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Conclusões e Contribuições do Estudo

O tema desta investigação diz respeito ao Trabalho Emocional nos Profissionais de Enfermagem, tendo sido definidas para o estudo as questões de partida como ponto de orientação dos objetivos alcançar. Após toda a investigação empírica, conclui-se que uma grande parte dos resultados obtidos vai de encontro aos estudos já realizados sobre a temática por vários autores que foram mencionados anteriormente na revisão da literatura. No entanto, existem alguns pontos abordados pelos entrevistados, que são possíveis sugestões para uma futura investigação.

Deste modo, o trabalho emocional pode ter múltiplas consequências a nível da saúde e do desempenho do profissional na sua prática. Apesar dos profissionais considerarem que o cuidar do outro exige cuidar de uma forma holística e personalizada, que obriga a olhar para o utente como um todo, como um ser bio-psico-social, esta componente importante do trabalho tem sido negligenciada, desde o início das suas carreiras, enquanto são ainda estudantes, como mais tarde, enquanto, profissionais ativos, ao serviço de uma instituição.

Efetivamente, apenas a parte técnica é enfatizada ao nível da formação básica, o que dá a entender que estes profissionais também devem receber formação ao nível de competências sociais e emocionais. Como foi possível verificar nas respostas dos entrevistados, alguns profissionais com alguns anos de experiência admitiram que ainda hoje têm dificuldade em comunicar um falecimento

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ou o agravamento repentino do estado de saúde de um utente. Assim como pista para futura de investigação, pode ser útil proceder a um diagnóstico das necessidades de formação emocionais dos enfermeiros, de modo a criar uma ferramenta com algumas linhas de orientação na gestão das emoções para a prática de enfermagem.

Como é imprescindível lidar com as suas emoções como ser humano, assim como lidar com as emoções enquanto profissional, é importante que o enfermeiro perceba como usar a sua inteligência emocional. É fundamental que haja uma boa gestão de toda esta carga emocional de forma a que a mesma não se torne prejudicial para os enfermeiros. De um modo geral, se fossem tomadas as devidas medidas pela chefia e organizações, possivelmente o trabalho emocional não seria tão nefasto para os profissionais. Segundo Grandey e Sayre (2019), quando os enfermeiros são sinceros e genuínos estão a agir de forma profunda e melhoram o seu desempenho, contudo, quando há a necessidade de fingir, agem de forma superficial, o que desencadeia consequências a nível do bem-estar psicológico. Também segundo Dijk e Kirk-Brown (2008, p.12) “os trabalhadores usaram a obrigação percebida de mostrar emoção não sentida para desviar a atenção para o seu trabalho, o que melhora os estados afetivos individuais, enquanto outros relataram que exibir emoção fingida é trabalhoso e exaustivo e produz resultados negativos, como cansaço, desconforto psicológico e dissonância emocional e sentimento de culpa”. Isto significa que poderá não haver uma fórmula única para a gestão das emoções, mas que terá que se ter em atenção as características individuais de cada profissional e o modo como eles preferem fazer trabalho emocional.

De acordo com a ótica de Grandey e Sayre (2019), algumas organizações obrigam ao controle das emoções por parte dos seus trabalhadores, o que reporta consequências a nível pessoal e profissional. Seguindo Mann (2005), os enfermeiros não são obrigados a seguir as regras de exibição estipuladas e esperadas pela organização, sendo que são autónomos o suficiente para realizar o trabalho emocional porque assim o desejam. Nestas situações, os profissionais de enfermagem, na maior parte das vezes, cuidam genuinamente do outro, e, através disso, sentem alegria, satisfação, felicidade, pelo que transparecem os verdadeiros sentimentos. Segundo Pisaniello et al. (2012), os profissionais puderam demonstrar que as emoções verdadeiras são alguns dos efeitos positivos do agir de forma profunda, apesar de este tipo de atuação não estar imune de propiciar problemas, mesmo assim, a representação superficial continua a ser ainda a mais prejudicial. Esta conclusão é, aliás, corroborada pela maioria dos entrevistados no nosso estudo, que preferem a demonstração genuína do cuidar do outro, sempre que possível. Os mesmos autores afirmam que a enfermagem é uma das profissões cujo trabalho emocional atinge um patamar de elevada complexidade, mas que pode ser

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benéfico para a organização, para o utente, assim como para o profissional, dependendo de múltiplos fatores já mencionados (Pisaniello, et al., 2012).

Um dos contributos práticos deste estudo sobre Trabalho Emocional nos Enfermeiros diz respeito ao facto de ajudar as organizações de saúde a compreenderem que os seus funcionários carecem de formação ao nível da gestão emoções e sentimentos no âmbito laboral. Há assim a necessidade de as organizações desenvolverem estratégias preventivas de gestão do stress emocional dos seus profissionais. Nessa matéria, a organização pode promover ações que beneficiem os enfermeiros, tais como formações na gestão de emoções, rotatividade dos doentes, melhor organização na gestão de tarefas e de tempo no serviço tendo em consideração o rácio de profissionais, entre outros aspetos.

Com esta pesquisa ressalta a importância de existir profissionais motivados e com sentimentos positivos, como o bem-estar emocional, pois desta forma, prestam cuidados individualizados, personalizáveis e holísticos ao utente e família, beneficiando o utente, a família, o profissional, a chefia e a organização. Importante ressalvar que, como mencionado anteriormente, é fundamental que quer a chefia, quer a organização estejam sensíveis a esta necessidade e este fator tão crucial na prestação de cuidados de saúde qualidade.

A investigação desta área de estudo foi também vista pelos profissionais de saúde como uma mais valia no sentido em que sentem que há um interesse de estudo nesta área tão delicada e sensível a que são expostos diariamente. Através dos vários testemunhos e estudos foi comprovado que os seus sentimentos são partilhados por muitos outros profissionais da mesma área e que existem estratégias para minimizar os efeitos negativos/consequências que o trabalho emocional implica na prática de enfermagem. Desta forma, estão mais alerta e despertos para a procura de ajuda especializada nas situações de doença, como depressão, síndrome de burnout, ansiedade e stress.

Em suma, o trabalho de desenvolvimento pessoal por parte dos profissionais para lidar com esta carga emocional em contexto de trabalho, a sensibilização para a temática por parte da chefia e organizações, pondo em prática a promoção de formação, gabinetes de apoio psicológico, identificação das limitações do trabalho emocional, otimização e atuação com estratégias nas questões identificadas como problemáticas, são uma colaboração imprescindível para a diminuição da carga emocional e, consequentemente, a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade, diminuição de baixas médicas, redução de acidentes de trabalho e inevitavelmente uma melhor gestão nos mais diversos âmbitos.

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