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Aspetos Positivos na Relação com o Utente

3.2 Prática de Enfermagem e Características da Função

3.2.3 Aspetos Positivos na Relação com o Utente

Menções Subcategorias

10 Gratificação pessoal com a recuperação do utente e contribuir para a sua recuperação (sentir felicidade e satisfação)

8 Reconhecimento por parte do doente pelo trabalho prestado (marcar a diferença na vida do utente, sentir-se útil)

12 Prazer em cuidar do outro e práticas de enfermagem

6 Relação próxima entre doente/enfermeiro (empatia e confiança)

5 Proporcionar bem-estar, alegria, descontração e tranquilidade ao doente 4 Contactar e conversar com o doente (convívio social)

Relativamente aos aspetos positivos na relação com o utente, os inquiridos apontam diferentes aspetos. Dos 21 entrevistados, 10 fazem referência à gratificação pessoal obtida quando o utente recupera, e a contribuição para a sua recuperação, contribuir para que o doente tenha alta clínica, conseguir aliviar um pouco dos seus sintomas e da sua dor, o que faz emergir sentimentos de satisfação e felicidade enquanto enfermeiros, e o sentimento de dever cumprido no final de um dia de trabalho. Eis alguns excertos que ilustram estes temas mencionados pelos entrevistados:

“O que é que eu mais gosto no meu trabalho… Sem dúvida o que mais gosto, é poder cuidar dos outros e poder ajudar os outros na sua recuperação …um exemplo… recebemos no serviço alguns jovens após um acidente de viação, que ficaram dependentes, com múltiplas fraturas e muito debilitados. Eu sou jovem…é um choque ver alguém tão novo assim, e a verdade é que podíamos ser nós ou qualquer pessoa amiga ou familiar. Mas… com o tempo a prestação de cuidados específicos, personalizáveis e constantes, nós fazemos muitas coisas boas, ajudamos na cicatrização das suas feridas externas, aliviamos a sua dor com medicação, apoiamos quando quer desistir e depois de algum tempo, aquele jovem doente e dependente, volta a ser um jovem saudável e totalmente independente… é tão bom poder ver isso com os meus olhos… sem dúvida que essa é a melhor gratificação que

posso receber pelo meu trabalho.” (Enfermeira 1)

“O que eu mais gosto é cuidar das pessoas e vê-los a reabilitar… uma pessoa que está mesmo débil, numa

situação de doença grave e de dia para dia conseguimos ver que começam a ter outra capacidade de autoconfiança, autocontrolo, por exemplo na área de doentes… de doenças do colo rectal, doenças neoplásicas…

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estes doentes muitas vezes são submetidas a colectomias ficando com uma ostomia de eliminação… ou seja, a saída de fezes de uma cavidade, a nível da cavidade abdominal tem lá um orifício e saem as fezes… e muitas vezes esta alteração da sua imagem corporal afeta-os e muito…e temos muitas pessoas jovens a passar por isto… e para mim é uma mais valia poder ajudar e intervir nessa questão… para mim é mesmo o reconhecimento da nossa prática a pessoa apesar desta adversidade, poder ser autónoma, a nível de estigma, perder autoconceitos e recuperar a sua autoimagem... é gratificante e maravilhoso ver que muitos utentes têm alta a dizer, «não eu consigo superar isto, pois no fundo, a ostomia foi uma resolução de um problema, não foi o problema em si, foi a resolução de um cancro que me acabaria para matar. Logo, ouve solução e sou grato por isso…» E fico muito feliz quando a pessoa tem a sua reabilitação, muitas vezes não é total, mas conseguem lidar e adaptar-se esta nova

situação da sua vida.” (Enfermeira 11)

“O que mais gosto é poder cuidar do outro nas suas necessidades e receber um sorriso de volta ou apenas um

“obrigado” depois do esforço que nós, profissionais de saúde, fazemos diariamente para prestar os melhores cuidados aos doentes…isso faz-me sentir com o sentimento de dever cumprido, satisfeita e feliz pelo que fiz pelos

doentes.” (Enfermeira 16)

O reconhecimento por parte do doente pelo trabalho prestado, marcar a diferença na vida do utente, que se manifesta através do carinho e respeito que se instala da parte dos doentes para com os profissionais. Consequentemente, com isso emerge o sentimento de que estão a ser úteis a nível profissional, sendo que 8 pessoas referem este facto.

“O que eu mais gosto no meu trabalho como enfermeiro é de… do reconhecimento, quando a pessoa doente nos diz “muito obrigado”, “você hoje tratou-me mesmo bem” ou “hoje saí de coração cheio”, para mim o dia até pode

ser mau, mas, para mim, isso é o mais gratificante...” (Enfermeiro 2)

“O retorno, ver que com, por vezes pouco, conseguimos deixar alguém um pouco mais feliz. Por exemplo, naqueles idosos em que faz parte da sua rotina aparar diariamente a barba para se sentirem bem…quando são internados e devido ás suas limitações isso nem sempre é possível…por vezes, o simples facto de a um domingo, dia em que ele tem mais visitas, nos cuidados de higiene lhe cortar a barba, que não é nossa função, mas tornamos aquele doente mais feliz, com um sorriso e satisfeito… consequentemente, a família quando o vê bem

cuidado também fica mais tranquila e feliz por o seu ente querido estar a ser bem tratado.” (Enfermeira 7)

“Da relação próxima entre o enfermeiro e doente, de saber que estou a ajudar e a fazer a diferença na vida de alguém…” (Enfermeira 20)

Adicionalmente, 12 pessoas fizeram alusão ao prazer em cuidar dos outros e como as práticas de enfermagem são importantes para os cuidados do outro. Assim, vários enfermeiros dão o exemplo de algumas práticas de enfermagem cuidadoras do outro como, por exemplo, cuidados de higiene ao utente, posicionamentos, transferências, autocuidado de eliminação urinária e intestinal, tratamento de feridas, preparação de terapêutica, como os aspetos que mais apreciam nas tarefas quotidianas:

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“O que mais gosto é de prestar cuidados de enfermagem ao doente, seja dar banhos, mudar fralda, posicionar, ajudar a caminhar, pensos, dar medicação…gosto de tudo o que faço.” (Enfermeira 18)

“…Eu sei que é uma coisa simples e as pessoas até podem achar ridículo… mas a verdade é que nestas palavras eu sinto o carinho, alegria e o conforto que se calhar eu proporcionei aquele utente no mais simples cuidar de enfermagem…o banho… sem dúvida que são momentos que me proporcionam consequências positivas, tais como, o aumento da satisfação profissional e das relações interpessoais e com a pessoa doente, gerando um

sentimento de realização profissional.” (Enfermeira 1)

“por vezes os doentes que colocam próteses na anca e pensam que não voltam a andar, é fantástico ver a felicidade e satisfação deles e da família ao ver que conseguiu essa tarefa.” (Enfermeira 14)

A relação próxima entre doente e enfermeiro e o estabelecimento de uma relação de empatia e confiança também foi um dos aspetos referidos por 6 dos entrevistados.

“Como já disse, adoro a proximidade que estabelecemos com o doente e a família desde a sua admissão até à

sua alta clínica… o que mais me dá prazer no meu trabalho é mesmo ver as pessoas a ficarem bem, vemo-las chegar muito mal ao bloco e estar presente e fazer parte da sua recuperação, para depois vê-las a sair andar, a

mobilizar-se e a serem independentes é uma coisa incrível.” (Enfermeira 5)

“O que é que eu mais gosto no meu trabalho como enfermeira…é o facto de poder ajudar… o estar com o doente, muitas vezes os doentes precisam apenas de ter ali alguém e saber em quem confiar e o sermos nós, se calhar isso é o que mais me agrada e o que mais me dá gosto… continuar aqui e passar todas estas barreiras do tempo, do rácio e todas estas coisas… basicamente é saber que o doente ainda confia em nós e confia no nosso trabalho e confia… sente que há ali alguém com quem pode falar, em quem pode confiar, acho que é isso que mais…” (Enfermeira 18)

Outro dos aspetos mencionados por 5 pessoas, foi proporcionar bem-estar, alegria, descontração e tranquilidade ao doente em situações de fragilidade e doença:

“Gosto de tentar levar alguma alegria aos meus doentes… tentar aliviar o peso de estarem num sítio que só lhes diz que estão doentes, que foram operados, onde veem pessoas com dores. Gosto de brincar com os doentes, de me pôr a cantar com eles... gosto de fazer piadas, mas com o intuito de eles se levantarem e se esforçarem para cumprirem as nossas indicações. Por exemplo, dizer a um doente que ainda não saiu da cama, que tem de treinar a marcha porque tem de continuar a levar a esposa ou marido a passear após a alta… Isso de uma forma lúdica ajuda-o na sua recuperação, mas acima de tudo motiva-o e proporciona-lhe um melhor bem-estar.” (Enfermeira 3)

“Talvez das coisas que mais gosto é quando consigo ter um sorriso de volta, consigo sair da porta e sentir-me

realizada e com sentimento de dever cumprido… sentir-me útil. Por vezes temos doentes que não recebem visitas de familiares durante uma série de tempo e nós acabamos por ser a família deles, e acabam por se tornar

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apáticos, frios, e é difícil comunicar com eles… conseguir falar com eles, arrancar-lhes um sorriso, tentar trazer-

lhes um pouco de vida, para mim, é tudo… às vezes o pouco, é muito no meio do nada.” (Enfermeira 10)

“O que eu mais gosto no trabalho é do contacto com as pessoas e a possibilidade de poder ser útil nos momentos

de maior fragilidade. E nesses momentos mais frágeis, acima de tudo transparecer-lhes alguma paz, calma de

forma a puderem ser doentes mais tranquilos e assim conseguirem ter uma melhor recuperação.” (Enfermeira 4)

Quatro pessoas disseram que era contactar e conviver com o doente aquilo que mais gostavam no trabalho de enfermagem:

“O contacto com os doentes, poder conversar com eles e ajudá-los no que mais precisam ou quando não têm capacidade para fazer. Muitas vezes, o simples facto de pegarmos numa cadeira e nos sentarmos junto do doente a conversar com ele e a ouvi-lo cinco minutos, faz toda a diferença na relação que estabelecemos com o doente e

consequentemente na sua motivação para a sua recuperação.” (Enfermeira 8)

3.2.4 Aspetos Positivos na Relação com a Família do Utente