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A cidade portuária de Paranaguá pertence à planície litorânea do estado do Paraná, que ocupa cerca de 4.600 km2, correspondendo a 3% da área territorial do estado. Em que pese a economia litorânea ser tradicionalmente considerada pouco expressiva em termos de geração de riqueza econômica para o estado, a atividade portuária assumiu um papel crescentemente relevante, enquanto ponto nodal relacionado à economia do estado e à região metropolitana de Curitiba.

O município de Paranaguá sofre a influência direta de seis unidades de conservação ambiental, sendo que abrange completamente quatro delas. De acordo com UFPR/FUNPAR (2006), a extensão da área sob proteção permanente dentro da cidade é de 418,66 Km2, o que representa 52% de seu território. A partir daí há duas implicações importantes, a primeira se refere às restrições para o crescimento populacional e, sobretudo para a instalação de atividades econômicas de elevado impacto, seja em termos de consumo de recursos naturais, seja na geração de efeitos residuais (dentre eles a poluição). Na medida em que a atividade portuária, que é a principal geradora de riqueza na cidade, é causadora de impactos importantes há que se projetar as dificuldades impostas ao seu crescimento, no que

se refere à ocupação de novas áreas11. A segunda implicação está relacionada à competência sobre a gestão do território, tal como acontece com a atividade portuária, que depende da atuação dos governos do estado e da União.

Por conta dessa sistemática legislativa institucional, tem-se, em Paranaguá, de um lado, a atuação fiscalizatória do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), órgão federal com ampla competência para, nos termos da Lei Federal nº 6.938/81, executar a política e as diretrizes governamentais federais de proteção ao meio ambiente. De outro lado, em âmbito estadual, constata-se a presença do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), autarquia descentralizada, vinculada à competência para propor e executar as políticas de meio ambiente do Estado, bem como para fazer cumprir a legislação ambiental, através do exercício do poder de política administrativa, controle, licenciamento e fiscalização (CODEM, 2006, vol.1, p.30).

É destacável que as restrições à ocupação do território, o desempoderamento e a baixa capacitação do município no que se refere à sua gestão representam elementos impactantes no processo de ocupação da cidade. Pode-se inferir ainda que a dificuldade de orquestrar as diversas instâncias responsáveis pelos processos decisórios referentes ao território termine por estimular a ocupação desordenada e o comprometimento de áreas vulneráveis. A concretização desse processo está representada nas ocupações irregulares ao longo da cidade, que ocupam parte significativa do território do município. Tal quadro tem sido indutor de um dos problemas ambientais do local, que se refere à ocupação dos manguezais localizados nos rios, como explicita Caneparo (1998).

No que tange ao processo de crescimento demográfico é possível distinguir dois movimentos, o primeiro reflete seu crescimento acelerado nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, coincidente com o período de especialização do porto na exportação de café. Entre as décadas de 1950 e 1970, a cidade mais que dobrou de tamanho, ampliando o desequilíbrio entre a população rural e a população urbana. O segundo momento foi marcado pelas três últimas décadas do século, nas quais foi mantido o crescimento da cidade e a concentração urbana, em que pese um ritmo mais lento da expansão demográfica. Tal ritmo se justifica em função de um novo perfil portuário. Desde os anos 1970, a especialização graneleira alterou a forma e a intensidade de absorção de

11 Esse aspecto é analisado com maior profundidade no capítulo quatro, que aborda a questão da logística no contexto contemporâneo, no qual a gestão portuária requer novas áreas e maior eficiência na gestão das mesmas.

obra. Mudança que produziu reflexos demográficos em função da redução da força atrativa da cidade.

A taxa de crescimento geométrico da população do município reflete melhor a atratividade da cidade. Os dados dos censos demográficos de 1980, 1990 e 2000 apresentam estabilidade nas taxas de crescimento, respectivamente, 2,78% e, 2,51 para os dois últimos. Já o censo de 2010 aponta crescimento de 0,98%. Importante destacar que mesmo com a redução da taxa de crescimento demográfico, o município de Paranaguá mantém-se crescendo acima da média do estado, o que expressa dinamismo populacional (IBGE, 1980/1991/2000 e 2010).

No que se refere à participação no Produto Interno Bruto (PIB) estadual observa-se que Paranaguá está entre os municípios12 paranaenses de maior expressividade, em termos de geração de riqueza. O município é responsável por 3,96% do PIB do Estado, o terceiro maior, superado por Londrina (4,48%) e pela Região Metropolitana de Curitiba – RMC (41,07%). Ainda assim, a capacidade de retenção da riqueza em Paranaguá se demonstra menos efetiva que nos outros municípios listados, tendo em vista a concentração espacial do capital e da tecnologia nos mesmos.

No que se refere ao processo de geração de emprego na cidade os setores mais relevantes são, conforme os dados da RAIS de 2009, o comércio varejista (20,09%); o setor que engloba serviços de alojamento, alimentação, reparo, manutenção e radiodifusão/televisão (18,85%); o setor de transporte e comunicação (15,87%); administração pública direta e indireta (15,05%); a indústria química, produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria, sabões, velas e matérias plásticas (7,08%); e, a indústria de produtos alimentícios, de bebida e álcool etílico (3,73%).

Observa-se a maior relevância dos segmentos que estão vinculados à atividade portuária. Vínculo que se estabelece direta ou indiretamente, isto é, pela atuação no porto e pelo uso da vantagem locacional oferecida pela cidade portuária.

Dentre tais atividades econômicas estão a indústria química, na qual inclui-se a produção de fertilizantes; a indústria alimentícia, em função do peso da agroindústria, em especial da presença da Sadia S/A e do beneficiamento de óleo pelas cooperativas paranaenses; e, transportes e comunicações. Em contrapartida, o comércio varejista e a administração pública, que são importantes empregadores,

12 Os dados analisados se referem aos municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Guarapuava, Maringá, Paranaguá, Ponta Grossa e, Região Metropolitana de Curitiba.

dependem da geração de riqueza dos demais segmentos para multiplicar suas atividades.

É possível deduzir que no caso de Paranaguá, tanto a dinâmica demográfica, como a inserção econômica das famílias, apresentam relação direta com a forma de ocupação do território. O grau elevado de exclusão gerado pelo subemprego, a escassez de novos postos de trabalho resultantes do aumento da composição técnica no processo produtivo aliados à restrição espacial para moradia são indutores da ocupação de espaços vulneráveis. Também é possível detectar um nível muito restrito de complexidade econômica, tendo em vista o elevado grau de dependência da atividade portuária. Pode-se dizer que a cidade de Paranaguá possui contemporaneamente um perfil típico de cidade portuária. Todavia, os dados não revelam que a mesma tenha conseguido expandir o setor de serviços com perfil sofisticado, tal como se requer para que seja possível internalizar os benefícios dos fluxos globais e reter uma parcela mais expressiva de renda para a população local.

CAPÍTULO 01: O (RE) POSICIONAMENTO DA CIDADE PORTUÁRIA DE