem a Cotriguaçu tenham forte atuação no

Cargill

Quadro 06: Corporações atuantes no complexo soja com estruturas em Paranaguá (Cooperativas e Multinacionais)

Fonte: Sites das empresas. Organização da autora

complexo carnes, o seu foco em Paranaguá é o complexo grãos. Além disso, sua expansão no sentido da hinterlândia também é significativa (COTRIGUAÇU, 2011).

Atualmente, as unidades das cooperativas que compõem a Cotriguaçu se estendem para a região que abrange o oeste do Paraná, o noroeste de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraguai (apenas a C. Vale possui três unidades nesse país) (VALE, 2011). O posicionamento geográfico dos produtores associados à Cotriguaçu justifica que eles sejam os maiores demandantes do aprimoramento da ligação viária entre a região oeste do Paraná e o Porto de Paranaguá. Tanto assim, que a Ferroeste, originalmente nominada Ferropar, representa parte de suas demandas históricas.

A COAMO Agroindustrial Cooperativa também surgiu nos anos 1970, com o objetivo de unificar produtores rurais do centro-oeste paranaense. Congrega produtores do Paraná, Mato Grosso do sul e Santa Catarina. Dados da cooperativa, referentes a 2009, indicam cerca de 22.000 cooperados. Em 1990, a Coamo começou a atuar no Porto de Paranaguá como parte de sua estratégia de superação da crise dos anos 1980, que envolveu o investimento na integração vertical.

Originalmente a atuação em Paranaguá esteve vinculada a operação portuária, esmagamento de soja e industrialização de óleo. Atualmente, além da unidade produtora de óleo, do terminal portuário, são 3 armazéns, 2 linhas de embarque e 2 moegas (Ver Figura 02). Praticamente 100% do escoamento é realizado por Paranaguá, mas o porto de São Francisco também é considerado estratégico para a

cooperativa (COAMO, 2011). De acordo com o presidente da COAMO, o Porto de Paranaguá compõe a estratégia de fortalecimento do agronegócio paranaense, e a cooperativa está comprometida com investimentos para melhorar sua estrutura (COAMO, 2010).

O mercado de commodities agrícolas é mundialmente um dos mais concentrados, dominado por um oligopólio, em que predominam quatro empresas controladas por cinco famílias. Entre as empresas ADM (Archer Daniels Midland), Grupo Bunge (da família Hirsches e Borns), Grupo Cargill (da família MacMillans e Cargill) e a LDC (Louis Dreyfus Company da família Louis Dreyfuss), apenas a primeira saiu do controle da família fundadora (SOLOGUREN, 2004, p. 120). No caso de Paranaguá, a ADM atua exclusivamente com a unidade industrial de fertilizantes, fora da área portuária, já a LDC atua através da Coinbra, como operadora portuária de grãos, porém apresenta um baixo grau de territorialização.

De outro lado, a Bunge e a Cargill possuem ampla atuação na cidade.

A atuação da Bunge Alimentos em Paranaguá no que se refere ao mercado de grãos, o que envolve também o trigo, está ligada a armazenagem e estrutura portuária. Sua atuação na cidade é marcada pela conjuntura dos anos 1990 e, também aqui contou com a estratégia das aquisições para acelerar o processo de ocupação de espaços. No final de 2006, adquiriu a estrutura da SOCEPAR, que segundo Morgenstern (2006) teve seu primeiro silo no Porto de Paranaguá

inaugurado no final da década de 1960. Sua estrutura portuária cobre outros pontos do território nacional, o que lhe concede melhores condições de gestão estratégica logística. Apenas no que se refere ao complexo soja são 7 portos, dentre eles Ilhéus na Bahia, Vitória no Espírito Santo, São Luiz no Maranhão, Rio Grande no Rio Grande do Sul e São Francisco do Sul em Santa Catarina, além, é claro, de Paranaguá, no Paraná.

A Bunge está presente com seu aparato de produção, armazenamento, suporte técnico e de distribuição logística em 16 estados brasileiros, e no estado do Paraná exerce influência significativa na divisão territorial do trabalho (FAJARDO, 2007, p.20). Grande parte de suas unidades de armazenamento e captação, bem como o atendimento logístico a produtores está espalhada pela área de abrangência do porto. Estrategicamente, parte da produção voltada à exportação, bem como o beneficiamento estão concentrados no distrito industrial de Ponta Grossa. Observa-se uma relação de complementaridade na divisão de funções dentro da estrutura verticalmente integrada da empresa, que estabelece no eixo Ponta Grossa – Paranaguá agregação de valor e escoamento para o exterior84.

A relevância territorial da Bunge é indicada por sua presença em praticamente todo Brasil. De forma mais expressiva sua presença está vinculada aos estados do Mato Grosso, com 34 unidades em municípios diferentes, enquanto são 8 no Mato Grosso do Sul e 16 no Paraná, sendo que em Paranaguá existem dois escritórios, um vinculado à distribuição (porto) e outro a armazenagem. Da mesma forma, pode-se dizer que a espacialização traz indícios de uma estratégia sofisticada, necessária para a atuação em mercados concentrados, e focados em produtos com baixo valor agregado na inserção internacional.

Já no que se refere à Cargill merece destaque o fato de seu ingresso no mercado de processamento de soja nos anos 1970, que acabou se transformando em uma de suas principais atividades (FAJARDO, 2008, p. 321-322). Sua estratégia de integração vertical é semelhante às demais corporações do setor, todavia seu grau de aprofundamento vertical é inferior à Bunge, o que tem contrapartida na maior horizontalidade. Essa característica fica evidenciada na quantidade e variedade de produtos que a Cargill produz para abastecer a indústria alimentícia.

84 Como se vê no Quadro 5 as estruturas portuárias do grupo Bunge possibilitam que a empresa estabeleça uma arquitetura logística, responsável por maximizar resultados e minimizar custos e prazos.

De acordo com as informações disponibilizadas pela empresa, existem unidades em 120 municípios.

Em Paranaguá, a atuação da Cargill remonta ao início dos anos 1970, como aponta Morgenstern (2006), com estrutura de armazenamento em área arrendada no porto. Atualmente, a empresa possui área de armazenagem também fora do porto, na Rodovia BR 277, além de manter sua área de operação do complexo soja dentro da APO. Na escala nacional, os setores estratégicos de atuação da companhia estão vinculados tanto ao setor primário (açúcar, algodão, cacau, etanol e soja), como à atividade industrial (amidos e adoçantes, aromas, chocolate, óleos, dentre outros). Todavia é evidenciável o papel estratégico da soja dentro do pool de negócios da corporação. O que, por sua vez, se liga ao estabelecimento de fluxos calculados de escoamento, que conectam cargas derivadas de cada região a determinados terminais portuários.

A Cargill atua estrategicamente com vários terminais portuários, dentre eles os terminais portuários do Guarujá (em consórcio com a Louis Dreyfuss), o de Santarém no Pará (ainda em processo de aprovação pelo IBAMA), Porto Velho (Rondônia) e o de Paranaguá. Pode se dizer que a localização desses terminais circundam a área de produção, e garantem um leque de opções logísticas, capazes de assegurar maximização de resultados e minimização de custos à corporação.

Na área do porto organizado do Porto de Paranaguá na qual todas as empresas aqui destacadas possuem instalações e operam terminais, atuam 20 operadoras de cargas, dentre as quais apenas mais duas85 operam exclusivamente com granéis sólidos e líquidos ligados ao complexo soja. Ambas são empresas de caráter regional focadas em logística e armazenagem, que atuam de forma complementar e em rede com as empresas que dominam o setor, sejam elas multinacionais ou cooperativas. Padrão que foi também verificado no pólo de fertilizantes, onde se observou o estímulo a uma rede de empresas regionais para atuarem como terceirizadas no processo fabril da mistura.

Vale dizer ainda, que a estratégia territorial das empresas multinacionais e das cooperativas, que incluem o porto enquanto elemento substancial, projeta e redimensiona a questão das escalas geográficas, tanto no que se refere à dimensão econômica, como na dimensão política. O porto responde à gestão estadual,

85 As empresas Centro Sul e Interalli /CBL são especializadas em armazenagem e expedição de granéis sólidos.

depende das decisões e do investimento da política nacional executada pelo governo federal, e também representa elemento substancial da rede de corporações territorializadas, que estabelecem papéis distintos para as diversas porções do território nos quais atuam.

3.3.3 O complexo carnes e a exportação de veículos: outras territorialidades no